Na recente conferência anual realizada pelos conservadores americanos (a CPAC –Conservative Political Action Conference – na qual comparecem ativistas conservadores, libertários e representantes eleitos de todo os EUA), o vencedor da eleição simulada para quem deveria ser o próximo candidato a presidente foi o congressista Ron Paul, seguido por Mitt Romney e Sarah Palin.
Uma das mais conhecidas posições de Ron Paul é sua defesa do retorno dos EUA ao padrão-ouro. David Frum – um conservador membro do American Enterprise Institute e quem escrevia os discursos de George W. Bush – reagiu, responsabilizando o padrão-ouro pela Grande Depressão.
“Ameaçado pelo esgotamento de seu suprimento de ouro”, disse Frum, “o governo sentiu que não tinha escolha: ele tinha de acabar com seu déficit orçamentário. Assim, no limiar de uma severa contração econômica, o governo americano fez exatamente o oposto daquilo que os economistas recomendariam: cortou os gastos e aumentou os impostos – jogando a economia para uma depressão ainda maior.”
Porém, como mostra a tabela abaixo, essa versão da história da Grande Depressão é totalmente fictícia.
Durante cada ano da administração Hoover, de 1929 a 1932, os gastos federais aumentaram.
Já em 1932, os gastos nominais haviam subido 50% desde 1929. Mensurados em termos do poder de compra, os gastos praticamente dobraram. E quando mensurados em termos da renda nacional, os gastos triplicaram.
Se um padrão-ouro impossibilita que haja aumento dos gastos do governo em resposta a uma recessão econômica – como afirmou Frum -, Herbert Hoover deu um exemplo prático de que é perfeitamente possível ocorrer o contrário. E se um estímulo fiscal é a solução para o alto desemprego, então a Grande Depressão deveria ter terminado antes de ter começado.
Isso gera uma pergunta óbvia: o que teria acontecido se Hoover tivesse feito exatamente aquilo que a lenda diz que ele fez – isto é, cortado gastos? Para uma possível resposta, é válido dar uma olhada no que aconteceu uma década atrás, em uma outra Grande Depressão.
De 1920 a 1921, a taxa de desemprego aumentou 6,5 pontos percentuais e os preços caíram mais de 10%. Vistos sem o benefício da retrospectiva, tais ocorrências obviamente prenunciavam o início de uma depressão. Comparando-se o aumento no desemprego e a queda nos preços do período 1920-1921 aos números praticamente idênticos de 1930-1931, seria uma aposta certa imaginar que haveria uma Grande Depressão no início da década de 1920.
Mas o presidente Warren G. Harding agiu exatamente como imaginam (erroneamente) que Hoover tenha agido. Já em 1923, os gastos federais haviam sido reduzidos para a metade do que foram em 1920. A tabela mostra o resultado. A taxa de desemprego, que havia atingido uma média de 11,7% em 1921, caiu já em 1923 para 2,4%. Apenas um ano de desemprego alto ao invés dos 11 anos sob Hoover e depois sob Roosevelt.
Foi a Grande Depressão que nunca houve.
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