Quanto mais leio os jornais e economistas de outras escolas, em especial a keynesiana, mais admiro Ludwig von Mises: “Good economics is basic economics”. Não lembro qual foi o primeiro texto de algum economista da escola austríaca que li, mas me recordo perfeitamente das seguidas sensações de prazer ao ler sequências de argumentos e frases sensatas em perfeita harmonia com uma argumentação lógica e clara, em total contraste a tudo que havia, até então, aprendido em economia. Tive a impressão, enfim, que a ciência econômica servia sim para explicar alguma coisa. Quem já passou a usar as “lentes austríacas” se identificará com o que escrevo.
Por que estou contando isso? Explico-me.
Hoje, aleatoriamente, lendo o Valor Econômico, passei os olhos sobre um artigo do presidente da Associação Keynesiana Brasileira, Luiz Fernando de Paula, divagando sobre o crédito no Brasil. Eis o seu primeiro parágrafo:
Uma das diferenças da teoria keynesiana em relação à teoria convencional é a importância fundamental que moeda e instituições financeiras têm no funcionamento da economia. Um sistema financeiro funcional ao crescimento é aquele com capacidade de atender via crédito a demanda de liquidez necessária para realização dos gastos dos agentes, e de criar mecanismos financeiros apropriados para realização da consolidação das dívidas das firmas investidoras, permitindo um ritmo de acumulação a um nível superior àquele que seria viável pela simples acumulação de poupanças prévias.
Tentarei incluir pequenos detalhes no seu texto para que fique clara a idéia que o autor quer passar. Em homenagem ao Leandro, eu “vou de preto”:
Uma das diferenças da teoria keynesiana em relação à teoria convencional é a importância fundamental que moeda fiduciária emitida pelo estado e instituições financeiras têm no funcionamento da economia. Um sistema financeiro funcional ao crescimento é aquele com capacidade de atender via crédito criado do nada a demanda de liquidez necessária para realização dos gastos públicos dos agentes do estado, e de criar mecanismos financeiros apropriados para realização da consolidação das dívidas das firmas investidoras, permitindo um ritmo de acumulação de dívida a um nível superior àquele que seria viável pela simples acumulação de poupanças prévias.
Ficou mais claro agora? Um leigo em economia dificilmente conseguiria compreender que tudo o que o autor sugere se resume ao seguinte: se não houver poupança suficiente, imprima dinheiro. Pronto. Agora está claro o que autor defende.
Assim como o mestre, Lord Keynes, magistralmente demonstrou na sua obra prima, o importante é não articular claramente o que se está defendendo. Use palavras complicadas, jargões vazios ou frases desconexas, para que poucos entendam de fato o que se está propondo. Alguém entende o que o autor quer dizer com “criar mecanismos financeiros apropriados para realização da consolidação das dívidas das firmas investidoras”? Eu não.
A escolha deste texto foi realmente aleatória e pouco posso comentar sobre as idéias deste autor, mas está intelectualmente equivocado e “linguisticamente”, como era de se esperar, keynesiano, no pior sentido da palavra.
Talvez uma das maiores contribuições da escola austríaca tenha sido trazer o estudo da economia a um nível inteligível e ao alcance de qualquer pessoa com razoável nível de educação, seja um médico, advogado, engenheiro, dona de casa, empresário, atleta ou qualquer outro leigo. Enquanto a escola keynesiana conseguiu justamente o contrário.
Ao leitor recém iniciado nas idéias da escola austríaca, lembre-se: se em algum momento você não entender o que um economista está tentando articular, é bem provável que o problema esteja com ele e não com você.
Good economics is indeed basic economics