1. Introdução
Uma resistência a essas medidas sem precedentes já é sentida principalmente naqueles países de políticas orçamentárias e monetárias tradicionalmente conservadoras. Uma recente pesquisa na Alemanha mostrou que 56% dos alemães eram contra a criação de um fundo de socorro aos países europeus.[3]
Não é surpresa alguma que a maioria dos alemães queira o retorno ao marco alemão.[4] Eles parecem intuitivamente compreender que são eles que estão do lado perdedor de um sistema complexo. Eles perceberam que estão tendo de se sacrificar e apertar os cintos ao mesmo tempo em que os governos de outros países se entregam gostosamente a uma descontrolada gastança. Uma perfeita ilustração disto é programa “Turismo Para Todos” da Grécia: os pobres gregos recebem dinheiro do governo para viajar de férias. Mesmo em meio à crise, o governo grego manteve o programa, embora reduzindo o número de noites de férias subsidiadas para apenas duas.[5] O governo grego também mantém um sistema previdenciário mais generoso que o da Alemanha. Os trabalhadores gregos recebem uma aposentadoria que pode chegar a 80% da média de seus salários. Para os trabalhadores alemães, esse valor é de apenas 46%, e irá cair para 42% no futuro. Ao passo que os gregos recebem quatorze aposentadorias por ano, os alemães recebem doze.[6]
Os alemães veem os pacotes de socorro à Grécia como uma espoliação. Tais pacotes tornam ainda mais explícito o fato de que a UME nada mais é do que um arranjo de transferências involuntárias. Porém, a maioria das pessoas ainda assim não entende exatamente como e por que elas estão sendo espoliadas para pagar por tudo isso. Elas apenas suspeitam que o euro tenha algo a ver com toda a bagunça.
O projeto do euro foi criado e implantado por socialistas europeus com o intuito de expandir e aprimorar seu sonho de um estado europeu centralizador. Mas esse projeto está prestes a fracassar. O colapso está longe de ser uma mera coincidência. Ele já estava implícito na estrutura institucional da UME, cuja evolução iremos remontar e delinear neste livro. A história envolve intrigas e interesses políticos e econômicos. Trata-se de uma fascinante história, na qual políticos brigam por poder, influência e pela primazia de seus próprios egos.
[1] O “Credit Default Swap” (CDS), algumas vezes traduzido como Swap de Crédito, corresponde a uma espécie de seguro contra um eventual calote da instituição referida. Ao emitir um CDS — por meio de terceiros —, essa instituição poderá colocar em circulação um título que permita ao seu titular receber uma compensação caso ocorra alguma moratória.[N. do T.]
[2] Aproximadamente um ano antes de começar a comprar títulos diretamente dos governos, o BCE já havia começado a comprar covered bonds [títulos garantidos por financiamentos imobiliários ou comerciais (com garantia real dos imóveis) e por empréstimos ao setor público] emitidos pelos bancos alemães. As compras foram progressivas e chegaram a €60 bilhões.
[3] Cash-online, “Forsa: Deutsche überwiegend gegen den Euro-Rettungsschirm.” Notícia de 7 de junho de 2010, http://www.cash-online.de.
[4] Shortnews.de, “Umfrage: Mehr als die Hälfte der Deutschen wollen die DM zurück haben.” Notícia de 29 de junho de 2010, http://shortnews.de.
[5] GRReporter, “The Social Tourism of Bankrupt Greece,” July 12, 2010, http://www.grreporter.info. No verão de 2010, vários empreendedores gregos não quiseram atender clientes que estavam participando deste programa, pois o governo grego costumava pagar as contas destas pessoas com um atraso de seis meses — quando pagava.
[6] D. Hoeren and O. Santen, “Griechenland-Pleite: Warum zahlen wir ihre Luxus-Renten mit Milliarden-Hilfe?”bild-online.de, April 27, 2010, http://bild.de.