Um dos melhores testes para determinar se um colunista financeiro ou um economista profissional é um keynesiano é examinar sua opinião em relação a gastos individuais. Se ele defende que o aumento dos gastos individuais é uma maneira de estimular a economia, ele é um keynesiano. Ele pode até não se considerar um keynesiano, mas ele é um keynesiano.
John Maynard Keynes acreditava que a economia poderia entrar em uma depressão que se realimentaria a si própria interminavelmente caso o público passasse a poupar muito dinheiro. Ele acreditava que a chave para o crescimento econômico não era a produtividade, mas sim o gasto. Ele não acreditava que o sistema de preços fosse um sistema confiável para a alocação de recursos. Por exemplo, ele não via a taxa de juros como um preço que aloca adequadamente os investimentos e a poupança. Ele acreditava ser possível que muitas pessoas na economia pudessem poupar dinheiro simplesmente guardando o papel-moeda em suas casas – e não depositando em um banco, onde ele é imediatamente emprestado. Isso, dizia ele, arruinava o papel da taxa de juros de equilibrar a poupança e os investimentos.
Em primeiro lugar, essa observação é irrelevante em um mundo onde quase toda a moeda está depositada em uma conta bancária – ou está no exterior, alimentando o mercado negro.
Em segundo lugar, guardar dinheiro (“entesourar”) pressiona os vendedores a reduzirem seus preços. Isso funciona como um incentivo para as pessoas comprarem mais bens e serviços com seu dinheiro. Assim, o alegado problema do excesso de oferta de bens desaparece. Entesourar o dinheiro é um meio de poupar. Essa frugalidade produz um resultado positivo: preços menores e, por conseguinte, um maior poder de compra para o dinheiro. Esse processo foi menosprezado por Keynes como sendo uma armadilha da liquidez. Não era armadilha. Era algo que beneficiava os detentores do dinheiro.
Keynes e seus discípulos tinham uma solução para a armadilha da liquidez: aumentar o gasto governamental e a inflação monetária. Isso provocaria uma desvalorização do dinheiro, o que obrigaria os entesouradores a gastar. O evento que elevou esse processo a uma escala mundial foi a Segunda Guerra. Em nome do esforço de guerra, todas as nações autorizaram seus respectivos bancos centrais a inflacionar.
E é isso que todos eles estão fazendo novamente, no nosso mundo keynesiano, no qual raramente um indivíduo no Ocidente entesoura dinheiro. Os bancos centrais estão inflacionando. Os governos estão incorrendo em enormes déficits.
GASTOS GOVERNAMENTAIS
O keynesiano imagina que, em uma recessão, o mundo não mais sofre com problemas de escassez. Ele crê não haver oportunidades para se obter lucros com a oferta de serviços para consumidores futuros (isto é, não há expectativas de investimentos lucrativos). O keynesiano acredita que o governo central deve intervir e gastar dinheiro com o intuito de estimular a economia. A demanda privada esperada para bens futuros é insuficiente para persuadir os empresários a investir dinheiro para satisfazer essa demanda. O retorno esperado do capital é zero. O economista keynesiano acredita que, se o governo obtiver dinheiro via empréstimos e se puser a gastá-lo, ele poderá aumentar a demanda dos consumidores. Esse aumento da demanda estimularia a economia. Assim, haveria crescimento econômico e, consequentemente, o governo iria obter uma taxa de retorno positiva em seus investimentos. É isso que os políticos atuais estão prometendo. “O governo receberá o dinheiro de volta”. É uma fantasia. E, mesmo que funcionasse, isso beneficiaria o governo, e não os contribuintes.
Keynes foi bem claro num ponto: não interessa em quê o governo irá investir. Não faz diferença se o governo vai gastar todos os centavos construindo pirâmides ou estradas. Ou, como ele disse, o governo pode colocar dinheiro dentro de jarras e esconder essas jarras por todo o país. Dessa forma, as pessoas teriam um incentivo para sair por aí cavando buracos à procura dessas jarras cheias de dinheiro. E isso iria estimular a economia. Você acha que estou exagerando? Pois foi exatamente isso que Keynes ensinou em sua suposta obra-prima, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936). Os manuais econômicos keynesianos compreensivelmente quase nunca colocam essa citação, que é muito embaraçosa. Ao invés disso, eles preferem colocar equações que mostram – o que tencionam mostrar – que a solução para o desemprego é o gasto governamental. O governo pode gastar o dinheiro no que quiser, pois isso irá gerar demanda por mão-de-obra.
Se alguém acredita em algo tão tolo quanto o sistema econômico keynesiano, provavelmente irá acreditar que os gastos com consumo, por si sós, podem criar uma demanda capaz de fazer com que a economia magicamente saia de sua condição recessiva. Essa pessoa irá acreditar que, se ela conseguir persuadir uma quantidade suficiente de pessoas a sair de casa e gastar muito dinheiro, não importa em quê, a economia irá renascer.
