III — Atividade Bancária, Estados-Nações e Política Internacional: Uma Reconstrução Sociológica da Ordem Econômica Presente

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I— Moeda e Atividade Bancária

Para explicar a emergência do escambo, não é necessário nada mais que a assunção de um interesse próprio estritamente definido. Na medida em que o homem prefere mais escolhas e bens a menos, ele escolherá escambo e divisão do trabalho em lugar da autossuficiência.

A emergência do dinheiro a partir do escambo segue-se do mesmo interesse próprio estrito; se o homem está integrado em uma economia de escambo e prefere um padrão de vida mais alto a um mais baixo, ele escolherá selecionar e manter um meio comum de troca. Ao selecionar uma moeda ele pode superar a restrição fundamental imposta sobre a troca por uma economia de escambo, i.e., a de requerer a existência de uma dupla coincidência de desejos. Com o dinheiro, suas possibilidades para trocar são ampliadas. Todo bem se torna comerciável por qualquer outro, independentemente de uma dupla coincidência de desejos ou divisibilidades imperfeitas. E com essa permutabilidade ampliada os valores de todos os bens em sua posse aumentam.

Tão logo o homem esteja integrado numa economia de troca, o interesse próprio compele-o a procurar por bens particularmente comerciáveis que tenham propriedades monetárias desejadas, como divisibilidade, durabilidade, fácil identificação, portabilidade e escassez, e a demandar esses bens não para si mesmo, mas para utilizá-los como meios de troca. E é do seu próprio interesse escolher como mercadoria a ser usada como meio de troca aquela que também enquanto tal for a mais comumente usada por outros. De fato, é a função do dinheiro facilitar as trocas, ampliar o escopo de possibilidades de trocas e, portanto, aumentar o valor de nossos bens (na medida em que são percebidos enquanto integrados em uma economia de trocas). Por conseguinte, quanto mais extensamente uma mercadoria é usada como dinheiro, tanto melhor ela executará sua função monetária. Guiado por não mais que seus estritos interesses próprios, o homem preferirá sempre um meio de troca mais geral, e se possível universal, a um menos geral ou não universal. Pois quanto mais comum é o dinheiro mais amplo é o mercado em que se está integrado, mais racionais são os cálculos de custos e valores (do ponto de vista de alguém desejando integração econômica e maximização da riqueza) e maior é o benefício que pode ser colhido da divisão do trabalho.[1]

Empiricamente, é claro, a mercadoria que foi um dia escolhida como a melhor-porque-mais-universal-dos-dinheiros foi o ouro. Sem coerção estatal, o ouro voltaria a ser selecionado, pelo menos num futuro previsível, como a mercadoria que melhor desempenha a função de dinheiro. O interesse próprio levaria todos a preferir ouro – como meio de troca universalmente usado – a qualquer outro dinheiro. Na medida em que cada indivíduo percebe a si mesmo e suas posses como integrados em uma economia de trocas, ele prefere fazer sua contabilidade em termos de ouro em vez de qualquer outro dinheiro, porque a aceitação universal do ouro faz tal contabilidade a mais completa expressão de seus custos de oportunidade e, por conseguinte, serve como o melhor guia em sua tentativa de maximizar riqueza. Todos os outros dinheiros sairiam de uso rapidamente, porque qualquer coisa menos que um dinheiro estritamente universal e internacional como o ouro – isto é, dinheiros nacionais ou regionais – contradiria o próprio propósito de se ter dinheiro em primeiro lugar. Dinheiro foi inventado pelo homem no seu interesse próprio para aumentar sua riqueza ao integrar a si mesmo em um mercado cada vez mais amplo e em última instância universal. No caminho da realização de seu autointeresse, moedas nacionais ou regionais seriam rapidamente descartadas da competição e suplantadas por ouro, porque apenas o ouro torna completa a integração econômica e mundial o mercado, completando portanto a função última do dinheiro como um meio comum de troca.[2]

A emergência do dinheiro, de dinheiros cada vez melhores e, finalmente, de um dinheiro universal, o ouro, libera energias produtivas que previamente permaneciam frustradas e inutilizadas devido a restrições de duplas coincidências de desejos no processo de trocas (bem como a existência de dinheiros competindo com taxas de câmbio flutuando livremente). Sob escambo, o mercado para a produção de um produtor é restrito a instâncias de dupla coincidência de desejos. Com todos os preços expressos em termos de ouro, o mercado dos produtores é amplamente estendido, e a demanda deixa de se limitar por qualquer falta de dupla coincidência de desejos em uma escala mundial. Dessa maneira, a produção aumenta – e aumenta mais com ouro que com qualquer outro dinheiro. Com a produção ampliada, o valor do dinheiro, por sua vez, aumenta; e o maior poder de compra do dinheiro diminui a demanda de reserva por ele, abaixa a taxa efetiva de preferência temporal (a taxa originária de juro) e leva ao aumento da formação de capital. Um processo de desenvolvimento espiralando ascendentemente é iniciado.

Esse desenvolvimento cria a base para a emergência de bancos como instituições especializadas no trato com dinheiro. Por um lado, bancos vêm à tona para suprir a crescente demanda por custódia, transporte e acerto de contas. Por outro, eles preenchem a cada vez mais importante função de facilitar trocas entre capitalistas (poupadores) e empreendedores (investidores), na verdade tornando possível uma quase completa divisão do trabalho entre esses papéis. Como instituições de depósito e, em especial, como instituições de poupança e crédito, bancos rapidamente assumem a posição de centros nervosos de uma economia. Cada vez mais a alocação e a coordenação espacial e temporal de recursos econômicos e atividades acontecem através da mediação de bancos; e ao facilitar tal coordenação a emergência de bancos implica ainda outro estímulo ao crescimento econômico.[3]

Enquanto é do interesse econômico de todos que haja apenas um único dinheiro universal e apenas uma unidade de contabilidade (e o homem em sua busca pela maximização da riqueza não cessará até esse objetivo ser atingido), é contrário a esse interesse que haja apenas um banco ou um sistema bancário monopolístico. Em vez disso, o autointeresse ordena que todo banco use o mesmo dinheiro universal – ouro – e que então não haja competição entre dinheiros diferentes, mas que deve existir livre competição entre bancos e sistemas bancários, todos os quais usam ouro. Apenas na medida em que livre entrada na atividade bancária exista haverá eficiência de custos neste e em qualquer outro negócio; ainda assim, apenas na medida em que essa competição trata de serviços prestados em termos de um mesmo dinheiro-mercadoria, a livre atividade bancária será realmente capaz de preencher a própria função do dinheiro e da atividade bancária, i.e., a de facilitar a integração econômica ao invés de a desintegração, de ampliar o mercado e expandir a divisão do trabalho ao invés de restringi-los, de tornar a contabilidade de custos e valores mais racional e não menos, e, logo, de aumentar a riqueza econômica ao invés de diminuí-la. A noção de competição entre dinheiros é uma contradictio in adjecto. Estritamente falando, um sistema monetário com dinheiros rivais em taxas de câmbio flutuando livremente é ainda um sistema de escambo (parcial), afligido com o problema de requerer coincidências duplas de desejos para que (algumas) trocas aconteçam. A existência de tal sistema é disfuncional em relação ao próprio propósito do dinheiro.[4] Perseguindo livremente seu interesse próprio, o homem imediatamente o abandonaria – e seria um equívoco fundamental sobre a essência do dinheiro pensar o livre-mercado não apenas em termos de bancos competindo, mas também em termos de dinheiros competitivos.[5] Dinheiros competitivos não são o resultado de ações no livre-mercado, mas são invariavelmente o resultado da coerção, de obstáculos impostos pelo governo e colocados no caminho da conduta econômica racional.

Com livre atividade bancária baseada num emergente padrão-ouro universal, o objetivo de alcançar a mais eficiente solução, em termos de custos, para coordenar e facilitar as trocas intertemporais e interespaciais dentro da estrutura de um mercado universalmente integrado é concluído. Os preços para o serviço de custódia, transporte e ajuste de contas em dinheiro, bem como para adiantamento em contratos temporais, cairiam para os mais baixos possíveis sob um regime de livre entrada no mercado. E uma vez que esses preços seriam expressos em termos de um dinheiro universal, eles refletiriam verdadeiramente os custos mínimos da provisão de serviços de integração de mercados.

Ademais, a competição bancária, combinada com o fato de que o dinheiro deve surgir como uma mercadoria – tal qual o ouro – que para além de seu valor como dinheiro tenha um valor como mercadoria, e portanto não pode ser produzido sem despesas, também provê a melhor garantia contra atividade bancária fraudulenta.

