Recentemente, a jornalista Madeleine Lacsko foi acusada de transfobia, sendo condenada a pagar uma indenização de 3 mil reais para a influencer trans Rebecca Gaia, por tê-la chamado de “cara” em uma rede social. A expressão que gerou a polêmica — posteriormente convertida em uma infração criminal —, foi “Olá, cara”. Um jornalista da Jovem Pan sugeriu que ela, muito provavelmente, estava sendo cordial, chamando-a pelo feminino de “caro”, que significa prezado.
Para “combater” a discriminação e o racismo na literatura, vários clássicos da literatura ocidental serão publicados em uma linguagem politicamente correta. Nos Estados Unidos, a editora Penguin Books decidiu expurgar de seu catálogo vários livros do autor britânico Roald Dahl (1916-1990), por serem incompatíveis com a ditadura politicamente correta. A editora Puffin Books, por sua vez, contratou em fevereiro deste ano diversos “leitores sensíveis” para fazer o que chamam de “avaliação crítica” da obra do autor, com o objetivo de publicar vários de seus livros em versões inclusivas politicamente corretas.
Isso gerou uma controvérsia nos meios acadêmicos sem precedentes na história recente da literatura ocidental. Principalmente pelo fato de Roald Dahl ter adquirido a fama de se opor com veemência a qualquer alteração editorial em seus textos. Excepcionalmente meticuloso e perfeccionista, ele não permitia que alterassem nada, nem mesmo uma única vírgula.
Aqui no Brasil, não escapamos da famigerada controvérsia literária. Obras infantis do famoso escritor Monteiro Lobato (1882-1948) — ícone da literatura brasileira, cujo nome completo é José Bento Renato Monteiro Lobato — ganharão versões politicamente corretas. O que lamentavelmente foi chancelado até mesmo por membros de sua família, como a sua bisneta, que abraçou a causa politicamente correta e afirmou ser necessário “rever o racismo” presente em suas obras.
O que a ditadura do consenso progressista pretende, de fato, é adaptar diversas obras literárias de vários autores para versões politicamente corretas. O seu lobby político-ideológico está engajado em conquistar a total hegemonia da ideologia progressista em praticamente todos os ambientes: acadêmicos, universitários, políticos, corporativos e esportivos.
Há muito tempo existe também um movimento que reivindica a “necessidade” de se reescrever a Bíblia, para “adaptá-la” aos tempos atuais. É de conhecimento geral que os fundamentalistas progressistas politicamente corretos sempre implicaram com as Sagradas Escrituras Judaico-Cristãs, por elas não serem inclusivas, sendo patriarcais e moralmente rígidas demais para o gosto da militância. Há algumas semanas, Xuxa propôs em uma rede social “reescrever a Bíblia”. Há muitos anos atrás, Jean Wyllys — deputado federal de 2011 a 2019 —, afirmou que era necessário expurgar da Bíblia as “passagens homofóbicas”.
Há também um movimento para proibir o uso de palavras como “gordo” e “obeso” para se referir a pessoas que estão acima do peso, porque essas palavras são supostamente ofensivas. Palavras como “índio” e “homossexualismo” também devem ser sumariamente erradicadas do vocabulário. Os termos “corretos” são “indígena” e “homossexualidade”. Militantes progressistas politicamente corretos também afirmam que é necessário normalizar a linguagem neutra, pois ela é mais inclusiva. Se você usar a linguagem neutra, estará sendo socialmente inclusivo e ajudará a combater a transfobia.
Humoristas que contam piadas sobre negros, homossexuais, índios e outras minorias estão sendo processados. O caso do comediante Léo Lins é muito emblemático na questão da total ausência de liberdade na prática do humor. O humorista está sendo processado pelo Ministério Público Federal por contar piadas supostamente machistas e racistas. Foi inclusive obrigado a retirar do seu canal do Youtube sua performance de comédia stand-up intitulada “Perturbador”. O que não adiantou absolutamente nada, visto que outros canais do Youtube disponibilizaram o vídeo, muitos deles usando uma hashtag que dizia “censura não”.
A justiça está usando como base legal para a condenação do humorista uma nova lei aprovada este ano — que ficou conhecida como “lei antipiadas”, em função das enormes restrições que ela impõe ao humor —, que criminaliza expressões consideradas racistas, ou que sejam percebidas como sendo pejorativas ao se referir a determinados grupos raciais.
No Canada, o psicólogo clínico e autor Jordan Peterson está sendo cada vez mais constrangido e intimidado por conta de suas opiniões e convicções pessoais, consideradas um anátema para a militância progressista, e para o avanço autoritário de sua ideologia. O psicólogo — que é também uma celebridade no mundo virtual e uma presença ativa nas redes sociais — arregimentou fama considerável em anos recentes por sua ferrenha oposição à ditadura politicamente correta, o que fez com que ele se tornasse alvo de extrema hostilidade por parte da militância.
