Há duas visões fundamentais em relação à economia. Uma é dominada pela filosofia econômica do século XIX, sob a influência dos economistas clássicos britânicos, como Adam Smith e David Ricardo. A outra é dominada pela filosofia econômica do século XVII, sob a influência do Mercantilismo. Esta última voltou a dominar a filosofia econômica do século XX, em grande parte sob a influência de Lord Keynes.
O que distingue essas duas visões é o seguinte: no século XIX, os economistas identificaram que o problema fundamental da economia era como expandir a produção. Implícita ou explicitamente, eles perceberam que a base tanto da atividade econômica quanto da teoria econômica estava no fato de que a vida e o bem-estar do homem dependem da produção de riqueza. A natureza do homem faz com que ele necessite de riqueza; seus critérios mais elementares o fazem desejar riqueza. O problema, disseram esses economistas, é como produzir a riqueza. A teoria econômica, portanto, dava como fato consumado o desejo de se consumir, e se concentrava em como desenvolver meios e maneiras de aumentar a produção.
No século XX, os economistas voltaram a assumir a visão diretamente oposta. Ao invés de o problema ser como expandir continuamente a produção em vista de um desejo ilimitado por riqueza — dado que são infinitas as possibilidades de se aprimorar a satisfação das necessidades do homem —, passou-se a acreditar erroneamente que o problema na verdade seria como expandir o desejo de se consumir, de modo que o consumo possa se adequar à produção. A teoria econômica do século XX passou a ver a produção como um fato consumado, e se concentrou em como desenvolver meios e maneiras de aumentar o consumo. Passou-se a acreditar que o problema da economia não é a produção de riqueza, mas sim a produção do consumo.
Essas duas premissas básicas — diametralmente opostas e mutuamente excludentes — acerca do problema fundamental da economia estão para a teoria econômica assim como as contradições da metafísica estão para a filosofia. Ponto a ponto, ou elas resultam em conclusões opostas ou fazem com que raciocínios opostos cheguem à mesma conclusão. Elas determinam a teoria econômica tão profunda e fundamentalmente, que dão origem a dois sistemas completamente distintos de pensamento econômico.
Duas visões sobre o emprego
O seguidor da premissa “producionista” do século XIX entende acima de tudo que não existe algo como “o problema de se criar empregos”. Há o problema de se criar empregos remunerativos, mas não o de se criar empregos. Em qualquer momento, afirma o producionista, há tanto trabalho a ser feito — e tantos empregos em potencial a serem preenchidos — quanto há desejos humanos ainda não satisfeitos e que poderiam ser satisfeitos com uma maior produção de riqueza; e como esses desejos são ilimitados, a quantidade de trabalho a ser feita — o número de empregos em potencial a serem preenchidos — também é ilimitada.
Portanto, argumenta o producionista, o emprego de mais e melhores maquinários não causa desemprego. As máquinas meramente permitem que os homens — na medida em que eles não preferem o lazer — produzam mais e, com isso, satisfaçam suas necessidades de maneira melhor e mais completa. Tampouco uma jornada mais longa de trabalho ou o emprego de mulheres, crianças, estrangeiros ou pessoas de raça e religião minoritárias impedem que outros também arrumem empregos. Isso apenas torna possível uma expansão da produção.
Já o seguidor da premissa “consumista” do século XX possui outra visão em relação às máquinas e ao emprego de mais pessoas. Ele considera cada expansão da produção como uma ameaça para parte daquilo que já está sendo produzido. Ele imagina que a produção é limitada pelo desejo de se consumir. Ele teme que esse desejo possa ser insuficiente e, por conseguinte, ele teme que uma expansão da produção em qualquer segmento irá necessariamente forçar uma contração da produção em algum outro segmento.
Consequentemente, ele teme que o trabalho efetuado pelas máquinas irá deixar menos trabalho a ser feito pelas pessoas, que o trabalho efetuado pelas mulheres irá deixar menos trabalho a ser feito pelos homens, que o trabalho efetuado por crianças irá deixar menos trabalho a ser feito por adultos, que o trabalho efetuado por judeus irá deixar menos trabalho a ser feito por cristãos, que o trabalho efetuado por negros irá deixar menos trabalho a ser feito por brancos, e que o trabalho extra de uns significa uma escassez de trabalho disponível para outros.
