A terrível situação do mercado de trabalho nos EUA — com o desemprego em 9,8% — vem atormentando toda uma geração de americanos. E a situação não dá sinais de que vá melhorar nos próximos anos. Os jovens estão excluídos. Universitários, para escapar dessa realidade, se refugiam na prática de ficar se matriculando repetidamente em novos cursos, para evitar uma formatura sem perspectivas. Os já adultos de trinta e poucos anos estão se fechando no subsolo e no sótão da casa dos pais. A falta de esperança em relação ao futuro tornou-se um inescapável tema da vida americana.
A pergunta que deve ser feita é: por que o desemprego está parado na casa dos 10% na mensuração mais branda, e 30% quando se considera algumas faixas demográficas?
A resposta típica é aquela que diz que a economia como um todo não está se recuperando. Isso é verdade, porém é muito superficial. Há um problema específico com o mercado de trabalho. Ver tudo apenas como sendo um sintoma de uma ausência de crescimento econômico é apenas mais uma desculpa para que político e o banco central recorram políticas ainda mais imprudentes em nome de se estar consertando o principal problema sem, no entanto, se estar atacando a realidade em sua raiz.
Alguns dados recentes publicados pelo Wall Street Journal ajudam a entender o núcleo do problema em maiores detalhes. No ambiente atual — o qual a NBER (National Bureau of Economic Research) jocosamente chama de “recuperação” —, a abertura de empresas e negócios que criam empregos é menor que os fechamentos. Em relação a outras recessões americanas, os novos negócios não estão contratando como costumavam contratar antes. O número de empresas com pelo menos um empregado continua caindo a uma taxa nunca vista nos últimos 18 anos. Todos falam que está havendo uma recuperação econômica nos EUA, mas os números mostram uma realidade bastante distinta. Novos empregos em novas empresas estão surgindo a uma taxa 15% menor que a da última recuperação, em 2002.
Vamos tentar entender o que está ocorrendo. Em épocas de crescimento econômico, as empresas tendem a inchar-se em todas as áreas, especialmente no seu quadro de pessoal. O desemprego é sempre uma característica da recessão porque as empresas cortam postos de trabalho e esperam mais eficiência e produtividade do quadro remanescente. Muitas empresas fecham e perdem todos os empregados.
Ao passo que, antes, os trabalhadores não tinham dificuldade em encontrar empregos e decidir qual o salário que queriam, agora, durante a recessão, passa a haver um excesso de trabalhadores e uma escassez de empregos, ao menos ao nível de salários que os desempregados continuam demandando.
O que normalmente surge para preencher essa lacuna são as novas empresas. Em períodos de recuperação, empreendedores iniciam novos projetos e contratam trabalhadores até então desempregados. Os desempregados geralmente estão dispostos a trabalhar por um salário menor e dispostos a aprender novas habilidades em um novo ambiente de trabalho. Esses novos negócios se transformam em grande fonte de crescimento econômico, permitindo um aumento do padrão de vida.
Sem esses novos negócios, não haveria absolutamente nenhum crescimento do emprego. Em economias pós-recessão, são esses novos negócios os responsáveis por absorver o excesso de mão-de-obra. Isso porque as maiores e mais velhas empresas não estão dispostas a correr o risco de contratar novos empregados, e já se ajustaram à necessidade de operar com menos mão-de-obra.
Até que esses novos negócios surjam, o desemprego tende a persistir. E é exatamente isso que está ocorrendo agora nos EUA.
E assim, agora que já se tem uma melhor ideia da mecânica da alta taxa de desemprego, já é possível ter também uma melhor ideia sobre qual pergunta deve ser feita e como resolver o problema.
Onde estão esses novos negócios e por que eles não estão surgindo como seria esperado?
Contemos as maneiras.
