Aqui está a leitura essencial sobre o anarcocapitalismo, que também pode ser chamado de ordem natural, anarquia de propriedade privada, anarquia ordenada, capitalismo radical, sociedade de lei privada, ou sociedade sem estado. Esta não tem a intenção de ser uma lista completa, De fato, só os trabalhos em língua inglesa atualmente editados ou próximos a sair estão incluídos. Por favor, notem que as sugestões são bem-vindas, sobretudo para a Seção IV: Obras compatíveis.
I. Murray N. Rothbard e o austrolibertarianismo
No topo de qualquer lista de leitura sobre o anarcocapitalismo deve estar o nome Murray N. Rothbard. Não haveria nenhum movimento anarcocapitalista da qual falar sem Rothbard. Seu trabalho inspirou e definiu o pensamento de libertários tais, como Robert Nozick, por exemplo, que se desviou completamente de Rothbard, metodologicamente ou substancialmente. O trabalho inteiro de Rothbard é relevante para o conteúdo do anarcocapitalismo, mas os centralmente importantes são:
A Ética da Liberdade, a mais completa apresentação e defesa de um código de lei libertária que já foi escrita. Baseada na tradição da lei natural e no seu estilo de racionamento axiomático e dedutivo, Rothbard explica os conceitos de direitos humanos, autopropriedade, apropriação original, contrato, agressão e castigo. Demonstra a moral injustificável do estado, e oferece contundentes refutações a proeminentes libertários como Ludwig von Mises, F.A. Hayek, Isaiah Berlin e Robert Nozick.
Em Por Uma Nova Liberdade, Rothbard aplica princípios libertários abstratos para solucionar os problemas correntes do estado de bem-estar social. Como fornerceria uma sociedade bens, como educação, dinheiro, ruas, polícia, tribunais, defesa nacional, seguro social, proteção do meio ambiente, etc? Aqui estão as respostas.
Governo e Mercado é a análise teórica mais completa das ineficiências e dos efeitos contraproducentes de cada forma concebível de interferência do governo com o mercado, desde o controle de preços, cartéis compulsivos, leis antimonopolísticas, licenças, tarifas, leis de trabalhos infantis, patentes, até qualquer forma de impostos (incluso “o imposto único” proposto por Henry George sobre a terra).
Egalitarianism As a Revolt Against Nature (Igualitarismo como uma Revolta contra a Natureza*) é uma maravilhosa coletânea de ensaios de Rothbard sobre aspectos filosóficos, econômicos e históricos sobre o Libertarianismo, abarcando desde guerras e revoluções até o movimento da liberação feminina e das crianças. Rothbard mostra sua dívida intelectual com Ludwig von Mises e a economia austríaca (praxeologia) assim como com Lysander Spooner e Benjamin Tucker e a filosofia política anarquista individualista. Esta coleção é a melhor introdução ao Rothbard e seu programa de investigação libertária.
Os quatro volumes de Conceived in Liberty (Concebido em Liberdade*) são uma história narrativa completa da América colonial e o papel das ideias e movimentos libertários. O magistral volume duplo An Austrian Perspective on the History of Economic Thought (Uma Perspectiva Austríaca na História do Pensamento Econômico*) remonta o desenvolvimento do pensamento econômico e filosófico libertário em todas as partes da história intelectual. The Irrepressible Rothbard (Rothbard Irreprimível*) contém o ousado e encantador comentário libertário sobre questões políticas, sociais e culturais, escritas durante a última década da vida de Rothbard.
Justin Raimondo escreveu uma biografia profunda: Murray N. Rothbard: An Enemy of the State (Murray N. Rothbard: Um Inimigo do Estado*).
A tradição austrolibertária inaugurada por Rothbard é seguida por Hans-Hermann Hoppe. Em Democracia – O Deus que Falhou, Hoppe compara a monarquia favoravelmente com a democracia, mas critica ambas como ética e economicamente ineficazes, e advoga por uma ordem natural com concorrência assegurada e provedores de seguros. Ele revisa interpretações históricas ortodoxas fundamentais, e reconsidera perguntas centrais da estratégia libertária. The Economics and Ethics of Private Property (A Economia e a Ética da Propriedade Privada*) inclui a defesa axiomática de Hoppe do princípio de autopropriedade e apropriação original: alguém falando contra estes princípios está envolto numa contradição prática.
