Como consegui ser um policial libertário por 3 anos

9

Quando me aposentei do posto de investigador de polícia em Nova Iorque, me mudei para a Flórida e decidi trabalhar como policial local. Eu precisava de dinheiro e este era o único trabalho que para o qual eu me qualificava. Fui aceito e comecei a trabalhar.

Desde o início eu queria ser o policial libertário perfeito. Eu não ia prender ninguém por crimes de drogas ou sem vítima e eu ia me esforçar para fazer o máximo possível de prisões legítimas. Durante meus 3 anos fui capaz de fazer isso praticamente todo o tempo. Tentei ficar na moita. Nunca mencionei que eu era um investigador de Nova Iorque aposentado – embora meus colegas provavelmente sabiam disso através das fofocas intermináveis na delegacia. Tentei ser invisível para meus supervisores e apenas interagia com eles quando precisava. E nesta divisão só tínhamos que nos reportar a cada duas semanas. Às vezes eu ficava sem ver meu supervisor durante esses 15 dias. E isto era ótimo. Eu trabalhava sem um parceiro e basicamente não tinha ninguém fungando no meu cangote. Então sim, eu conseguia fazer o que eu queria.

Se encontrava um usuário de drogas que estava portando drogas eu dizia para ele jogar as drogas num buraco qualquer e pedia que ele me ajudasse a identificar criminosos perigosos de uma lista de procurados. Às vezes eles colaboravam e outras vezes não. Mas eu conseguia cumprir uma boa cota de prisões dessa maneira. E os que me ajudavam me procurariam novamente por conta própria para tentar identificar outros criminosos perigosos. Eu também estava determinado a investigar toda chamada que recebia como se eu ainda fosse um investigador. Eu interrogava todo mundo que prendia. Muitas vezes eu conseguia confissões.

Durante meu turno de 12 horas eu seria enviado a todo tipo de ocorrência. Às vezes eram coisas simples como alguém reclamando que o vizinho estava jogando água em sua casa. Quando chegava em ocorrências de violência doméstica eu fazia um monte de perguntas e observava um monte de evidências. No final das contas minhas prisões nos casos de violência doméstica eram 50/50. Metade homens e metade mulheres. Quase todas as minhas prisões foram por crimes com vítimas. O resto das minhas prisões foram por contravenções contra terceiros ou mandados de prisão. Em toda cena de crime em que precisei coletar impressões digitais, assim que terminava de coleta-las nos locais que considerava importante, perguntava à vítima onde ela achava que eu deveria coletar depois. Sempre me olhavam com cara de espanto. Elas geralmente me perguntavam por que eu queria a opinião delas. Eu dizia que elas pagavam meu salário e se não estivessem satisfeitas com os locais que coletei impressões digitais elas tinham todo direito de me pedir para coletar em outros lugares. Ninguém nunca indicou outro local, mas viram que eu falava sério.

A ronda das 18h às 6h ficava bem devagar a partir das 1h. Então, no começo de cada ronda, eu fazia uma lista dos procurados somente por crimes reais e absolutamente nenhum relacionado a drogas e outros crimes sem vítima. Uma vez que os investigadores de mandados de prisão atuavam das 9h ás 17h, eles raramente capturavam algum de seus alvos. Então minha busca começava à 1h. Inevitavelmente eu capturava dois ou três da minha lista. Comecei capturando tantos procurados que a divisão de buscas faria com que o departamento me passasse uma lista de todas as pessoas que eles realmente queriam. Se elas estivessem dentro de meu critério eu iria busca-las.

Tudo parecia estar indo bem. Eu era o segundo colocado em prisões no meu distrito (atrás somente do cara do bafômetro). Eu resolvia casos complicados. Eu era o único oficial que usava matrizes de fotos nos meus casos em que a identificação era uma questão relevante. Na verdade, embora eu não soubesse, usei uma matriz de fotos que levou a acusações contra o ex-delegado. Estava realmente começando a achar que eu poderia continuar a atuar assim se mantivesse minha discrição.

Uma noite fui chamado ao escritório do meu superior. Não tinha ideia do que ele queria comigo. Eu tinha uma boa reputação e estava sempre na minha. Quando perguntei a ele o que ele queria ele me disse que queria falar comigo sobre a quantidade de multas (de velocidade e outras infrações de trânsito) que eu estava aplicando. Eu respondi que nunca havia dado uma multa mas dei um monte de advertências (advertências não eram computadas e iam para o lixo). Ele me perguntou porque eu nunca havia dado uma multa. Falei para ele que eu era o cara das capturas. Capturas de qualidade eram minha especialidade. Ele disse que isso não era resposta. Falei para ele que muitos membros do batalhão faziam isso e um deles era especialista em dar multa de velocidade. Não falei para ele que toda vez que via este policial se escondendo preparando sua armadilha de multas de velocidade eu me colocava em um local adiante fora da vista dele. Então eu ligava todas as luzes do meu carro para alertar os carros que vinham. Este policial reclamaria sobre a falta de multas mas ele nunca me pegou fazendo isso. Ai eu contei para meu superior que eu nem sabia como preencher uma multa direito. Na verdade, durante meus 20 anos de carreira eu nunca apliquei uma multa de velocidade. Ele não se importou com todas as minhas capturas e a qualidade do meu serviço. Ele queria arrecadação. Ele imediatamente trocou o meu turno para a ronda durante o dia e designou um sargento para me supervisionar. Depois disso fiquei pouco tempo. Nunca dei uma multa. Nunca fiz uma prisão por drogas. Honrosamente pedi demissão.

E este foi o relato de um policial libertário.

 

 

Tradução de Fernando Chiocca

Artigo orginal aqui.

Leia também A ética da polícia

9 COMENTÁRIOS

  1. Corrigir: mandado, ao invés de mandato. Tem alguns outros detalhes que podem tornar a tradução melhor, mas nenhum é um erro, como o que citei.

    Fora isso, se for verdade o conteúdo do texto, acho interessante a atitude do policial!

  2. Sou Soldado da Policia Militar em Minas Gerais e um libertário. Estudo admnistracao de empresas e economia e começo meu mestrado em economia este ano, com propósito de deixar a corporação. Ser um libertário e policial nao é fácil, mas eu tento passar pra frente todo nosso pensamento, quem sabe de dentro vem a mudança.

  3. ” Ele queria arrecadação. Ele imediatamente trocou o meu turno para a ronda durante o dia…”

    Faz sentido, pois um criminoso preso gera despesas e não lucros para o estado.
    As multas é que geram lucro.

    Ou seja, o estado é uma máquina eficiente sim, o erro e não saber o propósito dessa máquina.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui