Neste livro, seguimos a exposição e a argumentação da Teoria Geral conforme apresentada por Keynes. Devido a isso, a argumentação tornou-se tortuosa e muitas vezes repetitiva. Desse modo, o leitor possivelmente achará útil um resumo das principais proposições negativas ou positivas de cada capítulo.
Capítulo I. Embora Keynes tenha sido elogiado como estando no mesmo nível de Adam Smith, Ricardo e até mesmo Darwin, nenhuma doutrina importante em seu trabalho é verdadeira ou original.
II. O esforço de Keynes para derrubar a afirmação “ortodoxa” de que a causa mais frequente de desemprego são os salários excessivos, não teve êxito. Seus argumentos são característicos por se apoiarem em um pensamento en bloc que raramente assume as diferenças individuais que compõem a realidade. Os preços e salários nunca mudam uniformemente ou como uma unidade, mas sempre de forma relativa e individual. “Agregativo” e “macroeconomia” ocultam as relações interpessoais e as causas reais.
III. Keynes não conseguiu refutar a Lei dos Mercados de Say. Sua tentativa de refutação consistiu apenas em ignorar as qualificações que os próprios economistas clássicos insistiam como parte integrante da doutrina.
IV. O pensamento de Keynes está cheio de contradições. Sua ideia central de um equilíbrio com o desemprego é autocontraditória pelo próprio conceito e definição de equilíbrio.
V. A “escolha de unidades” de Keynes para medição econômica ficou irremediavelmente confusa. O que ele chama de “quantidade de emprego”, colocada assim em equações algébricas, acaba por não ser uma quantidade de emprego, mas uma quantidade de dinheiro recebido pelos trabalhadores empregados, conforme sua própria definição.
VI. Não há nada de original na forma como Keynes trata o papel que as “expectativas” desempenham na vida econômica. De fato, ele não reconhece suficientemente esse papel. Ele vê que as expectativas afetam a produção e o emprego, mas parece esquecer que estes também estão incorporados em todos os preços, taxas de juros e salários.
VII. O descrédito da teoria “estática” atual se dá principalmente em resultado de um pensamento confuso. A teoria “estática” é necessária, não apenas para a solução de muitos problemas básicos, mas como uma preliminar à teoria “dinâmica”. Não há diferença entre os tipos dos métodos de “análise estática” e os métodos de “análise dinâmica”. Há apenas uma diferença nas hipóteses específicas feitas. A adequação ou utilidade de qualquer hipótese depende principalmente do problema específico que tentamos resolver.
VIII. As definições dos termos-chave de Keynes – Renda, Poupança e Investimento – são redundantes; todos são definidos nos termos um do outro. Ele define que Poupança e Investimento não são apenas e necessariamente iguais, mas idênticos. Ele repudia e se desculpa por suas definições “confusas” desses mesmos termos, em “Treatise on Money”, mas distraidamente retorna a essas definições antigas em sua discussão subsequente, principalmente quando tenta provar que o investimento aumenta o emprego e que a poupança reduz isto.
Keynes tratava a poupança com desprezo desde “The Economic Consequences of the Peace”, de 1919. Teoria Geral foi apenas sua última racionalização desse desprezo.
IX. A “matemática econômica”, como Keynes e outros a usam, pode, na melhor das hipóteses, dar precisão a suposições puramente hipotéticas. Confundir essas hipóteses com realidades conhecidas ou determináveis leva a uma precisão meramente espúria e a erros compostos.
A suposta “função” do consumo de Keynes, sua “lei psicológica fundamental” que governa “a propensão ao consumo”, é uma tentativa frustrada de transformar um truísmo vago, conhecido desde sempre, em um relacionamento preciso e previsível. Mesmo que essa relação existisse, não teria as consequências econômicas que Keynes atribui a ela.
X. A lista de oito motivos para poupar de Keynes é arbitrária. Poderia ser expandida para um número muito maior ou reduzida a um: constituir uma reserva contra necessidades ou contingências futuras. Além do motivo de poupança “plana”, no entanto, devemos definir o motivo da poupança capitalista (possibilitar métodos indiretos de produção), o que é bastante ignorado nos oito motivos de Keynes.