Como instituições de depósito de dinheiro, os bancos – de modo similar a outras instituições de depósito de mercadorias fungíveis, porém mais ainda no caso de bancos por causa do papel especial do dinheiro-mercadoria – são tentados a emitir recibos de depósito “falsos”, i.e., notas de depósito não lastreadas por dinheiro real, tão logo estas notas bancárias tenham assumido o papel de substitutos de dinheiro e sejam tratadas pelos participantes do mercado como equivalentes inquestionáveis de dinheiro real verdadeiramente depositado. Nesta situação, ao emitir notas bancárias falsas ou fiduciárias que não possam ser fisicamente distinguidas de substitutos de dinheiros genuínos, um banco pode – fraudulentamente e à custa dos outros – aumentar sua própria riqueza. Podem-se comprar diretamente bens com tais notas falsas e assim enriquecer a si mesmo da mesma forma que qualquer simples falsificador o faz. A riqueza real do banco e dos recebedores iniciais do dinheiro aumenta através dessas compras, e, ao mesmo tempo e pela mesma ação, a riqueza daqueles recebendo o novo dinheiro mais tarde ou nem mesmo o recebendo diminui, devido às consequências inflacionárias da falsificação. Ou então um banco pode usar tal dinheiro fiduciário para expandir seu crédito e cobrar juros sobre ele. De novo, uma renda fraudulenta e uma distribuição de riqueza em favor do banco sucedem.[6] Além disso, no entanto, dessa vez um ciclo de expansão e contração é posto em marcha: colocado sob uma taxa de juros reduzida, o crédito recém-concedido causa aumentos nos investimentos e inicialmente cria uma expansão que não pode ser distinguida de uma expansão econômica; entretanto, essa expansão deve acabar em uma contração, pois o crédito que a estimulou não representa poupança real, mas, ao invés disso, fora criado do nada. Logo, com toda a nova estrutura de investimentos ampliada e em andamento, deve surgir uma falta de capital que torne a finalização de todos os projetos de investimento sistematicamente impossível e, em vez disso, requeira uma contração com a liquidação de investimentos errôneos anteriores.[7]

Sob o padrão-ouro, qualquer banco ou sistema bancário (incluindo um monopolista) estaria reprimido em suas próprias inclinações a sucumbir a tais tentações, por conta de dois requerimentos essenciais para a falsificação bem-sucedida. Por um lado, os clientes do banco não podem suspeitar da confiabilidade do banco – isto é, sua vigilância antifraude deve estar baixa, pois doutro modo uma corrida bancária rapidamente revelaria a fraude cometida. Por outro lado, o banco não pode inflacionar suas notas a um ritmo tal que o público perca a confiança no poder de compra das notas, reduza sua demanda de reserva por elas e, em seu lugar, corra em direção a valores “reais”, incluindo dinheiro real e, portanto, leve o falsificador à bancarrota. Sob um sistema de livre atividade bancária, entretanto, sem leis de curso forçado e tendo ouro como dinheiro, surge uma restrição adicional a fraudes bancárias potenciais, pois então todo banco é confrontado com a existência de não clientes ou clientes de bancos diferentes. Se, nesta situação, dinheiro falsificado adicional for trazido à circulação por um banco, ele deve invariavelmente se deparar com o fato de que o dinheiro pode acabar nas mãos de não clientes que demandarão imediatamente o resgate, o qual o banco será então incapaz de garantir sem ao menos uma dolorosa contração creditícia. De fato, tal contração corretiva apenas poderia ser evitada se o dinheiro fiduciário adicional fosse parar apenas nas reservas de dinheiro dos próprios clientes e fossem usadas por eles exclusivamente para transações com outros clientes. Ainda assim, uma vez que um banco não tem como saber se tal resultado específico poderia ser alcançado ou não, ou como alcançá-lo, a ameaça de uma contração creditícia posterior agiria como um impedimento econômico inescapável a qualquer fraude bancária.[8]

 

II — O Estado e a Monopolização do Dinheiro e da Atividade Bancária

A ordem econômica presente é caracterizada por dinheiros nacionais em vez de um dinheiro universal; por dinheiro fiduciário em vez de mercadoria como o ouro; por atividade bancária central monopolística ao invés de livre atividade bancária; e por fraude bancária permanente e distribuição de riqueza e renda continuamente repetida, inflação permanente e ciclos econômicos recorrentes como suas contrapartidas econômicas, ao invés de atividade bancária com 100% de reservas, sem nenhuma dessas consequências.

Em completa contradição, então, com os interesses dos homens de maximização da riqueza por meio da integração econômica, interesses antieconômicos diferentes prevalecendo sobre os econômicos devem ser responsáveis pela emergência da ordem econômica contemporânea.

Pode-se adquirir e aumentar a sua riqueza quer por apropriação original, produção e troca contratual, quer por expropriação e exploração de apropriadores originais, produtores e permutadores contratuais. Não há outras maneiras. Ambos os métodos são naturais para a espécie humana. Junto ao interesse pela produção e contratação, sempre houve um interesse em aquisições não produtivas e não contratuais de riqueza e propriedade. E, no curso do desenvolvimento econômico, da mesma forma que o primeiro interesse pode levar à formação de firmas e corporações, também o último interesse leva a negócios em larga escala e traz à tona governos ou estados.[9]

O tamanho e o crescimento de um empreendimento produtivo são restritos, por um lado, pela demanda voluntária do consumidor e, por outro, pela competição de outros produtores que continuamente forçam cada firma a operar com os mais baixos custos possíveis se ela quiser continuar nos negócios. Para esse empreendimento continuar a crescer em tamanho, as necessidades mais urgentes dos consumidores devem ser atendidas na mais eficiente das maneiras. Nada senão as compras voluntárias dos consumidores.

As limitações no outro tipo de instituição – o estado – são totalmente diferentes.[10] Eis a razão: é obviamente absurdo dizer que sua emergência e seu crescimento são determinados pela demanda no mesmo sentido em que ocorre no caso de uma firma econômica. Não se pode de maneira alguma dizer que os apropriadores originais, os produtores e os permutadores contratuais que devem entregar (parte de) seus ativos a um estado tenham demandado esse serviço. Ao invés disso, eles são coagidos a aceitá-lo, e isso é prova conclusiva do fato de que o serviço não está sendo demandado. Por outro lado, o estado também não é restringido da mesma maneira que uma firma produtiva. Pois, diferentemente de tal firma, o estado pode não manter seus custos em um mínimo, mas pode operar a custos acima do mínimo, porque é capaz de transferir seus custos mais altos a seus competidores ao tributar e regular seus comportamentos. Na medida em que um estado emerge, ele o faz à revelia do fato de que não está sendo demandado e não é eficiente.

Em vez de ser limitado pelas condições de demanda e custo, o crescimento de uma firma de exploração é restringido pela opinião pública: aquisições não contratuais e não produtivas de propriedade requerem coerção, e coerção cria vítimas. É concebível que a resistência pode ser duradouramente quebrada pela força no caso de um homem (ou grupo de homens) explorando uma ou talvez duas ou três pessoas (ou grupo de aproximadamente o mesmo tamanho). É inconcebível, entretanto, imaginar que apenas a força pode explicar a quebra da resistência no caso bem familiar de pequenas minorias expropriando e explorando populações dezenas, centenas ou milhares de vezes maiores em tamanho. Para que isso aconteça, uma firma tem de ter o apoio público para além da força de coerção. Uma maioria da população deve aceitar suas operações como legítimas. Esta aceitação pode se dar desde entusiasmo ativo até resignação passiva. Entretanto, a aceitação deve ser no sentido de que uma maioria deve ter desistido da ideia de resistir ativa ou passivamente a qualquer tentativa de aquisição não contratual e não produtiva de propriedade. Ao invés de mostrar revolta ante tais ações, de mostrar desprezo por todos que nelas se engajarem e de não fazer qualquer coisa que os ajude a ser bem-sucedidos (para não mencionar a tentativa ativa de obstruí-los), uma maioria deve ativa ou passivamente apoiá-las. Uma opinião pública favorável ao estado deve contrabalançar a resistência dos donos de propriedade vitimados de tal forma que uma resistência ativa pareça fútil. E o objetivo do estado, então, e de que todo empregado do estado que queira contribuir para assegurar e melhorar sua própria posição dentro do estado, é e deve ser o de maximizar a riqueza e a renda adquiridas exploratoriamente ao produzir uma opinião pública favorável e criando legitimidade.

Há duas medidas complementares disponíveis para o estado tentar conseguir isso. De um lado, há a propaganda ideológica. Bastante tempo e esforço é gasto persuadindo o público de que as coisas não são realmente como elas parecem: exploração é na verdade liberdade; impostos são na verdade voluntários; relações não contratuais são, na verdade, “conceitualmente” contratuais[11]; ninguém é dominado por ninguém, mas todos nos dominamos; sem o estado, nem lei nem segurança existiriam e os pobres pereceriam etc.

Por outro lado, há redistribuição. Em vez de ser um mero consumidor parasita dos bens que outros tenham produzido, o estado redistribui parte de sua riqueza apropriada coercitivamente a pessoas fora do aparato estatal e, assim, tenta corrompê-las para que assumam papéis de apoio ao estado.

Mas nem toda redistribuição funcionará. Da mesma forma que ideologias devem servir a um propósito – estatista –, a redistribuição também deve servir a esse propósito. Redistribuição requer o dispêndio de gastos e por isso requer justificação. Não é realizada pelo estado simplesmente para fazer algo bom a algumas pessoas como, por exemplo, quando alguém dá um presente a alguém. Nem é feito simplesmente para adquirir a mais alta renda possível da troca, como quando em um empreendimento econômico ordinário se engaja numa troca. É feito para assegurar a existência e a expansão posteriores da exploração e expropriação. Redistribuição deve servir a esse propósito estratégico. Seus custos devem ser justificados em termos de aumentos na riqueza e na renda estatais. Os empreendedores políticos no comando do aparato estatal podem errar em sua função da mesma forma que homens de negócios comuns, porque suas decisões sobre que medidas redistributivas melhor servem a esse propósito têm de ser feitas em antecipação de seus resultados reais. E se erros empresariais ocorrem, a renda do estado pode na verdade cair ao invés de aumentar, possivelmente até ameaçando sua própria existência. É o próprio propósito da política estatal e a função do empreendedorismo político evitarem tais situações e escolher, ao invés disso, uma política que aumente a renda estatal.

