“Nunca confie em um criminoso (…) até que seja necessário” é o lema oficial de The Blacklist (“A Lista Negra”), a série de televisão americana de suspense policial que estreou na NBC em 23 de setembro de 2013. Mas a verdadeira lição de The Blacklist é: “Nunca confie no governo (…) mesmo que seja necessário.” Poucos programas são, ao mesmo tempo, anti-estado na sua narrativa e aprazíveis como entretenimento. The Blacklist, entretanto, merece ser assistido. Se há um programa televisivo que considera o governo pelo que ele é — ou seja, uma “gangue de bandidos”, conforme Rothbard o chamou —, esse programa seria The Blacklist.
The Blacklist consiste na estória de um criminoso internacional, Raymond “Red” Reddington, que decide, por razões misteriosas, trabalhar para o FBI (“Federal Bureau of Investigation”; a Polícia Federal do governo central dos EUA). Em troca de informações valiosas, o FBI deixa Reddington conduzir os seus próprios negócios livremente. Portanto, a questão é: Reddington trabalha para o governo, ou acontece o contrário? Reddington diz isso de forma explícita no segundo episódio da 1ª temporada: “O FBI agora trabalha para mim.”
É verdade que, depois de três temporadas, ainda não sabemos muito sobre Reddington. Conforme ele diz no primeiro episódio da primeira temporada: “Tudo sobre mim é uma mentira.”
Reddington como um defensor do Livre Mercado
Ao contrário da maioria dos políticos e dos burocratas e da maior parte dos autoproclamados “libertários pragmáticos”, Reddington não tenta agradar as pessoas fingindo ser alguém que ele não é. Portanto, não é surpreendente descobrir que Reddington é um defensor ferrenho do livre mercado. Por ser um empreendedor que responde à soberania do consumidor, ele é desprezado por muitos no FBI. No primeiro episódio, por exemplo, o agente Donald Ressler comenta sobre Reddington: “Ele não tem país, não tem agenda política. A única lealdade de Reddington é para com o maior lance.” Em outras palavras, Reddington não está tentando impor a sua vontade sobre outras pessoas. Ele não é um nacionalista; não busca poder sobre outros indivíduos.
Nesse ponto, pode-se objetar que Reddington esteja usando “meios violentos” para obter o seu sustento; que ele não seja um produtor e um empreendedor, mas sim um ladrão. Devemos, aqui, descartar um possível mal-entendido. A principal característica da máfia não está na agressão, mas sim no negócio da proteção privada. É o que se mostra no excelente livro The Sicilian Mafia [“A Máfia Siciliana”], de Diego Gambetta. Da mesma maneira, “Red” Reddington é um empreendedor que responde de modo eficiente às necessidades mais urgentes dos consumidores, sejam elas quais forem. Para ele, a violência constitui apenas um meio de proteger outras pessoas da agressão perpetrada pelo estado ou por outras gangues. No episódio 19 da 3ª temporada, quando alguém pergunta a Reddington se ele já matou alguém antes, a sua resposta honesta é: “Sim, muita gente. Mas ninguém que não merecesse.” Ao contrário do estado, o qual mata pessoas inocentes em guerras e com drones, Reddington, como militar veterano da Marinha americana, está ciente disso e tem tentado evitar os conflitos militares do estado.
Uma das tarefas de Reddington também está na ação de auxiliar indivíduos a desaparecerem para que possam escapar da vigilância em massa do governo. Portanto, por todos esses motivos, Reddington compreende as virtudes do livre mercado. O início do nono episódio da 1ª temporada demonstra o liberalismo econômico de Reddington numa conversa com o agente do FBI Donald Ressler:
Ressler: “Nós comemoramos o quê?”
Reddington: “O livre comércio, Donald! O livre comércio.”
Da mesma forma, no episódio 21 da terceira temporada, Reddington, falando sobre alguém que formou relação contratual com uma agência violenta em ligação íntima com o governo federal, diz:
Essa pessoa os contratou para auxiliá-los a domar um concorrente feroz, a Kerogent Holdings, que vem inundando o mercado com petróleo barato e derrubando os preços, algo a que eu, pelo critério do livre mercado, normalmente daria firme aprovação. Mas o petróleo em questão é comprado para jihadistas radicais, sendo os lucros utilizados para financiar todo tipo de maldade.
A aprovação do livre mercado e a prática do livre comércio resumem perfeitamente as convicções pessoais de Reddington.
Reddington resiste à arbitrariedade regulamentatória e fiscal do governo. No episódio 17 da 1ª temporada, Reddington consegue evitar desastres quando um criminoso rouba um protótipo de um programa computacional do governo que poderia invadir a rede mais segura com somente um toque de botão. Reddington sabiamente comenta:
O governo federal, então, armou um ciberterrorista com um equivalente digital de uma ogiva nuclear. Mais outro fabuloso exemplo do dinheiro dos seus impostos em ação. Mais outro motivo pelo qual eu não pago impostos.
E, no episódio 13 da 3ª temporada, demonstrando percepção em relação ao desperdício do governo, Reddington diz:
As agências responsáveis pela aplicação da legislação adoram os seus apetrechos. O FBI admitiu ter gasto o quê? Um bilhão de dólares em software de reconhecimento facial? O que significa pelo menos 3 bilhões. Sinceramente, se eu pagasse impostos, ficaria indignado.
