Facebook, Twitter, YouTube e as revoluções árabes

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Egyptian anti-government protesters stand atop an Egyptian army tank during a protest in Tahrir square in Cairo, Egypt, Saturday, Jan. 29, 2011. (AP Photo/Lefteris Pitarakis)
Egyptian anti-government protesters stand atop an Egyptian army tank during a protest in Tahrir square in Cairo, Egypt, Saturday, Jan. 29, 2011. (AP Photo/Lefteris Pitarakis)

O ditador da Tunísia foi derrubado em menos de um mês após estar no poder por 23 anos.  Não há dúvidas sobre como os oponentes de seu regime conseguiram derrubá-lo.  Duas palavras descrevem tudo: Facebook, Twitter.  Essas duas redes sociais permitiram que os manifestantes tomassem as ruas, organizassem a oposição, recrutassem novos manifestantes e sobrepujassem as forças policiais e militares.

Não há dúvidas de que, caso o governo tivesse optado por utilizar metralhadoras para reprimir os protestos, ele provavelmente teria conseguido suprimir a rebelião.  E se ele tivesse combinado metralhadoras com o fechamento completo da internet, ele teria conseguido aniquilar os protestos, literalmente e digitalmente.  Porém, para conseguir fazer isso, o regime teria de ter agido de modo extremamente rápido, e tal medida certamente geraria uma ampla condenação internacional.  Ademais, isso teria criado uma oposição permanente, pronta para se rebelar novamente.

Hoje, as forças de oposição estão conectadas, mas ainda não estão organizadas.  Isso nunca aconteceu antes na história do mundo.  As massas podem se comunicar instantaneamente com outras pessoas de ideias iguais.  O preço? Um computador e uma conexão de internet.

Nos bons e velhos tempos da União Soviética, ainda na década de 1960, os líderes teriam aplicado aquele grau de força sem hesitar um minuto.  Porém, não estamos mais na era da União Soviética.  Estamos vivendo a era digital, e praticamente nada pode ser mantido escondido do público por muito tempo.  Se um tirano é fraco, isso rapidamente se torna conhecimento geral.  Há poucos Golias e vários Davis online.

É o poder das redes de comunicação, em conjunto com a prontidão e a disposição dos manifestantes em tomar as ruas, que pode gerar um período de crise para todo e qualquer regime autocrático do planeta.  Os autocratas viram, em janeiro de 2011, que é difícil controlar protestos inorgânicos — isto é, não organizados.  A organização não veio de algum grupo pequeno que poderia ter sido infiltrado por agentes do estado ou mesmo suprimido.  O que houve foi algo mais próximo de um protesto espontâneo do que qualquer outra manifestação já vista em tempos modernos.

A capacidade das redes sociais de organizar um protesto praticamente da noite para o dia, em decorrência de pessoas de crenças e comprometimentos similares estarem em comunicação estreita entre si, alterou completamente a natureza da resistência política e das revoluções.  Esse sistema de revolução derrubou uma ditadura no Oriente Médio em menos de um mês.  Acabamos de entrar em um novo período de resistência política.

Uma Revolução Barata

Do ponto de vista econômico, isso é fácil de explicar.  Quando o custo de uma mobilização política cai, a demanda por ela aumenta.  Quando as pessoas conseguem mobilizar milhares de manifestantes sem fazer uso de qualquer agência de comando central e sem ter qualquer organização que possa ser infiltrada e subvertida, elas ficam na posição de impor enormes danos políticos a qualquer regime existente, desde que o regime de fato seja corrupto, tirânico e odiado.  Quando um ditador consegue controlar a sociedade por 23 anos, e recebe 89% dos votos em uma eleição, pode estar certo de que ele é odiado.  O regime é corrupto.  Em uma sociedade democrática, nada se mantém esse tempo todo com 89% de apoio.

A revolta que está ocorrendo no Egito é resultado direto do sucesso da revolta na Tunísia.  As redes sociais estão novamente no centro da revolta.  Há uma revolta similar ocorrendo no Iêmen.  Por todo o mundo árabe, está se tornando óbvio que os manifestantes possuem uma ferramenta disponível que os permitirá causar enormes desconfortos para os regimes tirânicos da região.

Os regimes locais estabeleceram sistemas de controle, inclusive controle de ideias, baseando-se no preço das comunicações na era da mídia impressa.  Eles podem controlar o papel, a tinta e a distribuição.  Mas eles não têm como controlar as comunicações via internet sem fecharem por completo a internet.  Foi isso que o Egito fez na sexta-feira, 28 de janeiro.