Seu argumento de que um aumento na taxa de juros diminuirá o investimento baseia-se na falácia de assumir um aumento arbitrário ou sem causa na taxa de juros, em vez de um aumento que pode ser causado automaticamente pelo aumento na “escala de demanda por investimento.”
XI. O “multiplicador” de investimentos de Keynes é um mito. Nunca houve um “multiplicador” fixo e previsível; Nunca houve uma relação precisa, predeterminável ou mecânica entre a renda social, o consumo, o investimento e a extensão do emprego. Um “equilíbrio com o desemprego” (para repetir) é uma contradição em termos. Nenhum “multiplicador” de investimento pode ser calculado ou mesmo discutido, exceto em relação à extensão de desajustes ou discrepâncias entre preços e salários, ou ao estado dos negócios.
As definições implícitas de Keynes de “poupança” e “investimento” mudam constantemente. Ele pressupõe tacitamente que o que não é gasto em bens de consumo não é gasto em nada. Por “investimento”, ele frequentemente define gastos deficitários do governo financiados pela inflação.
Seu “multiplicador” pode ser facilmente considerado um reductio ad absurdum.
Sua crença de que o ouro ou o dinheiro são “estéreis” é um resquício do preconceito medieval.
XII. Keynes usa um de seus jargões – “A eficiência marginal do capital” – em tantos sentidos diferentes que é difícil, para não dizer impossível, acompanhá-lo. Ele falha em reconhecer que as taxas de juros são tão governadas pelas expectativas quanto pela “eficiência marginal do capital”. Em vez de usar esse último termo para cobrir pelo menos seis diferentes significados possíveis, ele deveria ter sido mais cuidadoso em distinguir esses significados. Mas se tivesse sido, talvez não escrevesse a Teoria Geral.
XIII. Os argumentos de Keynes contra a “liquidez” e contra a “especulação” são insustentáveis. Antecipações e riscos especulativos estão necessariamente envolvidos em toda atividade econômica. Alguém sempre os assumirá. O que Keynes está dizendo é que não se deve confiar as pessoas que invistam o dinheiro ganho por elas mesmas, mas que esse dinheiro deve ser apreendido por funcionários do governo e gasto ou “investido” nas direções em que esses funcionários julgarem melhor (procurando manter o dinheiro no poder político).
XIV. Não é de muita ajuda explicar as taxas de juros como “a recompensa por se separar da liquidez”, da mesma forma como não seria de ajuda explicar o preço dos tomates ou de uma casa como a “recompensa” ao comprador por se separar do dinheiro gasto por eles. Além disso, sem a poupança prévia, não poderia haver “liquidez” da qual se separar. Se a teoria do juro de Keynes estivesse certa, as taxas de juros seriam mais altas no ponto mais crítico de uma depressão e mais baixas no ápice de um boom, o que é quase sempre o oposto de sua tendência real.
Keynes está errado em considerar o dinheiro como “estéril”; este é um ativo produtivo no mesmo sentido de outros ativos.
Keynes também está errado ao considerar o juro como um fenômeno “puramente monetário”. Sua falácia consiste em assumir que, devido a ser possível demonstrar que os fatores monetários afetam a taxa de juros, os fatores “reais” podem ser ignorados ou mesmo negados com segurança.
O que quer que seja verdade na teoria do juro de Keynes já foi reconhecido por Knut Wicksell e é totalmente levado em consideração no trabalho dos melhores economistas contemporâneos.
XIV. Embora Keynes ataque “a teoria clássica” da taxa de juros, não existe uma teoria clássica uniforme do juro. As teorias atuais do juro podem ser divididas em três grandes categorias: (1) teorias de produtividade, (2) teorias de preferência temporal ou desconto temporal e (3) teorias que combinam produtividade e preferência temporal.