Enquanto que nem as formas de políticas redistributivas nem os resultados particulares podem ser previstos, mas de fato mudam com as mudanças circunstanciais, a natureza do estado ainda requer que sua política redistributiva siga certa ordem e mostre certa regularidade estrutural.[12]

Como uma firma engajada na maximização da riqueza apropriada exploratoriamente, a primeira e mais importante área em que o estado aplica medidas redistributivas é na produção de segurança, i.e., em polícia, defesa e em um sistema judicial. O estado, em última instância, se assenta na força e, assim, não pode se manter sem forças armadas. Quaisquer forças armadas concorrentes – o que naturalmente emergiria no mercado para satisfazer uma demanda genuína por serviços de segurança e proteção – são uma ameaça para sua existência e devem ser eliminadas. Fazer isso é arrogar para si o trabalho e se tornar o provedor e redistribuidor monopolístico de serviços de proteção para um território específico. Similarmente, um sistema judicial concorrente representaria uma ameaça imediata à reivindicação estatal de legitimidade. E, de novo, para o bem de sua própria existência, o sistema judicial deve ser também monopolizado, e os serviços legais devem ser incluídos nos esquemas redistributivos.

A natureza do estado como uma instituição engajada em agressão organizada também explica a importância do próximo campo de atividades redistributivas: tráfego e comunicação. Não pode haver exploração regular sem o controle monopolístico de rios, costas, rotas marítimas, ruas, estradas, aeroportos, serviço postal e sistemas de telecomunicação. Portanto, essas coisas também devem se tornar objetos de redistribuição.

De importância similar é o campo da educação. Dependente como é da opinião pública e de sua aceitação das atividades estatais como legítimas, é essencial para o estado que a competição ideológica desfavorável seja eliminada tanto quanto possível e ideologias estatistas sejam espalhadas. O estado tenta alcançar isso provendo serviços educacionais sob uma base redistributiva.

Promovida por um sistema de educação estatal, a próxima área crucial para redistribuição é a do próprio poder estatal, i.e., o direito assumido pelo estado de expropriar, explorar e redistribuir os ativos apropriados não produtivamente por ele. Ao invés de permanecer uma instituição que restringe a entrada em si mesma e/ou em posições governamentais particulares, um estado adota cada vez mais, por razões estratégicas óbvias, uma estrutura organizacional que em princípio abre cada posição a todos e concede direitos universais e iguais à participação e competição na determinação da política estatal. Todos – e não apenas uma nobreza privilegiada – recebem suporte legal do estado para reduzir a resistência ao poder estatal.[13]

Com a monopolização da produção de segurança e lei, tráfego, comunicação e educação, bem como a democratização do próprio domínio estatal, todas as características do estado moderno foram identificadas, menos uma: a monopolização estatal do dinheiro e da atividade bancária. Pois, com exceção desta última, todas as características foram explicadas, mesmo que de maneira sucinta. Elucidou-se que elas podem e devem ser compreendidas como executando funções estratégicas: por que e como elas não são contribuições produtivas normais determinadas pelas forças da oferta e demanda ou simplesmente por boas ações, mas atividades redistributivas que servem ao propósito de estabilizar e, se possível, aumentar a riqueza e a renda exploratoriamente apropriadas.

A monopolização do dinheiro e da atividade bancária é o pilar definitivo sobre o qual o estado se assenta. De fato, esse se tornou provavelmente o mais querido instrumento para aumentar a renda estatal. Pois em nenhum outro lugar o estado pode fazer a conexão entre o gasto de redistribuição e o lucro de exploração de maneira mais direta, rápida e segura do que ao monopolizar o dinheiro e a atividade bancária. E em nenhum outro lugar os esquemas do estado são menos claramente entendidos que aqui.

Preferindo, como todo mundo, uma renda maior a uma menor, mas estando, diferentemente dos outros, em um empreendimento de aquisições de propriedade não contratuais e não produtivas, a posição do estado acerca do dinheiro e da atividade bancária é óbvia: seus objetivos são melhor servidos por dinheiro fiduciário puro controlado monopolisticamente pelo estado. Pois apenas assim todas as barreiras à falsificação são removidas (quase atingindo uma completa destruição do sistema monetário por hiperinflação) e o estado pode aumentar sua renda e riqueza à custa dos outros praticamente sem custo e sem ter que temer a bancarrota.[14]

Entretanto, há obstáculos no caminho para se obter esse estado de coisas invejável. Por um lado, há o fato inexorável de que o dinheiro pode emergir apenas como uma mercadoria. (É impossível começar com dinheiro fiduciário).[15] Por outro, existe o problema de que, enquanto o enriquecimento por meio da falsificação é, sem dúvida, menos conspícuo que o obtido por meio de tributação, é ainda assim uma medida que está fadada a ser notada, certamente pelos bancos, sobretudo se ocorre regularmente. E então é também impossível para o estado conseguir a institucionalização da falsificação, a menos que consiga combiná-la com medidas redistributivas que sejam capazes de criar outra mudança favorável na opinião pública. Esse problema e o desejo natural do estado essencialmente determinam o curso de suas ações.

Como resultado de processos de livre-mercado, o estado encontra ouro estabelecido como dinheiro e um sistema de livre atividade bancária. Seu objetivo é a destruição desse sistema e com isso a remoção de todo obstáculo à falsificação. Tecnicamente (ignorando todas as dificuldades psicológicas envolvidas), a sequência de passos que devem ser tomados para conseguir esse objetivo é então ordenada: em um primeiro passo, a cunhagem de ouro deve ser monopolizada pelo estado. Isso serve ao propósito de desnacionalizar o ouro mudando a ênfase do ouro como denominado segundo termos universais de peso para ouro denominado segundo termos de rótulos fiduciários. E remove um primeiro obstáculo importante em direção à falsificação porque dá ao estado os próprios meios institucionais de enriquecer a si mesmo por meio do processo sistemático de depreciação monetária.

Segundo, o uso de substitutos de dinheiro em vez de ouro mesmo deve ser sistematicamente encorajado e esta tendência deve ser apoiada pela promulgação de leis moeda de curso forçado. O processo de falsificação, portanto, se torna muito menos caro. Em vez de ter de recunhar o ouro, apenas bilhetes de papel devem ser impressos.

Entretanto o problema já discutido anteriormente permanece. Enquanto um sistema de livre atividade bancária estiver em operação, as notas falsificadas não podem ser impedidas de retornar ao novo emissor com o pedido de resgate, e ele, então, não pode – ao menos sem um ajuste contrativo – cumprir suas obrigações. Para superar esse obstáculo, no próximo passo o estado deve monopolizar o sistema bancário ou forçar os bancos concorrentes a um cartel sob a tutela de seu próprio banco central operado pelo estado. Uma vez que esteja no controle de um sistema bancário cartelizado ou monopolizado, o estado pode colocar em funcionamento o processo de falsificação conjunta e coordenada de todo o sistema bancário que evita esse risco.

No passo seguinte, o ouro deve ser nacionalizado, i.e., o estado deve requerer que todos os bancos depositem seu ouro no banco central e conduzam seus negócios exclusivamente com substitutos de dinheiro, em vez de com ouro. Dessa maneira, o ouro desaparece do mercado como um meio de troca efetivamente usado e cada vez mais as transações do dia a dia se tornam caracterizados pelo uso de notas do banco central.

Finalmente, o ouro já estando fora de circulação e sob a posse exclusiva do estado, este deve cortar o último elo com o ouro ao renegar suas obrigações contratuais e declarar suas notas irresgatáveis. Sobre as ruínas do ouro, que como um dinheiro-mercadoria padrão tornou inicialmente possível que notas de papéis pudessem de fato adquirir algum poder de compra, um padrão de dinheiro fiduciário puro foi erigido e pode ser mantido em operação, entregando por fim ao estado o poder ilimitado de falsificação que buscava.

O objetivo da plena autonomia da falsificação dita, da mesma forma, a estratégia que deve ser adotada no fronte psicológico. Obviamente, ao aproximar-se de seu objetivo final, o estado cria vítimas e, assim, também precisa de uma opinião pública favorável. Sua subida ao poder de falsificação absoluta deve ser acompanhada de medidas redistributivas que gerem o apoio necessário para superar todas as futuras forças de resistência. Ele deve procurar por aliados.

No que diz respeito à monopolização estatal de lei e ordem, tráfego, comunicação e educação e a democratização de sua estrutura organizacional – enquanto está claro que elas todas são medidas redistributivas e que como tais implicam favorecer uma pessoa à custa de outra – é difícil senão impossível identificar os ganhadores e os perdedores com classes sociais definidas: dentro de uma classe social pode haver ganhadores e perdedores; e o padrão de redistribuição pode mudar com o tempo. Em todos esses casos, o elo entre os gastos estatais redistributivos e seus retornos é apenas indireto: se certos gastos educacionais, por exemplo, geram retornos em termos de uma renda estatal aumentada será visível apenas no futuro; e mesmo depois será difícil atribuir essa renda a uma causa definida. No caso da monopolização do dinheiro e da atividade monetária, por outro lado, aqueles fora do próprio aparato estatal que serão beneficiados de suas políticas redistributivas e aqueles que serão os perdedores far-se-ão claramente identificáveis; e sociologicamente os beneficiados podem ser facilmente identificados com uma classe social específica. Nesse caso, a conexão entre a entrega de favores redistributivos pelo estado e seu próprio enriquecimento é direta e em circuito-fechado; e a atribuição de causas é óbvia: o estado é compelido a fazer os bancos e a classe social dos banqueiros seus cúmplices permitindo que eles participem em suas operações de falsificação e, assim, enriqueçam a si mesmos juntamente com o enriquecimento do próprio estado.

Os bancos seriam os primeiros a saber das tentativas de falsificação do estado. Sem incentivos especiais em contrário, eles não teriam razões para apoiar tais ações e teriam todos os motivos para desmascará-las e pará-las tão rápido quanto possível. E o estado não enfrentaria qualquer oposição aqui: banqueiros, por conta de sua posição elevada na vida econômica e, em especial, por conta de suas profundas conexões internas enquanto grupo profissional, resultantes da natureza de seus negócios como facilitadores de trocas interespaciais e intertemporais, seriam a mais formidável das oposições que se pode encontrar. O incentivo necessário para tornar esses inimigos potenciais em aliados naturais é a oferta do estado de colocá-los em suas próprias maquinações fraudulentas. Familiarizados com as ideias de falsificação e seu grande potencial para enriquecimento próprio, mas sabendo também que não há chance de engajar-se nisso sem correr o risco de ir à bancarrota sob livre atividade bancária competitiva e padrão-ouro, banqueiros são confrontados com uma tentação quase irresistível. Ir de mãos dadas com a política estatal de monopolização do dinheiro e da atividade bancária também significa realizar os próprios sonhos de ficar rico rapidamente. Não apenas o estado se envolve, uma vez que é estabelecido o padrão monetário fiduciário puro. Contanto que o estado lhes conceda o privilégio de realizar falsificações sobres as notas estatais já falsificadas, sob um regime de atividade bancária de menos de 100% de reservas, com um banco central funcionando como um falsificador de última instância, os bancos podem ser facilmente persuadidos a considerar o estabelecimento de tal sistema monetário como seu objetivo final e como uma panaceia universal.[16]

Economicamente, essa coalizão entre estado – como parceiro dominante – e o sistema bancário – como seu afiliado – resulta em inflação permanente (limitada apenas pelo imperativo de não exceder-se e causar uma destruição de todo o sistema monetário), expansão creditícia e ciclos de expansão-retração recorrentes e em redistribuição de riqueza e renda ininterrupta e regular em favor do estado e dos bancos.

Ainda mais importante, entretanto, são as implicações sociológicas dessa aliança: com a sua formação, uma classe dominante cujos interesses estejam intimamente ligados aos do estado é estabelecida dentro da sociedade civil. Por meio dessa cooperação, o estado pode agora estender seu poder de coerção a praticamente todas as áreas da sociedade.

Antes da aliança estado-bancos, a separação sociológica entre estado e sociedade, i.e., entre uma classe dominante exploradora e uma classe de produtores explorados, era quase completa e visível. Aqui temos uma sociedade civil que produz toda a riqueza econômica, e lá temos o estado e seus representantes que extraem parasiticamente o que os outros produzem. Pessoas são membros ou da sociedade civil ou do estado e veem seus próprios interesses conectados ou com os primeiros ou com os últimos. Para deixar claro, há então atividades redistributivas acontecendo que favorecem partes da sociedade à custa dos outros e que ajudam a desviar os interesses da busca por integração econômica para o de apoiar a exploração. Mesmo assim, a corrupção social é assistemática nesse estágio. Não é a corrupção de classes sociais que estão conectadas por toda a sociedade, mas sim a corrupção de vários indivíduos ou grupos diferentes e dispersos. E esses interesses estão conectados àqueles do estado de maneira bem tênue por meio de certas atividades estatais redistributivas específicas, em vez de por meio de uma conexão monetária direta.

Com a formação da aliança estado-bancos, tudo isso se torna diferente. Uma conexão monetária entre partes da sociedade civil e o estado existe – e nada torna as pessoas mais ligadas que interesses financeiros conjuntos. Ademais, essa conexão é estabelecida entre o estado e o que pode ser identificado não apenas como classe social proximamente interconectada, mas como uma classe das mais poderosas e amplamente influentes. De fato, não são apenas os bancos que juntam os interesses com o estado e sua política de exploração. Os maiores clientes dos bancos, o establishment empresarial e os líderes da indústria, se tornam profundamente integrados nos esquemas estatais de falsificação também. Pois são eles que, para além do estado e bancos, são os primeiros recebedores da maior parte do dinheiro falsificado criado regularmente. Ao recebê-lo antes que ele perpasse através do sistema econômico e, dessa forma, antes das mudanças de preços relativos e do aumento do nível geral de preços, e ao receber crédito fraudulentamente a taxas de juros abaixadas, eles também enriquecem a si mesmos à custa de todos os poupadores e todos os que recebem o dinheiro posteriormente ou que não recebem esse dinheiro.[17]

Ademais, essa coalizão financeira entre o establishment industrial, os bancos e o estado tende a ser reforçada por cada curso de eventos bem-sucedido. A expansão creditícia leva a um aumento do investimento e – uma vez que não é lastreada por um aumento genuíno da poupança – resultará inevitavelmente em uma contração corretiva. Para evitar prejuízos e mesmo a bancarrota, os clientes do banco irão se aproximar dos bancos com um aumento na demanda por liquidez (i.e., por dinheiro). Naturalmente, para evitar prejuízos, os bancos dispõem-se a ajudar seus clientes – e quanto mais os ajudarem mais eles os estabelecerão como clientes. Incapazes de fazerem isso sozinhos, eles recorrem ao estado e seu banco central. E o estado, então, sendo ofertada outra chance para enriquecer-se, aceita e provê ao sistema bancário e, por extensão, ao establishment empresarial a liquidez necessária por meio de uma nova rodada de falsificação. A aliança é renovada, e o estado reafirma seu papel dominante ao salvar a elite industrial e os bancos estabelecidos da queda em face da competição econômica e permitindo-lhes, em vez disso, preservar o status quo ou mesmo aumentar ainda mais a riqueza já concentrada em suas mãos. Há razões para ser grato e retribuir com apoio público revigorado em favor do estado e sua propaganda.

Para deixar claro, essa coalizão entre estado e a elite econômica não implica de modo algum uma identidade de interesses. As várias firmas empresariais estabelecidas podem ter interesses diferentes ou mesmo contrários; e o mesmo é verdade quanto aos bancos. Do mesmo modo, os interesses dos bancos e dos clientes empresariais podem ser em muitos aspectos diferentes. Nem os interesses da elite industrial ou dos bancos coincidem completamente com os do estado. Pois, apesar de tudo, os bancos, bem como os empreendimentos industriais, também estão no negócio “normal” de ganhar dinheiro por meio de produção e trocas produtivas – qualquer que sejam as outras fontes de renda disponíveis para eles. E nessa função seus interesses podem muito bem colidir com o desejo do estado por impostos, por exemplo. Não obstante, o estabelecimento de um sistema monetário e bancário monopolizado ainda cria um interesse comum a todos eles: um interesse na preservação do aparato estatal e da instituição dos meios políticos (i.e., exploratórios) de apropriação de renda enquanto tais. Não apenas o estado e seu banco central podem destruir qualquer banco comercial e, de maneira indireta, praticamente qualquer empreendimento industrial; essa ameaça é tão mais severa quanto mais estabelecido é um negócio. O estado poderia ajudar algum ou a todos a ficarem ricos, e mais ainda se eles já forem ricos. Logo, quanto mais a elite econômica tiver a perder por oposição e mais a ganhar por cumplicidade, mais intensas serão suas tentativas de infiltrar-se no aparato estatal e fazer os líderes estatais assumirem interesses financeiros no mundo dos negócios. Banqueiros e industriais se tornam políticos; e políticos assumem posições nos bancos e na indústria. Emerge e é cada vez mais característico do mundo moderno um sistema social em que o estado e uma classe intimamente associada de banqueiros e líderes da indústria exploram todo o resto.[18] [19]

 

III — Política Internacional e a Ordem Monetária Internacional

Os interesses econômicos do homem, i.e., seus interesses em aumentar sua renda e riqueza por meio de produção e troca, levam à emergência de um dinheiro-mercadoria universalmente utilizado – ouro – e a um sistema de livre atividade bancária.

Os interesses políticos do homem (i.e., seus interesses em aumentar sua renda e riqueza por meio de exploração sobre produtores e contratantes) levam à formação de estados, à destruição do padrão-ouro e à monopolização do dinheiro e da atividade bancária.

Porém, uma vez que um estado tenha se estabelecido como monopolista da exploração e falsificação, novos problemas surgem. Pois, mesmo que a posição monopolística seja assegurada dentro de um dado território, ainda existe a competição entre estados operando em territórios distintos. É essa competição que impõe limites severos a qualquer poder exploratório de qualquer estado. Por um lado, abre a possibilidade de as pessoas votarem com os pés contra o governo e deixarem seu território, se elas perceberem outros territórios como oferecendo condições de vida menos exploratórias. Ou, se outros estados forem percebidos como menos opressivos, aumenta a possibilidade de os súditos de um estado colaborarem com competidores estrangeiros nos seus desejos de “assumir o controle”. Ambas essas possibilidades representam um problema crucial para cada estado. Pois cada um, literalmente, vive da sua população, e qualquer perda populacional é então uma perda de renda estatal potencial. Do mesmo modo, qualquer interesse de um estado nos negócios internos de outro deve ser interpretado como uma ameaça, em especial se contar com a ajuda dos seus súditos, porque no empreendimento da exploração só se pode prosperar enquanto houver algo que possa ser explorado e, obviamente, qualquer apoio dado a outro estado reduziria o que restasse para si.

Por outro lado, com vários estados competindo, o poder de falsificação de cada estado individual se torna severamente limitado. De fato, a nível internacional, ressurge um problema que é diretamente análogo ao obstáculo à falsificação que estava implicado em um sistema de livre atividade bancária e que o estado resolveu internamente por meio da monopolização ou cartelização da atividade bancária. A situação é caracterizada por papéis-moedas nacionais diferentes com taxas de câmbio flutuando livremente. Se um estado falsificar mais extensamente que outro, sua moeda estará fadada a depreciar-se em termos de outra, e para esse estado isso significa (o que quer que signifique para seus vários súditos) que sua renda diminuiu em relação à de outro estado. Com isso, seu poder vis-à-vis ao de outro estado é diminuído. Ele se torna mais vulnerável a ataques de estados concorrentes (militar ou economicamente). Não é, naturalmente, do interesse de nenhum estado ver isso acontecer, logo seu desejo de falsificação deve ser limitado nessa medida. Falsificação ainda prossegue permanentemente, é claro, porque é do interesse de cada estado; mas nenhum estado é verdadeiramente autônomo em suas decisões sobre quanto inflacionar e, em vez disso, deve a todo momento prestar atenção às políticas inflacionárias de seus competidores e ajustar flexivelmente suas ações às deles.