Nem o producionista nem o consumista desejam longas horas de trabalho ou defendem o trabalho infantil. Nesses dois quesitos, ambos chegam à mesma conclusão. Porém, seus motivos são completamente distintos. O consumista não deseja longas horas de trabalho e nem defende o trabalho infantil porque ele acredita que há um problema com o que fazer com os produtos resultantes. Para ele, tais medidas gerariam um aumento na produção, o que necessariamente faria com que outros produtos deixassem de ser produzidos e consequentemente outros trabalhadores ficassem desempregados. Já o producionista não deseja longas horas de trabalho e nem defende o trabalho infantil porque ele não atribui nenhum valor à fadiga e ao esforço prematuro. O problema, aos olhos do producionista, não é o que fazer com os produtos adicionais produzidos pelas longas horas de trabalho ou pelo trabalho infantil — somente uma intensa necessidade de produtos adicionais necessitaria dessa mão-de-obra adicional —, mas sim como elevar a produtividade da mão-de-obra a um nível em que as pessoas possam se dar ao luxo de ter tempo para o lazer e de dispensar o trabalho de suas crianças.
Riqueza por meio da escassez?
Como o consumista imagina que a produção está limitada pelo desejo de se consumir (ao invés de o consumo ser naturalmente limitado pela capacidade da produção), ele não valoriza a riqueza, mas sim a ausência de riqueza. Por exemplo, após a Segunda Guerra Mundial, ele imaginou que a relativa ausência de casas, automóveis, aparelhos de televisão e geladeiras na Europa era na verdade uma benção para a economia européia, pois significava que havia uma grande e reprimida demanda por consumo. Similarmente, ele imaginou que a relativa abundância desses bens nos EUA era na verdade uma desvantagem para a economia americana, pois significava que o desejo de se consumir era baixo, havendo portanto uma fraca demanda por consumo.
Para o teórico consumista, a prosperidade depende da ausência de riqueza, e a pobreza é consequência de sua abundância; para ele, o desejo de se consumir — essa inestimável mercadoria, cuja oferta é mais limitada que a de diamantes — é algo produzido pela ausência de riqueza e consumido pela presença de riqueza. É baseando-se nesse princípio que o consumista se delicia com guerras e destruição, pois as vê como fontes de prosperidade, ao passo que atribui a pobreza resultante das depressões à “produção exagerada”.
O consumista não acredita que a destruição de riqueza é a única maneira de se atingir a prosperidade. Embora creia ser de difícil realização, ele tem esperanças de que a oferta de sua preciosa mercadoria — o desejo de consumir — pode no entanto ser aumentada por meio de medidas positivas. Uma dessas medidas é uma alta taxa de natalidade. Ao se trazer mais pessoas ao mundo, traz-se também mais desejo de consumo ao mundo. A existência de um grande número de pessoas, diz o consumista aos empresários, possibilitará às empresas ter sobre quem descarregar seus bens que de outra forma seriam supérfluos.
Os negócios irão prosperar porque sua oferta de bens encontrará uma contrapartida nesse suposto aumento do desejo de se consumir bens. Na ausência de uma alta taxa de natalidade, ou em conjunto com uma alta taxa de natalidade, o consumista acredita que a propaganda pode fazer com que o outrora saciado consumidor tenha novos desejos. E, em um plano um pouco diferente, o progresso tecnológico, argumenta o consumista, pode fornecer novos usos para uma crescente oferta de bens de capital, os quais de outra forma não teriam “onde serem investidos”. Ou, se tudo o mais falhar, pode-se recorrer ao governo para que ele forneça um consumo ilimitado — mesmo na ausência de desejo. Ou talvez, espera o consumista, um país pode ser afortunado o bastante para estar na iminência de sofrer ataques de inimigos externos, o que o obrigará a incorrer na necessidade de manter um amplo aparato de defesa. De toda forma, o consumista imagina que o governo será capaz de promover a prosperidade caso saia consumindo os produtos das pessoas.
A produção limita o consumo
O producionista, obviamente, tem uma visão diferente em relação a estas questões. Ele argumenta que o nascimento e a criação de filhos sempre constituem uma despesa para os pais. Ao criarem seus filhos, os pais têm de gastar com eles um dinheiro que, de outra forma, teria sido gasto para proveito próprio. É claro que os pais — ou, ao menos, é de se esperar — consideram que o dinheiro será mais bem e mais prazerosamente gasto com seus filhos; porém, ainda assim, trata-se de uma despesa. E se eles tiverem uma quantidade alta o bastante de filhos, serão reduzidos à pobreza.
