Nas ideias socialistas, o idealismo mais ousado sempre coincidiu com o materialismo mais cobiçoso.
– HEINRICH VON TREITSCHKE
O socialismo promete às pessoas um mundo melhor com palavras atraentes: um mundo onde reine a paz, onde reine a justiça e a prosperidade. Economicamente, o socialismo implica que os meios de produção não sejam de propriedade privada, mas nacionalizados, isto é, propriedade do Estado. Como modelo econômico e social, o socialismo é, portanto, o oposto do capitalismo, que descreve o modelo econômico e social no qual os meios de produção são de propriedade privada. Mas, por mais tentadoras que suas promessas possam parecer, o socialismo não é viável.
A impossibilidade do socialismo foi explicada conclusivamente, usando meios científicos, por Ludwig von Mises em 1919 em seu ensaio “Die Wirtschaftsrechnung im sozialistischen Gemeinwesen” (“Cálculo Econômico na Comunidade Socialista”). Em suma, sob o socialismo – porque não há propriedade dos meios de produção – não pode haver preços de mercado para bens escassos. Sem eles, no entanto, um cálculo econômico é completamente impossível. Os planejadores socialistas não podem saber em que quantidade e qualidade os bens são desejados, nem podem avaliar a viabilidade dos projetos de produção. O socialismo leva ao caos, à violência e ao empobrecimento – em oposição a todas as proclamações contrárias de salvação.[1]
Certamente, o socialismo vem em diferentes formas e manifestações.[2] Mas há duas formas básicas que podem ser distinguidas. Por um lado, existe o socialismo de influência russa (também chamado: marxismo-leninismo). Ele defende a revolução e a derrubada sangrenta, a expropriação violenta dos proprietários e a nacionalização dos meios de produção. Por outro lado, há o socialismo de influência alemã: os socialistas alemães reconheceram que o caminho russo para o socialismo não poderia ser implementado na Alemanha. Era implacável demais, cruel demais para ter qualquer perspectiva de sucesso na Alemanha. Os socialistas alemães, portanto, optaram por uma estratégia diferente. Eles eram a favor de manter, em princípio, a propriedade privada dos meios de produção. Ao mesmo tempo, porém, exigiam que os proprietários não tivessem direito a todas as receitas que gerassem com o uso de suas propriedades. Parte delas pertencia à comunidade e deveria ser paga ao Estado na forma de impostos.
Uma vez que os socialistas democráticos tenham encontrado apoio para suas demandas, o caminho a seguir é virtualmente pré-programado. Se alguém considerou a expropriação parcial correta e boa, então nenhuma razão de princípio pode ser levantada contra aumentos de impostos cada vez maiores. Se for cobrado um imposto de renda inicial de, digamos, 20%, com o tempo ele se tornará 25, 30, 35, 40% ou mais. Esses pequenos passos levam à expropriação progressiva dos assalariados e a uma redistribuição cada vez maior de renda e riqueza baseada em considerações políticas, o que aumenta o poder do Estado e dos grupos que ele favorece. A propriedade privada existe então apenas formalmente, mas não mais em termos econômicos. Assim, do ponto de vista do socialismo democrático, a propriedade é propriedade por graça do Estado; é propriedade fiduciária.
O socialismo democrático encontra sua base intelectual no marxismo cultural (ou neomarxismo). Ele nasceu da visão marxista-leninista de que a esperada revolução não emana das massas trabalhadoras, mas que, em vez disso, a base para a transformação da sociedade deve ser criada pelos intelectuais. O objetivo não é uma derrubada repentina e violenta, mas uma sublevação pacífica gradual – por meio da mudança de valores, cultura e crenças do povo. Desta forma, as massas, despojadas de sentido e desorientadas, acabam por cair efetivamente nas garras do comunismo.
Depois de décadas de persistente trabalho preparatório (a “marcha pelas instituições”), os intelectuais marxistas culturais hoje ocupam muitas posições-chave na política, governo, arte e cultura. Eles podem ser encontrados principalmente em escolas e universidades, popularizando suas ideias, que são veladas sob a roupagem do socialismo democrático. Novos conflitos grupais são constantemente provocados e promovidos – seja uma questão de gênero ou nacionalidade – que perturbam as pessoas e as confundem deliberadamente, até que as emoções atinjam proporções psicóticas.
O globalismo político depende do socialismo democrático. Seu objetivo é direcionar e determinar de forma autoritária todas as relações entre pessoas de diferentes continentes. Segundo eles, não é o livre mercado, a divisão do trabalho e o livre comércio que devem determinar o que é produzido e consumido, quando e onde, mas essas decisões devem ser influenciadas ou tomadas por uma vontade criativa ideológica e política. O globalismo político recebe apoio não apenas da esquerda política. As grandes empresas, em particular, estão expressando seu apoio – porque esperam poder influenciar o processo político a seu favor.[3]
O socialismo democrático tem – e isso pode ser demonstrado com a teoria a priori da ação – consequências negativas para a prosperidade material e a moralidade da sociedade. Aqui estão alguns exemplos. Tributar os lucros das empresas reduz o retorno do investimento: ele fica menor em comparação com uma situação em que os empresários não são tributados. Isso torna o investimento menos atraente. O estoque de capital cresce menos fortemente do que realmente poderia e, consequentemente, os aumentos salariais reais futuros serão menores do que seriam de outra forma.