Para maximizar sua renda adquirida exploratoriamente, é do interesse natural do estado superar ambas essas restrições externas ao poder interno. Cartelização pareceria uma solução possível. Entretanto, ele deve falhar enquanto tal porque – devido à falta de uma agência monopolística de coerção – cartéis interestatais apenas poderiam ser voluntários e, então, pareceria menos atrativo para o estado quanto mais poderoso ele já for e menos inflacionária for sua política de falsificação. Ao juntar-se a um cartel desses, um estado se prejudicaria pela vantagem dos menos bem-sucedidos e mais inflacionários. Então, há apenas uma solução estável para o problema: um estado deve expandir seu território, eliminar competidores e, como seu objetivo final, estabelecer a si mesmo como um governo mundial. E paralelamente a isso, deve tentar fazer sua moeda ser usada em territórios mais amplos e, em última instância, tornar mundial a sua moeda sob o controle de seu próprio banco central. Apenas se esses objetivos forem conseguidos o estado terá conseguido o que quer. Há muitos obstáculos nesse caminho, e estes podem se provar severos demais, a ponto de ser necessário contentar-se com menos que uma solução perfeita. Entretanto, enquanto houver um estado em existência, esse interesse é operante e deve ser assim compreendido se quisermos interpretar corretamente os desenvolvimentos passados bem como as tendências futuras (afinal, demorou vários séculos para o estado alcançar seus poderes de falsificação internos presentes!).

O meio de alcançar o primeiro de seus dois objetivos integrados é a guerra. Guerra e estado estão inextrincavelmente conectados.[20] O estado é uma firma exploratória e seus principais representantes não podem, assim, objetar com princípios as aquisições de propriedade não contratuais e não produtivas – do contrário eles não fariam o que fazem ou o estado simplesmente se desmoronaria e se dissolveria. Não pode ser surpreendente, então, que eles não tenham nenhuma objeção fundamental a uma expansão territorial da exploração por meio da guerra. De fato, guerra é pré-requisito lógico de um cessar-fogo posterior: e seu sistema de exploração institucionalizado interno não é nada senão um cessar-fogo – legitimado –, i.e., o resultado de conquistas prévias. Além disso, como representantes do estado, eles também estão no comando dos próprios meios que tornam cada vez mais provável que seus desejos agressivos possam ser de fato postos em prática. No comando do instrumento de tributação e, melhor ainda para esse propósito, do poder de falsificação interna absoluto, o estado pode deixar os outros pagarem por suas guerras. E, naturalmente, se não se tem de pagar por suas aventuras arriscadas, mas se pode forçar outros a pagarem, ou se se podem criar os fundos necessários do nada, tende-se a ser um tomador de riscos maior e a ser mais agressivo do que se seria em outro caso.

Enquanto independente da demanda e, logo, sendo uma instituição, por natureza, mais agressiva que qualquer negócio normal que teria de financiar suas guerras com renda ganha exclusivamente por meio de transações voluntárias e que, portanto, se defrontaria com repercussões financeiras imediatas se um de seus clientes apenas reduzisse suas compras em resposta a seu descontentamento com a política de guerra desse negócio, o estado ainda não está liberto de todas as limitações em sua busca por agressão estrangeira. Assim como estados emergem ainda que não haja demanda por eles, guerras também ocorrem sem terem sido demandadas. Mas assim como a emergência e o crescimento dos estados é limitado pela opinião pública, os esforços de guerra de um estado também são. Pois, obviamente, para sair-se bem-sucedido em uma guerra entre estados, um estado deve estar no controle de recursos econômicos suficientes – em termos relativos – que sozinhos tornem suas ações sustentáveis. Entretanto, esses recursos só podem ser providos por uma população produtiva. Então, para assegurar os meios necessários para ganhar guerras e evitar ser confrontado com resultados produtivos declinantes durante uma guerra, a opinião pública de novo se prova uma variável decisiva limitando a política externa de um estado. Apenas se houver um apoio popular à guerra do estado é que ela pode ser sustentada e possivelmente ganha. O apoio do establishment bancário e comercial pode ser conseguido facilmente, conquanto a agressão estrangeira prometa um final bem-sucedido e seu custo possa ser estabelecido com um grau de acurácia suficiente. Nem todos dessa classe estarão preparados para se juntar, é claro, pois alguns podem ter interesses no território a ser conquistado que sofrerá danos por ocasião de um conflito entre estados; alguém pode querer que o país C em vez do B seja atacado; ou pode-se até ser contrário à guerra em princípio. De modo geral, a expectativa de que, junto com a vitória de seu próprio estado, as elites bancária e comercial se firmarão como a classe dominante sobre um território maior, com possibilidades de exploração financeiras correspondentemente maiores, é a mais poderosa razão para a elite econômica – em especial bancária – prestar bastante atenção à opção de guerra.

Todavia, o apoio dessa elite não é de modo algum suficiente. Mais ainda numa guerra do que em tempos de paz, um estado é dependente da disposição de cada pessoa de trabalhar e produzir (não pode haver mocassins em tempos de guerra). Para garantir um entusiasmo geral, todos os estados devem ajudar a criar ideologias nacionalistas e apoiá-las. Eles têm de se fazer de estados-nações e representar a si mesmos como estandartes e protetores dos valores superiores de uma nação enquanto distinta das outras, para gerar a identificação pública com um estado específico, o que é necessário para, então, virar-se e destruir a independência de mais e mais nações distintas e grupos culturais, linguísticos e étnicos separados.

Entretanto, algo mais substancial é requerido para manter a população trabalhando e produzindo os recursos necessários para uma guerra: afinal, os outros estados assumidamente têm o apoio das elites comerciais deles; e eles, igualmente, criaram um espírito de nacionalismo em seus territórios. Assumindo também que os estados antagonistas inicialmente controlavam populações de tamanho equiparável e territórios com recursos naturais similares, a variável decisiva a determinar a vitória ou derrota se torna a riqueza econômica relativa das sociedades envolvidas, seus graus relativos de desenvolvimento econômico e acumulação de capital. Os estados que tendem a ser vitoriosos em guerras entre estados são aqueles que podem extrair parasiticamente de uma riqueza econômica superior. Claramente, entretanto, para estarem nessa posição, condições relativamente favoráveis para formação e acumulação de riqueza em seus respectivos territórios devem ter existido anteriormente. Estados não contribuem positivamente para isso. Pelo contrário, como instituições engajadas em aquisições de propriedade não contratuais e não produtivas, sua própria existência é destruidora da riqueza e da acumulação de capital. Entretanto, eles podem ter uma contribuição negativa. Riqueza e capital são trazidos à existência apenas por meio de apropriação original, produção e contratação, um grau relativamente menor de exploração de apropriadores originais, produtores e contratantes significa um relativo impulso à formação de capital, que na próxima rodada de exploração pode dar ao estado os recursos adicionais necessários para superar militarmente seus competidores estrangeiros. Assim, o que é necessário para vencer guerras é um grau relativamente maior de liberalismo interno.

Por mais paradoxal que possa parecer à primeira vista, quanto mais liberal[21] um estado é internamente, mais provável é que ele se envolva em agressão externa. Liberalismo interno torna uma sociedade rica; uma sociedade mais rica da qual extrair recursos torna o estado mais rico; e um estado mais rico resulta em mais e mais guerras expansionistas. E essa tendência de estados mais ricos em direção a intervenção estrangeira é ainda mais fortalecida se eles forem bem-sucedidos em criar um nacionalismo “liberacionista” entre o público, i.e., a ideologia de que acima de tudo é em nome e pelo bem das próprias liberdades internas do público geral e de seu próprio padrão de vida relativamente maior que a guerra deva ser declarada ou expedições estrangeiras feitas.

De fato, algo mais específico ainda pode ser dito sobre liberalismo interno como um requerimento e meio para um imperialismo bem-sucedido. A necessidade de uma economia produtiva que um estado em guerra deve ter também explica por que é que, ceteris paribus, aqueles estados que tendem a vencer seus competidores na arena da política internacional são aqueles que tenham ajustado suas políticas de redistribuição interna de modo a diminuir a importância da regulamentação econômica em relação à tributação. Regulações por meio das quais um estado compele ou proíbe certas trocas entre duas ou mais pessoas privadas, bem como a tributação, implicam uma expropriação de renda não contratual e não produtiva e, portanto, ambas prejudicam os apropriadores originais, produtores e contratantes. Todavia, embora as regulações não sejam de modo algum menos destrutivas de resultados produtivos do que a taxação, elas têm a característica peculiar de requerer o controle estatal sobre recursos para que seja obrigatória sem simultaneamente aumentar os recursos à sua disposição. Na prática, isso quer dizer que eles requerem o controle estatal em vez de tributos, porém elas não produzem qualquer renda monetária para o estado (em vez disso, elas satisfazem o puro desejo de poder, como quando A, em nome de nenhum ganho material para si, proíbe B e C de engajarem-se em uma troca mutuamente benéfica). Por outro lado, tributação e redistribuição de receita fiscal seguindo o princípio “de Pedro para Paulo” aumentam os meios econômicos à disposição do estado, ao menos para seu “gasto de manuseio” objetivando o ato de distribuir. Uma vez que, respectivamente, políticas de tributação e de tributação sem regulação rendem um retorno monetário maior ao estado (e com isso mais recursos consumíveis para o esforço de guerra!) do que políticas de regulação e de regulação com tributação, os estados devem mover-se na direção de uma economia comparativamente desregulada e um estado tributador comparativamente puro para evitar a derrota internacional.[22]