Novos empreendimentos dependem de um ambiente legal estável e precisam de uma perspectiva otimista quanto ao futuro. Ambos não existem hoje nos EUA. A suposta recuperação econômica tem sido falsificada de todas as maneiras concebíveis: estatizações, dívidas incobráveis escondidas debaixo do tapete, criação de dinheiro pelo Banco Central, empregos artificiais criados com o dinheiro de impostos. Ninguém realmente acredita nessas tolices. A questão não é se a recuperação é falsa. A questão é: o que é real e o que não é real? Ninguém sabe ao certo.
Não obstante todas as tentativas do Banco Central americano de fornecer oceanos de crédito gratuito, os bancos ainda estão extremamente relutantes em emprestar quando se sabe que não há capital para que as dívidas sejam quitadas e que os riscos de se emprestar são extremamente altos. Isso significa que potenciais novos negócios têm de levantar capital por conta própria. O problema é justamente como fazer isso em um ambiente em que o estoque de capital foi maciçamente exaurido.
Considerando-se os riscos, faz muito mais sentido não contratar nenhum empregado que não seja um terceirizado temporário. Pense nos encargos sociais, o maior dos fardos tanto para os empregados quanto para os empregadores. Tais encargos não beneficiam absolutamente em nada nenhuma das duas partes. Trata-se simplesmente de um mero roubo, um que encarece enormemente os custos de contratação.
O problema do seguro-saúde que tem de ser obrigatoriamente pago pelo empregador também é outro empecilho. Empregados que estejam esperando tais benefícios terão inevitavelmente de escolher entre obtê-los ou obter um emprego. Porém, para certas empresas e sob certas condições, eles são inevitáveis e impagáveis.
Os impostos sobre pessoa jurídica, que já estão muito altos, provavelmente subirão ainda mais. Regulamentações sobre todas as empresas em todos os setores da economia americana foram intensificadas nas últimas décadas. Nenhuma indústria está livre delas. Mesmo setores anteriormente pioneiros e inexplorados, como software, estão se tornando um emaranhado legal de patentes, proteções e decretos assustadores.
O salário mínimo encontra-se em um valor alto demais para estimular algum crescimento no emprego entre as novas empresas. E, considerando-se toda a ordem jurídica e o risco de sofrer algum processo trabalhista, todo mundo sabe que, assim que você contrata um empregado, você certamente terá de mantê-lo durante um bom período de tempo. Você pode até arriscar. Mas tem de estar certo do que está fazendo. E, no atual cenário americano, nenhum empreendedor está.
Os negócios precisam de um ambiente de liberdade para poder prosperar. Porém, nos EUA da atualidade, nenhuma área é livre para o empreendimento. Em épocas de bonança, as consequências de tal complexo regulatório são menos óbvias. Durante a recessão, o emaranhado regulatório, os impostos e as ameaças judiciais, bem como os decretos legislativos, se tornam decisivos de uma forma que até então não eram.
Esses problemas não são intrínsecos aos ciclos econômicos. Todos eles são impostos pelo governo. Esse mesmo problema afligiu a economia americana durante a Grande Depressão. Porém, naquela época, o planejamento central havia acabado de ser imposto. Agora é diferente: o velho planejamento centralizado está destruindo a economia americana dia após dia, mesmo sem nenhuma alteração dramática na legislação.
Tudo pode ser mudado. O Congresso, o presidente e as cortes judiciais podem reverter tudo isso amanhã, restaurando um ambiente propício à liberdade e à livre iniciativa. Os empregos poderiam ressurgir rapidamente. A esperança voltaria em questão de semanas ou meses. A economia iria se recuperar genuinamente.
O que está impedindo isso de acontecer? A ausência de vontade política e o insaciável desejo do estado em continuar se alimentando à custa da liberdade e da propriedade do povo americano.
Não é difícil de entender. O estado está vivendo parasiticamente às expensas do padrão de vida e da esperança da população americana. Ele tem de morrer, se os americanos quiserem viver de novo.