Os capitalistas preguiçosos que temem o progresso

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A tecnologia digital está reinventando o mundo, a serviço de você e de mim.  Trata-se de um livre mercado com esteróides.  Ela está driblando e contornando os guardiões do status quo e dando poderes a cada um de nós para inventarmos nossa própria civilização de acordo com nossas próprias especificações.

A promessa do futuro não é nada menos que espetacular — desde que aqueles que não possuem a imaginação para ver este potencial não consigam impor a todos nós o seu atraso.  Infelizmente, mas previsivelmente, algumas das maiores barreiras para este futuro brilhante e promissor são os próprios capitalistas que temem o futuro e que não querem ter o trabalho de se aprimorarem.

Um bom exemplo disso é a atual histeria a respeito da impressora que imprime em 3-D e, com isso, literalmente duplica objetos.  Trata-se de uma tecnologia que, com inacreditável rapidez, saiu do âmbito da ficção científica e veio para o mundo real, aparentemente em questão de meses.  Você pode hoje conseguir impressoras destas por míseros US$400.  Estas impressoras permitem que objetos sejam transportados digitalmente, e sejam literalmente impressos e criados em frente a seus olhos.

É como um milagre!  Isto pode mudar absolutamente tudo o que conhecemos hoje sobre o transporte de objetos físicos.  Em vez de enviar caixotes e navios ao redor do mundo, no futuro iremos apenas enviar dígitos, que serão convertidos em objetos.  O potencial que esta invenção apresenta para se combater e contornar monopólios e interesses estabelecidos é espetacular.

Mas veja o que relatou a revista Wired Magazine [revista sobre tecnologia] na semana passada:

No início deste ano, Thomas Valenty comprou uma MakerBot — uma impressora 3-D barata que permite a você criar objetos de plástico.  Seu irmão possuía alguns Guardas Imperiais do jogo de tabuleiro Warhammer, de modo que Valenty teve a ideia de desenhar algumas miniaturas baseadas no mesmo estilo das miniaturas do jogo, como um guerreiro e um tanque.

Ele passou uma semana refinando os desenhos até finalmente ficar satisfeito.  “Tive muito trabalho”, diz ele.  Após a criação, ele postou os arquivos para download gratuito no Thingiverse, um site que permite a você compartilhar instruções para a impressão de objetos em 3-D.  Pouco tempo depois, vários outros fãs começaram a fazer o mesmo.

Até que alguns advogados foram acionados.

A Games Workshop, a empresa do Reino Unido que produz o Warhammer, descobriu o trabalho de Valenty e enviou ao Thingiverse uma notificação de fechamento de site, citando o Digital Millennium Copyright Act.  O Thingiverse retirou os arquivos do site, e Valenty repentinamente se tornou um relutante combatente da próxima guerra digital: a batalha pela cópia de objetos físicos.

Então aí está.  A Câmara de Comércio dos EUA — a suposta defensora da livre iniciativa — está em estado de pânico completo, determinada a esmagar a impressão 3-D em seu berço, ou, no mínimo, a garantir que ela jamais cresça.

Na década de 1940, Joseph Schumpeter disse que os capitalistas iriam destruir o capitalismo caso insistissem em fazer com que seus vigentes modelos de lucratividade se perpetuassem para sempre, em total descompasso com todas as mudanças no mercado que surgem continuamente.  Ele disse que a classe capitalista iria, com o tempo, perder o gosto pela inovação e iria insistir para que o governo criasse leis que abolissem as inovações.  Tudo em nome da proteção das elites empresariais.

Um exemplo: quando músicas e livros começaram a ser digitalizados, houve muita gritaria.  Como iriam escritores e músicos sobreviver a este ataque?

A verdade é que não houve nenhum ataque.  Muito pelo contrário.  Aquilo que foi inicialmente pensado para dar mais comodidade aos consumidores se transformou na maior dádiva já concebida para a música e para a literatura.  Hoje podemos ver como tudo isso está funcionando.  E não apenas está funcionando, como há escritores e músicos ganhando mais dinheiro hoje do que jamais na história.

Os métodos utilizados atualmente jamais poderiam ter sido imaginados antecipadamente.  Alguns disponibilizam seus conteúdos e vendem suas apresentações ao vivo.  Outros inventaram novos e interessantes métodos de distribuir conteúdos, como estabelecendo um site acessível apenas para assinantes, e cobrando quantias módicas e convenientes.  Escritores estão começando a publicar sem recorrer a grandes editoras, utilizando para isso vários foros criados por usuários de internet.

Recentemente, visitando alguns museus, comecei a me dar conta de algo extremamente importante a respeito do nosso longo processo de aperfeiçoamento tecnológico.  Ao longo de toda a nossa história de luta por aprimoramentos e avanços, cada melhoria, cada mudança de paradigma, cada abandono do velho em prol do novo geraram pânicos.  O maior pânico, tipicamente, sempre advém dos próprios produtores, que se ressentem da maneira como o processo de mercado desestabiliza seus modelos empresariais.

Já foi dito que o rádio acabaria com as apresentações ao vivo.  Ninguém mais iria querer aprender música.  Todas as músicas, concertos e apresentações seriam executadas apenas uma vez, gravadas para a eternidade, e este seria o fim.  É claro que isso não foi o que aconteceu.

