Há um fenômeno que desde o passado e em um grau peculiar atraiu a atenção dos filósofos sociais e dos economistas práticos, o fato de certas comódites (Estas sendo em civilizações avançadas pedaços de ouro e prata em formato de moeda, em conjunto, posteriormente, com documentos representando estas moedas) tornando-se meios de troca universalmente aceitáveis. É óbvio mesmo para aqueles de inteligência comum, que uma comódite deve ser dada por seu dono em troca de outra mais útil para ele. Mas que toda unidade econômica em uma nação deveria estar pronta para trocar seus bens por pequenos discos metálicos aparentemente inúteis como tal, ou por documentos representando estes discos, é um procedimento tão oposto ao curso normal das coisas, que nós não podemos nos surpreender se mesmo um pensador distinto como Savigny acha isso algo francamente “misterioso.”
Não deve-se supor que o formato da moeda, ou documento, usado como moeda corrente, constitui o enigma deste fenômeno. Nós podemos ignorar estes formatos e retornar aos estágios iniciais do desenvolvimento econômico, ou mesmo para o que ainda se obtém em alguns países aqui e ali, onde nós encontramos metais preciosos sem um formato de moeda servindo como o meio de troca, e mesmo certas outras comódites como, gado, peles, cubos de chá, placas de sal, conchas de búzios, etc.; Ainda somos confrontados com este fenômeno, ainda temos que explicar porque é que o homem econômico esta disposto a aceitar um certo tipo de comódite, mesmo que ele não precise dela, ou se sua necessidade por ela já esta satisfeita, em troca por todos os bens que ele trouxe ao mercado, enquanto é, no entanto, o que ele precisa, que ele consulta primeiro, no que diz respeito aos bens que pretende adquirir no decorrer suas transações.
E, portanto, corre, desde os primeiros ensaios da contemplação reflexiva de um fenômeno social ate nossos tempos, uma cadeia ininterrupta de disquisições sobre a natureza e qualidades específicas do dinheiro em sua relação a tudo o que constitui o comércio. Filósofos, juristas e historiadores, bem como economistas, e até mesmo naturalistas e matemáticos, lidaram com este problema notável, e não há pessoas civilizadas que não tenham fornecido sua parcela à abundante literatura sobre o assunto. Qual é a natureza desses pequenos discos ou documentos, que em si mesmos não parecem servir de utilidade e que, no entanto, em contradição com o resto da experiência, passam de uma mão para outra em troca das mercadorias mais úteis, mais que isso, que todo mundo é tão empolgado em entregar suas mercadorias? O dinheiro é um membro orgânico no mundo das comódites, ou é uma anomalia econômica? Devemos referir a sua moeda comercial e o seu valor no comércio com as mesmas causas condicionando as de outros bens ou são o produto distinto da convenção e da autoridade?