Toda a folia que havia tomado conta da mídia americana – que acreditava solenemente que a recuperação econômica do país era um fato consumado – se arrefeceu assim que foram divulgados, na quinta-feira passada, dados sobre as vendas no varejo, que vieram piores que o esperado.
Entretanto, ao invés de provocar calafrios naqueles que esperavam um rápido fim da recessão, os dados deveriam ser recebidos com satisfação. Embora isso possa parecer estranho à maioria dos observadores, um menor nível de vendas no varejo é exatamente aquilo de que a economia americana precisa, não obstante todos os estímulos governamentais feitos para provocar o exato oposto.
Para que o país volte a ter uma economia sadia, as forças de mercado devem ser liberadas para enxugar todos os excessos cometidos durante os anos do boom, quando várias bolhas (isto é, empreendimentos infundados) foram construídas. Mesmo os economistas do governo reconhecem que a gastança desenfreada dessa década resultou de uma combinação de bolhas que se formaram em vários ativos e da perigosa expansão excessiva do crédito ao consumidor. Entretanto, esses mesmos economistas se recusam a aceitar essa necessidade lógica: o gasto com consumo precisa diminuir, principalmente agora que os pacotes de estímulo não mais estão fazendo efeito (exatamente como previram os economistas austríacos). Esses economistas seguem argumentando que a gastança deve ser retomada a todo custo, não importa quais sejam suas consequências últimas. Eis a perfeita receita do ganho momentâneo que vai gerar uma angústia duradoura.
A vitalidade econômica dos EUA irá ser restaurada apenas quando o país reconstruir sua poupança – o que irá gerar os fundos necessários para financiar o crédito de maneira sustentável – e pagar suas dívidas. Para essa reconstrução, é necessário alterar o padrão de fluxo de capital. Este deve deixar de alimentar a falsa economia em que temos vivido e ser direcionado para propósitos mais sustentáveis. Trata-se de um processo doloroso, mas é um processo que irá deixar a economia sobre estruturas mais sólidas. Infelizmente, os americanos só conseguirão atingir esse objetivo se eles abandonarem seu consumismo desenfreado, passarem a viver estritamente dentro de suas finanças e reabastecerem sua poupança. Embora isso possa ser problemático para os varejistas, será benéfico para a economia como um todo.
Todavia, ao invés de aceitar esse remédio imposto pelo mercado, o governo americano está fazendo de tudo para solapar esse comportamento racional que os americanos recentemente foram obrigados a adquirir. A administração Obama está alucinadamente se endividando para colocar mais dinheiro no bolso dos americanos e implorando de várias formas para que eles voltem a torrar tudo em mais gastanças. Os burocratas, apesar de todas as evidências contrárias já amplamente demonstradas, estão certos de que é o gasto – e não o trabalho, a produção, a poupança e o investimento – que gera riqueza. Essa política gera mais burocracia estatal, mais dívidas e mais regulamentações, justamente num momento em que o país não pode se dar ao luxo de bancar tudo isso.
Os EUA precisam urgentemente restaurar as mesmas condições que deram ao país sua preeminência econômica. Para retornar a essas condições, o país tem de desmantelar uma porção significativa de seus governos federal e estaduais, repelir incontáveis regulações desnecessárias, diminuir e simplificar amplamente sua carga tributária e reinstituir uma moeda forte. Fossem essas tarefas cumpridas, o país teria plenas condições de adentrar um período de recuperação duradoura que solidificaria sua posição no topo da hierarquia econômica global.
Entretanto, se o país continuar negligenciando essas reformas, e continuar privilegiando o atual arranjo de mais governo e menos liberdade, mais endividamento e menos poupança, mais gastos e menos produção, então padrão de vida americano está condenado. Quando o resto do mundo resolver parar de financiar a farra americana – isto é, parar de destinar sua poupança e sua produção para os EUA -, os americanos finalmente serão forçados a viver estritamente dentro de suas reais finanças. Em termos práticos, isso significa viver sem o acesso fácil aos bens baratos e abundantes made in China. Significa o Wal Mart reajustando semanalmente seus preços para cima, ao mesmo tempo em que os salários continuam caindo. E essa aflição atingiria todos os americanos, e não apenas os varejistas.
Há duas maneiras de reequilibrar uma economia. A maneira certa é restaurar a competitividade por meio de uma redução nos gastos do governo, desregulamentações, menos impostos e mais poupança. Um maior nível de poupança irá facilitar a formação de capital, ao passo que desregulamentações e uma menor carga tributária irão fazer com que esse capital formado possa aumentar a competitividade da mão-de-obra. Esse maior investimento em capital levará também a uma maior produtividade, o que irá se traduzir em maiores salários reais e em um maior padrão de vida futuro.
Alternativamente, se a economia não for reequilibrada seguindo-se esses termos, ela o será forçosamente pelos credores externos – e eles não terão remorsos em fazer isso por meio de medidas ásperas. Esse remédio amargo virá na forma de um dólar cada vez mais desvalorizado. Isso irá efetivamente aumentar os preços dos produtos e, consequentemente, as taxas de juros, fazendo com que os salários reais dos americanos caiam dramaticamente. Em outras palavras, o equilíbrio econômico será restaurado de fora, igualando forçosamente o padrão de vida dos americanos à sua decaída capacidade industrial. Se os EUA não forem capazes de concorrer por meio de menos impostos e maior investimento em capital, então a única alternativa será concorrer com o resto do mundo fornecendo mão-de-obra barata. Não há outra alternativa.
Embora Obama jure que suas políticas não irão aumentar os impostos sobre o americano médio, a lamentável verdade é que o efeito de suas políticas será a redução dos salários. A escolha é simples: ou os americanos encolhem seu governo e desfrutam de maiores salários, ou aceitam que o governo cresça e se contentam com menores salários. Eu preferiria a primeira opção, antes que a segunda se torne irremediável.