O problema é que, a única maneira de as pessoas saírem consumindo é se elas gastarem o dinheiro que, de outra forma, teria sido poupado e investido em bens de capital. Outra opção é o indivíduo pegar dinheiro emprestado para comprar seus bens de consumo, o que irá redirecionar o dinheiro que estava na poupança – e que iria financiar um investimento – para a consumação pura e simples. Uma das razões porque os consumidores são tão bem sucedidos em desviar para o consumo o dinheiro que de outra forma iria para o investimento é que eles estão sempre dispostos a pagar taxas de juros ridiculamente altas a fim de poderem continuar gastando. Um empresário provavelmente não irá pagar de 18 a 24% ao ano para investir em algum projeto; já um consumidor, sim. E milhões deles fazem isso toda semana. Eles pagam taxas de juros exorbitantes para comprar bens que, no mês seguinte, já estarão valendo no mercado de produtos usados metade do que valiam no varejo. Esses indivíduos são tão orientados para o presente que nem ligam muito para o futuro. Eles só querem consumo imediato.
Você poderia pensar que depender dos consumidores para resgatar a economia significa colocar a esperança sobre pessoas que têm um julgamento econômico muito fraco. E estaria certo se assim pensasse. Essas pessoas são imediatistas, totalmente voltadas para o presente. Elas sofrem daquilo que Ludwig von Mises chamava de preferência temporal alta.
O keynesiano acredita que a chave para a prosperidade econômica de longo prazo é a gastança – e se isso exigir déficits governamentais, que assim seja. Para o keynesiano, não importa quem irá gastar o dinheiro, nem de onde vem o dinheiro e nem em que ele será gasto. A gastança pode ficar a cargo de um consumidor sem qualquer discernimento econômico ou pode ficar a cargo de um burocrata do governo, com noção ainda pior de economia, encarregado de gastar o dinheiro público em projetos econômicos irracionais. O keynesiano está convencido de que esses dois indivíduos, não obstante sua ampla ignorância econômica, são plenamente capazes de produzir prosperidade econômica caso simplesmente saíam gastando dinheiro em qualquer coisa que lhes pareça divertida.
Uma pessoa sem um amplo conhecimento das idéias dos economistas keynesianos pode achar tal receita absurda. Ele iria concluir que ninguém em seu juízo perfeito iria acreditar em tamanho contrassenso. Mas essa conclusão está errada. Os economistas acadêmicos acreditam nela, assim como a quase totalidade dos políticos. Eles já começaram a mostrar o tanto que acreditam nessa teoria. O déficit do governo está se acelerando a fim de colocar a economia pra funcionar novamente. Isso é teoria keynesiana pura.
Keynes não acreditava que os indivíduos iriam responder favoravelmente às ordens para se gastar mais dinheiro durante uma recessão ou uma depressão. É por isso que ele defendia que o governo interviesse e incorresse em enormes déficits para estimular a economia. Ele acreditava, corretamente, que políticos e burocratas têm muito menos pudor para gastar o dinheiro alheio do que os indivíduos têm em relação ao seu próprio dinheiro. É por isso que Keynes clamava aos políticos para aumentarem os déficits a fim de se aumentar o gasto agregado.
QUANDO UM MERCADO FINANCEIRO SE TORNA UM GIGANTESCO ESQUEMA PONZI
Os “especialistas” dizem que a bolsa vai subir, que o preço das ações em geral irão subir. Isso significa que, no geral, a economia vai crescer. Mas essas pessoas pensam apenas em termos de agregados. “Um déficit governamental irá estimular a economia, o que irá levar a um aumento geral do mercado de ações”.
Procede?
Peguemos o próprio exemplo americano. De 1982 até o ano 2000 houve um aumento generalizado nos preços das ações. Mas esse aumento foi baseado em uma premissa falsa, a saber: que o aumento da produtividade americana seria suficiente para permitir que as empresas pagassem aos investidores belos dividendos no futuro.
Mas ignoraram o óbvio: os dividendos, durante todo esse período, foram baixos em termos gerais. Um indivíduo mal podia pagar as supostamente baixas taxas das ações no-load (ação vendida diretamente pela empresa, sem corretagem) com os dividendos que ele recebia. Os lucros foram baixos durante todo o período, levando a uma P/L muito alta, 40, no ano 2000 – para a NASDAQ, chegou a 200. Isso já deveria ter deixado óbvio que todo o sistema era um enorme esquema Ponzi. Sua continuidade dependia da disposição de um tolo ainda maior que você comprar suas ações a um preço mais alto no futuro. Aqueles que chegaram antes, obtiveram lucros; aqueles que chegaram por último, perderam até as camisas.