Como o Egito possui menos de uma dúzia de grandes provedores de acesso à internet, o governo conseguiu fechar a internet de uma só vez.  O governo também fechou as comunicações de telefonia fixa em algumas regiões do país.  Isso não foi simplesmente um ataque à internet.  O governo teve de fechar o acesso a outras formas de telecomunicação.

A dificuldade enfrentada pelo governo é óbvia: ele não pode continuar proibindo o público em geral de utilizar a internet e os serviços de telefonia fixa.  A economia moderna está se tornando crescentemente dependente da internet.  Ela já se tornou altamente dependente do sistema de telefonia.  Não é possível para qualquer governo intervir na entrega de serviços de comunicação sem com isso criar enormes problemas para a economia.  Qualquer governo que tentar fazer isso por um longo período verá suas receitas tributárias despencar, mais pessoas se indispor com as políticas do governo e mais oportunidades para que desordeiros aumentem a quantidade de problemas.  Em algum momento, o governo terá de restabelecer os serviços de internet e os serviços de telefonia fixa.  Será nesse momento que ele provavelmente irá enfrentar uma população ainda mais enfurecida do que quando os protestos começaram.

Os governos do mundo estão entre a espada e a parede.  Se eles permitirem que a internet continue funcionando livremente, e se as redes sociais continuarem eficientemente recrutando pessoas para irem às ruas, um governo corrupto irá enfrentar uma crise em agravante intensidade.  Sua legitimidade será questionada, e a única maneira de restaurar a ordem sob essas condições é atirando nas pessoas.  Gás lacrimogêneo não está mais funcionando.

Eis um vídeo dos distúrbios no Cairo.  Um veículo blindado do governo estava percorrendo as ruas, e ele estava disparando bombas de gás lacrimogêneo.  As pessoas não apenas não estavam prestando nenhuma atenção no veículo, como também chutavam os tubos de gás lacrimogêneo para áreas onde não havia manifestantes.

Quando eu era estudante do ensino médio, estive presente a uma demonstração em que uma suave quantidade de gás lacrimogêneo era disparada.  A demonstração foi feita por um policial da comunidade.  Ele tinha um recipiente de aerossol contendo gás lacrimogêneo, e o botão foi pressionado por apenas alguns segundos.  Nós estávamos a uns 3 metros de distância, e a sensação foi bastante desagradável.  Eu não consigo imaginar como alguém consegue ficar nas ruas quando a polícia está disparando bombas de gás.  Porém, foi exatamente isso que vi no vídeo.

Os governos agora tornaram-se temerosos de utilizar metralhadoras, com medo da condenação internacional.  Dezenas de pessoas estarão filmando o evento e imediatamente transferirão as imagens para um satélite, que irá espalhá-las pelo mundo em questão de segundos.  O baixo custo das telecomunicações está possibilitando aos manifestantes expor as políticas de seus governos para que todo o mundo possa vê-las.

Universalmente, governos não querem nenhuma exposição daquilo que estão fazendo.  Eles querem controlar o fluxo de informação, e querem poder manipulá-la rapidamente.  Porém, eles não podem fazer nenhuma dessas duas coisas quando a internet está operante, pois as imagens são enviadas muito rapidamente, e capturadas pela imprensa mundial instantaneamente.  Governos não podem manipular informação visual.  Assim, eles ficam encurralados naquela situação atribuída a Groucho Marx, quando ele virou-se para uma pessoa que havia interrompido seu encontro com uma mulher atraente e perguntou: “Em que você vai acreditar?  Em mim ou em seus olhos?”

O fato que está ocorrendo agora nos países árabes indica que toda aquela região está vulnerável a mais atos de resistência revolucionária.  A rede de telecomunicações é bem desenvolvida em todas aquelas nações, e as pessoas que a utilizam são qualificadas e esclarecidas.  Elas possuem dinheiro suficiente para se conectarem a internet.  Muitas delas são pessoas com diplomas universitários.  Pior ainda: são pessoas diplomadas e desempregadas.  Elas entendem como funcionam essas mídias.  Elas estão interligadas por meio de redes sociais com milhares de outras pessoas similarmente desempregadas e igualmente qualificadas.  Intelectuais desempregados e jovens sempre foram uma ameaça para tiranos já estabelecidos.  Eles formam a fatia da população que não tem quase nada a perder, e que pensam que têm muito a ganhar ao tomarem as ruas.  Quando não são reprimidos rapidamente, eles se tornam ainda mais ousados.  Eles assumem que nada pode detê-los, pois gás lacrimogêneo e balas de borracha não são uma ameaça tão grande.

