Matrix é uma das maiores metáforas já inventadas. Máquinas criadas para facilitar a vida humana acabam escravizando a humanidade. Esse é o tema mais comum na ficção científica distópica.
Por que esse medo é tão universal, tão convincente? É porque realmente acreditamos que nossa torradeira e nosso notebook acabarão se tornando nossos senhores mecanizados?
Claro que não. Isso não é um futuro que tememos, mas um passado que já estamos vivendo.
Supostamente os governos foram inventados para tornar a vida humana mais fácil e segura, mas os governos sempre acabam escravizando a humanidade. Aquilo que criamos para “nos servir” acaba nos dominando. O governo dos EUA, criado pelo povo e para o povo, atualmente aprisiona milhões, toma metade da renda nacional à força, regulamenta tudo, pune, tortura, mata estrangeiros, invade países, derruba governos, impõe 700 bases imperialistas no exterior, infla a moeda e esmaga as gerações futuras com dívidas maciças. Aquilo que criamos para nos servir, acaba nos dominando.
O problema da tese do Estado como servidor é que é historicamente completamente falsa, tanto empírica quanto logicamente. A ideia de que os Estados foram inventados voluntariamente pelos cidadãos para aumentar sua própria segurança é totalmente falsa. Antes dos governos, em tempos tribais, os seres humanos só podiam produzir o que consumiam; não havia produção excessiva de alimentos ou outros recursos, portanto, não fazia sentido possuir escravos porque o escravo não poderia produzir qualquer excesso que pudesse ser roubado pelo mestre. Se um cavalo puxando um arado só pudesse produzir comida adicional suficiente para alimentar o cavalo, não faria sentido caçar, capturar e domar um cavalo. No entanto, quando as melhorias agrícolas permitiram o advento de colheitas em excesso, de repente tornou-se altamente vantajoso possuir seres humanos. Quando as vacas começaram a fornecer leite e carne em excesso, possuir vacas passou a valer a pena.
Os primeiros governos e impérios foram na verdade uma classe dominante de caçadores de escravos que entendiam que, como os seres humanos podiam produzir mais do que consumiam, valia a pena caçar, capturar, aprisionar e possuir seres humanos. Os primeiros impérios egípcio e chinês eram, na realidade, fazendas humanas, onde as pessoas eram caçadas, domesticadas e possuídas como qualquer outra forma de gado. Devido a melhorias tecnológicas e metodológicas, os escravos produziam excedentes suficientes para que o trabalho envolvido em capturá-los e mantê-los representasse apenas um pequeno subconjunto de sua produtividade total. A classe dominante, os fazendeiros, mantinham grande parte desse excedente distribuindo presentes e pagamentos a classe brutalizadora – a polícia, os caçadores de escravos e sádicos em geral – e a classe propagandista – os sacerdotes, os intelectuais e artistas.
Essa situação continuou por milhares de anos até os séculos XVI a XVII, quando novamente, melhorias maciças na organização e tecnologia agrícola criaram a segunda onda de excesso de produtividade. O movimento de cercamento reorganizou e consolidou as terras cultivadas, resultando em cinco a dez vezes mais colheitas, criando uma nova classe de trabalhadores industriais, deslocados do campo e amontoados nas novas cidades. Esse enorme excedente agrícola foi a base do capital que impulsionou a Revolução Industrial.
A Revolução Industrial não surgiu porque a classe dominante queria libertar seus servos, mas sim porque eles perceberam como as “liberdades” adicionais poderiam tornar seu gado incrivelmente mais produtivo. Quando as vacas são colocadas mantidas em espaços apertados, isto resulta em menos produtividade. Os pecuaristas agora dão mais espaço a elas, não porque eles querem deixar suas vacas livres, mas sim porque eles querem maior produtividade e custos mais baixos. A próxima etapa após a criação ao ar livre não é liberdade.
A ascensão do Capitalismo de Estado no século XIX foi na verdade a ascensão da servidão ao ar livre. Liberdades adicionais foram concedidas ao gado humano não com o objetivo de libertá-lo, mas sim com o objetivo de aumentar sua produtividade. É claro que intelectuais, artistas e sacerdotes foram e são bem pagos para esconder essa realidade. O grande problema da propriedade de gado humano moderna é o desafio do entusiasmo. O Capitalismo de Estado só funciona quando o espírito empreendedor impulsiona a criatividade e a produtividade na economia.
No entanto, o excesso de produtividade sempre cria um Estado maior e incha as classes dominantes e seus dependentes, o que corrói a motivação para se produzir mais. Impostos e regulamentações aumentam, a dívida do Estado (exploração futura das fazendas humanas) aumenta, e a produtividade e padrões de vida decaem. Depressão e desespero começam a se espalhar ao passo que a realidade de ser possuído começa a ser percebida pela população em geral.
A solução para isso é propaganda adicional: medicamentos antidepressivos, superstições, guerras, campanhas morais de todo tipo, criação de “inimigos”, inculcação de patriotismo, medos coletivos, paranoia sobre estrangeiros e imigrantes e assim por diante. O que é essencial para entender a realidade do mundo é o seguinte: quando você olha para um mapa do mundo você não está olhando para países, mas para fazendas. Lhe são permitidas certas liberdades; propriedade limitada, direitos de movimento, liberdade de associação e ocupação. Não porque o seu governo aprove esses direitos em princípio, uma vez que ele os viola constantemente, mas porque o gado criado ao ar livre é muito mais barato de se possuir e muito mais produtivo.
