A política monetária do Japão e a força do iene

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A security guard stands next to a signboard of the Bank of Japan at its headquarters in Tokyo February 26, 2008. The leader of Japan's main opposition party has rejected a suggestion from Prime Minister Yasuo Fukuda that the two should meet to discuss who should be the Bank of Japan's new governor, public broadcaster NHK reported on Monday. REUTERS/Kim Kyung-Hoon (JAPAN)

Nos últimos meses, o Banco Central do Japão ampliou seu programa de compra de títulos da dívida, inclusive títulos do Tesouro americano.  Mas para se ter uma melhor ideia do que antecedeu este programa, vejamos alguns gráficos publicados pela sucursal do Federal Reserve em St. Louis.  Eles podem ser encontrados aqui.

Primeiro, há o gráfico da base monetária.  Cada barra do gráfico abaixo mostra a taxa de crescimento da base monetária para um trimestre em relação ao mesmo trimestre do ano anterior — ou seja, o crescimento anual.  O gráfico da base monetária mostra exatamente qual a política monetária adotada por um banco central.

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O próximo gráfico é o do M1 (papel-moeda em poder do público + depósitos à vista).

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E então há o gráfico do M2 (M1 + depósitos a prazo).  É a ele que economistas recorrem quando querem adivinhar qual será o efeito da política monetária sobre os preços dos bens de consumo.  O M2 é um melhor prognosticador do comportamento dos preços futuros do que o M1.

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O Banco Central do Japão anunciou, em setembro passado, que iria aumentar o ritmo de compra dos títulos da dívida do governo japonês.  Por que isso foi necessário?  Não foi porque o governo japonês não consegue vender sua dívida.

O presidente do Banco Central do Japão, Masaaki Shirakawa, foi bastante claro em um discurso proferido este mês.  Ele está apenas seguindo ordens do governo.  O governo japonês é mercantilista.  Ele teme a valorização do iene.

No que diz respeito a intervenções no mercado de câmbio, na Suíça, o Banco Central suíço tem o poder de intervir quando e se quiser.  Já no Japão, o governo — e não o Banco Central — é obrigado por lei a conduzir tais intervenções.  O Banco Central do Japão está ciente dos efeitos que uma rápida apreciação do iene pode ter sobre a economia do Japão e sobre as perspectivas de inflação, e conduz sua política monetária em conformidade a estas perspectivas.  Preocupações em relação a estes efeitos gerados pelo comportamento da taxa de câmbio foram um dos fatores que influenciaram as várias decisões do Banco Central de afrouxar um pouco mais sua política monetária.

No entanto, tudo o que ouvimos da mídia financeira é o seu alarido espalhafatoso a respeito da crescente relação dívida/PIB do Japão.

Então por que o iene não pára se valorizar?  Por que ele está se valorizando há décadas?

O trecho a seguir é de uma reportagem da Bloomberg.

“Os Bancos Centrais querendo ou não, o fato é que há uma competição ao redor do mundo para ver quem afrouxa mais a sua política monetária”, disse Izuru Kato, economista-chefe da Totan Research Co., em Tóquio, e um dos analistas que prevê mais afrouxamento.  [O presidente do Banco Central japonês] Shirakawa não quer ser visto como “relutante em participar da corrida” porque o risco de uma valorização do iene irá prejudicar a economia, disse Kato.

A valorização do iene levou a moeda japonesa ao seu valor mais alto dos últimos sete meses, chegando a 77,13 ienes por dólar no dia 13 de setembro, após o Fed anunciar seu plano de uma terceira rodada de afrouxamento quantitativo.

“Estamos preocupados com um aumento na velocidade da apreciação do iene, e nossa sensação de crise está se intensificando”, disse Akio Toyoda, presidente da Associação de Fabricantes de Automóveis e executivo-chefe da Toyota, no dia 14 de setembro.  “Esperamos sinceramente que o governo e o Banco Central possam cooperar à risca e agir rapidamente para corrigir este valor historicamente forte do iene”.

O mercantilismo governa o Japão.  O mercantilismo governa quase todos os países do mundo.  Nenhuma novidade aí.

E então vem a pérola.  A imprensa diz que chegará o dia — muito em breve — em que o mundo não mais irá comprar títulos do Japão.  Como é que é?  O Japão detém US$1,1 trilhão em títulos americanos.  Se há um país que está na iminência de perder compradores para seus títulos, esse país é os EUA.

Se o Japão entrasse em uma crise e não mais fosse capaz de importar petróleo (o país não produz uma gota) por não estar conseguindo exportar seus bens, ele simplesmente iria abrir o cofre — mais especificamente, iria vender os títulos americanos e utilizar os dólares para continuar importando.  Vejamos: se houver uma enorme despejo de títulos de uma nação no mercado (o que, consequentemente, leva a um despejo da moeda desta nação no mercado) e um correspondente aumento na demanda pela moeda da nação que está despejando estes títulos, qual moeda você preferiria ter?

Qual nação irá sofrer uma fuga de investidores?  A nação que está despejando títulos estrangeiros no mercado para arrecadar dinheiro ou a nação cujos títulos estão sendo despejados?

Isso é tão óbvio que somente colunistas especialistas em economia não conseguem entender.

Ano após ano, sempre digo aos meus leitores assinantes que o iene é uma boa alternativa ao dólar americano.  Ano após ano, sou perguntado por que defendo o iene.  Sempre recebo esta pergunta de assinantes que ainda não compraram iene e seguem tentando buscar conforto para esta atitude.  Este artigo é a minha mais recente tentativa de explicar minha posição.

Quantos ienes um dólar comprava em janeiro de 1985?  Aproximadamente 250.  O dólar era forte.  Quantos ienes um dólar comprava em janeiro de 2002?  Aproximadamente 135.  O dólar ainda era forte, mas já se notava uma tendência de queda.  Quantos ienes um dólar compra hoje?  Menos de 80.

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http://www.tradingeconomics.com/japan/currency

Veja também o comportamento da inflação de preços no Japão durante este mesmo período.

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Nenhuma outra nação industrializada possui esta estabilidade de preços.

Mas as perguntas sobre o Japão continuarão.  “Mas Dr. North, acabei de ler na mídia que…” Sim, e algum suposto especialista no iene escreveu essencialmente a mesma coisa em 2002.

Esqueça a relação dívida/PIB do Japão.  O Japão não tem um Bernanke no comando de seu Banco Central.

O Japão dará o calote em sua dívida e em suas obrigações para com seus aposentados e idosos?  Sim.  Todos os países eventualmente farão isso.  O Japão dará o calote antes do governo americano?  Duvido muito.  Até hoje, nenhum governo foi mais rigoroso no pagamento de suas dívidas do que o governo japonês.  Ele pagou até mesmo os títulos que emitiu para financiar seu esforço de guerra.

Assim como hoje está havendo uma competição entre os países nas políticas de inflação monetária e desvalorização da moeda, cada um se esforçando ao máximo para não ficar para trás, haverá futuramente uma competição de calotes, cada um se esforçando ao máximo para não ficar na frente.  Entre confiar nos títulos do Japão e confiar nos títulos de qualquer outra nação, confio mais nos títulos do Japão.  E também em sua moeda.

 

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