Tem sido, durante muito tempo, objeto de observação universal em centros de intercâmbio, que, para certas comódites, existia uma demanda maior, mais constante e mais efetiva do que para outras comódites menos desejáveis em certos aspectos, sendo a primeira correspondente a uma vontade por parte daqueles capazes e dispostos a comercializar, que é ao mesmo tempo universal e, devido à relativa escassez dos bens em questão, sempre imperfeitamente satisfeitos. E, além disso, que a pessoa que deseja adquirir certos bens definidos em troca dos seus próprios está em uma posição mais favorável, se ele traz comódites deste tipo ao mercado, do que se ele visita os mercados com bens que não podem exibir tais vantagens, ou ao menos não no mesmo grau. Assim equipado, ele tem a expectativa de adquirir tais bens como ele finalmente deseja obter, não só com maior facilidade e segurança, mas também, devido à demanda mais estável e mais prevalente para suas próprias comódites, a preços correspondentes à situação econômica geral — em preços econômicos. Nessas circunstâncias, quando alguém traz bens que não são altamente vendáveis para o mercado, a ideia em primeiro lugar em sua mente é de trocá-los, não apenas pelo o que ele necessita, mas, se isso não puder ser efetuado diretamente, por outros bens também, que, embora ele não queira para ele mesmo, são no entanto, mais vendáveis do que os seus. Ao fazê-lo, ele certamente não alcança imediatamente o objetivo final do seu intercâmbio comercial, isto é, a aquisição de bens necessários para si mesmo. No entanto, ele se aproxima desse objetivo. Pelo caminho tortuoso de uma troca intermediária, ele ganha a probabilidade de cumprir seu propósito de forma mais segura e econômica do que se ele tivesse se limitado a troca direta. Agora, de fato, isso parece ter sido o caso em todos os lugares. Os homens foram liderados, com o crescente conhecimento de seus interesses individuais, cada um por seus próprios interesses econômicos, sem convenção, sem compulsão legal, e, mesmo sem qualquer consideração pelo interesse comum, a trocar bens destinados a troca (suas “mercadorias”) por outros bens igualmente destinados a troca, mas mais vendáveis.
Com a extensão do intercâmbio comercial no espaço e com a expansão de intervalos cada vez maiores de tempo de previsão para satisfazer as necessidades materiais, cada indivíduo aprenderia, de seus próprios interesses econômicos, a ter bom cuidado que ele trocasse seus bens menos vendáveis por aquelas comódites especiais que exibissem, além da atração de serem altamente vendáveis na localidade particular, uma ampla gama de vendabilidade tanto no tempo como no local. Essas mercadorias seriam qualificadas por seu alto custo, facilidade de transportabilidade e aptidão para a preservação (em conexão com a circunstância correspondente a uma demanda estável e amplamente distribuída) para assegurar ao possuidor um poder, não só “aqui” e “agora “, mas o mais possível, ilimitado no espaço e no tempo em geral, sobre todos os outros bens de mercado a preços econômicos.
E assim aconteceu que, à medida que o homem se familiarizava cada vez mais com essas vantagens econômicas, principalmente por uma visão tornada tradicional e pelo hábito da ação econômica, essas comódites, que relativamente ao espaço e ao tempo são mais vendáveis, tornaram-se em todos os mercados os produtos os quais não é apenas do interesse de todos aceitarem em troca dos seus próprios bens menos vendáveis, mas que também são aqueles que ele realmente aceita prontamente. E sua vendabilidade superior depende apenas da vendabilidade relativamente inferior de qualquer outro tipo de comódite, pelo qual, por si só, conseguiram se tornar meios de troca comumente aceitáveis.
É óbvio como um fator, altamente significativo, é o hábito na gênese de tais meios de troca geralmente úteis. Encontra-se no interesse econômico de cada indivíduo comerciante em trocar comódites menos vendáveis pelas mais vendáveis. Mas a aceitação voluntária do meio de troca já pressupõe um conhecimento desses interesses por parte dos sujeitos econômicos que se espera que aceitem em troca de suas mercadorias uma comódite que, por si só, é talvez inteiramente inútil para eles. É certo que esse conhecimento nunca surge em todas as partes de uma nação ao mesmo tempo. Em primeira instância, é apenas um número limitado de agentes econômicos que reconhecerão a vantagem em tal procedimento, uma vantagem que, por si só, é independente do reconhecimento geral de uma comódite como um meio de troca, na medida em que como tal troca, sempre e sob todas as circunstâncias, traz a unidade econômica um bom acordo próximo ao seu objetivo, à aquisição de coisas úteis das quais ele realmente precisa. Mas é admitido que não existe método melhor de esclarecer qualquer um sobre seus interesses econômicos do que ele perceber o sucesso econômico daqueles que usam o meio certo para garantir o seus próprios. Por isso, também é claro que nada pode ter sido tão favorável à gênese de um meio de troca como a aceitação, por parte dos agentes econômicos mais exigentes e capazes, para seu próprio ganho econômico e por um período considerável de tempo, de bens eminentemente vendáveis em preferência a todos os outros. Desta forma, a prática e o hábito certamente contribuíram muito em fazer com que bens, que eram mais vendáveis a qualquer momento, fossem aceitos não apenas por muitos, mas finalmente por todos, agentes econômicos em troca de seus bens menos vendáveis; e não só isso, mas em serem aceitos a partir do primeiro com a intenção de trocá-los novamente. Os bens que se tornaram meios de troca geralmente aceitáveis foram chamados pelos alemães de Geld, de gelten, ou seja, para pagar, para efetuar, enquanto outras nações deram sua designação para o dinheiro principalmente a partir da substância usada,[2] o formato da moeda,[3] ou mesmo de certos tipos de moeda.[4]
Não é impossível que os meios de troca, servindo como eles servem ao bem comum no sentido mais enfático da palavra, sejam instituídos também por meio da legislação, como outras instituições sociais. Mas este não é o único, nem o modo principal no qual o dinheiro tomou sua origem. Isso esta a ser traçado muito mais no processo retratado acima, não obstante, a natureza desse processo estaria muito incompletamente explicada, se chamássemos isso de “orgânico” ou denotar dinheiro como algo “primordial,” ou “crescimento primitivo,” e assim por diante. Colocando de lado os pressupostos que são historicamente inadequados, nós só podemos vir a compreender plenamente a origem do dinheiro, aprendendo a enxergar o estabelecimento do procedimento social, como o qual estamos lidando, como o resultado espontâneo, a resultante impremeditada, de esforços particulares e individuais dos membros da sociedade, que, pouco a pouco, abriram caminho para uma discriminação dos diferentes graus de vendabilidade nas comódites.[5]
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Notas:
[1] Cf. meu artigo sobre “Money” no Handwurterbuch der Staatswissenschaften (Dicionário de Ciência Social), Jena, 1891, iii, p. 730 et seq.
[2] Do Hebraico keseph, do Grego argurion, do Latim argentum, do Francês argent, etc.
[3] Do Inglês money, do Espanhol moneda, do Português moeda, do Francês monnaie, do Hebraico maoth, do Árabe fulus, do Grego nomisma, etc.
[4] Do Italiano danaro, do Russo dengi, do Polonês pienondze, do Boêmio e Eslavo penise, do Dinamarquês penge, do Sueco penningar, do Magyar pens, etc. (ou seja, denare = Pfennige = penny).
[5] Cf. sobre este ponto meu Grunsatze der Volkswirtschaft– slehre, 1871, p. 250 et seq.