Quando pessoas ao redor do mundo podem ver manifestantes nas ruas, isso encoraja e estimula milhares de outros insatisfeitos.  Há uma certa segurança nos números.  Quando elas podem ver na televisão ou na internet que há milhares de pessoas nas ruas protestando, elas pressupõem que irão ganhar um certo grau de invisibilidade e anonimato se se juntarem aos protestos.  Assim, elas deixam a segurança de suas casas e se juntam aos protestos.  Por causa das redes sociais, isso pode ocorrer tão rapidamente que os burocratas do governo tornam-se incapazes de reagir rápido o suficiente para obstruir o movimento.  Quando eles se dão conta, já há milhares de pessoas nas ruas.

As redes sociais podem se tornar um risco caso a revolta fracasse em derrubar o atual regime.  O governo poderá então utilizar a internet para rastrear aquelas pessoas que foram as ativistas nos estágios iniciais da revolta.  Não há como esconder retroativamente suas comunicações no Twitter e no Facebook.  O governo irá descobrir quem mandava as mensagens, e será capaz de rastrear a difusão dessas mensagens utilizando justamente a mesma tecnologia que permitiu aos manifestantes iniciais recrutarem milhares de voluntários.  Porém, quantos a polícia pode prender?  Havia manifestantes demais para serem presos.

As pessoas a quem o governo terá de investigar são altamente instruídas, e possuem dinheiro suficiente para terem um computador e estarem conectadas à internet.  Elas são exatamente o tipo de gente que o governo não quer irritar.  Elas possuem conexões, têm dinheiro e tempo de sobra.

Quando se fala de milhares de manifestantes indo para as ruas, estamos falando de um protesto sem qualquer organização.  Você não pode interromper uma organização quando você não pode controlar um punhado de líderes dessa organização.  O sistema de redes sociais permite uma rápida reação de protesto sem que haja qualquer cadeia de comando bem definida.  Não há de fato uma cadeia de comando.  Esse é justamente o ponto de uma rede social.  Ela é horizontal; ela não é vertical.  Para impedir que algo se espalhe, o governo tem de fechar completamente todo o sistema.

Uma Revolta Espontânea

Isso está mudando a natureza dos protestos sociais.  Isso finalmente produziu uma situação na qual a velha retórica dos revolucionários é verdadeira: a revolução é um trabalho espontâneo do Povo.  Não há um grupo clandestino de conspiradores que estão organizando uma conspiração de tal modo que tudo pareça uma insurreição espontânea.  Governos podem lidar com esse tipo de organização revolucionária infiltrando agentes nessas organizações até o alto comando.  Eles fizeram isso por séculos.  Porém, quando a revolta é realmente resultado da difusão de comunicações retoricamente efetivas em um sistema descentralizado de telecomunicações, o governo é incapaz de impedi-la antecipadamente.  Ele não pode capturar os organizadores dias antes do grande plano ser executado.  Não há um grande plano, e o governo não tem tempo para reagir.

Por terem se mostrado capazes de acelerar o processo de mobilização, e por terem horizontalizado esse processo, os manifestantes conseguiram derrubar um regime e ameaçar mais dois em apenas um mês.  Eles conseguiram desafiar a atual estrutura política formada por burocratas experientes que mantêm o poder há décadas.  O ditador do Iêmen está no poder há 32 anos.  O ditador do Egito está no cargo há quase 30.  Ainda assim, as redes sociais deixaram esses regimes à beira da desintegração em questão de dias.  Como podem os governos mobilizar recursos para combater o inimigo, quando não há um inimigo claro a ser combatido?

Estamos, portanto, testemunhando uma alteração no equilíbrio de forças: o poder está sendo retirado do governo centralizado, o qual controla grande parte da mídia impressa do país, e indo para a grande massa das pessoas com dinheiro e computadores — pessoas que de modo algum dependem de papel, tinta e pasta para guardar notícias.  O governo pode reagir rapidamente quando se trata da velha mídia, mas não pode reagir com a mesma rapidez com que as redes sociais mobilizam tropas antigoverno.  O governo tinha a vantagem de ser mais veloz na época dos manifestos impressos.  Mas aquele mundo já era.

Assim, à medida que vemos os dígitos solaparem as bases das autocracias do Oriente Médio, podemos ir formando uma ideia do que pode estar por vir na próxima geração.  Todos os governos do mundo estão hoje ameaçados pelo poder visual dos protestos de rua.  Os protestos serão postados no YouTube em questão de minutos, sem poderem ser censurados pelos governos.