Com o pano de fundo dessas considerações teóricas sobre a natureza do estado e da política internacional, muito da história começa a fazer sentido. Durando vários séculos, uma série de guerras praticamente ininterruptas vividamente confirma o que foi dito sobre a tendência inerentemente agressiva dos estados. Da mesma maneira, a história ilustra de maneira dramática a tendência em direção à concentração relativa de estados como resultado de tais guerras; o expansionismo agressivo do estado levou ao fechamento de todas as fronteiras e a um declínio firme no número de estados, junto de um igualmente firme aumento no tamanho territorial dos estados que conseguiram sobreviver. Nenhum estado mundial emergiu, mas uma tendência nessa direção é inegavelmente presente. Mais especificamente, a história ilumina a importância central que o liberalismo interno tem para o crescimento imperial: primeiro, a ascensão dos estados da Europa Ocidental à proeminência mundial pode ser explicada assim. Foi na Europa Ocidental que, assentada nas antigas tradições filosóficas grega e estoica, bem como no Direito Romano, a ideologia dos direitos naturais e do liberalismo surgiu.[23] Foi aqui que ela – associada a nomes como São Tomás de Aquino, Luís de Molina, Francisco Suarez e os escolásticos tardios espanhóis do século XVI, Hugo Grotius, Samuel Pufendorf e John Locke – ganhou cada vez mais influência na opinião pública e onde os vários poderes estatais de exploração foram então correspondentemente diminuídos. E o seu poder foi ainda mais enfraquecido pelo fato de que a Europa pré-moderna era caracterizada por um sistema internacional quase anárquico altamente competitivo, com uma multidão de estados em pequena escala e principados feudais rivalizando. Foi nessa situação que o capitalismo se originou.[24] Porque os estados eram fracos, os apropriadores originais, produtores e contratantes cada vez mais começavam a acumular capital; taxas de crescimento econômico inauditas anteriormente eram registradas; pela primeira vez uma população crescendo estavelmente podia ser sustentada; e, em particular, com o crescimento populacional se estabilizando, gradual mas continuamente o padrão de vida geral começou a aumentar, finalmente levando ao que é chamado de Revolução Industrial. Extraindo recursos dessa riqueza superior de sociedades capitalistas, os estados fracos e liberais da Europa Ocidental tornaram-se os mais ricos da terra. E essa riqueza superior em suas mãos levou então a uma explosão de aventuras imperialistas que pela primeira vez na história estabeleceu os estados europeus como poderes mundiais genuínos, estendendo seus domínios hegemônicos por todos os continentes.

Similarmente, o papel preponderante da Inglaterra entre os estados da Europa Ocidental pode ser explicado. O mais liberal de todos os países, o governo britânico se tornou o mais bem-sucedido dos impérios.[25] E o declínio relativo da Inglaterra (e da Europa Ocidental) e a ascensão dos Estados Unidos ao posto de maior poder imperial do mundo conforma-se com as considerações teóricas também. Sem nenhum passado feudal do qual falar e com o império britânico derrotado, o liberalismo era ainda mais pronunciado nos Estados Unidos que em qualquer lugar da Europa. O poder estatal estava em seu mínimo, dificilmente notável nas atividades do dia a dia. Desse modo, o crescimento econômico era mais alto que em outros países; o padrão de vida aumentou; a população cresceu; e o padrão de vida e o tamanho da população gradualmente superaram o de todos os países da Europa Ocidental. Ao mesmo tempo, começando no século XIX, a Inglaterra e a Europa Ocidental começaram a sofrer de um estatismo interno revigorado, trazido pelo surgimento de ideologias socialistas na cena europeia. Foi essa riqueza econômica superior – produzida por uma sociedade civil pouco explorada – que permitiu ao aparato governamental internamente fraco dos Estados Unidos se tornar lentamente o estado mais rico e cheio de recursos e direcionar esses recursos para agressão externa e, com o tempo, estabelecer-se como o poder dominante mundial, com “bases domésticas” espalhadas ao redor do globo e domínio militar direto ou indireto e controle hegemônico sobre uma grande parte do mundo (com exceção da União Soviética e da China e seus respectivos satélites).[26] O século XIX já mostrava o expansionismo agressivo inigualável do – liberal – governo americano. Desde tão cedo quanto 1801, quando a marinha americana foi mandada em uma missão punitiva a uma remota área nos arredores de Tripolis, virtualmente não se passou um ano sem intervenção do governo americano em algum lugar do mundo.[27] Três grandes guerras foram declaradas: contra a Inglaterra (1812), contra o México (1846-48), na qual o México perdeu metade de seu território, e contra a Espanha (1898), que resultou na ocupação americana de Cuba e das Filipinas. Contrário ao mito popular, a Guerra Civil também foi uma guerra essencialmente expansionista declarada pelo Norte, relativamente mais liberal, contra os estados Confederados. Entretanto, o grande avanço em direção à dominação mundial não ocorreu até o século XX, quando os Estados Unidos entraram nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Ambas as guerras provaram a superioridade do poder americano sobre os estados europeus. Os Estados Unidos determinaram os vencedores bem como os perdedores, e ambas as guerras acabaram com uma vitória do mais liberal governo americano – assentado em uma economia menos tributada e regulada – sobre todos dos mais socialistas-autoritários estados europeus (incluindo a União Soviética) com as suas economias mais fortemente tributadas e reguladas. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos alcançaram a hegemonia sobre a Europa e, como herdeiros dos impérios estrangeiros dos estados europeus, sobre grandes territórios ao redor do mundo. Desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos têm continuado e até intensificado seu expansionismo incomparável com intervenções militares maiores ou menores na Grécia, Irã, Coréia, Guatemala, Indonésia, Líbano, Laos, Congo, Guiana Inglesa, República Dominicana, Vietnã, Chile, Granada e Nicarágua.[28]

Finalmente, a história provê a mais vívida ilustração da ligação direta entre os poderes de falsificação internos e sua política externa de agressão, bem como a conspiração da elite bancária e comercial com o estado em seus desejos expansionistas. O divisor de águas no processo que levou à ascensão dos Estados Unidos como a principal potência foi a Primeira Guerra Mundial. O governo americano não poderia ter entrado e vencido com sucesso essa guerra inicialmente intraeuropeia sem o poder de falsificação absoluto do Federal Reserve System. Eles careceriam dos recursos para fazê-lo. Com um sistema de banco central, uma suave transição para uma economia de guerra poderia ser feita e se tornou possível para os Estados Unidos se envolverem mais profundamente na guerra e aumentá-la para uma das mais devastadoras guerras da história. E assim como o estabelecimento anterior do Federal Reserve System foi apoiado entusiasticamente pelo establishment bancário (em especial pelas famílias Rockefeller, Morgan e Kuhn, Loeb e Co.), a política americana de entrar na guerra ao lado dos Aliados também encontrou seus mais ardentes apoiadores entre a elite econômica (notavelmente na firma de J. P. Morgan e Co. como o agente fiscal do Banco da Inglaterra e segurador monopolista dos títulos britânicos e franceses, bem como um grande produtor de armas e representado dento da administração Wilson por forças poderosas como W. G. McAdoo, secretário do Tesouro e enteado de Wilson; Coronel P. M. House, conselheiro íntimo de política externa de Wilson; e B. Strong, diretor do Federal Reserve Bank de Nova Iorque).[29]

Há apenas um elemento importante faltando para uma reconstrução completa da ordem internacional presente: o dinheiro. É do interesse natural do estado expandir seu território militarmente; e, logo, se esperaria uma tendência em direção a uma relativa concentração de estados. É também do interesse do estado engajar-se em “imperialismo monetário” (i.e., estender seu poder de falsificação sobre territórios maiores); então, uma tendência em direção a um papel-moeda mundial deveria ser esperado. Os interesses e as tendências complementam-se. Por um lado, qualquer passo na direção de um cartel de falsificação internacional está fadado a falhar se não for complementado pelo estabelecimento de uma hierarquia e domínio militar. Pressões econômicas externas e internas tenderiam a romper o cartel. Com superioridade militar, entretanto, um cartel de inflação se torna possível. Por outro lado, uma vez que o domínio militar tenha tornado esse cartel possível, o estado dominante pode de fato expandir seu poder exploratório sobre outros territórios sem guerras e conquistas adicionais. De fato, a cartelização internacional da falsificação permite que o estado dominante consiga por meios mais sofisticados (i.e., menos visíveis) o que a guerra e a conquista sozinhas talvez não sejam capazes de atingir.

No primeiro passo, um estado dominante (isto é, um estado que possa derrotar outro militarmente e é percebido como capaz de fazê-lo, em especial pelo governo dominado) usará seu poder superior para aplicar uma política de inflação coordenada internacional. Seu próprio banco central estabelece o ritmo no processo de falsificação, e os bancos centrais dos estado dominados são ordenados a inflacionar junto do estado dominante. Em termos práticos, o papel-moeda do estado dominante é imposto como moeda de reserva em bancos centrais estrangeiros, e eles são pressionados a usá-lo como base para as próprias ações inflacionárias.

Limitado não pela verdadeira demanda, mas apenas pela opinião pública, é relativamente fácil para um estado dominante realizar esse objetivo. Conquista territorial direta e implantação direta de sua moeda em territórios estrangeiros pode ser algo proibitivo por causa da situação da opinião pública nacional ou estrangeira. Porém, com o poder de destruir qualquer governo estrangeiro – ainda que não seja forte o suficiente para assumir o controle completamente – pouco é necessário para o estado dominante conseguir se sair bem em um imperialismo monetário.