Visto que um cessionário de fundos efetivamente compra ou pega emprestado tempo, ou o uso e desfrute de bens antes que pudesse usá-los ou desfrutá-los de outra forma, a preferência temporal ou a “utilização no tempo” devem ser reconhecidas como o principal fator na explicação dos juros e da taxa de juros. Mas “oportunidade de investimento”, a prospectiva “taxa de retorno sobre custo” (ou a produtividade do valor líquido esperada de novos bens de capital específicos) também desempenham um papel, devido à sua influência na demanda por empréstimos e na taxa que os cessionários desejam pagar.
Qualquer teoria completa de interesse deve lidar não apenas com fatores “reais”, mas também com fatores monetários. A qualquer momento, a taxa de juros pode ser determinada pelo ponto de intersecção da curva de oferta de poupança com a curva de demanda de investimento (ou a oferta de empréstimos com a demanda por empréstimos).
Mas o principal determinante de longo prazo da taxa de juros é a taxa composta de desconto temporal da comunidade.
XVI. Embora Keynes formalmente defina poupança e investimento como “necessariamente iguais em quantidade” e “apenas aspectos diferentes da mesma coisa”, sua teoria depende repetidamente da suposição tácita de que poupança e investimento são separados e independentes.
Assumindo uma oferta monetária constante, a poupança e o investimento são sempre iguais. Quando o investimento excede a poupança genuína anterior, é porque o dinheiro e o crédito bancário estão sendo criados; quando a poupança comum excede o investimento subsequente, é porque o suprimento de dinheiro está se contraindo. Um excesso de poupança sobre o investimento (subsequente) é apenas outra maneira de descrever a deflação, e um excesso de investimento sobre a poupança (anterior) é apenas outra maneira de descrever a inflação.
A suposição de Keynes de que “seria relativamente fácil tornar os bens de capital tão abundantes de modo que a eficiência marginal do capital seria zero” é fantasiosa e tem implicações absurdas.
XVII. As teorias de Keynes sobre “taxas de juros internas” são completamente insustentáveis. O que ele está falando não são taxas de juros, mas apenas antecipações especulativas de mudanças de preços.
A crença de Keynes de que o mundo é “tão pobre em ativos de capital acumulados” ignora o fato de que pelo menos duas em cada três pessoas no mundo de hoje devem sua existência ao capital acumulado desde a revolução industrial.
XVIII. Keynes confundiu ideias sobre inter-relações econômicas. Especialmente absurda era sua ideia de que salários flexíveis em dinheiro (ajustando-se a mudanças anteriores nos preços e na demanda) causariam oscilações violentas nos preços e que poderíamos estabilizar a economia tentando manter os salários independentemente do que acontecesse com os preços. Seu remédio desestabilizaria a economia e criaria ou prolongaria o desemprego em massa que ele professava tentar curar.
XIX. Keynes não teve sucesso em sua tentativa de negar o princípio mais fortemente estabelecido na economia, que se o preço de qualquer mercadoria ou serviço for mantido alto demais (isto é, acima do ponto de equilíbrio), parte dessa mercadoria ou serviço permanecerá sem uso, ou sem venda. Quando os salários forem altos demais, haverá desemprego.
Ajustar aos milhares salários aos seus respectivos pontos de equilíbrio nem sempre será suficiente para restaurar o pleno emprego, mas é um passo absolutamente necessário. Keynes tentou substituir a inflação monetária geral pelo ajuste gradual do salário e preço. Mas sem uma coordenação adequada do salário e preço, a inflação não pode trazer pleno emprego.
XX. Não há razão para supor que exista uma relação “funcional” genuína e determinável entre a “demanda efetiva” e o volume de empregos. Haverá pleno emprego com todos os tipos de mudanças na “demanda efetiva” se existir um equilíbrio dinâmico e fluido entre preços, salários etc. Haverá desemprego independentemente da “demanda efetiva” se esse equilíbrio não existir.
Keynes não conseguiu justificar a declaração de que economistas anteriores não conseguiram conciliar a teoria do “valor” e a teoria monetária.
XXI. A inflação é, de uma só vez, um remédio incerto, desnecessário e perigoso para o desemprego.
A “elasticidade” da demanda não é mensurável. O método matemático é aplicado incorretamente.