Nada disso existia seis anos atrás.  Durante os últimos cem anos, governos utilizaram dinheiro, técnicas de recrutamento, técnicas de propaganda e tudo o mais em termos de uma tecnologia em particular.  Essa tecnologia era a impressora.  Martinho Lutero criou uma revolução social e religiosa no norte da Europa ao utilizar panfletos e cartazes com desenhos há quase 500 anos.  Por quase cinco séculos, a tecnologia de comunicação não sofreu nenhuma mudança radical.  E então, sem qualquer aviso, o surgimento da internet começou a deslocar o equilíbrio de forças um pouco mais na direção dos cidadãos.  Com o advento das redes sociais, houve um avanço espetacular na capacidade dos manifestantes em registrar seus protestos publicamente, sem que não tenha havido nenhum avanço no tempo de resposta das autoridades.  As telecomunicações são instantâneas, e elas ocorrem sem nenhum custo marginal para os participantes.  Quando o preço das manifestações cai, passa a haver uma maior demanda por elas.  É isso que está ocorrendo hoje.

O único aparato de defesa contra isso é a pobreza extrema.  Por exemplo, não estamos vendo nada disso acontecendo no Zimbábue.  Praticamente ninguém possui um computador no Zimbábue.  Apenas os muito ricos possuem acesso à internet.  Porém, tão logo a concorrência de preços começa a derrubar o custo de se conectar à internet, um governo passa a enfrentar os tipos de eventos que vêm ocorrendo nas últimas três semanas.  Quando computadores já estão difundidos entre a população, e há uma ampla participação desta na internet, os recursos das redes sociais passam a ser uma enorme ameaça para o governo.

A Questão da Legitimidade

O que está em jogo é a legitimidade do governo.  Quando se torna óbvio para uma crescente minoria de intelectuais que o governo é corrupto, é apenas uma questão de tempo para que essas pessoas comecem a espalhar a notícia: o governo é ilegítimo.  A única maneira de um governo poder manter o controle é induzindo as pessoas a voluntariamente aceitar suas leis, regras e discursos oficiais.  Mas isso pode rapidamente parar de funcionar.

Um governo corrupto é visto como legítimo somente porque é extremamente caro fazer chegar a um grande número de pessoas, especialmente pessoas com educação e dinheiro, a notícia de que o governo é corrupto porém vulnerável.  Assim, a única maneira de um déspota sobreviver ao tipo de coisa que vem ocorrendo às autocracias do norte da África é ampliando poder político e oportunidades de emprego para a ampla maioria da população.  Governos capitalistas do Ocidente conseguiram fazer isso ao longo do século passado; as autocracias, não.  Elas são as formas de governo que mais estão em risco em decorrência da difusão da internet e das redes sociais.  Em outras palavras, a melhor maneira de se evitar a revolução hoje é já tendo criado um sistema de poder político em que um grande número de pessoas acredita que tem participação e voz efetiva no sistema.

O mundo árabe nunca fez isso.  Os líderes são aparentemente incapazes de fazer isso.  Eles terão de repensar toda a ordem política se quiserem evitar uma série de protestos semelhantes aos que vêm ocorrendo no último mês.  Eles terão de reformular seus sistemas de governo, caso contrário aqueles sistemas serão reformulados para eles.  Entretanto, uma autocracia que concede mais participação democrática corre o risco de sofrer exatamente a mesma violência revolucionária que esses três governos vivenciaram em janeiro.  O governo nunca se reformula suficientemente rápido e de modo amplo o bastante para satisfazer aquelas pessoas que estão clamando por reformas.  Tão logo fique claro que o governo está cedendo às demandas, os reformistas mais radicais e exigentes ficarão estimulados a crer que o sistema está se esfacelando, e com isso irão renovar seus esforços para derrubar o sistema.  Isso vem acontecendo desde a Revolução Francesa, pelo menos.  E vai se agravar.

Os governos conhecem e compreendem esse processo de crescente resistência em decorrência de reformas domésticas limitadas.  É por isso que eles relutam em conceder quaisquer tipos de direitos significativos para um grande número de pessoas.  Eles vêem esse processo como a ignição de um estopim que levará a uma incontrolável explosão.

Não há como uma sociedade, qualquer sociedade, crescer economicamente sem adotar a internet.  Esse é o futuro, e pessoas instruídas sabem disso.  Os governos árabes querem participar do crescimento econômico que está se propagando pelo Terceiro Mundo como resultado das telecomunicações.  Eles terão de permitir que seus cidadãos comprem computadores e se conectem à internet.