Os piores chegam ao topo vs. A seleção dos melhores
Friedrich August von Hayek demonstrou, na obra The Road to Serfdom [“O Caminho da Servidão”], que, num sistema estatista, existe uma tendência de os piores chegarem ao topo. The Blacklist exemplifica com perfeição essa tendência.
Reddington possui uma teoria realista acerca do poder. Para ele, uma instituição governamental ou não tem poder vinculativo e é simplesmente inútil — ou possui poder coercitivo e nada mais é que uma máfia pública onde os piores levam a melhor. É por esse motivo que, no episódio 15 da 2ª temporada, Reddington corretamente afirma: “Sempre desconfiei das Nações Unidas. O próprio conceito é comicamente dicotômico. Nações deixando de lado os seus interesses próprios na esperança de edificar uma comunidade global? De mãos dadas e abraçando uma fogueira? Honestamente, é como o jardim-de-infância.”
Em The Blacklist, o governo americano é capturado por uma conspiração implacável e secreta composta por criminosos funcionários estatais de alto escalão. Isso só pode acontecer porque os servidores públicos honestos são constantemente pressionados a fazerem atos imorais. Conforme diz Tom Connolly, o procurador-geral da série: “Eu nunca tive princípios — é por isso que me encontro num foguete rumo ao topo.” Outro exemplo de seleção do pior acontece na 1ª temporada, quando uma agente do FBI deseja descobrir uma verdade sombria. O chefe dela responde somente: “Você deveria apenas cuidar da sua carreira.” Obedeça e suba na hierarquia; não faça isso e você irá ocupar um emprego irrelevante pelo resto da vida — essas são frequentemente as alternativas quando se trata do governo.
Mas a desumanização efetuada pela máquina estatal vai muito além. O governo sempre tenta contrastar os “bons” com os “maus” com o propósito de que os burocratas não sintam remorso quando violam os direitos das suas vítimas. No episódio 11 da 1ª temporada, por exemplo, o governo investiga o ataque a uma instalação secreta para desmascarar um informante. Assim acontece uma conversa entre o investigador e um agente do FBI:
Investigador: “De acordo com o relatório do seu terapeuta, você se sente culpado em relação ao que ocorreu durante a incursão.”
Agente: “É claro que sim, eu atirei em um homem. Eu achava que aquilo que eu dissesse na terapia fosse confidencial.”
Investigador: “Você atirou num terrorista, por que se sentiria culpado por isso?”
Agente: “Porque ele é humano!”
Mais tarde, os investigadores — ou, em outras palavras, burocratas treinados para não entenderem as coisas — acreditam que o agente do FBI em questão seja o informante. É somente graças à perícia e à proteção de Reddington, o qual conduziu a sua própria investigação, que esse agente do FBI é inocentado de quaisquer suspeitas. O que chama a atenção em The Blacklist é que inclusive pessoas boas são forçadas a serem más se quiserem salvar a própria pele — ou até mesmo se desejarem fazer algo de bom.
Ao contrário do estado, “Red” Reddington é altamente eficiente nas suas operações de negócios. Ele possui inclusive mais informações que o onipotente estado de vigilância em massa. Como um bom mafioso libertário, ele critica o desperdício governamental e a ineficiência dos serviços de inteligência do governo:
Você tem ideia de quanto o governo dos EUA torrou em inteligência de sinais no ano passado? […] O seu país se tornou uma nação de bisbilhoteiros. Triangulação no domínio de frequência, satélites, criptografia, seja lá o que for! Vocês esqueceram o fato de que é a inteligência humana o que realmente importa. Alianças, relacionamentos, seduções.
Reddington não só se veste muito mais estilo que burocratas sem graça, mas também fala um francês impecável — como eu, Louis Rouanet, posso atestar — e possui um bom conhecimento de vinhos franceses, além de superar o governo em tudo que faz. No segundo episódio da 2ª temporada, Reddington inclusive escapa com grande brio de um restaurante cercado pela polícia e pelo FBI.
Ao seguir os seus próprios interesses, Reddington serve ao bem público por meio da eliminação dos criminosos públicos corruptos que infectam a máquina governamental. Alguns podem argumentar que Reddington enriqueceu graças à teoria de Don Corleone do comércio — i.e., ao fazer ofertas irrecusáveis. No entanto, não é assim que Reddington procede. Ele não faz ameaças, exceto para proteger a sua propriedade. Reddington é rico porque é o melhor no que faz. O estado, por outro lado, é a instituição que usa de forma sistemática a teoria do comércio de Don Corleone para assegurar a sua supremacia. A doutrina do estado é simples: “Tudo que ainda não é meu pertence a você.” De modo oposto, a doutrina de Reddington é: “Vamos fazer um acordo.”
Artigo original aqui.









Um dos mais marcantes episódios, de alguns anos, foi o chamado “The Djinn”, em que se investiga o caso em que uma jovem muçulmana, de ascendência persa, assassina o próprio pai e após investigação, descobre-se que a mesma era na verdade uma transgênera que não queria “transicionar”, mas que o fez e “operou o sexo” por pressão do pai, islâmico devoto, que temia que seu filho fosse até mesmo morto por outros muçulmanos. Um enredo original, diria-se, não fosse que os diálogos finais davam a entender que o cristianismo seria mais intolerante com pessoas como a “jovem transexual” que o próprio islamismo. Em suma, tentaram lacrar, como se ignorassem quê ocorre a pessoas do referido segmento em locais majoitariamente muçulmanos, como o Levante ou o Irã…