Apenas um completo imbecil permitiria que economistas tomassem decisões em seu lugar. Assim, este mês, damos graças aos imbecis. Estamos nos referindo aos patetas que participaram do maior, mais longo e mais completo teste da história econômica. Duas gerações e 20 milhões deles. Os pobres plebeus da Mitteldeutschland provaram que o capitalismo – mesmo sob pesada interferência estatal – fornece os bens de maneira muito mais eficaz que uma economia planejada.
Os leitores mais novos podem conhecer Mikhail Gorbachev como um camarada que aparece em propagandas de malas de viagem da Louis Vuitton. Mas antes de fazer sucesso como manequim da grife de luxo, ele era o principal homem da União Soviética. Não era um trabalho fácil. O império estava se esfacelando. Assim, em uma atitude rara e atípica para um homem público, Gorbachev disse ao povo soviético a verdade: “Não podemos continuar desse jeito”, disse ele em 1986. Três anos depois, a 9 de novembro de 1989, o teste chegava ao fim.
O que eles estavam praticando era um sistema de economia compulsória, no qual os burocratas tomavam todas as principais decisões. Eles decidiam a quantidade exata de capital que deveria ser alocado para determinado setor, quantas pessoas deveriam ser empregadas em cada setor, quanto cobrar pelo produto final, quanto deveria ser produzido, e por aí vai. É óbvio que, para poder tomar essas decisões, os economistas soviéticos já haviam percebido que eles tinham de tomar vária outras decisões também – tais como onde as pessoas iriam morar, quanto elas iriam ganhar, o que elas iriam fazer, e quais delas iriam morrer de fome. Tratava-se de um experimento muito bem controlado e regulado.
As condições eram tão miseráveis no Leste que o governo precisava de uma ampla rede de espiões e prisões de trabalhos forçados para evitar que os descontentes arruinassem o experimento. Ainda assim, 5.000 pessoas conseguiram fugir para o Ocidente. 136 foram mortas tentando atravessar o muro que separava a Berlim Oriental da Ocidental.
Os resultados do experimento já eram óbvios muito antes de o teste começar. Pessoas comuns, que zelam por si próprias, sempre tomam decisões melhores do que economistas que trabalham para o governo. Taxistas são melhores que burocratas para levar as pessoas de um lugar a outro. Montadoras de automóveis são melhores que funcionários públicos para fazer carros. Padeiros fazem pão melhor do que políticos. Consumidores podem comprar o que eles realmente querem quando não estão seguindo ordens. E os capitalistas fazem melhores investimentos quando têm a liberdade de errar.
Mas não é porque uma coisa é absurda que ela automaticamente será impopular. Da mesma forma que existem malucos que ficam irritados quando descobrem que há H2O na água que bebem, também existem pessoas que querem que burocratas tomem decisões por elas. E, recentemente, surgiram mais dessas últimas. Muitos alemães do leste sentem saudades dos bons e velhos tempos quando tudo estava sob restrito controle. Eles chamam esse fenômeno de “ostalgia” – uma mistura de “ost” (a palavra alemã para leste) e “nostalgia”.
Mas isso é um fenômeno comum. Após ter acesso a comida farta e ter garantido um teto sobre sua cabeça, o indivíduo torna-se mais preocupado com seu status do que com sua sobrevivência. O quão rico ele é passa a ser o de menos; o que importa é o quão rico ele está em relação àqueles que o rodeiam. O status traz vantagens reprodutivas, dizem os sócio-biologistas. Mas traz decepções também. E inveja. Tão perniciosa e destrutiva é a compulsão pela inveja, que a Igreja Católica a baniu como um pecado capital. As sociedades de hoje tentam suprimir a inveja de várias formas. Algumas tributam pesadamente os ricos. Outras obrigam todas as pessoas a vestirem o mesmo tipo melancólico de roupa. Já a maioria tenta nivelar sua população enfiando todo mundo no mesmo sistema educacional, no mesmo sistema previdenciário e no mesmo sistema de saúde.