Expressando um posicionamento de caráter mais tradicional e conservador — que em uma sociedade normal seriam consideradas simplesmente bom senso —, o psicólogo enfrentou inúmeras vezes turbas de militantes encolerizados e histéricos em universidades canadenses. Ele também já participou de manifestações públicas em defesa da liberdade de expressão, sendo bem conhecido por sua resistência ativa contra o avanço da ditadura politicamente correta, criticando abertamente coisas como o movimento transgênero, o feminismo e políticas identitárias.
Como o Canada é, atualmente, um dos países mais progressistas do mundo, as restrições, imposições e constrangimentos que uma figura como Jordan Peterson enfrenta são ostensivamente tirânicas e intimidatórias. Em 2016, ele declarou abertamente sua oposição a um projeto de lei — popularmente conhecido como Bill C-16 — que tornaria compulsório o uso de pronomes neutros. Peterson afirmou que isso implicaria em uma severa restrição à liberdade de expressão. O psicólogo, que na época era professor universitário, afirmou que ele poderia ser processado simplesmente por se recusar a chamar um estudante transgênero, um aluno ou um membro do corpo docente pelo seu respectivo pronome de escolha. Essa lei acabou sendo eventualmente aprovada pelo parlamento em junho de 2017.
No início deste ano, Jordan Peterson sofreu retaliação por criticar o primeiro-ministro do Canada, Justin Trudeau, e por compartilhar na rede social Twitter uma postagem de Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador do Canada e líder da Oposição Oficial. Como retaliação por sua “ousadia” de expressar opiniões pessoais em uma ditadura progressista, o psicólogo foi intimado a passar por um treinamento obrigatório de comunicação em mídias sociais. Caso se recusasse, ele poderia perder a sua licença para clinicar. Em suas próprias palavras, ele foi submetido a uma “desgraça pública, reeducação política obrigatória, audiência disciplinar e perda potencial da licença clínica”.
Não, isso não é roteiro de filme de ficção sobre uma distopia futurista, onde todos são plenamente vigiados e monitorados, e até mesmo o que as pessoas falam é rigorosamente controlado pelas autoridades. Ou um romance de Philip K. Dick, sobre uma realidade paralela na qual os cidadãos podem ser punidos pelo governo onipotente simplesmente por proferirem opiniões polêmicas, impopulares ou consideradas indesejadas pelo establishment político vigente. Esta é a realidade do ocidente progressista politicamente correto do século XXI.
Infelizmente, as diversas situações descritas acima são apenas alguns poucos exemplos de como a “inclusiva” e “tolerante” ditadura totalitária politicamente correta está suprimindo a liberdade no ocidente e impondo uma dura perseguição contra todos aqueles que não são submissos à tirania progressista. Se fosse possível registrar todos os casos, de forma ampla e abrangente, esse artigo se transformaria em uma enciclopédia.
O que esses poucos exemplos deixam em franca evidência, no entanto, é que está em curso um radical e dramático processo de padronização da sociedade. Uma homogeneização forçada foi deflagrada, e todos aqueles que não se ajustarem e não se conformarem à ditadura do consenso, imposta arbitrariamente, sofrerão as consequências.
A mensagem que a perseguição impõe é muito clara: se ajuste ao novo padrão progressista politicamente correto, ou encare as consequências de ser um dissidente. Pessoas, livros sagrados, literatura, agendas políticas, programas de televisão — praticamente tudo precisa se ajustar e se adequar à ditadura totalitária politicamente correta. Quem decidir não se ajustar e não se adaptar será ostensivamente punido por ser um livre pensador, questionador e desobediente. A sociedade progressista não pode tolerar livres pensadores. A ditadura politicamente correta não pode tolerar quem pensa, questiona e contesta. A ditadura politicamente correta, na verdade, não tolera absolutamente nada. Ela impõe, sem pedir licença ou desculpas. E criminaliza quem não a obedece.
É bastante evidente que o politicamente correto é o nazismo do século XXI. Um nazismo mais inclusivo, colorido e sorridente, com um discurso universitário de diversidade e igualitarismo. Mas que é ostensivamente feroz em sua intolerância, prepotência, opressão e despotismo. Se você não concordar com absolutamente tudo o que a agenda progressista politicamente correta impõe, você é um reacionário radical e extremista que está em oposição ao genuíno “progresso” social.