The Myth of National Defense (O Mito da Defesa Nacional*) é uma coletânea de ensaios de uma assembleia de cientistas sociais acerca da relação entre o estado, a guerra e a possibilidade da defesa da propriedade de um modo não-estatista: por milícias, mercenários, guerrilheiros, agências de segurança para proteção, etc.
II. Enfoques alternativos do anarcocapitalismo
Os seguintes autores chegam a conclusões similares, mas os alcançam de diferentes maneiras e estilos variados. Enquanto Rothbard e Hoppe são do tipo jusnaturalista e praxeologistas, também existem existem utilitaristas, deônticos, empíricos, historicistas, positivistas e defensores ecléticos do anarcocapitalismo.
The Structure of Liberty (A Estrutura da Liberdade*) de Randy E. Barnett é uma discussão excepcional das exigências de uma sociedade liberal-libertária do ponto de vista de um advogado e teórico legal. Influenciado claramente por F. A. Hayek, Barnett usa o termo “ordem constitucional policêntrica” para se referir ao anarcocapitalismo.
The Enterprise of Law (A Empresa da Lei*) de Bruce L. Benson é o estudo empírico e histórico mais completo do anarcocapitalismo. Benson proporciona provas empíricas abundantes da operação eficiente da produção da ordem e da lei pelo mercado. A sequência To Serve and Protect (Servir e Proteger*) é igualmente recomendada.
The Machinery of Freedom (As Engrenagens da Liberdade*) de David D. Friedman apresenta o caso utilitário para o anarcocapitalismo: breve, fácil de ler e com muitas aplicações para a educação na proteção da propriedade.
Anthony de Jasay favorece um acercamento deôntico para a ética. Seu escrito — em The State (O Estado*), em Choice, Contract, Consent (Opção, Contrato, Consentimento*) e a excelente coleção de ensaios Against Politics (Contra a Política*) — é teórico, com sabor de neoclássico e Teoria dos Jogos. Brilhante crítica da opinião pública e economia constitucional — e da noção de minarquismo.
The Market for Liberty (O Mercado para Liberdade*) de Morris e Linda Tannehill tem um distinto sabor randiano. No entanto, os autores empregam o argumento a favor do estado de Ayn Rand em defesa da conclusão contrária, anarquista. Fica evidente, entretanto, a análise descuidada sobre a concorrência nas operações dos produtores de segurança (seguradoras, juízes, etc.).
III. Percursores do anarcocapitalismo moderno
O movimento intelectual anarcocapitalista contemporâneo tem alguns excepcionais percursores dos séculos XIX e XX. Mesmo com algumas deficiências — a questão da propriedade de terra na tradição de Herbert Spencer e a teoria do dinheiro e interesse na tradição Spooner-Tucker — os seguintes títulos seguem sendo indispensáveis e em grande parte inigualáveis. (Esta lista é mais cronológica e sistemática do que alfabética.)
O artigo divisor de águas de 1849 de Gustave de Molinari, De la production de la sécurité (Da Produção de Segurança*), é provavelmente a contribuição mais importante para a teoria moderna do anarcocapitalismo. Molinari sustenta que o monopólio é ruim para os consumidores, e que isso também serve para o caso de um monopólio da proteção. A concorrência demanda competência na área de produção de segurança como em qualquer outra linha de produção.
Social Statics (Estática Social*), de Herbert Spencer, é uma discussão filosófica excepcional dos direitos naturais na tradição de John Locke. Spencer defende o direito de ignorar o estado. Também é muito recomendável o seu ensaio Principles of Ethics (Princípios da Ética*).
Auberon Herbert é um aluno de Spencer. Em The Right and Wrong of Compulsion by the State (O Correto e Incorreto da Compulsão do Estado*), Herbert desenvolve a ideia spenceriana da igualdade da liberdade ao seu logicamente fim anarcocapitalista. Herbert é o pai do voluntarismo.
Lysander Spooner é um advogado americano e teórico legal do Século XIX. Ninguém que tenha lido No Treason (Sem Traição*), incluído em The Lysander Spooner Reader (O Leitor de Lysander Spooner*), verá o governo com os mesmos olhos outra vez. Spooner faz picadinho da ideia de contrato social.