O capitalismo não transforma qualquer um em milionário. Esse não é e nem nunca foi seu objetivo. Ele apenas permite que as pessoas compitam por riqueza em termos moderadamente iguais. Naturalmente, nessa competição alguns são melhores que outros. A maioria das pessoas prefere álcool, televisão, sinecuras públicas ou algum emprego numa poderosa corretora com boas conexões políticas, ao invés da competição dura e impetuosa do livre mercado. E quase todas elas são facilmente iludidas por bolhas financeiras, na esperança de que vão enriquecer a troco de nada, bastando apenas colocar dinheiro no investimento que esteja na moda. E então, quando o capitalismo corrige seus erros, elas se tornam ‘ostálgicas’, clamando para que o estado intervenha e manipule fraudulentamente o jogo a seu favor.
“Após a queda do muro, o capitalismo é uma decepção” dizia uma recente manchete no jornal La Republic, de Montevidéu. Uma pesquisa mostrou que, dentre as pessoas entrevistadas em 27 países, apenas 11% acham que o capitalismo está funcionando adequadamente. A surpresa está no fato de ao menos existir algumas pessoas que pensem isso. Com tanta deturpação e fraudulência praticada pelos governos, é incrível que a coisa sequer consiga funcionar.
Porém, mesmo dentre os queixosos, são poucos aqueles que sugerem um regresso às políticas que destruíram a Alemanha Oriental entre 1949 e 1989. O que eles querem, ao contrário, é uma forma mais delicada e afável de capitalismo, tendo o estado como um parceiro benevolente. Pleno emprego, com Audis e Mercedes nas garagens. Saúde e generosos benefícios previdenciários para todos, com cappuccinos e internet sem fio. Pacotes de socorro governamental ilimitados, mas sem a falência do estado e o consequente aumento de impostos.
Os plebeus são ruins em manipular o jogo, pois não têm poder. As elites são melhores; por isso elas são a elite. Elas usam as correções econômicas da mesma maneira que um general utiliza um cessar-fogo – para fortalecer suas posições. Elas se aliam ao governo e fazem conluio para impor mais regulamentações, conseguindo dessa forma impedir a concorrência, ganhar mais pacotes de socorro financeiro que as proteja de seus erros, e outras benesses que aprimoram seu status. É por isso que, quase um ano após estarem à beira da insolvência, as maiores empresas financeiras do mundo já estão pagando os maiores bônus da história.
Fraudar o sistema dessa forma melhora a situação de todas as pessoas? Mais uma salva de obrigados àquelas cobaias alemãs! Elas conduziram um outro experimento que nos fornece a resposta. Após a queda do muro, a República Federal de Bonn decidiu intervir nos estados do leste alemão a fim de acabar com a pobreza e elevar os alemães orientais ao mesmo nível dos ocidentais. Começando em 1991, o lado ocidental transferiu anualmente para o leste uma quantia equivalente a 4% do PIB. Obras públicas. Saúde pública. Educação pública. Assistencialismo! Socorro financeiro! Doações! Benesses!
Involuntariamente – que aliás é a única maneira de se fazer esse tipo de coisa – eles acabaram apenas fornecendo mais dados e evidências para o teste. Pois logo ali na vizinhança estava a hoje República Tcheca, que também sofreu sob o jugo soviético, que também adotou políticas absurdas e contraproducentes, e que também caiu fora do regime assim que os soviéticos baixaram a guarda. Os tchecos, ao contrário da Alemanha Oriental, não tinham parentes ricos. Eles não tinham uma fonte de dinheiro gratuito. Eles não tinham uma economia rica a quem se juntar. Eles não tinham dinheiro. Não tinham portos. Não tinham nem mesmo um idioma compreensível para qualquer um.
Bem, adivinhe quem ganhou essa corrida? Os tchecos, é claro. As taxas de crescimento do PIB da República Tcheca foram constantemente maiores que as da Alemanha Oriental durante a década de 1990. E na atual década o enriquecimento tcheco foi ainda maior. E sem benesses gratuitas de um irmão rico.