Toda esta perseguição arbitrária contra pessoas e grupos que não são submissos à tirania politicamente correta mostra, de forma contundente, que o que existe atualmente é uma tentativa de subjugar completamente a sociedade, colocando todos os indivíduos em submissão à agenda progressista. Não é uma opção, não é uma escolha. Você tem que aceitar a tirania progressista. Você é obrigado a se submeter. Você não pode protestar, não pode criticar, não pode se expressar livremente nas redes sociais e não pode contar anedotas que ridicularizam a seita, os seus protegidos ou os seus postulados ideológicos. Caso contrário, você será processado, multado e encarcerado.
As arbitrariedades expostas no início deste artigo deixam bem claro que a tirania totalitária politicamente correta não será estabelecida em um futuro próximo ou distante. Ela já está plenamente consolidada no tempo presente. É uma realidade evidente e incontestável. É óbvio que isso sempre pode piorar, o que é a tendência, conforme a tirania ganha mais força e adesão popular, o que geralmente acontece através da difusão do medo, da ameaça e da intimidação. Para piorar a situação, uma expressiva parcela de celebridades endossa publicamente a tirania politicamente correta, o que, direta e indiretamente, contribui para a difusão e a normalização do totalitarismo progressista.
A mensagem que o sistema está transmitindo é clara e muito simples de entender — você quer ser um “bom” cidadão? Não deseja ter problemas com a justiça? Então não conteste, não critique e não fale mal da agenda totalitária progressista politicamente correta. Você quer ser um “bom” conservador? Então não critique o aborto, o feminismo, as causas sociais, o judiciário progressista, a ideologia de gênero, a linguagem neutra e os homens que competem em esportes femininos. Fique brincando de conservador em seu grupinho de amigos e deixe o sistema se estabelecer de forma onipotente sobre tudo e sobre todos.
No presente momento, é impossível dizer até onde a agenda progressista politicamente correta irá. Mas uma coisa é certa: ela não vai parar sozinha. Na verdade, o mais provável é que passe a avançar cada vez mais, à medida que encontra pouca ou nenhuma resistência da população. Nessa questão, não devemos nos iludir em nossas expectativas — o medo absurdo do sistema vai fazer a maioria das pessoas ceder ao avanço irrefreável da agenda progressista; primeiro nas pequenas coisas, depois nas grandes.
Conservadores, em grande parte, já estão sumariamente intimidados. Uma expressiva parcela deles decidiu se refugiar na covardia, especialmente aqueles que usufruem de alguma notoriedade. Estão contentes em fingir que absolutamente nada está acontecendo, e que a ordem social goza da mais absoluta normalidade. Outros ainda acham que é preciso “combater o comunismo”, porque encalharam em 1950 e pensam que ainda estamos na Guerra Fria. A maioria deles, na verdade, simplesmente faz cosplay de conservador, porque ser um conservador de verdade, em tempos onde o totalitarismo progressista se tornou onipresente e onipotente, exige ostensiva coragem, determinação e disposição para resistir. Algo que a maioria deles é incapaz de fazer. Não devemos esperar dos conservadores de ocasião mais do que graciosas frases de efeito em redes sociais.
O totalitarismo progressista e a perseguição do sistema contra dissidentes já são fatos plenamente estabelecidos e consolidados. Agora, até mesmo uma palavrinha digitada errada em uma rede social pode ser suficiente para que qualquer um seja processado, sob a acusação de ser “intolerante”, “transfóbico” ou “racista” — entre outras coisas —, sendo então forçado a comparecer aos tribunais de exceção progressistas, onde o seu comportamento será julgado por não ser “inclusivo” o suficiente.
Para a distopia multicolorida do amor, da diversidade e da tolerância existir, é necessária uma ditadura brutal para apoiá-la, que esteja plenamente disposta a esmagar de forma implacável e arbitrária toda a liberdade que aparecer em seu caminho, não deixando sobrar o mínimo resquício. O atual estado de coisas apenas prova, comprova e expõe reiteradamente que liberdade e progressismo são duas coisas completamente incompatíveis. Elas são tão distintas quanto água e veneno. Quem apoia a liberdade não pode apoiar o progressismo. Quem apoia o progressismo está envolvido — mesmo que não admita abertamente — em uma batalha contumaz pela erradicação da liberdade.
Recentemente vimos o Corinthians perder mando de campo porque a torcida gritou um canto não autorizado pelo regime. O curioso é ver grande parte dos torcedores aplaudir a medida, acreditando em suas supostas boas intenções, sem perceber que se trata simplesmente de controle.
Sem palavras pelo artigo. Falou tudo o que estamos passando e como está a sociedade atual, com os “conservadores” se omitindo e permitindo o totalitarismo crescer quase sem resistência.