O I curso de Escola Austríaca do Brasil: relato parcial de uma experiência pioneira

0
Tempo estimado de leitura: 4 minutos

foto4bO Instituto Mises Brasil está promovendo uma experiência pioneira em nosso país. Trata-se do Primeiro Curso de Iniciação à Escola Austríaca de Economia, realizado com a chancela acadêmica da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que teve início no dia 18 de outubro e que se estenderá até o próximo dia 8 de dezembro.

São 60 horas/aula — que é o requisito exigido pela Sub-Reitoria de Extensão da UERJ para classificar um curso como de “iniciação” e possa expedir diplomas. Está dividido em quatro módulos: (1) Conceitos básicos da Escola Austríaca, com 10 horas/aula; (2) Epistemologia das Ciências Sociais (10 horas/aula); (3) Filosofia Política, também com 10 horas/aula e (4) Economia, com 30 horas/aula.

Helio Beltrão, o incansável presidente do IMB, ministrou as duas primeiras aulas do módulo inicial, em que descreveu a História do Pensamento Econômico e mostrou, com o brilhantismo habitual, que a EAE, nesse contexto, é a mais antiga, a menor em termos de adeptos e a que mais cresce atualmente, também em termos de adeptos.

O segundo professor foi Alex Catharino de Souza, que, com seus profundos conhecimentos de Filosofia e História, esmiuçou os elementos do núcleo básico (ação, tempo e conhecimento) e os fatores de propagação (utilidade marginal, incerteza genuína e ordens espontâneas), ligando-os com campos de conhecimento que transcendem a pura economia.

Seguiu-se o professor André Azevedo Alves, da Universidade de Aveiro (Portugal) que, com espantosa erudição — dada sua pouca idade — proporcionou aos alunos um verdadeiro espetáculo de sabedoria ao ministrar os módulos de Epistemologia e Filosofia Política.

foto3.JPG
Alex Catharino de Souza, Ubiratan Jorge Iorio e André Azevedo Alves

No momento em que escrevo estas linhas, estamos no início do módulo de Economia, que está sob minha responsabilidade, assim como a coordenação do curso.

Como escrevi já no título deste artigo, trata-se de uma experiência pioneira, precursora, desbravadora, corajosa. E, mesmo estando o curso apenas um pouco além de sua metade, creio que já podemos comemorar o seu sucesso. Com efeito, em decorrência dos trâmites burocráticos comuns às universidades públicas, o IMB teve apenas dois dias para divulgar o curso e, mesmo assim, estamos com 20 alunos inscritos, frequentando regularmente as aulas e, até o momento, sem nenhuma desistência ou abandono. Isto nos dá a certeza (embora certeza não seja um elemento epistemológico austríaco) de que, em cursos futuros, com maior tempo para divulgação, poderemos facilmente formar turmas com 40 alunos.

Pelo fato de coordenar o curso e também por ser este o primeiro de uma série que esperamos venha a se estender por muito tempo, inclusive em outras cidades, assisti a todas as aulas e pude claramente perceber que todos os alunos que se matricularam e estão freqüentando o curso estão manifestando um enorme interesse em absorver os ensinamentos da tradição iniciada por Carl Menger em 1871. Nas duas aulas que ministrei até o momento, observei a mesma vontade de aprender, que pode ser avaliada tanto pela postura dos alunos como pela grande quantidade de questões que levantam durante as aulas.

Estamos extremamente animados, porque sentimos que uma das missões do IMB está sendo cumprida e ampliada, mesmo em um estágio experimental, para além das fronteiras do nosso site (o que tinha acontecido no I e no II Seminários de Escola Austríaca realizados em abril de 2010 e 2011 em Porto Alegre): divulgar o pensamento dos grandes economistas que seguiram a tradição de Menger (1840-1921), como Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914), Friedrich von Wieser (1851-1926), Ludwig von Mises (1881-1973), Frederich August von Hayek (1899-1992), Murray Rothbard (1926-1995), Israel Kirzner, Roger Garrison e Hans-Hermann Hoppe, entre outros. Com este objetivo em mente e sabendo que a formação de economistas em nossas universidades apresenta forte viés intervencionista e, ainda, que tal deturpação ultrapassa o âmbito acadêmico para influenciar negativamente nossa economia e sociedade, o IMB sempre entendeu ser muito importante disseminar os ensinamentos dos austríacos de maneira sistematizada.

Nosso curso é pioneiro também em outro sentido: mesmo nas poucas universidades brasileiras em que não há um viés intervencionista forte, os estudantes são treinados dentro da “mainstream economics”, que trata a economia como se fosse uma ciência exata e dá muito pouca ênfase à formação humanista, e acaba por prevalecer nesses centros de ensino o puro tecnicismo dos modelos de equilíbrio geral.

foto.JPGO I Curso de Iniciação à Escola Austríaca de Economia é uma tentativa — já posso afirmar — vitoriosa de suprir as deficiências do ensino de Economia em nosso país, possibilitando às mais novas gerações de estudantes conhecimentos importantes, nos aspectos teóricos, epistemológicos, metodológicos, filosóficos, humanistas, de aplicações ao mundo real e de interdisciplinaridade e, portanto, contribuindo para aprimorar sua formação integral como seres humanos.

Todas as aulas estão sendo gravadas e os vídeos serão disponibilizados no site do IMB no mês de janeiro. A partir daí, observando cuidadosamente os acertos e as eventuais deficiências, com base nas observações da equipe do IMB e das sugestões dos próprios alunos e visitantes do site, pretendemos lançar, em 2012, uma segunda versão do curso, provavelmente também em outros centros importantes do país, e, posteriormente, oferecer cursos on line, para que os interessados de todos os cantos do Brasil e — por que não ousar? — do mundo, e que não poderão frequentar as aulas presenciais por questões de distância, possam enriquecer os seus conhecimentos com a extraordinária riqueza intelectual da Escola Austríaca.

Precisamos levar a Escola Austríaca ao maior número possível de pessoas, porque só assim será possível, algum dia, quebrar o paradigma falido da mainstream economics. Na situação atual, talvez apenas meia dúzia de gatos pingados tenha percebido que esse paradigma faliu… Se conseguirmos aumentar esse percentual, mesmo que de forma lenta, mas sempre permanente, as sementes plantadas serão capazes de crescer, florescer e dar frutos para, quem sabe, nossos filhos e netos, em termos de uma vida melhor, porque vivida com liberdade.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui