De acordo com muitos comentaristas, a política monetária do Banco Central, que visa a estabilidade de preços, é o fator-chave para alcançar um crescimento econômico estável. Eles afirmam que o que impede a obtenção da estabilidade de preços são as flutuações na taxa de fundos federais em relação à taxa de juros neutra, também conhecida como taxa de juros natural. Sob essa visão, como a taxa de juros natural é consistente com preços estáveis e uma economia equilibrada, as autoridades do Banco Central devem direcionar a taxa de fundos federais para ela.
Essa teoria tem origem na obra do economista britânico Henry Thornton (1760-1815) e foi articulada pelo economista sueco Knut Wicksell no final do século XIX.
Teoria da estabilidade de preços de Knut Wicksell
O cerne da teoria de Wicksell é a taxa de juros natural, que ele define da seguinte forma:
Existe uma certa taxa de juro dos empréstimos que é neutra em relação aos preços das matérias-primas e que não tende a aumentá-los nem a baixá-los. Isto é necessariamente o mesmo que a taxa de juros que seria determinada pela oferta e pela demanda se não fosse feito uso de dinheiro e todos os empréstimos fossem efetuados sob a forma de bens de capital reais. Chega a ser quase a mesma coisa que descrevê-la como o valor atual da taxa natural de juros sobre o capital.
Assim, segundo Wicksell, a taxa de juros natural é a taxa na qual a demanda por empréstimos de capital físico coincide com a oferta de poupança expressa em capital físico.
Wicksell também argumenta que a taxa de juros natural é formada por fatores reais – ou seja, em mercados não financeiros. Se a taxa de juros de mercado cair abaixo da taxa de juros natural, o investimento excederá a poupança, o que significa que a quantidade de bens demandados será maior do que a quantidade fornecida. Wicksell assume que o excesso de demanda é financiado por uma expansão nos empréstimos bancários. Isso leva à criação de dinheiro novo, o que, por sua vez, empurra o nível geral de preços para cima.
Por outro lado, se a taxa de juros de mercado subir acima da taxa de juros natural, a poupança excederá o investimento, a quantidade de bens fornecidos superará a quantidade demandada, os empréstimos bancários e o estoque de dinheiro se contrairão e os preços cairão.
Se, no entanto, a taxa de juros de mercado corresponder à taxa de juros natural, então a economia estará em um estado de equilíbrio e não haverá pressões para cima nem para baixo sobre o nível de preços.
Wicksell sustentou que, para determinar se a política monetária deve ser apertada ou frouxa, é preciso comparar as duas taxas. Se a taxa de juros de mercado estiver acima da natural, a política deve ser apertada. Se estiver abaixo, então a política deve ser frouxa. Como implementar essa teoria? A taxa de juros natural não pode ser observada, então como saber se a taxa de juros de mercado está acima ou abaixo dela?
Wicksell sugere que os formuladores de políticas prestem atenção às mudanças no nível de preços. Um aumento da taxa de crescimento dos preços exige o aumento da taxa de juros do mercado, enquanto um enfraquecimento da taxa de crescimento exige a sua redução. Esse procedimento é, de fato, adotado por todos os bancos centrais, que usam índices de preços ao consumidor para medir as taxas de crescimento.
Taxa de juros real não pode ser determinada
Seria possível, no mundo de Wicksell, sem dinheiro, determinar a taxa de juros para emprestar maçãs presentes em troca de batatas futuras? Pode-se determinar a quantidade de mercadorias trocadas – por exemplo, uma maçã agora por duas batatas em um ano. No entanto, como maçãs e batatas não são os mesmos bens, não há como determinar a taxa de juros que um credor de uma maçã receberia de um mutuário que paga em batatas.
Somente em um mundo de dinheiro as taxas de juros podem ser determinadas. Observe o caso de João, o padeiro, que produz dez pães e os vende por dez reais. Ele então decide emprestar os dez reais em troca de onze reais em um ano porque prefere o último (uma preferência temporal menor). Bob, o sapateiro, o mutuário, está disposto a emprestar os atuais dez reais e pagar onze reais em um ano, porque prefere o primeiro (uma preferência temporal maior). Assim, medindo os valores dos bens um contra o outro em dinheiro e usando preferências temporais para descontar valores futuros, as duas partes determinam uma taxa de juros de mercado de 10%.
A taxa de juros natural não poderia ser determinada sem dinheiro do mesmo jeito que a taxa de juros de mercado também não poderia. Mas como a taxa de juros natural, pela definição de Wicksell, deve ser determinada sem dinheiro, a taxa de juros natural não pode ser determinada. De fato, há apenas uma taxa de juros, determinada pela interação das preferências temporais dos indivíduos com a oferta e a demanda monetárias.
Assim, podemos concluir que as tentativas de economistas e banqueiros centrais de determinar a taxa de juros natural devem ser consideradas inúteis. Em um mercado livre sem bancos centrais, não haveria necessidade de determinar se a taxa de juros de mercado está acima ou abaixo de uma taxa de juros natural imaginária.
Conclusão
As ideias dos formuladores de políticas do banco central sobre essa questão emanam dos escritos do final do século XIX do economista sueco Knut Wicksell, que achava que a chave para a estabilidade econômica era alinhar a taxa de juros de mercado com a taxa de juros natural. Nossa análise mostrou que não é possível determinar a taxa de juros natural. Políticas que visam objetivos indetermináveis correm o risco de promover mais instabilidade, e não menos.
Artigo original aqui
Eu sempre me perguntava como o mercado, que determina a taxa de juros, poderia ele próprio ter uma taxa de juros natural e outra taxa de juros de mercado. É como alguém que tem uma idade (natural) e que em alguns momentos se sente mais velha ou mais jovem. Neste caso, o cirurgião plástico faz a mesma coisa que o Bankster Central: nada.