Internamente, provavelmente não encontrará resistência alguma. O próprio governo se satisfará com essa solução. Pois uma vez que sua moeda seja empregada como moeda de reserva por bancos centrais estrangeiros sobre os quais eles então “piramidam” seus vários papéis-moedas, então se torna possível engajar-se em uma expropriação quase sem custos de produtores de renda e proprietários estrangeiros e sem ter de temer consequências contrativas. Similarmente, sua própria elite bancária e comercial está pronta para aceitar tal arranjo, porque eles também podem assim participar seguramente na exploração estrangeira. Bancos em especial ficam entusiasmados. E o público em geral ignora o que está acontecendo ou considera a exploração de estrangeiros menor se comparada aos problemas internos.

Externamente, o assunto é um pouco mais complicado. Os estados dominados perdem recursos para o estado dominante como consequência do regime monetário. Mas defrontado com a possibilidade de perder completamente seu controle interno, ele naturalmente prefere aquiescer a um esquema que não só lhe permite permanecer no poder, como também, de fato, continuar em suas próprias expropriações fraudulentas de sua própria população ao inflacionar sua moeda sobre e de acordo com a criação de papel-moeda do estado dominante. Essencialmente pela mesma razão, bancos e elites bancárias, como primeiros receptores do dinheiro falsificado de seus respectivos estados, estão dispostos a aceitar essa solução. E o público geral dos territórios dominados, que por meio de acordos é sujeito a uma camada dupla de exploração pelas elites estrangeiras dos estados dominantes sobre a do estado e elite nacionais, está de novo amplamente inconsciente de tudo isso e não consegue identificá-lo como uma causa importante de sua própria dependência econômica prolongada e estagnação relativa vis-à-vis ao estado dominante.

Esse primeiro passo, entretanto, não provê uma solução perfeita. O sistema monetário internacional é caracterizado por um papel-moeda dominante, uma multiplicidade de papéis-moedas nacionais piramidando sobre ele e taxas de câmbio flutuando livremente entre essas moedas. Por um lado, isso é menos que satisfatório para o estado dominante, porque sob essas circunstâncias um espaço grande é deixado para a possibilidade de sua própria moeda depreciar em relação às outras, e esse desenvolvimento representaria uma ameaça a seu próprio papel como poder dominante. Pois taxas de câmbio não são determinadas exclusivamente pelas políticas inflacionárias dos vários bancos centrais. Em última instância e ceteris paribus, elas são determinadas pela paridade de poder de compra.[30] E mesmo que um banco central dominado inflacione de bom grado junto com o banco central dominante, outros fatores (como um nível mais baixo de tributação e regulação, por exemplo) podem ainda fazer sua moeda se depreciar em relação à de outro estado.

Por outro lado, a existência de uma multidão de moedas flutuando livremente umas contra as outras é, como explicado anteriormente, disfuncional ao próprio propósito do dinheiro. É um sistema de escambo parcial. Cria um sistema de caos informacional, torna o cálculo econômico racional impossível e, por conseguinte, leva a ineficiências dentro do próprio sistema de produção que o estado dominante parasita.

Assim, para assegurar sua posição dominante e maximizar a renda apropriada exploratoriamente, em um segundo passo, um estado dominante tentará invariavelmente instituir uma moeda internacional – e em última instância universal – monopolisticamente controlada e emitida diretamente por seu banco central ou indiretamente por um banco internacional ou mundial dominado por seu banco central.

Há alguns obstáculos no caminho para esse objetivo. Entretanto, uma vez que o primeiro passo tenha sido completado com sucesso, nenhum dos outros parecerá intransponível. Naturalmente, o estado dominado perderá parte do poder discricionário nesse arranjo. Mas isso seria compensado pelo fato de que sua própria economia funcionaria mais eficientemente também, se o caos calculacional no comércio internacional for reduzido. Além disso, as elites bancárias e comerciais em ambos os países seriam veementemente a favor desse regime monetário e usariam seus vínculos íntimos com seus respectivos estados e conexões internacionais para promover sua adoção. Pois, afinal, bancos e firmas industriais também estão no negócio da ganhar dinheiro por meio de produção e trocas. Taxas de câmbio flutuando livremente são um impedimento artificial na sua busca desse interesse econômico. E elas serão percebidas como disfuncionais mais intensamente por grandes negócios, porque é para os grandes negócios, em particular, que o comércio exterior tem um papel importante.

De fato, a mais severa resistência à adoção de uma moeda internacional se esperaria ser não dos estados e elites econômicas, mas do público em geral. Na medida em que uma moeda internacional implica abandonar uma com a qual se estava acostumado, vai contra o próprio nacionalismo que os estados avidamente cultivaram por tanto tempo. Isso seria um problema especialmente se o público nos países dominados fosse solicitado a adotar a moeda do estado dominante diretamente – com nome e tudo – porque a natureza imperialista subjacente desse sistema monetário ficaria então perigosamente aparente. Contudo, com algum grau de diplomacia e propaganda paciente, esse problema parece solucionável também. Uma nova moeda com um novo nome deve ser criada e definida nos termos das moedas nacionais existentes para provocar sentimentos nacionalistas ou anti-imperialistas. Essa nova moeda deve apenas ser um pouco sobrevalorizada em relação às várias moedas nacionais (que por sua vez são definidas em termos da nova moeda) para tirar de circulação todas as moedas nacionais (de conformidade com a Lei de Gresham).[31] Isso deve ser acompanhado pelo apelo constante dos estados e das elites econômicas à intuição econômica correta do público geral de que – apesar de todos os sentimentos nacionalistas – moedas nacionais flutuando livremente são uma instituição anacrônica que prejudica o cálculo econômico racional e de que é do interesse de todos ter uma moeda internacionalmente (e se possível universalmente) usada, como o sistema bancário internacional sob a liderança do banco central do estado dominante está disposto a prover. Barrando qualquer mudança drástica na opinião pública em direção à propriedade privada fortalecida e à orientação para moeda forte e uma vigilância antiestado correspondentemente aumentada, nada impedirá o estado dominante de alcançar essa autonomia de falsificação internacional completa. E com uma moeda mundial e um banco mundial em vigor, e com o controle do banco central do estado dominante, um passo decisivo é tomado em direção ao seu objetivo final de estabelecer a si mesmo como um governo mundial em escala total, com controle mundial não apenas da falsificação, mas também da tributação e regulação legais.

À luz desta explicação do imperialismo monetário e de sua função como complemento “natural” (isto é, de um ponto de vista estatista) do expansionismo militar, os pedaços restantes da história política internacional começam a fazer sentido. De mãos dadas com a ascensão da Grã-Bretanha ao posto de maior estado-nação imperialista, veio um imperialismo de esterlinas. Não inteiramente livre, no momento, de todos os obstáculos internos à falsificação, países dominados pela Grã-Bretanha foram compelidos a manter suas reservas na forma de balanços de esterlinas em Londres, onde o Banco da Inglaterra as converteria em ouro. Dessa forma, esses países piramidariam suas moedas nacionais sobre a libra, e a Grã-Bretanha poderia inflacionar libras esterlinas sobre o ouro sem temer uma saída de ouro. Com o declínio da Grã-Bretanha e a ascensão concomitante do governo americano à posição de poder militar mundial líder, o imperialismo de esterlinas foi gradualmente substituído pelo imperialismo do dólar. Ao final da Segunda Guerra Mundial, com a dominação americana estendida sobre a maior parte do globo, e essencialmente ratificada no acordo de Bretton Woods, o dólar se tornou a moeda de reserva mundial sobre a qual todos os outros estados têm inflacionado seus vários papéis-moedas nacionais.[32] Por algum tempo, os Estados Unidos mantiveram oficialmente o fingimento de que converteriam os dólares dos bancos centrais estrangeiros em ouro, e isso meio que limitou seu potencial inflacionário. Entretanto, não impediu que uma falsificação contínua de dólares sobre o ouro ocorresse. A posição dos Estados Unidos como poder internacional militarmente dominante (formalizado, enquanto isso, por meio de vários pactos militares, dos quais o mais notável é a OTAN) permitiu-lhes obrigar governos estrangeiros a exercer o direito deles apenas moderadamente e quando permitidos, de modo que sua própria inflação de dólares poderia acontecer sem desencadear consequências contrativas. E quando sua política de falsificação incitou governos estrangeiros a se tornarem ousados demais em suas tentativas de obter ouro a preços de barganha, foi o poderio militar superior do governo dos Estados Unidos que finalmente lhes permitiu abandonar todo o fingimento e declarar suas notas inconversíveis. Desde lá, o Federal Reserve System adquiriu a posição de falsificador autônomo de última instância para todo o sistema bancário internacional.[33]

A natureza imperialista desse padrão-dólar toma efeito em especial por meio de instrumentos como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e o Banco Internacional de Compensações (BIC).[34] Dinheiro e crédito criados à canetada são transferidos dessas instituições dominadas pelos Estados Unidos primeiro para governos estrangeiros, sobre os quais inflacionam suas moedas nacionais; e esses governos, por sua vez, passam esse dinheiro para seus próprios sistemas bancários cartelizados que, adicionando mais uma dose de falsificação, transferem-no então para os establishments favoritos dos diversos estados, de onde se espalha para a periferia econômica. Em paralelo a esse fluxo de dinheiro, acontece um processo reverso de redistribuição de renda e riqueza da periferia econômica para a elite bancária e comercial nacional e para os vários estados-nações, bem como dos territórios dominados para o governo americano e para o establishment bancário e comercial americano como o centro derradeiro das finanças mundiais.

