O que deve ser feito

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O papel dos intelectuais

Antes de explicar esta resposta como outro passo em direção ao objetivo, um segundo fato sociológico deve ser reconhecido: a mudança do papel dos intelectuais, da educação e da ideologia. Tão logo uma agência de proteção se torna um monopolista territorial — ou seja, um estado — ela deixa de ser um protetor genuíno e se transforma numa máfia de extorsão. E em consideração à resistência da parte das vítimas deste esquema de extorsão, um estado necessita de legitimidade, de justificação intelectual para o que ele faz. Quanto mais vai aumentando o esquema de extorsão do estado — isto é, com cada aumento adicional em impostos e regulamentações — maior se torna essa necessidade de legitimação.

Para assegurar a predominância do correto pensamento estatista, um monopolista de proteção irá utilizar sua posição privilegiada de operador de um esquema de extorsão para estabelecer rapidamente um monopólio da educação. Mesmo durante o século XIX sob condições monárquicas decididamente antidemocráticas, a educação, ao menos no nível da educação básica e universitária, já era em grande parte organizada monopolisticamente e financiada compulsoriamente. E foi em grande parte dos postos de professores e educadores do governo real, isto é, daquelas pessoas que tinham sido empregadas para serem os guarda costas intelectuais dos reis e príncipes, de onde o poder monárquico e os privilégios de reis e nobres foram ideologicamente questionados e em seus lugares ideias igualitaristas foram promovidas, nas formas da democracia e do socialismo.

E do ponto de vista dos intelectuais, isso se deu por uma boa razão. Porque democracia e socialismo de fato multiplicam o número de educadores e intelectuais, e esta expansão do sistema de educação pública estatal por sua vez levou a uma inundação ainda maior de lixo e poluição intelectuais. O preço da educação, assim como o preço da proteção e da justiça, aumentou dramaticamente sob a administração monopolística, ao mesmo tempo em que a qualidade da educação, assim como a qualidade da justiça, declinaram sem parar. Hoje em dia, somos tão mal protegidos quanto mal educados.

No entanto, sem a existência continuada do sistema democrático e da educação e pesquisa financiadas publicamente, a maioria dos atuais professores e intelectuais estaria desempregada ou seus rendimentos cairiam a uma pequena fração do que são hoje. Ao invés de pesquisas sobre a sintaxe dos povos afros, a vida amorosa dos mosquitos, ou a relação entre pobreza e crime por US$100.000 por ano, eles estariam pesquisando a ciência do cultivo de batatas ou a tecnologia da operação de uma bomba de gasolina por US$20.000.

O sistema monopolizado de educação é a esta altura um problema tão grande quanto o sistema monopolizado de proteção e justiça. Na verdade, a educação, pesquisa e desenvolvimento governamentais são o instrumento central pelo qual o estado protege a si próprio da resistência do povo. Hoje em dia, intelectuais são tão, ou até mais, importantes, do ponto de vista do governo, para a preservação de seu status quo, do que juízes, policiais e soldados.

E assim como ninguém pode converter o sistema democrático a partir do topo político para baixo, também não se pode esperar que esta conversão venha de dentro do sistema estabelecido de educação pública e de universidades públicas. Este sistema não pode ser reformado. É impossível os liberais-libertários se infiltrarem e tomarem conta do sistema de educação pública, como os democratas e socialistas puderam quando substituíram os monarquistas.

Do ponto de vista do liberalismo clássico, todo o sistema de educação financiado publicamente, ou através de impostos, deve sumir, inteira e completamente. E com essa convicção, é obviamente impossível para qualquer um construir uma carreira dentro dessas condições. Eu nunca serei sequer capaz de me tornar o reitor da universidade. Minhas opiniões me impedem de construir uma carreira deste tipo. Porém isso não quer dizer que a educação e os intelectuais não tenham uma parte a desempenhar na consecução de uma revolução libertária. Pelo contrário, como expliquei anteriormente, em última análise tudo depende da questão de se conseguiremos ou não deslegitimar e expor como uma perversidade moral e econômica, a democracia e o monopólio democrático da justiça e proteção.

Isto obviamente não é nada além de uma batalha ideológica. Porém seria teimosia assumir que o meio acadêmico público seria de alguma ajuda neste desafio. Na folha de pagamento do estado, os educadores e intelectuais tenderão a ser estatistas. Munição intelectual e direcionamento e coordenação ideológica só podem vir de fora do meio acadêmico estabelecido, de centros de resistência intelectual — de uma contracultura intelectual externa e independente, e em oposição fundamental ao monopólio governamental de proteção assim como de educação, como o Instituto Mises.

 

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