A Estrela de Davi Amarela, que os nacional-socialistas faziam os judeus usar para estigmatizá-los, voltou a ser usada, recentemente, com a inscrição “Não vacinado”, por manifestantes contra a obrigação vacinal contra a Covid-19 e os esquemas de passaporte sanitário. A mídia mainstream, indignada com isso, rotulou a ação como radical e antissemita. Será verdade? Ou é apenas uma forma de fazer uma declaração política proporcional ás políticas governamentais atuais? Vou responder a essa pergunta por meio de uma análise dos fatos.
Antes, gostaria de compartilhar alguns fatos históricos sobre minha família. Parte dos meus antepassados maternos eram judeus que viviam na região francesa da Alsácia, que faz fronteira com a Alemanha. Durante a Segunda Guerra Mundial, esta região foi anexada pela Alemanha e, portanto, ficou à mercê dos nacional-socialistas. Isso fez com que milhares de judeus, incluindo Abraham Kahn e Anna Bloch nascida Kahn (dois de meus antepassados), fugissem para a região de Dordonha. Infelizmente, a divisão Brehmer (uma divisão da Wehrmacht) foi informada disso pelo governo de Vichy e colaboradores e, em 1944, os alemães começaram a caçar os judeus que haviam encontrado refúgio na região. Abraham Kahn, que entrou em pânico ao ver os alemães na frente de sua casa, tentou correr e levou um tiro nas costas. Sua irmã, Anna Bloch, foi enviada para Auschwitz. Conhecendo a história de minha família, certamente poderia ficar ofendida com o uso da Estrela de Davi amarela por manifestantes, mas não estou. A razão é que não acho que isso seja sobre antissemitismo. Minha análise histórica nos próximos parágrafos explicará tudo.
Um argumento que vi contra o uso da estrela de Davi por manifestantes foi que era desproporcional, uma vez que os judeus foram mortos e os não vacinados, não. No entanto, o que eles ignoram é que nem todos os judeus foram mortos imediatamente. O assassinato foi o resultado final de um processo que começou com os judeus sendo lentamente excluídos da sociedade alemã. De fato, nos primeiros seis anos do regime de Hitler, o governo em todos os níveis – Reich, estadual e municipal – adotou centenas de leis, decretos, diretrizes, e regulamentos que restringiram cada vez mais os direitos civis e humanos dos judeus na Alemanha. Vou discutir isso mais detalhadamente nos pontos seguintes.
De 1933 a 1939, mais de 400 decretos e regulamentos restringiram os judeus em todos os aspectos de suas vidas públicas e privadas. Muitas delas eram leis nacionais emitidas pela administração alemã e afetavam todos os judeus. Centenas de indivíduos em todos os níveis de governo em todo o país estiveram envolvidos na perseguição aos judeus enquanto eles concebiam, discutiam, redigiam, adotavam, faziam cumprir e apoiavam a legislação antijudaica.
De 1933 a 1934 foi a primeira onda de legislação que visava limitar a participação dos judeus na vida pública alemã. A primeira lei importante foi a “Lei para a Restauração do Serviço Civil” de 7 de abril de 1933, segundo a qual os funcionários judeus e “politicamente não confiáveis” deveriam ser excluídos do serviço estatal. Foi um primeiro passo para excluir os judeus de organizações, profissões e outros aspectos da vida pública. Como consequência, o número de judeus nas profissões médicas e jurídicas diminuiu cada vez mais. Em nível local, a cidade de Berlim proibiu advogados e tabeliães judeus de trabalhar em questões jurídicas, o prefeito de Munique proibiu médicos judeus de tratar pacientes não judeus e o Ministério do Interior da Baviera negou a admissão de estudantes judeus na faculdade de medicina. Sendo lentamente excluídos das escolas e universidades alemãs, trabalhadores civis judeus do exército foram demitidos; e, no início de 1934, o governo proibiu os atores judeus de atuar no palco ou na tela.
Em 1935 ocorreu a segunda onda de legislação quando o governo nacional-socialista implementou as “Leis de Nuremberg”, o que trouxe uma segregação completa que privou os judeus da maioria de seus direitos políticos, já que os judeus alemães foram excluídos da cidadania do Reich e perderam o direito votar. Muitas outras leis que violavam sua liberdade e direitos estavam sendo aprovadas; por exemplo: os judeus foram proibidos de se casar ou ter relações sexuais com pessoas de “sangue alemão ou parecido com o alemão”, eles tinham que cumprir toques de recolher, não podiam mais ser internados em hospitais e não podiam mais entrar em cinemas, teatros e instalações esportivas. A inscrição “judeus indesejáveis“ poderia ser vista em todos os locais públicos.
De 1937 a 1938 foi a terceira onda de legislação antijudaica, agências governamentais em todos os níveis com o objetivo de excluir os judeus da esfera econômica da Alemanha, impedindo-os de ganhar a vida e empobrecendo-os.
Os judeus foram obrigados a registrar suas propriedades e ativos domésticos e estrangeiros, um primeiro passo para a expropriação gradual de sua riqueza material pelo estado. Logo, o estado iria transferir negócios judeus para alemães não judeus e demitir trabalhadores judeus. Em 1938, os judeus foram estigmatizados mais do que nunca, pois a letra “J“ teria que ser exibida em seus passaportes e eles teriam que usar a Estrela de Davi amarela com a inscrição “Judeu“ em público. Eles foram separados permanentemente do resto da população por causa de um critério: o fato de serem judeus. O resto é história.
Voltemos aos dias de hoje, com o passaporte sanitário, é a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que violações tão significativas da liberdade e dos direitos humanos estão sendo implementadas pelos governos em nossas sociedades ocidentais. As pessoas que não são vacinadas na França, assim como os judeus, serão segregadas da sociedade e da vida pública com base em um único critério: o fato de não serem vacinadas. Elas serão proibidas de entrar em cinemas, restaurantes, academias e até hospitais. Elas também podem ser privados de seus direitos políticos, pois ainda não está claro se alguém precisará do passaporte sanitário para entrar nas urnas. Muitos serão excluídos do trabalho como a equipe médica, como por exemplo, na França, as enfermeiras que recusaram a vacina serão demitidas. O uso da Estrela de Davi amarela com a inscrição “Não vacinado” pelos manifestantes é justamente para fazer as pessoas perceberem que com tais políticas estamos descendo novamente para uma estrada perigosa que tornará o poder dos políticos ilimitados e pode acabar uma vez novamente, em atrocidades.
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