A falácia do PIB – um pequeno adendo

0
Tempo estimado de leitura: 4 minutos

pib1O IMB, de forma talentosa, vem abordando a falácia do produto interno bruto (PIB). Os artigos já publicados evidenciam isso[1]. São argumentos irrefutáveis com dados que mostram que esse índice de propaganda governamental não passa de um número qualquer gerido ao bel-prazer dos interesses políticos.  No presente artigo, contribuo com mais um argumento para botar abaixo esse índice falacioso. Antes, porém, recordemos resumidamente:

1. O PIB é uma medida do produto final da economia e não uma medida de produto total. Logo, grande parte da estrutura de produção (e da renda) permanece fora do cômputo, o torna o PIB uma medida subestimada e ineficaz;

2. O PIB não separa atividades que efetivamente geram crescimento das que dilapidam capital;

3. O gasto do governo, além de ser um dilapidador de capital por excelência, tem efeito de dupla contagem. Toda vez que o governo gasta, ele contribui de forma dupla com o crescimento econômico. Incrível!;

4. O PIB mede bem-estar — uma mentira;

5. O PIB é uma medida que subestima o verdadeiro produto da economia. Logo, as oscilações da produção e os ciclos econômicos — fruto do intervencionismo — são muito mais intensos do que se vê através dele.

Frédéric Bastiat nos ensinou que a economia contém fenômenos que se veem e que não se veem.  O PIB é uma medida que se vê, mas o que ele subestima é aquilo que não se vê.  Considerando-se que muitas análises sobre os ciclos econômicos se embasam no PIB, e dado que ele é uma medida equivocada, então qualquer análise que considera o PIB um índice inquestionável irá conter equívocos graves.

É comum ouvirmos que utilizar o PIB está certo porque, além de se tratar da única medida que temos, todos os países são analisados e comparados sob uma única ótica de produto.  Entretanto, essa visão é limitada, pois, se o PIB é uma medida final, então aqueles países que possuem uma atividade mais intensa nos setores finais de produção da economia terão uma medida superestimada em relação àqueles países que possuem uma atividade relativamente mais vigorosa nas etapas intermediárias.  Isso fica notório e coerente quando se compara as oscilações do PIB dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos:

a) nas economias subdesenvolvidas, o nível de capital per capta é menor do que nos países desenvolvidos, e elas possuem uma estrutura de produção mais curta e próxima do consumo final.  Como esses setores mais próximos do consumo final resistem mais à crise, fica parecendo que a economia desses países não sofre tanto com uma recessão;

b) nas economias desenvolvidas, o nível de capital per capita é muito maior em relação aos países subdesenvolvidos, fazendo com que elas possuam uma estrutura produtiva mais alargada.  Como os setores mais distantes do consumo final sofrem mais com uma recessão, tal fenômeno é ainda mais intenso do que realmente se divulga, pois as etapas intermediárias de produção são bastante desconsideradas no cômputo do PIB[2].

Em suma, temos um mensurador que exalta um crescimento econômico que na realidade não é tão vigoroso quanto indicado pelos números e que esconde uma recessão que na verdade é muito mais forte do que os números indicam. Ou seja, trata-se de um engodo, uma falácia.

Conhecendo-se esse argumento, pode-se até cometer um erro lógico: se o PIB é uma medida falha, então por que crer na teoria dos ciclos?  Na verdade, todos os economistas sabem que, quando se faz o levantamento de dados históricos (pois todos os dados econômicos são dados históricos), e se monta uma série, a primeira coisa que se averigua é se os dados se ajustam a alguma teoria existente.  Por isso, o mais correto a ser feito do ponto de vista da teoria seria deixar o PIB de lado — já que por si só são dados equivocados — e construir um novo mensurador.  Nesse caso, qual seria uma medida de produto mais acurada e que se encaixasse mais perfeitamente na teoria austríaca dos ciclos econômicos?  A medida de produto proposta pelo Prof. Mark Skousen (mencionada na nota de número 2) já nos dá bons indicativos disso e reforça a teoria austríaca de forma empírica.

Assim, este pequeno, além de reforçar as falácias em torno do PIB, tem a intenção de estimular os interessados em no assunto a compor uma alternativa de medição de produto da economia.  Murray Rothbard já deu os primeiros passos enfocando a metodologia do Produto Privado Remanescente (PPR).  Mark Skousen sugere a agregação das etapas intermediárias de produção.

Porém, é preciso mais.  E não apenas com o propósito de uma mera correção do PIB, mas sim com o propósito de elaborar um índice de uso do próprio setor privado para detectar os avanços do intervencionismo e combatê-lo de forma efetiva.

_______________________________________________________________

Notas

[1] C+I+G = Bobagem

Por que o PIB é uma ficção

As falácias sobre o PIB brasileiro (revisado e atualizado)

Sobre o PIB brasileiro, o baixo desemprego e outras questões econômicas

[2] Ver Mark Skousen em “The estructure of production”, ou emhttp://www.ssees.ucl.ac.uk/publications/working_papers/wp113.pdf

__________________________________________________________

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BASTIAT, F. Ensaios. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1989.

HUERTA DE SOTO, J. Dinero, crédito bancario y ciclos económicos. 4.ed. Madrid: Unión Editorial, 2009.

PAUL, R. Por que o PIB é uma ficção. Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=203> .

ROQUE, L. As falácias sobre o PIB brasileiro (revisado e atualizado)
Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=297>.

SKOUSEN, M. The Structure of Production. New York University Press, New York, 1990.

____________. Gross Domestic Expenditures (GDE): the Need for a New National Aggregate Statistic. Disponible en < http://www.ssees.ucl.ac.uk/publications/working_papers/wp113.pdf> .

1 COMENTÁRIO

  1. Certa vez uma pessoa, entusiasta das coisas como vêm sendo feitas, me falou:

    – Tem que fazer circular (a economia)…

    Desde então pelo menos uma fábrica de ônibus urbanos da Comil (que operara apenas dois anos) e uma outra encarroçadora pequena fecharam as portas.

    Pelo jeito, de acordo com o método de condução temerária da economia pelo estado, chega-se a um tempo que não dá mais para “fazer circular”…

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui