Alan Greenspan e os ciclos econômicos

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GreenspanUma grande parte dos efeitos negativos da atividade do Banco Central é revelada pelo estudo da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE). Portanto, uma breve análise se faz necessária. Os princípios básicos da TACE estão vinculados a duas proposições universais da macroeconomia: tempo e dinheiro. A produção da indústria moderna é um processo que consome tempo, sendo este medido em unidades monetárias tais como dólares, ienes ou euros. A dimensão intertemporal da produção é geralmente negligenciada por outras escolas, mas é corretamente enfatizada pelos austríacos. Para tanto, eles traçam uma distinção entre bens de maior ordem (matéria prima, maquinário, bens semi-acabados) e bens de consumo de menor ordem. Os primeiros são empregados relativamente cedo nos estágios iniciais da produção, enquanto os últimos são o resultado das várias etapas do processo. A estrutura da produção é complexa, “esticada” através dos períodos de tempo e vulnerável a erros de alocação. Em particular, os insumos complementares devem ser empregados não somente na quantidade adequada, como também devem ser empregados no momento correto. Se não forem, logo os projetos que antes pareciam lucráveis, não mais serão. Em outras palavras, uma alocação intertemporal errônea vai levar a um consumo do capital investido.
Simplificando um pouco, poderíamos dizer que os economistas clássicos como David Ricardo, John Baptiste Say, Adam Smith e John Stuart Mill, focaram no estado da economia no longo prazo. Keynesianos, no curto prazo. A Teoria Austríaca, no médio prazo.

Os austríacos pensam assim porque é neste período que surgem os problemas cíclicos. No curto prazo, a estrutura do capital não pode ser alterada significativamente, e no longo prazo – em tese – todos os erros já foram descobertos e solucionados. Em contraste, no médio prazo há tempo suficiente para se iniciar projetos de capital e para mudar os rumos da produção, mas não há tempo suficiente para liquidar possíveis investimentos ruins, ao menos não sem graves repercussões. É a heterogeneidade dos bens de maior ordem que torna tão difícil redirecionar os projetos uma vez que eles foram iniciados. O maquinário pesado destinado à construção de aviões não pode facilmente ser convertido em fornos de assar pães.

Ciclos econômicos são caracterizados por um “boom” ou período expansionista que se revela insustentável e consequentemente leva a um “declínio” ou período de contração. A natureza insustentável do “boom” é caracterizada por um “amplo conjunto de erros empresariais” (Rothbard [1963]). A fonte desses erros é a divergência entre as taxas de juros do mercado e as taxas de juros naturais. A taxa de juros de mercado resulta de uma interação entre oferta de e demanda por crédito. Por sua vez, a taxa natural de juros é uma expressão das preferências temporais dos indivíduos, isto é, a proporção de gastos (bens atuais) relativos à poupança (bens futuros). Se, em uma tentativa de estimular a economia, o Banco Central injeta mais dinheiro e crédito no sistema, as taxas de juros de mercado irão declinar. Isto fará aparentar que os consumidores preferiram poupar em uma proporção maior que antes, quando, de fato, eles não estão agindo dessa forma. A abundância de crédito e a relativamente baixa taxa de juros encoraja os homens de negócios a estender o processo de produção. Este é o corolário do fato financeiro elementar que, tão logo caiam as taxas de juros, o valor líquido atual dos projetos de longo prazo aumentam em relação aos de curto prazo. A demanda empresarial por bens de produção aumenta consequentemente e os preços dos bens de maior ordem aumentam em face dos preços de bens de consumo final.

Os resultados, apesar de parecerem benéficos, são uma estrutura de produção insustentável. As preferências temporais dos consumidores seguem inalteradas, e eles continuarão exercendo uma alta demanda por bens de consumo final, e os preços destes bens de consumo passam a aumentar em relação aos bens de produção – revertendo a prévia relação de preços. Os recursos necessários para permitir que os projetos de longo prazo sejam lucráveis não vão estar disponíveis prontamente, logo, muitos serão liquidados. Outros estarão prontos para produzir, mas agora com prejuízos. A produção econômica neste cenário está sendo arrastada em duas posições opostas: os empresários querem mais bens de capital e os seus complementos, enquanto os consumidores querem mais bens de consumo. Ambas as necessidades não podem ser satisfeitas ao mesmo tempo.

A correção se impõe na forma de recessão, na qual investimentos em negócios são drasticamente reduzidos, a produção agregada diminui, e o desemprego aumenta. A estabilidade macroeconômica só pode ser alcançada se o Banco Central findar a expansão do crédito, permitindo desta feita que a taxa de juros do mercado coincida com as preferências temporais dos consumidores. Se, ao contrário, o Banco Central agir para atender as exigências que clamam por uma intervenção para cessar a crise, mantendo as taxas de juros baixas, muitos projetos que estão falidos serão mantidos artificialmente em atividade. Em última análise, isto só vai prolongar e exacerbar os problemas.

Já ficou expressamente claro que, apesar do seu conhecimento sobre a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos, como acima explicado, Greenspan a rejeita completamente. Por várias vezes, ele estava no controle de um Banco Central (FED) que sobre-estimulou a economia. Além disso, a qualquer sinal de uma recessão, Greenspam agia precisamente da maneira errada. Ele aumentava a oferta de dinheiro e crédito, inundava a economia com “liquidez” e reduzia as taxas de juros.

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Tradução de Rodrigo Szuecs

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