A Argentina não precisa de um presidente pró-empresário, mas sim de um pró-mercado

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macri-presidente-elecciones-argentinaÀs vésperas das eleições presidenciais argentinas, os candidatos se esforçam para ficar bem perante todos ao mesmo tempo, fazendo com que suas propostas sejam bem recebidas por diferentes associações sindicais, ONGs e confederações empresariais.

Um dos setores que mais se interessou em se aproximar dos candidatos foi o da indústria, representado pela centenária Unión Industrial Argentina.  Pelo prédio da entidade passaram, nos últimos meses, os principais candidatos à presidentes, bem como os membros de suas respectivas equipes econômicas.

Ainda ao final de junho, o candidato que havia causada a melhor impressão era Maurício Macri.  Nas palavras do presidente da entidade, Héctor Méndez, o líder do PRO havia sido “mais conciso e preciso” em suas definições.

No entanto, o tempo passou e as opiniões foram mudando.  Poucos dias antes da celebração do Dia da Indústria, em Tecnópolis, tendo Cristina Fernández de Kirchner como oradora principal, Méndez mudou seu ponto de vista:

“Vejo Macri como tendo menos vocação industrial (…) ele não foi muito carinhoso conosco.  Não creio que vá ser mais pró-empresário.”

Mais além da vocação industrial — ou da falta dela — de Maurício Macri ou de Daniel Scioli, a pergunta que realmente tem de ser feita é se a Argentina realmente precisa de um presidente que seja “pró-empresário”.

Minha resposta é que, definitivamente, não.

Vejamos: um governo pró-empresário, por definição, se concentraria em privilegiar o crescimento das indústrias que atualmente operam no país.  Claro que essa seria uma política melhor do que uma política que deliberadamente ataca e asfixia as indústrias, como a política atual, mas ainda assim seria uma política errada, a qual acarreta custos para toda a sociedade.

Para dar um exemplo, uma alta tarifa de importação beneficia as empresas nacionais, já que lhes permite oferecer seus bens e serviços a um mercado cativo que não está exposto à concorrência internacional.  Por outro lado, isso acarreta um alto custo para todos os consumidores, que agora, por não terem para onde correr, terão de pagar mais caro por produtos de qualidade inferior.

Com efeito, uma política semelhante a esta beneficiou diretamente a Unión Industrial Argentina nos primeiros anos de governo do kirchnerismo.  Como ainda não havia altas tarifas de importação e nem cotas de importação, o Banco Central da República da Argentina se dedicou a comprar enormes quantidades de dólares para manter o câmbio desvalorizado.  Desta forma, buscou-se encarecer os produtos importados e, simultaneamente, tornar relativamente mais baratos os “made in Argentina”.

Tal política beneficiou diretamente a indústria, que cresceu a uma taxa média de 10% por 4 anos consecutivos, mas à custa da deterioração do poder de compra dos consumidores e, fundamentalmente, de uma elevada e crescente inflação de preços.

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[N. do E.: obviamente, como ensina a teoria econômica, nem mesmo este cenário de crescimento industrial pode se manter em um cenário de alta inflação e forte desvalorização cambial.

A seguir, respectivamente, a evolução da produção industrial de 2008 até hoje (em contração desde 2012) e a evolução da inflação de preços (lembrando que este é o indicador oficial, divulgado pelo governo; em 2012, o governo decretou que era crime divulgar as taxas reais de inflação)]

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Como se vê, as políticas pró-empresário nada mais são do que políticas que beneficiam [apenas no curto prazo] aos empresários e empresas que operam no país, mas à custa de prejudicar todos os demais.

Agora, vale ressaltar que a alternativa a este modelo não é uma política deliberadamente anti-empresas, como a adotada por Cristina Fernández Kirchner e Axel Kicillof, mas sim uma que faça com que empresas e consumidores, empresários e trabalhadores, se beneficiem de maneira conjunta.

Ou seja, uma política pró-mercado.

As políticas pró-mercado, diferentemente das pró-empresário, não favorecem apenas os empresários que estão dentro das fronteiras nacionais; elas também garantem um marco de regras claras para todos os produtores do mundo que queiram oferecer seus produtos e serviços aos consumidores nacionais.  Isso exige abertura comercial, mas também exige previsibilidade da política econômica, liberdade para o mercado de câmbio, equilíbrio fiscal, impostos baixos e respeito à propriedade privada.

Em nível internacional, estas são as políticas empregadas pelos países mais bem-sucedidos.  Está demonstrado que os países com maior liberdade econômica não apenas usufruem maiores níveis de riqueza per capita, como também as menores taxas de desemprego.

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É certo que a política deliberadamente anti-empresários da última etapa do governo kirchnerista não gerou nenhum resultado positivo em termos de bem-estar.  Não obstante, para reverter esta situação os argentinos não necessitam de um governo “pró-empresário”, mas sim de um marco claro de normas pró-mercado, que favoreçam a liberdade econômica e, com ela, um aumento na qualidade de vida de todos os argentinos em seu conjunto.

Há uma importante diferença entre as políticas “pró-empresário” e as políticas “pró-mercado”: as primeiras beneficiam um grupo estrito de pessoas; as segundas, a todo o conjunto da sociedade.

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