Segurando o tigre pelo rabo

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crt_tiger_G_20111206071248O noticiário reverbera que a economia chinesa está vivenciando uma inflação de preços mais robusta.  No acumulado em 12 meses, os preços ao consumidor subiram 3,6% em março, incluindo uma escalada de 7,5% nos preços dos alimentos.  Até mesmo os preços dos venerados remédios herbais chineses dispararam 8,3%.  De acordo com uma hilária reportagem da CNNMoney, a inflação é “o preço da prosperidade”.  O repórter fatuamente nos ensina que “embora o aumento de preços represente desafios para os consumidores, ele é o subproduto de uma das mais robustas economias do mundo”.  Uma comparação entre o crescimento de 9,2% do PIB da China em 2011 e o irrisório crescimento de 1,2% do PIB dos EUA no mesmo ano é jogada displicentemente na reportagem como prova de tal afirmação.

Tal lógica não apenas é um completo disparate, como também representa um dos mitos mais profundamente arraigados tanto na academia quanto na mídia.  A teoria econômica básica demonstra que o “crescimento econômico”, que nada mais é do que um aumento na oferta de vários bens e serviços, é um fenômeno intrinsecamente deflacionário.  Um aumento na oferta de qualquer bem (ou serviço), com tudo o mais constante, principalmente a quantidade de dinheiro na economia, resulta em uma queda em seu preço e em um crescimento de suas vendas, uma vez que o excesso de oferta deste bem reduz o preço de equilíbrio e aumenta a quantidade demandada.

Esta irrefutável verdade econômica tem sido recorrentemente ilustrada desde o final da década de 1970 pelos acentuados declínios nos preços de itens como computadores portáteis, vídeo games, HDTVs (televisões de alta definição), câmeras digitais e celulares, e de tratamentos médicos não segurados, como cirurgias oculares a laser e cirurgias cosméticas.  Esta queda nos preços não apenas não gerou nenhuma estagnação nestas indústrias, como, ao contrário, coincidiu com sua rápida expansão.  Este fenômeno extremamente salutar para a economia é conhecido como “deflação induzida pelo crescimento“.

Qual é, portanto, a causa da acelerada inflação de preços chinesa?  Não é necessário procurar muito; basta analisar a evolução da oferta monetária.  O agregado monetário M2, que inclui o papel-moeda em poder do público mais todos os depósitos bancários, aumentou 13,6% em 2011, muito embora o Banco Central da China tenha estipulado uma meta de aumento ainda maior, de 16%.  Recentemente, o BC chinês anunciou que, para 2012, sua meta de aumento para a oferta monetária será de 14%.

Esta política de metas de inflação, tão adorada pelos macroeconomistas contemporâneos, pressagia uma inflação de preços ainda mais rápida para os consumidores chineses nos anos vindouros.  Ainda mais importante, esta altamente frouxa postura monetária chinesa, tão antiga quanto consagrada, significa que foi a expansão artificial do crédito, gerada pela expansão monetária, o que aditivou grande parte do rápido crescimento da economia chinesa, o que significa que a mesma é insustentável e fadada ao colapso.  Com efeito, o ritmo do crescimento econômico chinês já começou a vacilar nos dois últimos trimestres.  Como resposta a estes titubeios, o BC chinês já reduziu os compulsórios duas vezes nos últimos três meses.

Tendo já permitido que o tigre da inflação saísse da jaula, o governo chinês está agora desesperadamente tentando segurá-lo pelo rabo.  Restam ao governo duas alternativas: ou ele consegue conter o tigre imediatamente, voltando a enjaulá-lo e lidando em seguida com os inevitáveis estragos que virão na forma de uma acentuada redução na taxa de crescimento econômico; ou ele simplesmente solta o rabo do tigre e permite que sua florescente economia de mercado seja devorada pela besta inflacionária, recorrendo depois à reimposição das famosas medidas de centralização e controle direto da economia.

No primeiro caso, as economias dos países que exportam para a China serão impactadas.  No segundo caso, os países que importam da China vivenciarão um aumento nos preços dos produtos importados, o que dará margem para que os fabricantes nacionais, agora sem esta concorrência tão poderosa, também aumentem seus preços.

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