Estimulando a economia até o colapso

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[N. do T.: Embora o artigo a seguir esteja comentando a realidade americana, ele parece ter sido escrito pensando na estrutura política e econômica brasileira.  As semelhanças são incríveis e servem como um alerta (fatídico) para o nosso futuro.]

Com todas as atenções voltadas para o próximo grande pacote de estímulo, as perguntas ainda giram em torno dos problemas econômicos americanos.  Como tudo isso aconteceu?  Como resolver a situação?  Como sempre, o governo tem todas as respostas erradas.  De acordo com vários políticos e economistas, a economia está em frangalhos porque não se gastou o suficiente, não se consumiu o suficiente e não se regulamentou o suficiente.  E agora o governo, como um mítico cavaleiro branco, vai surgir triunfantemente e salvar a economia, inundando-a de dólares, contratando um exército de novos burocratas, criando empregos “tapa-buracos” e mandando para toda a população um cheque assistencialista sob a desculpa de se estar fazendo um auxílio financeiro.  Os limites aceitáveis do debate parecem já estar definidos.  Só se pode debater se os custos iniciais já serão suficientes para salvar a economia ou se esse pacote será só a “entrada”, o primeiro de muitos que virão pela frente.  Tal debate seria apenas cômico, não fossem os resultados vindouros tão trágicos.

As aflições econômicas irão piorar até aprendermos a lição.  Mas do governo não se pode esperar cooperação alguma.  Ele está se portando como um viciado que precisa atingir o fundo do poço para entender a realidade.  Os políticos estão brincando estupidamente com a economia agora porque estão pensando apenas nas oportunidades políticas que tal expediente pode trazer.  Toda essa conversa sobre criação de empregos é um exemplo perfeito.

Ao contrário da crença de muitos, o objetivo de uma economia não é criar empregos.  Os empregos são apenas a conseqüência de uma economia forte.  Empregos são o sinal da saúde de uma economia, assim como um alto nível de energia pode ser um indicativo de um corpo saudável.  Mas assim como substâncias nocivas podem artificialmente dar ao viciado aquele impulso energético que nada tem a ver com saúde, empregos artificialmente criados apenas exacerbam os problemas.  O objetivo de uma economia saudável é a produtividade.  Os empregos são a conseqüência positiva da produtividade.  Por outro lado, você pode dar a alguém um “emprego” de cavar um buraco num dia e tapá-lo no dia seguinte – ou talvez o equivalente a isso, porém executado em uma escrivaninha.  Mas isso não trará benefício algum a ninguém.  E o salário deste emprego advém em última instância da tributação de alguém produtivo.  E muitos ainda crêem que esse modelo econômico é o caminho para a prosperidade.

Políticos e burocratas já fizeram sua parte ao garantir que os empregos no setor privado sejam proibitivamente caros e complicados de se criar.  E agora estão chocados que a economia esteja cortando postos de trabalho.  Manter o emprego em alta durante um período de expansão econômica artificial não é difícil.  O problema é que a mágica um dia acaba.  E agora, desesperados, eles querem simplesmente criar centenas de empregos através de pacotes de estímulos para compensar os outros empregos que sumiram.  Deveriam permitir que o setor privado fizesse isso, mas como?  Completamente sobrecarregado com impostos escorchantes, um emaranhado de burocracia e regulamentações incompreensíveis, o setor privado está inerme e impotente.  Os esparadrapos agora utilizados irão apenas prolongar a agonia.  A escola austríaca de economia ensina que somente uma economia de genuíno livre mercado, desonerada de controles governamentais, é capaz de criar uma prosperidade de longo prazo.  Os políticos, entretanto, tendem a ser notoriamente míopes e imediatistas.

O que nos leva às seguintes questões: quem vai sobrar no setor privado para ser tributado para que se possa pagar por todos esses empregos inúteis no setor público?  Será que o governo realmente deve ser considerado algum tipo de salvador por estar criando empregos improdutivos no lugar dos empregos produtivos que ele eliminou?

Estamos chegando a uma sinuca econômica e aqueles no poder se recusam a aceitar a realidade.  A verdade é que os atuais problemas econômicos são decorrência de uma política monetária frouxa, de uma economia caracterizada por um planejamento central de estilo quase soviético, e de uma gastança parasítica do governo.  Se não atacarmos esses problemas honestamente, teremos infelizmente um longo e tortuoso caminho de queda, até que, assim como o viciado, chegaremos ao fundo do poço.

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Ron Paul
é médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato à presidente dos Estados Unidos em 1988 pelo partido libertário e candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo partido republicano. É autor de diversos livros sobre a Escola Austríaca de economia e a filosofia política libertária como Mises e a Escola Austríaca: uma visão pessoal, Definindo a liberdade, O Fim do Fed – por que acabar com o Banco Central (2009), The Case for Gold (1982), The Revolution: A Manifesto (2008), Pillars of Prosperity (2008) e A Foreign Policy of Freedom (2007). O doutor Paul foi um dos fundadores do Ludwig von Mises Institute, em 1982, e no ano de 2013 fundou o Ron Paul Institute for Peace and Prosperity e o The Ron Paul Channel.

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