Depois, quando inventaram o disco, novo pânico.  Dizia-se que esta invenção iria destruir o rádio.  Depois o mesmo processo se repetiu com a invenção das fitas K-7, com todo mundo prevendo o novo fim da indústria da música, já que as músicas podiam agora ser facilmente duplicadas (“A Gravação Doméstica Está Matando a Música”).  E o mesmo apocalipse foi vaticinado com a invenção da música digital: agora sim veremos o fim de toda a música!

E pense no mercado de livros do século XIX.  Naquela época, grandes e poucas casas editoriais dominavam o mercado.  Muitos previram que isso iria acabar com o surgimento de novos escritores porque as pessoas iriam comprar apenas livros de velhos autores, que eram baratos e acessíveis.  Novos escritores iriam morrer de fome e, com isso, ninguém mais iria querer escrever.

Observe que há um padrão nisso tudo.  Cada nova tecnologia que é inventada e que se torna lucrativa faz com que as pessoas gritem e lamentem as dificuldades de seus atuais produtores.  Mas aí ocorre o imprevisto: com o tempo, este setor que todos imaginavam em apuros começa a prosperar como nunca antes, só que de maneiras que ninguém realmente esperava.

O grande segredo da economia de mercado é que ela agrega uma tendência de longo prazo: caso os métodos de produção e distribuição não sejam continuamente alterados, todos os lucros serão dissipados.  É assim que a concorrência funciona.  É assim que a concorrência não apenas inspira o aperfeiçoamento, como também faz com que ele seja inevitável.  E este é um dos motivos por que vários capitalistas odeiam o capitalismo.

O processo funciona assim: uma nova invenção surge no mercado e começa a auferir altos lucros.  Ato contínuo, os imitadores se dão conta desta nova invenção e começam a fazer o mesmo, só que de forma melhor e mais barata, acabando com o status monopolista do primeiro produtor.  Imitadores geram novos imitadores, dando continuidade ao processo.  No final, os lucros tendem a zero.  E aí algo ainda melhor tem de ser inventado para atrair novos empreendimentos e permitir novos lucros.  Isso, por sua vez, irá estimular novos imitadores, reiniciando todo o processo.

Nunca consegui entender por que esquerdistas reclamam de os lucros irem para os capitalistas.  Em uma economia de mercado vibrante, lucros são a exceção temporária à regra.  Eles são conseguidos somente pelas empresas mais inovadoras e eficientes, aquelas que servem com mais eficácia aos consumidores.  Os ganhos nunca são permanentes.  Tão logo a empresa perca sua vanguarda, os lucros empreendedoriais desaparecem.

Sob a concorrência gerada pelo livre mercado, escreveu Ludwig von Mises, a trajetória dos modelos de produção e distribuição vigentes sempre tende a reduzir os lucros a zero.  Para aqueles que querem se manter lucrativos, descanso e relaxamento são atitudes proibidas.  Manter-se original e aprimorado é uma exigência diária.  É necessário um incessante esforço para descobrir como servir aos consumidores de maneiras que são cada vez mais excelentes.

É por isso que as grandes empresas estão sempre correndo para o colo do governo, pedindo proteção.  Acabem com esta nova tecnologia!  Parem as importações!  Aumentem os custos para a concorrência!  Criem mais regulamentações!  Concedam-nos uma patente para que possamos derrotar os outros caras!  Imponham novas leis antitruste!  Protejam-me com direitos autorais!  Intensifiquem as regulamentações e aumente a burocracia até tirar os novos do mercado!  Socorram-nos com pacotes de estímulo!

Além de tudo isso, sempre há o temor público em relação ao novo.  Caso contrário, as pessoas de maneira alguma seriam persuadidas por todos estes protestos rotineiramente feitos por empresários já estabelecidos.  Afinal, eles protestam exclusivamente em causa própria.

E eis aí um fato notável sobre a mente humana: temos grandes dificuldades em imaginar soluções que ainda têm de ser apresentadas.  Não importa o quão recorrentemente o mercado se mostre capaz de solucionar problemas aparentemente incuráveis; ainda assim não conseguimos nos acostumar a esta realidade.  Nossa mente raciocina em termos das condições existentes, o que nos faz prever todos os tipos de catástrofes.  Com incrível frequência somos incapazes de consistentemente esperar pelo inesperável.

Isto gera um sério problema para a economia de mercado, que nada mais é do que a capacidade do sistema de inspirar a descoberta de novas ideias e novas soluções para os problemas vigentes.  Os problemas trazidos pela mudança são suficientemente óbvios; mas as soluções são de “conteúdo aberto” e surgem de lugares, pessoas e instituições que não podem ser vistas ou previstas com antecedência.

O capitalismo não é para os fracos e preguiçosos que não querem se aprimorar continuamente.  Se você quer um arranjo que privilegie o lucro de alguns poucos em detrimento da prosperidade e da abundância para todos, então o socialismo e o fascismo realmente são sistemas preferíveis.

As pressões para se interromper o progresso gerado pelo mercado não funcionarão no longo prazo, é claro.  A tecnologia, com o tempo, conseguirá derrubar as forças que se opõem ao progresso.  Os mercantilistas podem apenas postergar este processo, mas jamais conseguirão suprimir a incontrolável ânsia humana por uma vida melhor.

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