É importante entender a realidade das ideologias. Capitalismo de Estado, socialismo, comunismo, fascismo, democracia; todas essas são abordagens de manejo de gado. Algumas funcionam bem por longos períodos; Capitalismo de Estado. E algumas funcionam muito mal; comunismo. Todas fracassam eventualmente porque é imoral e irracional tratar seres humanos como gado. O recente crescimento da liberdade na China, Índia e Ásia está ocorrendo porque os fazendeiros do Estado local atualizaram suas práticas de manejo de gado. Eles reconheceram que colocar as vacas em um estábulo maior fornece aos governantes mais leite e carne. Os governantes também reconheceram que se eles impedirem que você fuja da fazenda, você ficará deprimido, inerte e improdutivo. Um servo é mais produtivo quando ele imagina que é livre, portanto, seus governantes devem fornecer a você a ilusão de liberdade para ordenha-lo com mais eficácia. Portanto, eles permitem que você saia, mas nunca para a liberdade real, apenas para outra fazenda, porque o mundo inteiro é uma fazenda.
Eles vão evitar que você leve muito dinheiro, eles vão te soterrar sob uma papelada sem fim, eles vão restringir seu direito de trabalhar, mas você está livre para sair. Devido a essas dificuldades muito poucas pessoas saem, mas a ilusão de mobilidade é mantida. Se apenas uma de mil vacas escapa, mas a ilusão de escapar aumenta significativamente a produtividade com as 999 restantes, continua sendo um ganho líquido para o fazendeiro.
Você também é mantido na fazenda através do licenciamento. O gado mais produtivo são os profissionais, então os governantes os equipam com uma coleira eletrônica para cães chamada licença, que só permite que eles pratiquem seu ofício em sua própria fazenda. Para criar ainda mais a ilusão de liberdade, em certas fazendas o gado pode escolher entre alguns poucos fazendeiros que os investidores apresentam. Na melhor das hipóteses, eles têm poucas opções sobre como serão administrados. Eles nunca têm a opção de fechar a fazenda e serem verdadeiramente livres.
Escolas são centros de doutrinação para o gado. Elas treinam as crianças para amar a fazenda e temer a verdadeira liberdade e independência e atacar qualquer um que questione a realidade brutal da propriedade humana. Além disso, elas criam empregos para os intelectuais cuja ação propagandista o Estado depende. As contradições ridículas do estatismo só podem ser sustentadas por propaganda sem fim infligida sobre crianças indefesas.
A ideia de que a democracia e algum tipo de contrato social justificam o exercício brutal do poder violento sobre bilhões é patentemente ridícula.
Se você disser a um escravo que seus ancestrais “escolheram” a escravidão e, portanto, ele está vinculado à decisão deles, ele simplesmente dirá que “se a escravidão é uma escolha, então eu escolho não ser um escravo’. Esta é a declaração mais assustadora para as classes dominantes. É por isso que eles treinam seus escravos para atacar qualquer um que ouse falar isso.
O estatismo não é uma filosofia.
O estatismo não se origina de evidências históricas ou princípios racionais.
O estatismo é uma justificativa ex post facto para a propriedade humana.
O estatismo é uma desculpa para a violência.
O estatismo é uma ideologia e todas as ideologias são variações das práticas de manejo do gado uma humano.
O nacionalismo é a exploração do fanatismo, projetado para provocar uma Síndrome de Estocolmo no gado.
O oposto de uma superstição não é outra superstição, mas a verdade.
O oposto da ideologia não é uma ideologia diferente, mas evidências claras e princípios racionais.
O oposto da superstição e ideologia do estatismo é a filosofia.
A razão e coragem nos libertarão.
Você não precisa ser gado.
Tome a pílula vermelha.
Acorde.
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Um dos melhores textos que li aqui no site. Grande Stefan.
Uma nota: O amor à pátria deve ser acarinhado, pois só uma pátria pode proteger os interesses de aqueles que se encontram dentro de essa pátria. Não o nacionalismo doentio do nazismo, ou de um qualquer país governado pelo estatismo, mas aquele organizado em liberdade.
Outra nota: Aquilo que chamam de “paranoia sobre estrangeiros e imigrantes”, trata-se de defender os interesses da família nação, assim como se defendem interesses da própria pessoa, ou de uma família, ou de uma empresa. Se não tem a porta da sua casa constantemente aberta a todos, por que é que pensa que o seu país deve abrir a porta a todos? Vive confortavelmente, em segurança e não tem fome? É isso, não é? Este é o assunto que quem fala defende interesses que não conhece. A imigração é o pior que pode acontecer a uma pessoa. Eu sei do que falo, pois já fui imigrante por duas vezes. A imigração só defende os interesses de aqueles que querem trabalho mais barato, e muitas vezes sem quaisquer condições de vida, como viverem várias famílias em uma casa.
Seu pensamento é ingênuo apartir do momento em que você transfere responsabilidades individuais sobre às costas de um suposto coletivo. Digamos que um Estado específico queira acolher imigrantes, e outros imigrantes não queiram, será correto dizer que os interesses da maiorias devem ser atendidos?
Não veja às coisas de um ponto de vista coletivo. Quanto mais descentralizado for, melhor e mais justo.