Uma breve história do pensamento anarco-individualista e o movimento afim nos Estados Unidos do Século XIX, com especial atenção em Spooner e Benjamin, é Men Against the State (Homens Contra o Estado*), de James J. Martin.
Franz Oppenheimer é um sociólogo alemão anarquista de esquerda. Em The State (O Estado*) ele distingue os meios de aquisição de riqueza econômico (pacífico e produtivo) e político (coercitivo e parasitário) e descreve o estado como instrumento de dominação e exploração.
Albert J. Nock é influenciado por Franz Oppenheimer. Em Our Enemy, The State (Nosso Inimigo, o Estado*) descreve a natureza antissocial e predatora do estado e define uma distinção aguda entre o governo entendido como autoridade voluntariamente reconhecida e o estado. Nock por sua parte influenciou Frank Chodorov, que influenciaria o então jovem Murray Rothbard. Em seus Fugitive Essays (Ensaios Fugitivos*), uma coleção de comentários políticos e econômicos pró-mercado e anti-estado, Chodorov ataca os impostos como um roubo.
IV. Obras compatíveis
Apesar de não ser diretamente relacionado com o tema do anarcocapitalismo e escritos por libertários menos radicais ou mesmo por autores não-libertários, os seguintes são de um incalculável valor para uma compreensão profunda da liberdade, a ordem social e o estado.
The Costs of War (O Custo da Guerra*), de John V. Denson, é uma coleção de ensaios de um grupo composto por libertários eruditos e paleoconservadores de diversas disciplinas. Expõe a natureza agressiva do estado. Possivelmente o mais potente livro pacifista que há. Também deve ser recomendada a coleção de Denson, Reassessing the Presidency (Reexaminando a Presidência*) sobre o crescimento do poder estatal.
Secession, State, and Liberty (Secessão, Estado, e Liberdade*), de David Gordon é uma coleção de ensaios de filósofos contemporâneos, economistas e historiadores em defesa do direito a secessão.
Law, Legislation, and Liberty, Vol 1 (Direito, legislação e Liberdade, Vol. 1*), de Friedrich A. Hayek é um estudo importante da evolução “espontânea” da lei e a distinção da contra legislação e entre o direito público e o privado.
On Power (Sobre o Poder*), de Bertland de Jouvenel, é uma incrível explicação do crescimento do poder estatal, com muitas perspicácias importantes sobre o papel da aristocracia como defensora da liberdade e a democracia das massas como um promotor do poder estatal. Relacionado e igualmente recomendado é seu Sovereignty (Soberania*).
The Politics of Obedience (A Política da Obediência*), de Étienne de la Boétie, é a investigação clássica do Século XVI da fonte de poder do governo. La Boétie mostra que o poder do estado se apoia exclusivamente “na opinião” pública. Consequentemente cada estado pode ser derrubado — num instante e sem violência — simplesmente em virtude de uma mudança na opinião pública.
Freedom and the Law (Liberdade e a Lei*), de Bruno Leoni, é anterior e, em alguns aspectos, um modo superior de lidar com tópicos similares àqueles debatidos por Hayek. Leoni retrata o direito romano como algo descoberto por juízes independentes, mais bem promulgado e legislado do que por autoridades centrais — e, por isso, semelhante ao Common Law inglês.
The Quest for Community (A Busca pela Comunidade*), de Robert Nisbet (antes publicado com o título mais descritivo Community and Power) explica a função protetora de instituições sociais intermediárias e a tendência do estado de debilitar e destruir estas instituições a fim de ganhar o controle total do indivíduo isolado.
The Journal of Libertarian Studies. An Interdisciplinary Quarterly Review (O Jornal de Estudos Libertários, Uma Revisão Trimestral Interdisciplinária*), ou The JLS, fundado por Murray N. Rothbard e logo editado por Hans-Hermann Hoppe (atualmente em cargo no Mises Institute), é um recurso indispensável para qualquer estudante sério do anarcocapitalismo e os estudos libertários.**
* Tradução livre do editor
** No artigo original encontramos uma vasta lista de artigos do The JLS (em inglês).
Tradução de Luciano Takaki
Pena que não haja indicação de como encontrar as obras indicadas em português ou espanhol.