À medida que o preço de se fazer isso vai ficando menor, mais e mais pessoas vão aproveitando a oportunidade.  Isso traz dinheiro, entretenimento e várias das coisas boas da vida que milhões de pessoas por toda a face da terra sempre quiseram experimentar ao longo dos últimos 50 ou 100 anos, mas que nunca tiveram a oportunidade.  Assim, vemos a rápida escalada da difusão dessa nova tecnologia.  Ela traz benefícios para um grande número de pessoas, especialmente pessoas instruídas.  Entretanto, como vimos, a difusão dessa tecnologia cria resistência contra as políticas adotadas por essas nações autocráticas e até então muito pobres.  Quanto mais ricas essas nações se tornam, mais perigosos ficam seus intelectuais.

Não vejo salvação para os autocratas do mundo.  Um a um, esses homens serão desafiados por um crescente número de pessoas que hoje possuem os meios para ampliar a resistência.  Os recursos que geram crescimento econômico hoje constituem uma ameaça à sobrevivência de todos os regimes autocráticos.  Somente se os autocratas se tornarem demagogos tecnologicamente astutos poderão eles ter alguma esperança em mobilizar as pessoas que hoje possuem computadores e acesso à internet.  Eles terão de agradar diretamente a essas pessoas caso queiram evitar algum tipo de conflagração política doméstica.  Entretanto, eles não possuem as habilidades necessárias para mobilizar essas pessoas, pois isso nunca foi necessário no passado.  Governos podiam subornar intelectuais e também podiam controlar a difusão de ideias, pois eles possuíam o controle das estações de rádio e de televisão, bem como da imprensa.  Hoje eles estão perdendo o controle dessas três áreas.  Eles estão na defensiva no que concerne às mídias sociais.

Portanto, as técnicas de controle político desenvolvidas ao longo dos últimos 200 anos estão sendo suplantadas rapidamente por novas tecnologias que são tão baratas e acessíveis, que não há como os governos impedirem que elas se espalhem.  A Coréia do Norte pode impedir que elas se espalhem, obviamente; mas a Coréia do Norte é uma das nações mais empobrecidas e famélicas do mundo.  Qualquer país que feche a internet e as linhas de telefonia estará, com efeito, exibindo um cartaz que diz “Bem vindo à próxima Coréia do Norte”.  Nenhum líder governamental quer fazer isso.

Conclusão

Do ponto de vista do conservadorismo tradicional, nos termos delineados há dois séculos por Edmund Burke, e também do ponto de vista do libertarianismo tradicional, delineado por Leornard Read, Ludwig von Mises e Murray Rothbard, o desenvolvimento das redes sociais é consistente com a teoria e benéfico para a expansão da liberdade.  A visão de mundo descentralizada de Burke, a visão de mundo descentralizada de Hayek e Mises, e a visão de mundo antigovernista de Rothbard são condensadas em uma só nas redes sociais, no YouTube e no e-mail.

A tecnologia digital, por ser competitiva em termos de preços, permeia a grande massa de indivíduos no Ocidente.  O acesso a ela é barato, e por isso ela é inerentemente descentralizada.  Cada indivíduo poder ter seu próprio jornal nesse novo sistema.  A capacidade dos governos em controlar a difusão de ideias não consegue manter o ritmo da capacidade da internet em permitir às pessoas comunicar suas ideias.  O sistema concorrencial tornou-se assimétrico.  Mas, desta vez, a assimetria não está a favor do governo; a assimetria está a favor dos cidadãos.  São eles que estão com o martelo.

Sim, é verdade que os governos podem temporariamente confiscar o martelo.  Eles podem fechar a internet.  Quer dizer, pelo menos os governos dos pequenos países do Oriente Médio podem fazer isso.  Mas, no mundo todo, a tendência é de descentralização do sistema de telecomunicações.  O governo que ousar interromper a difusão das telecomunicações está pedindo para perder a próxima eleição.

1 COMENTÁRIO

  1. E 12 anos depois desse artigo ter sido publicado, fica a impressão de que o autor foi de um otimismo quase pueril ao escrevê-lo.

    As big techs já estão todas corrompidas e aliada a interesses de governos e organizações como o fórum econômico mundial, OMS, ONU e outras sucursais do inferno.

    O que não significa que a liberdade perdeu, mas é muito otimismo para pouca conquista.

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