A partir de março de 2000, esse esquema Ponzi começou a se autodestruir. Os índices de ações atingiram o ápice em 2000 – e, se você descontar a inflação de preços, todos os índices estão mais baixos hoje do que estavam em março de 2000. Aquele foi o mês em que disse aos meus assinantes para saírem do mercado de ações e ficarem fora dele até segunda ordem. Era óbvio para mim que o ápice já havia sido atingido. Era claro para mim que um P/L de 200 para a NASDAQ não podia ser sustentável. Ele iria despencar. E despencou. 80%.
Os eufóricos e otimistas não quiseram mudar sua prosa persuasiva. Eles continuaram mandando as toupeiras comprar algum índice de mercado e mantê-lo. Isso já seria um conselho suicida em 2000; em 2007, foi algo ainda mais suicida. Mas as toupeiras gostaram da ladainha e isso estimulou os keynesianos a manter suas pregações, junto com os chicaguistas e os supply-siders. Só que todos os esquemas Ponzi eventualmente entram em colapso. É por isso que o mercado de ações está em baixa atualmente.
Todo investimento cujo retorno não se baseia em aumentos reais da produtividade dos negócios em que se está investindo – sejam títulos, certificados de depósito ou sonhos de uma boa aposentadoria no longo prazo – é um esquema Ponzi. Pode ser um esquema Ponzi governamental, como a previdência do setor privado e principalmente do setor público, que promete enormes benefícios para os funcionários públicos; pode ser também o investimento em algum índice de mercado. Todos os esquemas Ponzi possuem a mesma coisa em comum: a produtividade futura não irá pagar aos investidores dinheiro suficiente, com poder de compra crescente ou até mesmo constante, para que eles possam realizar seus objetivos. Os objetivos de uma aposentadoria farta, com a qual esses investidores sonham, são impossíveis de serem realizados por meio das estratégias de investimento recomendadas pelos experts. Os investidores acreditam em tolices, e aparentemente seus conselheiros também acreditam. Políticos são eleitos por causa dessa tolice. Mas ainda assim trata-se de uma tolice.
A RIQUEZA POR MEIO DA POUPANÇA
Dizer aos consumidores que eles podem aumentar a produtividade da economia ao simplesmente saírem gastando dinheiro é keynesianismo. É insensatez total. A única maneira de aumentar a produtividade de uma economia é através da poupança. O dinheiro gerado por essa poupança deve então ser investido sensatamente, do ponto de vista das condições futuras, de modo que a empresa ou fundo que esteja fazendo o investimento possa obter algum lucro. Se a economia não puder gerar esse lucro através do aumento da produtividade, ela eventualmente se verá incapaz de levantar capital adicional. E sem capital adicional, não tem como haver aumento na produtividade.
Os economistas supostamente deveriam saber disso, mas desde a Grande Depressão e a publicação da obra magna de Keynes, a maioria deles passou a não mais acreditar nisso. Eles acreditam que a maneira mais rápida de se atingir a prosperidade é sair gastando desmesuradamente, seja através de gastos privados ou de gastos governamentais. O sistema keynesiano é contrário ao investimento durante recessões.
O governo americano está hoje dando dinheiro para a Chrysler e para a GM porque os consumidores americanos não estão mais comprando os produtos dessas duas empresas. O governo sabe que não é capaz de dar para cada cidadão dinheiro suficiente para que ele compre um carro novo da GM ou Chrysler. Por isso, o governo recorre ao esquema de utilizar dinheiro do contribuinte para oferecer empréstimos a taxas abaixo do mercado para empresas que, de outra forma, já estariam quebradas. Essa é a alternativa que sobrou ao governo, já que ele não acredita que o público irá gastar seu dinheiro do jeito que os políticos querem.
O fato de os economistas profissionais terem retornado ao keynesianismo – nas palavras da Bíblia, como um cão retorna ao seu vômito – não deveria surpreender ninguém. Economistas profissionais não perdem sua fé no estado inchado. Eles não perdem sua fé no poder miraculoso dos déficits. Eles não perdem sua fé no poder que o governo tem de aumentar a produtividade da economia simplesmente gastando dinheiro em banalidades. Elesacreditam no governo e em seus gastos inúteis com o mesmo fervor que os teólogos da Idade Média acreditavam na teologia escolástica.
