3. A praxeologia e os fundamentos praxeológicos da epistemologia I
Assim como fizeram os maiores e mais inovadores economistas, Ludwig von Mises analisou intensa e repetidamente o problema da condição lógica das proposições econômicas, i.e., como chegamos a conhecê-las e como as validamos. Na verdade, dentre todos aqueles que consideram que este cuidado é indispensável para se obter um progresso sistemático na ciência econômica, ninguém supera Mises. Pois qualquer confusão relativa à resposta destas questões fundamentais da operação intelectual de alguém teria que naturalmente levar a um desastre intelectual, i.e., a doutrinas econômicas falsas. Consequentemente, três livros de Mises são inteiramente dedicados ao esclarecimento dos fundamentos lógicos da ciência econômica: Seu preliminar Epistemological Problems of Economics, publicado na Alemanha em 1933; seu Theory and History, de 1957; e seu Ultimate Foundations of Economic Science de 1962, o último livro de Mises, que foi lançado quando ele já tinha ultrapassado seus oitenta anos de idade. E seus trabalhos no campo específico da ciência econômica também invariavelmente expõem a importância que Mises atribui à análise dos problemas epistemológicos. Mais especificamente, Ação Humana, sua obra prima, em suas inigualáveis primeiras cem páginas, lida exclusivamente com estes problemas, e as outras 800 páginas do livro estão repletas de considerações epistemológicas.
Deste modo, totalmente alinhado à tradição de Mises, os fundamentos da ciência econômica também são o assunto deste capítulo. Eu estabeleci para mim mesmo um objetivo composto de duas etapas. Primeiro quero explicar a solução proposta por Mises para o problema das fundamentações definitivas da ciência econômica, i.e., sua idéia de uma teoria pura da ação, ou praxeologia, como ele mesmo designa. E em segundo lugar, quero demonstrar porque a solução de Mises é muito mais do que apenas um insight incontestável sobre a natureza da ciência econômica e das proposições econômicas.
Ele fornece um insight que também torna possível a compreensão da fundamentação sobre a qual a epistemologia, em última análise, se baseia. Na verdade, conforme sugere o título do capítulo, quero mostrar que é a praxeologia que deve ser considerada o próprio fundamento da epistemologia, e, consequentemente, que Mises, além de seus grandes feitos como economista, também contribuiu com insights pioneiros relativos à justificação de toda tarefa da filosofia racionalista. [40]
[40] Sobre isto veja também meu Kritik der kausalwissenschaftlichen Sozialforschung. Untersuchungen zur Grundlegung von Soziologic und ?konomie; idem, “Is Research Based on Causal Scientific Principles Possible in the Social Sciences?,” capítulo 7); idem, “In Defense of Extreme Rationalism,” [em .PDF] Review of Austrian Economics 3 (1988)