Trata-se de um fato, argumenta o producionista, que todos podem observar em qualquer grande família que não possua uma renda correspondentemente alta. A presença de crianças não faz com que os pais gastem mais do que gastariam de outra forma; apenas faz com que eles gastem de modo diferente do que gastariam na ausência de filhos. Eles compram comida de bebê, brinquedos e bicicletas ao invés de gastarem com mais jantares em restaurantes, em um carro melhor ou em férias mais extravagantes. Não há nenhum estímulo adicional à produção. A produção simplesmente é redirecionada para uma diferente distribuição de demanda.
Poderia ocorrer um aumento na produção, afirma o producionista, apenas se os pais tivessem de arrumar um emprego extra, ou tivessem de trabalhar mais horas para sustentar seus filhos, e ainda assim serem capazes de manter seu padrão de vida anterior. E quando as crianças crescerem, o mercado de consumo adicional que eles supostamente representarão para imóveis, automóveis e afins irá se materializar apenas se eles, os filhos agora adultos, forem capazes de produzir um valor equivalente a esses bens e com isso ganharem o dinheiro com o qual poderão comprar tais bens. Será apenas em decorrência de sua produção, e não em decorrência de seu desejo de consumir, que eles serão capazes de constituir um mercado de consumo adicional.
Tecnologia e bens de capital
O valor do progresso tecnológico, afirma o producionista, não está na criação de “oportunidades de investimento” para a crescente oferta de bens de capital. Se o conceito de bens de capital for corretamente entendido — isto é, aqueles bens que seu comprador utiliza para produzir outros bens que serão vendidos —, então nunca haverá algo como uma falta de “oportunidades de investimento” para bens de capital. Enquanto houver desejo por mais e melhores bens de consumo, haverá necessidade de uma maior oferta de bens de capital.
Por exemplo, dez milhões de automóveis de uma dada qualidade requerem o emprego do dobro da quantidade de bens de capital — o dobro da quantidade de aço, de vidro, de pneus, de tintura, de motores e de maquinários — em sua produção do que requerem cinco milhões de automóveis. Se a intenção for aprimorar a qualidade dos automóveis, então uma maior quantidade de bens de capital será necessária para a produção do mesmo número de automóveis. Por exemplo, um dado número de carros da qualidade de uma Toyota irá requerer para a sua produção uma quantidade de bens de capital maior do que a necessária para produção do mesmo número de carros da qualidade de um Volkswagen simples; o mesmo número de carros da qualidade de um Cadillac irá requerer uma quantidade ainda maior de bens de capital; e o mesmo número de carros da qualidade de uma Rolls Royce irá requerer ainda mais bens de capital.
O mesmo princípio se aplica a imóveis de diferentes tamanhos e qualidades. Uma dada quantidade de casas de oito quartos requer o emprego de uma quantidade de bens de capital maior do que a requerida para o mesmo número de casas de sete quartos e da mesma qualidade. Um dado número de casas de tijolo requer uma oferta de bens de capital maior do que requer o mesmo número de casas de madeira e do mesmo tamanho daquelas; os tijolos ou quaisquer outros materiais mais caros constituem uma maior oferta de bens de capital porque uma maior quantidade de mão-de-obra é necessária para produzi-los. O mesmo princípio se aplica a alimentos e vestuários, a móveis e eletrodomésticos, a utensílios, máquinas e a quaisquer outros bens. Enquanto houver desejo por uma maior quantidade de qualquer bem de consumo, e enquanto todos os bens de consumo produzidos ainda não forem da melhor qualidade possível, haverá uma necessidade de uma maior oferta de bens de capital.
À medida que a tecnologia avança
O producionista também argumenta que, caso haja uma interrupção no progresso tecnológico, não haverá uma aumento na oferta de bens de capital; e, consequentemente, não seremos capazes de explorar qualquer porção considerável das virtualmente ilimitadas “oportunidades de investimento” que já existem dentro do atual padrão de tecnologia vigente.