Nos EUA, onde o processo está avançado, o governo está determinado a impedir todas as eventuais tentativas das pessoas pouparem mais dinheiro, o que levaria ao aumento da produtividade. Ele está comprometido com a idéia de que não se pode confiar no público e em sua obrigação de sair gastando. Houve até um ligeiro aumento da poupança das famílias no segundo trimestre de 2008. Ela chegou a quase 3% ao ano. Isso foi uma inversão em relação aos últimos anos, quando a maioria das famílias americanas não aumentou em nada sua poupança. Na verdade, elas contraíam empréstimos para manter seus hábitos de consumo.
Os políticos e os economistas do governo olharam para esse ligeiro aumento na taxa de poupança e ficaram horrorizados. Eles querem que o governo intervenha imediatamente para neutralizar essa decisão economicamente racional dos consumidores americanos de reduzir seus gastos e aumentar a taxa de poupança. Não importa o quão pequeno tenha sido esse aumento na taxa de poupança, os economistas keynesianos e os políticos estão determinados a contrabalançá-la aumentando os gastos do governo. Os pacotes não param de ser criados.
Onde o governo vai arrumar o dinheiro? Através de impostos e através da venda de títulos para o público ou para o Federal Reserve (o banco central americano), que irá comprá-los criando dinheiro do nada. Não obstante o fato de as letras do Tesouro terem atingido juro zero este mês, os economistas do governo e da academia continuam dizendo que o governo deve incorrer em mais déficits maciços para colocar esse dinheiro em circulação. Não obstante o fato de os investidores não estarem ganhando retorno algum nos títulos do governo, isso ainda não parece ser suficiente para persuadir os economistas do governo e os políticos a deixarem a economia em paz. Eles querem que o governo gaste ainda mais.
Supostamente, a poupança destrói a riqueza. “Precisamos de mais gastos!”. O governo americano irá incorrer em mais gastos. Isso irá solapar o setor privado. Os investimentos serão desalojados pelos gastos individuais.
O resultado será uma inflação de preços acelerada. Enquanto os economistas profissionais estão tremendo de medo da deflação de preços, o banco central americano segue aumentando descontroladamente a base monetária. O governo só está esperando os bancos começarem a emprestar ao público todas as suas reservas acumuladas – que no momento estão depositadas voluntariamente junto ao Fed. Com a taxa básica de juros em zero, os bancos logo voltarão a emprestar.
A oferta monetária irá aumentar, os preços irão subir e, ao final de 2009, a economia americana já estará nas garras da inflação de preços. Dali em diante, a inflação de preços será o maior problema da vida econômica americana. Os keynesianos terão realizado seu desejo: gasto sem investimento. Haverá uma quantidade maior de dinheiro perseguindo uma oferta restrita de bens e serviços. A oferta de bens e serviços será restrita justamente porque o governo interferiu no mercado de crédito com o intuito de estimular o consumo, tolhendo o investimento.
É por isso que essa recessão americana será mais longa que o normal. Será uma recessão inflacionária. Ela vai resultar naquilo que já foi chamado de estagflação. É isso que o keynesianismo sempre produz. Ele é hostil à poupança e ao investimento; e é favorável aos déficits governamentais. A produtividade necessária para tirar o país da recessão será restringida pelas políticas de gastos governamentais.
As toupeiras não serão convencidas a gastar mais dinheiro até que elas vejam que os preços estão subindo tão rápido que, se elas não se livrarem do dinheiro rapidamente, sairão perdendo. Esse dia está chegando. Mas, ainda não chegou. É por isso que ainda se pode conseguir algumas barganhas atualmente. Ainda é um mercado para compradores.
CONCLUSÃO
Os prejuízos financeiros seguem se acumulando porque os políticos, economistas e banqueiros centrais acreditam que estimular coisas improdutivas é melhor do que permitir o desemprego. Eles acreditam que uma maior quantidade de dinheiro é um substituto perfeito para a criação de capital. A criação de capital requer aumento da poupança, mas fomos avisados por Keynes que poupar é algo destrutivo em uma recessão, quanto mais em uma depressão. As pessoas devem gastar tudo o que possuem e então se endividar mais para poder continuar gastando; só assim se chega à prosperidade.
Não vai funcionar. A taxa de desemprego irá aumentar, os preços dos imóveis irão cair, as vendas de carros novos irão diminuir e o setor industrial continuará em declínio.
Os otimistas acham que o pior já passou. Mas são incapazes de apontar para um determinado setor da economia e dizer que aquele setor será a força motora que tirará a economia da recessão. Há uma vaga confiança de que o mercado de ações voltará a subir, mas não há confiança alguma de que os setores que produzem o genuíno crescimento econômico irão melhorar. Por isso, eles querem obras públicas para gerar empregos. Trata-se de um replay da Grande Depressão.
Em algum momento, haverá sangue. Os investidores irão perder as esperanças de algum dia poder recuperar seu dinheiro no mercado de ações. Esse será o momento para se comprar… ações asiáticas.