O incentivo para trabalhar, para se dedicar à atividade produtiva, diminui porque o custo de não trabalhar diminui. Sob o socialismo democrático, pode-se finalmente ganhar (transferir) renda sem ter que oferecer um serviço comercializável. Tudo o que você precisa fazer é eleger um governo que lhe dê os benefícios desejados. A conta tem de ser paga pelos contribuintes, as pessoas produtivas – que então têm um incentivo reduzido para serem produtivas. A prosperidade material da economia como um todo será, portanto, menor em comparação com uma situação em que não há tributação.
O socialismo democrático abole a nítida distinção entre “meu” e “seu”. Qualquer pessoa que tenha permissão para votar em um governo votará no partido que espera que melhore sua situação financeira, mesmo que isso aconteça à custa de seus semelhantes. Para se defender, as vítimas reais e potenciais dos resultados eleitorais (as produtivas, de quem se pode tirar coisas) também vão querer se envolver politicamente. Isso leva a uma politização da comunidade que abrange todas as áreas da vida, da qual nada nem ninguém é poupado. A “luta política” que se segue desvia cada vez mais recursos escassos (dinheiro, tempo, pessoal, etc.) de usos produtivos para usos improdutivos.
Acima de tudo, porém, o socialismo democrático arruína a moralidade social. Em uma economia de livre mercado, você só pode ganhar e preservar renda e riqueza se fizer algo que os outros demandam voluntariamente. Você tem que colocar consistentemente seu trabalho a serviço dos desejos do cliente e todos os dias provar novamente que pode satisfazer estes desejos. Em uma economia de livre mercado, renda e riqueza são, portanto, a recompensa por servir aos outros seres humanos.
No socialismo democrático emerge um conceito diferente de moral e valor. No socialismo democrático, ao contrário de uma economia de livre mercado, há menos incentivo para ganhar uma renda e construir riqueza alinhando as próprias habilidades com os desejos de outros seres humanos. Acima de tudo, não há mais respeito incondicional pela propriedade alheia. Em vez disso, sua renda e ativos são rebaixados a condição de presas em potencial, que podem ser apropriadas impunemente se alguém eleger o partido apropriado para este fim, sendo a ideia: o governo tira algo dos outros e me dá um pouco do saque. O socialismo democrático, portanto, cria um conflito permanente ao dividir a comunidade em aproveitadores líquidos do Estado e perdedores líquidos do Estado.
O socialismo democrático, no entanto, enfrenta um problema particularmente sensível quando é espacialmente limitado: em uma única região, a política de tributação e redistribuição de renda e riqueza é mais ou menos limitada enquanto houver livre circulação internacional de trabalho e capital. Por exemplo, se empresas e trabalhadores são tributados de forma muito pesada no país onde prevalece o socialismo democrático, eles migram para outros países onde a carga tributária é comparativamente menor. Isso é uma pedra no sapato dos socialistas democráticos.
A emigração de pessoas produtivas acaba por reduzir o volume disponível para tributação e redistribuição que os socialistas democráticos podem apoderar-se. O socialismo democrático só pode controlar o problema de “votar com os pés” se conseguir estabelecer o socialismo democrático global sob uma liderança unificada. Mas como isso pode dar certo? Essa questão será examinada com mais detalhes nos capítulos seguintes. Antes disso, porém, será mostrado como a teoria a priori pode ajudar a entender e estimar melhor a dinâmica de desenvolvimento do socialismo democrático e suas consequências socioeconômicas.
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Notas
[1] Mesmo as piores experiências com o socialismo – pense em Stalin, Hitler, Mao Zedong, Pol Pot – não são suficientes para desacreditá-lo de uma vez por todas. Isso se deve principalmente ao seguinte motivo: No campo da ação humana, da história humana, a experiência nunca pode fornecer a prova convincente e conclusiva de que algo teve que acontecer como aconteceu. A história da ação humana sempre forma um complexo de muitos fenômenos individuais, cuja respectiva influência no resultado final nunca pode ser determinada separadamente. Portanto, nenhuma lei pode ser derivada da história humana, da forma como são colhidas a partir de investigações científicas (aqui, a influência isolada de um fator no resultado final geralmente pode ser filtrada por meio de experimentos de laboratório). Consequentemente, uma teoria sobre a ação humana, como o socialismo, não pode ser confirmada como verdadeira ou refutada como falsa pela experiência. É precisamente esse insight que os socialistas fazem uso ativo. Eles explicam que o socialismo, onde e quando foi colocado em prática, não produziu os resultados esperados, com o seguinte argumento: o socialismo não foi implementado de forma consistente o suficiente. Na próxima tentativa, deve-se proceder com mais determinação – e então será óbvio que o socialismo funciona. Ou, da próxima vez, tudo o que precisa ser feito é colocar pessoas mais capazes nas alavancas do socialismo, e elas levarão o socialismo à vitória e, como prometido, criarão um mundo mais justo e pacífico em pouco tempo. Muitos outros subterfúgios e tentativas de justificação poderiam ser citados para desculpar o fracasso do socialismo e os horrores que ele traz para as pessoas. Sobre a história do socialismo, ver Erik von Kuehnelt-Leddihn, Esquerdismo revisitado: de Sade e Marx a Hitler e Pol Pot (Washington, DC: Regnery Gateway, 1990), pp. 33 e seguintes.
[2] Ver Ludwig von Mises, The common economy: Studies on socialism (Stuttgart: Lucius and Lucius, 1932), esp. pp. 56–61.
[3] Ver Thorsten Polleit, “Preserve Economic Globalization: Free Trade and Political Globalism Are Not the Same”, Schweizerzeit, 27 de janeiro de 2017.