O valor do progresso tecnológico, afirma o producionista, consiste no fato de que ele nos permite obter uma maior oferta de bens de capital, e não que ele resolve o problema do que fazer com essa maior oferta. Os avanços tecnológicos que tornaram possível a construção de canais e ferrovias no século XIX, e o desenvolvimento da indústria do aço, foram valiosos não porque eles absorveram bens de capital, como dizem os consumistas, mas porque eles possibilitaram a acumulação de bens de capital. O consumista não entende que os bens de capital somente podem ter sua oferta expandida por meio de uma expansão de sua produção, e que é exatamente isso que o progresso tecnológico possibilita. Não tivessem ocorrido os avanços tecnológicos que possibilitaram as primeiras ferrovias da década de 1830, não teria sido viável a oferta dos bens de capital necessários para a expansão e aprimoramento das ferrovias na década de 1840; não fosse isso, tal feito seria viável apenas ao custo da expansão de alguma outra indústria.
Consequentemente, não tivesse havido nenhuma avanço tecnológico na construção e operação de ferrovias na década de 1840, a oferta de bens de capital na década de 1850 teria sido menor, tanto para as ferrovias quanto para as outras indústrias. E assim teria sido década após década, caso os avanços tecnológicos ocorridos no setor ferroviário ou em qualquer outra indústria não tivessem ocorrido.
Para que continue havendo acumulação de capital, o progresso tecnológico é indispensável. Apenas ele pode possibilitar contínuos aumentos na produção; e apenas contínuos aumentos na produção podem possibilitar uma contínua acumulação de capital. O consumista não está ciente de que exatamente aquilo que ele considera ser a solução (um alto nível de consumo) para seu suposto problema (a baixa demanda) é na verdade a fonte daquilo que ele imagina ser o problema. Tampouco está ele ciente de que, quando ele defende o progresso tecnológico como a solução para o problema do que fazer com mais bens de capital, ele está se confrontando a si próprio com o problema do que fazer com uma maior oferta de bens de consumo, a qual mesmo ele admite ser resultado do progresso tecnológico. O consumista tem assim de lidar com o dilema de explicar como é que o progresso tecnológico pode aumentar a taxa de lucro — ao, como ele próprio diz, “aumentar a demanda por capital” — ao mesmo tempo em que, como ele próprio admite, aumenta a produção de bens de capital — algo que, como ele próprio diz, reduz a taxa de lucro em decorrência da “sobreprodução”.
Consumismo e parasitismo
A ideia de que, ao se consumir um produto, seu produtor será beneficiado — pois terá o trabalho de tornar possível tal consumo — é absurda, diz o producionista. Somente o uso do dinheiro pode emprestar a essa afirmação a mínima aparência de plausibilidade. Se realmente tal afirmação fosse verdade, então todo escravo deveria se regozijar a cada novo desejo de seu mestre, dado que a satisfação desse desejo exigiria do escravo mais trabalho. Um escravo deveria ficar agradecido caso seu mestre desejasse uma reforma em sua casa, uma melhoria nas estradas, mais comida, mais festas etc.; pois o fornecimento dos meios que possibilitariam a satisfação desses desejos daria ao escravo ainda mais trabalho.
A crença de que o consumo do governo beneficia e ajuda o sistema econômico segue o mesmo raciocínio — argumenta o producionista — da crença de que o consumo do mestre beneficia e sustenta o escravo. Trata-se de uma crença cujo absurdo equipara-se apenas à injustiça criada. É o meio através do qual grupos de interesse parasitas, que utilizam o governo como agente da pilhagem, procuram iludir suas vítimas, fazendo-as a imaginar que estão sendo beneficiadas e auxiliadas por aqueles que estão ali justamente para confiscar os frutos de seu trabalho e não dar nada em troca.
O único benefício econômico que alguém pode dar a um produtor, argumenta o producionista, é quando esse alguém troca seus próprios produtos ou serviços pelos produtos ou serviços desse produtor. É por meio daquilo que esse alguém produz e oferece em troca que ele irá beneficiar os produtores, e não por meio daquilo que ele consome.
Se alguém consome os produtos ou serviços de outros sem oferecer produtos ou serviços em troca, ele estará consumindo à custa dos produtores.
O uso do dinheiro torna esse ponto um tanto menos óbvio, mas não menos verdadeiro. Quando o dinheiro é utilizado, os produtores não trocam bens e serviços diretamente, mas indiretamente. O comprador troca seu dinheiro pelos bens de um vendedor. O vendedor, por conseguinte, troca esse dinheiro pelos bens de outros vendedores, e assim por diante. Porém, cada comprador dessa série deverá ou já ter vendido bens e serviços equivalentes àqueles que ele compra, ou ter obtido seus fundos de alguém que já o fez.
