“Uma moeda depreciada é boa para a economia”

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos

01_tombiniA lógica mercantilista, diligentemente seguida por vários governos, é a de que a depreciação da moeda — isto é, a desvalorização da taxa de câmbio — estimula a economia.

O problema é que tal raciocínio não faz nenhum sentido.

Se você possui uma determinada moeda, e todos os preços cotados nesta moeda caem, você certamente irá se beneficiar deste arranjo.  Você lucraria com ele.

Mais ainda: você não teria de pagar nenhum imposto sobre este lucro, pois o lucro não seria na forma de um aumento na sua quantidade de dinheiro; o lucro seria na forma de um aumento na quantidade de bens e serviços que você é capaz de comprar com a mesma quantidade de dinheiro que você possuía antes.

Portanto, uma deflação de preços traria um enorme benefício para você.

Agora, se é benéfico para você portar esta moeda em um momento que os preços dos bens e serviços estão caindo, por que seria ruim para o público em geral do seu país portar esta mesma moeda em um momento em que os preços das moedas estrangeiras estão caindo?

Quando a sua moeda se torna capaz de comprar uma quantia cada vez maior de moedas estrangeiras à medida que o tempo passa, está havendo uma deflação de preços para os itens que estão sendo comprados: as moedas estrangeiras.

Por que seria desvantajoso para a população deste país ter uma moeda que ganha poder de compra em relação às outras?  Por que seria ruim ser usuário desta moeda e por que seria bom ser usuário das moedas estrangeiras que estão se desvalorizando mais?  Não faz sentido.  Será que há suíços ansiosos para trocar seus francos por bolívares venezuelanos ou por pesos argentinos?

O que é bom para um indivíduo honesto é bom para a nação.  Se é bom para um indivíduo ter um moeda que está se valorizando, então é bom para toda uma nação ter uma moeda que está se valorizando.  Como é possível dizer que é algo bom para os indivíduos utilizarem uma moeda que está se valorizando e, ao mesmo tempo, dizer que o país deveria instruir seu Banco Central a não permitir que a moeda nacional se valorize?

Vivemos em uma era mercantilista.  Aquelas grandes empresas voltadas para a exportação querem ver o valor de suas moedas domésticas caindo continuamente.  Todas as empresas voltadas para o setor exportador, de todos os países, querem que isso ocorra.  Em outras palavras, elas não querem viver um sistema em que os preços são definidos pelo livre mercado.  Elas querem que os bancos centrais de seus países intervenham de modo a reduzir o valor internacional de sua moeda doméstica.

Sendo assim, por essa lógica, o que é bom para indivíduos passa a ser supostamente ruim para toda a nação.  Porém, o que é a ‘toda a nação’ se não o agregado de todos os indivíduos?

Sempre que você ouvir alguém dizendo que a moeda do seu país tem de se desvalorizar em relação ao dólar — ou que o dólar tem de encarecer —, você está na presença de um mercantilista.  Trata-se de alguém que crê que a perda do poder de compra da moeda nacional é algo bom.  Ele pensa assim porque a depreciação cambial representa um subsídio ao setor exportador.

Porém, deveria ser algo óbvio que, quando partimos da lógica de que aquilo que é bom para o indivíduo é bom para a maioria dos cidadãos do país, uma moeda doméstica em contínua apreciação em relação às moedas estrangeiras é algo positivo.  Isso indica que seu banco central está inflacionando menos do que os outros bancos centrais ao redor do mundo.  Significa que seu banco central está sendo mais austero e mantendo a sua moeda mais robusta.  E uma moeda robusta é aquela que está se valorizando.

Mas não é assim que políticos pensam.  E também não é assim que economistas dos bancos centrais pensam.

Somente exportadores gostam de uma moeda que está se desvalorizando internacionalmente.  E são muito poucas as pessoas de uma economia que trabalham para exportadores.

Desvalorizar a moeda de um país é um ato que gera uma redistribuição de riqueza dentro do próprio país.  A riqueza é retirada dos setores da economia que não estão ligados à exportação e direcionada para os setores ligados à exportação.

Adicionalmente, a desvalorização funciona como um subsídio aos compradores estrangeiros.  Desvalorizar a moeda de um país é uma bênção para os estrangeiros, pois agora eles poderão importar bens deste país a preços mais baratos.  Os estrangeiros poderão agora comprar mais bens com sua moeda, a qual repentinamente se valorizou perante a moeda do país que desvalorizou.  A consequência deste subsídio aos estrangeiros é a redução da oferta de bens no mercado doméstico, o que pressiona ainda mais a carestia.

Sempre que políticos e economistas de seu país disserem que o câmbio tem de se desvalorizar, eles não verdade estão querendo subsidiar os estrangeiros.  Com a desvalorização, bens que até então estavam relativamente caros passarão a se tornar uma verdadeira barganha para os estrangeiros — ao menos até que os preços comecem a subir em consequência da desvalorização da moeda.

No início do processo de desvalorização da moeda, o setor exportador conseguirá comprar fatores de produção a preços que ainda não se alteraram.  Com o passar do tempo, a desvalorização da moeda começará a exercer efeitos inflacionários sobre toda a economia, gerando aumento de preços.  Neste ponto, o setor exportador será forçado a elevar seus preços.  Ato contínuo, é de se esperar que os exportadores clamem por novas rodadas de desvalorização cambial para reiniciar o ciclo e favorecê-los novamente.

De novo vale ressaltar que, quanto mais bens forem exportados, menor será a oferta destes bens no mercado interno, algo também propício a gerar mais inflação de preços e, consequentemente, um menor padrão de vida.

É de se lamentar que a maioria das pessoas não entenda de economia.  Para os exportadores, no entanto, que se beneficiam deste assalto ao poder de compra da população, essa ignorância econômica de seus compatriotas é uma dádiva.  Dado que é impossível ganhar algo a troco de nada, o que ocorre é que um pequeno grupo de exportadores ganha muito e, em troca, o restante das massas fica com preços crescentes para quase todos os bens e serviços da economia.

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