Tentar curar o desemprego através da inflação e não através do ajuste de salários específicos é como ajustar o piano à banqueta, em vez da banqueta ao piano.
A taxa de juros é um preço de mercado como qualquer outro, determinado tanto pelas demandas dos cessionários quanto pelas ofertas dos cedentes.
XXII. A explicação de uma crise econômica como um “colapso repentino da eficiência marginal do capital” é um truísmo inútil ou um erro óbvio, de acordo com a interpretação que damos à frase “a eficiência marginal do capital”. Se significa simplesmente um colapso da confiança, a explicação é um truísmo. Se significa um colapso na produtividade física, é um absurdo. Se significa um colapso na produtividade do valor, inverte a causa e o efeito.
A cura keynesiana para crises são as baixas taxas de juros perpétuas. A tentativa de alcançá-las levaria a uma política de inflação perpétua.
A teoria jevoniana de que as condições comerciais variam diretamente com o tamanho dos cultivos é insustentável e especialmente implausível na forma mantida por Keynes.
XXIII. O “sistema” de Keynes, como ele chegou a reconhecer no fim da Teoria Geral, era, na verdade, um regresso às teorias ingênuas e desacreditadas dos mercantilistas e teóricos do subconsumo, de Mandeville e Malthus a Hobson. Foi também um regresso a todas as teorias inflacionistas das manivelas cambiais, de John Law a Silvio Gesell.
XXIV. As propostas de Keynes para “a eutanásia do rentista, do investidor sem funções” objetivavam roubar a produtividade e expropriar sua poupança.
O plano de Keynes para “a socialização do investimento” implicaria inevitavelmente no socialismo e no planejamento estatal. Se fosse seriamente realizado, removeria qualquer campo significativo para o exercício da iniciativa e responsabilidade privadas. Keynes, em resumo, recomendou o socialismo de fato sob o pretexto de “reformar” e “preservar” o capitalismo.
“O laissez-faire doméstico e um padrão-ouro internacional”, culpados por Keynes como uma das “causas econômicas da guerra”, eram, de fato, forças poderosas para a paz e cooperação internacional. São as políticas nacionais de planejamento, recomendadas por Keynes, que tendem a provocar guerras.
XXV. Como Keynes se contradizia continuamente, talvez não seja certo chamar seu artigo de 1946 no The Economic Journal de “retratação” da Teoria Geral. Mas seu elogio à “medicina clássica”, além de sua referência a “muitas coisas modernistas, que deram errado e ficaram azedas e tolas”, pode ter indicado que ele estava à beira de uma retratação.
XXVI. Se tentarmos usar o termo com precisão “científica” ou objetiva, o “pleno emprego” nem sequer é definível. “Pleno emprego a qualquer custo” nem sequer é desejável. É melhor usar o termo de uma maneira flexível e com bom senso, significando apenas a ausência de desemprego involuntário anormal ou substituí-lo pelo termo emprego ideal. Não é um fim em si, mas um meio ou acompanhamento para fins muito mais amplos, incluindo principalmente a maximização da satisfação do consumidor. O objetivo econômico da humanidade, afinal, não é mais trabalho, e sim menos.
XXVII. Os esforços para determinar a renda nacional em termos monetários têm apenas uma utilidade limitada para fins especiais. Na verdade, todas as estimativas de renda nacional se apoiam em certas suposições arbitrárias (e às vezes falsas). Elas não são puramente objetivas ou estritamente determináveis. O presente fetiche feito com tais estimativas não apenas confunde a causa e o efeito econômico, mas também leva a políticas inflacionárias e totalitárias.
A previsão econômica baseada na “economia agregada” ou na “abordagem da renda nacional” tem sido quase uniformemente ruim.
XXVIII. Não é verdade que os déficits no orçamento do governo curam o desemprego. Não é verdade que baixas taxas de juros curam o desemprego. A prescrição keynesiana leva a uma corrida constante entre a oferta de dinheiro e as demandas dos sindicatos – mas não leva ao pleno emprego a longo prazo.