O fato de que, em uma economia monetária, todos mensuram seu benefício de acordo com a quantidade de dinheiro que se obtém em troca dos bens e serviços que vendem é algo que faz os consumistas crerem que o mero gasto de dinheiro é uma virtude, e que a prosperidade econômica pode ser atingida por meio da simples criação e gasto de quantidades cada vez maiores de dinheiro — isto é, por meio de uma política de inflação monetária.
Como resposta, o producionista argumenta que, para cada pessoa que gastou dinheiro que foi recém-criado, e que, por meio disso, obteve bens e serviços sem que tenha produzido bens e serviços equivalentes, haverá outra pessoa que sofrerá uma perda correspondente. Sua perda, diz o producionista, pode assumir a forma ou de uma redução do estoque de capital, ou de uma diminuição de seu consumo, ou de uma não recompensa pelo trabalho adicional que tiveram de efetuar — uma perda que corresponde precisamente aos bens e serviços correspondentes que foram obtidos pelos compradores que nada produziram.
A defesa que o consumista faz daqueles que consomem sem produzir, com o argumento de que estes estão assegurando a prosperidade daqueles que produzem, é, de acordo com o producionista, uma reação patológica a um mundo econômico o qual o consumista imagina ser gerido pela patologia. O consumista sempre tem diante de si a patologia do “avarento”, aquele sujeito que guarda todo o seu dinheiro debaixo da cama. O consumista é atormentado pela visão de pilhas de dinheiro trancadas dentro de um cofre, sem nunca serem utilizadas. Ele acredita que uma parte da humanidade é guiada pela despropositada meta de trabalhar sem receber — o que requer, para a sua realização, a existência de outra parte da humanidade ávida por aceitar receber sem trabalhar.
Esse é o significado da crença de que um grupo de homens deseja apenas produzir e vender, mas não comprar e consumir, e sua necessária contrapartida é a existência de outro grupo de homens que querem comprar e consumir, mas que não irão produzir e vender. No mundo do consumista, imagina-se que os produtores produzam apenas pelo prazer de obter dinheiro, para em seguida guardá-lo para sempre. O consumista está sempre pronto para dar-lhes dinheiro em troca de seus bens — ele propõe (1) que se tome deles o dinheiro que, segundo sua crença, eles não irão gastar, para em seguida entregá-lo para alguém que irá, ou (2) que se imprima mais dinheiro e se permita que eles, os produtores, acumulem papel enquanto outros adquirem seus bens.
Deixar o dinheiro guardado não é o único fenômeno que aflige o consumista. Quando nada da realidade se adapta à sua causa, o consumista é exímio em apontar causas totalmente imaginárias que, segundo ele, levarão a inevitáveis catástrofes econômicas. Invariavelmente, a solução defendida é fazer com que aqueles que nada produziram possam consumir à custa daqueles que produzem. O objetivo sempre será o de demonstrar a necessidade e os efeitos benéficos do parasitismo — apresentar o parasitismo como uma fonte de prosperidade geral.
A racionalidade da vida econômica
Em decorrência das avassaladoras absurdidades e contradições do consumismo, e a brutal perversão de valores que ele produz, pode-se apenas concluir que seu apoio se fundamenta nos interesses a que ele obviamente serve: o parasitismo. Isso, é claro, não libera o economista da tarefa de identificar os erros particulares de cada argumento consumista. Isso, no entanto, desqualifica todo consumista como economista. Nenhum cientista, de qualquer campo que seja, pode aceitar a ideia de que a realidade é irracional ou que é necessária uma ação irracional para lidar com ela.
Aqueles economistas da atualidade que proclamam aberta e provocativamente que o mundo econômico é “não-euclidiano”, fazem-no abertamente. É assim que eles gostariam que o mundo econômico fosse. Se eles simplesmente acreditassem que a vida econômica parecesse ser irracional, mas ao mesmo tempo não desejassem que ela fosse irracional, eles jamais diriam que ela de fato é.
Após o mais básico exame do assunto, ao invés de correrem em defesa do consumismo, eles não iriam descansar enquanto não tivessem identificado os erros que os fizeram acreditar que a vida econômica possuía a aparência da irracionalidade; e, quanto maior fosse essa aparência para eles, mais eles iriam perceber o quão grande era sua própria ignorância, e com mais afinco eles iriam trabalhar para superá-la e evidenciar os erros em que acreditaram. É isso que distingue um economista de um Lord Keynes.