De um ponto de vista sociológico, as consequências são particularmente interessantes se esses dois processos integrados são sobrepostos em sociedades feudais pré-modernas. Tais países, principalmente na África, Ásia, Américas Central e do Sul, são tipicamente caracterizados por uma classe de senhores feudais, ou senhores feudais tornados magnatas industriais ou financeiros, controlando o aparato estatal e residindo principalmente nas capitais e sedes de governo; e por uma classe de principalmente camponeses dependentes sem terra dispersos no campo sustentando o estado, a elite feudal e a cidade capital por meio do pagamento de aluguéis sobre a terra.[35] Imperialismo de dólar aqui significa manter o domínio feudal, apoiar e exercer a exploração de um campesinato empobrecido e do campo por uma casta feudal parasítica e pela cidade capital e contribuir na supressão de qualquer reforma agrária liberacionista. De fato, o ciclo típico do Terceiro Mundo de opressão governamental cruel, movimentos revolucionários, guerra civil, repressão renovada, dependência econômica prolongada e pobreza em massa é em grande medida causada e mantida pelo sistema monetário internacional dominado pelos Estados Unidos.

Desde 1971, em particular, grandes esforços têm sido feitos na direção de um segundo passo no processo de expansionismo monetário. Nem todas das aproximadamente 160 moedas flutuando livremente representam um problema, porque a maioria delas não corre risco, por razões internas, de se valorizar em relação ao dólar e, portanto, de aumentar o poder dos respectivos estado vis-à-vis ao do governo dos Estados Unidos, ou eles têm um papel tão menor no comércio internacional que o caos calculacional que eles introduzem por sua existência é insignificante. Entretanto, por causa da força relativa de suas moedas e seu importante papel no comércio internacional, os maiores estados da Europa Ocidental, bem como o Japão, são um problema. Por conseguinte, é para estes estados e moedas em especial que foram direcionadas as tentativas do governo americano de criar uma moeda mundial que ajude a racionalizar o cálculo econômico e, ao mesmo tempo, salvaguardar a domínio americano e aumentar ainda mais seus próprios poderes inflacionários. A criação de Direitos Especiais de Saque (DES), definidos inicialmente em termos de dezesseis e, mais tarde, cinco nações exportadoras líderes e emitidos pelo FMI, foi um passo em direção a uma moeda mundial e a um banco mundial sob o domínio dos Estados Unidos.[36] Outro impulso importante em direção a esse objetivo foi provido por meio das atividades da Comissão Trilateral (CT), fundada em 1973 como uma ramificação do Concelho de Relações Exteriores de David Rockefeller. Composto por mais ou menos 300 políticos, banqueiros homens de negócios altamente influentes, bem como por intelectuais e jornalistas da América do Norte, Europa Ocidental e Japão, a CT fez do estabelecimento de um papel-moeda mundial e um banco central seu interesse primário.[37] Fervorosamente apoiados pela CT como um passo intermediário em direção a esse objetivo final, bem como por muitas outras associações políticas-bancárias-industriais com um número substancial de membros em comum com a CT e devotadas aos mesmos fins (como o Comitê de Ação para a Europa, a Associação para a União Monetária da Europa, a Federação Bancária da Comunidade Europeia, a Associação Bancária BCE, o Comitê da Basiléia e o Grupo Wilton Park), grandes avanços têm sido feitos em alinhar a frente monetária europeia. Em 1979, a recém-criada Unidade Monetária Europeia (UME), emitida sob a égide da Comunidade Econômica Europeia, apareceu pela primeira vez. Definida como a média ponderada de dez moedas europeias e assistida por organizações como o Sistema Monetário Europeu, o Banco Europeu de Investimento, a Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais e o Fundo de Cooperação Monetária Européia, a UME assumiu um papel cada vez mais importante. Posto que a UME é, em média, menos volátil que as várias moedas nacionais, bancos e, em particular, corporações multinacionais têm considerado cada vez mais atrativo usá-la como unidade de contabilidade e meio de pagamento: o cálculo econômico é menos prejudicado com apenas três moedas – a UME, o iene e o dólar – do que com uma dúzia. Em 1998, conforme os acordos intergovernamentais oficiais, o Banco Central Europeu foi estabelecido e a UME tornou-se a moeda de toda a Europa, suplantando todas as moedas nacionais.[38]

Com o caos calculacional europeu resolvido, então, e, em especial, com os países de moeda forte neutralizados e enfraquecidos dentro de um cartel que, por sua própria natureza, favorece países mais inflacionários do que os menos inflacionários, de modo a proteger e prolongar a hegemonia dos Estados Unidos sobre a Europa, de fato pouco restaria a ser feito. Com essencialmente apenas três bancos centrais e moedas e o domínio dos Estados Unidos sobre a Europa e o Japão, os mais prováveis candidatos a serem escolhidos como Banco Central Mundial dominado pelos Estados Unidos são o IMP ou o BIC: e sob sua égide, então, inicialmente definida como uma cesta do dólar, do UME e do iene, a “fênix” (ou qualquer nome que seja) ascenderá como papel-moeda mundial – isto é, a menos que a opinião pública, como único limite ao crescimento do governo, passe por uma mudança substancial e o público comece a entender a lição explicada neste livro, a de que a racionalidade econômica, a justiça e a moralidade exigem um padrão-ouro mundial e uma atividade bancária livre e com 100% de reservas, bem como livre mercado mundial; e que um governo mundial, um banco central mundial e um papel-moeda mundial, ao contrário da impressão enganadora de representar valores universais, de fato significam a universalização e intensificação da exploração, da falsificação e da destruição econômica.[39]

 

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NOTAS

[1] Sobre o desenvolvimento no livre-mercado do dinheiro, veja Carl Menger, Principles of Economics (New York: New York University Press, 1976), pp. 257-85; “Geld”, em Carl Menger, Gesammelte Werke, vol IV (Tünbingen: Mohr, 1970).

[2] Sobre o padrão-ouro, veja Llewellyn H. Rockwell, Jr., ed., The Gold Standard: An Austrian Perspective (Lexington, Mass.: D.C. Heath, 1985), Ron Paul e Lewis Lehrman, The Case for Gold (San Francisco: Cato Institute, 1983).

[3] Sobre atividade bancária e em especial a função diferente de empréstimos e depósito, veja Murray N. Rothbard, The Mystery of Banking (New York: Richardson and Snyder, 1983).

[4] Veja Murray N. Rothbard, The Case for a 100 Percent Gold Dollar (Meriden, Conn.: Cobden Press, 1984), pp. 32–34.

[5] Um exemplo proeminente desse equívoco é F. A. Hayek, Denationalization of Money (London: Institute of Economic Affairs, 1976 para uma crítica veja Murray N. Rothbard, “Hayek’s Denationalized Money”, Libertarian Forum XV, nos. 5–6 (August 1981–January 1982).

[6] Sobre o processo de falsificação, veja Rothbard, The Mystery of Banking, cap. IV; também Elgin Groseclose, Money: The Human Conflict (Norman: University of Oklahoma Press, 1934), pp. 178 e 273.

[7] Sobre a teoria austríaca dos ciclos econômicos, veja Ludwig von Mises, The Theory of Money and Credit (lrvington-on-Hudson, N.Y.: Foundation for Economic Education, 1971); idem, Human Action (Chicago: Regnery, 1966), cap. XX; F.A. Hayek, Monetary Theory and the Trade Cycle (New York: Augustus M. Kelley, 1975); Prices and Production (New York: Augustus M. Kelley, 1967); Richard von Strigl, Kapital und Produktion (Vienna: Julius Springer, 1934); Murray N. Rothbard, Man, Economy, and State (Los Angeles: Nash, 1970), vol. 2, chap. 12.

[8] E quanto aos cartéis? Não poderiam os bancos concorrentes formar um cartel e acordar em um contrato conjunto de falsificação? De novo, sob um regime de livre atividade bancária, isso é muito improvável, porque um sistema de livre atividade bancária é caracterizado pela completa ausência de qualquer incentivo econômico para cartelização. Sem restrições de entrada em existência, todo e qualquer cartel de bancos teria de ser classificado como voluntário e sofreria dos mesmos problemas que qualquer cartel voluntário: confrontado com a ameaça de não cartelizados e/ou novos entrantes e reconhecendo que, como em todo acordo de cartel, um cartel de bancos favoreceria os membros menos eficientes do cartel à custa dos mais eficientes; não há simplesmente nenhuma base econômica para ação bem-sucedida, e qualquer tentativa de cartelizar rapidamente seria destruída como economicamente ineficiente. Ademais, na medida em que o dinheiro falsificado fosse utilizado para expandir o crédito, bancos agindo em conjunto desencadeariam um ciclo econômico de expansão e contração em larga escala. Isso também deteria a cartelização. Veja sobre a teoria da livre atividade bancária Mises, Human Action, pp. 434–48; Rothbard, The Mystery of Banking, cap. VIII.

[9] Ao contrário da afirmação da escola da escolha pública, estados e empresas privadas não estão fazendo essencialmente o mesmo tipo de negócios, mas ao invés disso estão engajados em tipos de operação categoricamente diferentes. Ambos os tipos de instituições são o resultado de interesses diferentes e antagônicos. O interesse “político” em exploração e expropriação subjacente à formação de estados obviamente requer e pressupõe a existência de riqueza e, logo, de um interesse “econômico” de ao menos uma pessoa em produzir essa riqueza em primeiro lugar (enquanto o contrário não é verdade). Mas, ao mesmo tempo, quanto mais pronunciados e bem-sucedidos forem os interesses políticos, tanto mais destrutivo isso será dos interesses econômicos. A escola da escolha pública está perfeitamente correta em apontar que todos – um empregado do governo não menos que um empregado de uma firma econômica – normalmente preferem uma renda maior a uma menor e que esse interesse explica o porquê de que não se deveria esperar do governo uma menor tendência ao crescimento do que de qualquer outro empreendimento. Entretanto, essa descoberta – de que políticos e burocratas não são mais altruísticos ou interessados no bem público do que pessoas em outros caminhos da vida – é dificilmente nova, mesmo que tenha sido às vezes ignorada. Porém, o que é novo na escolha pública é a inferência derivada desse conhecimento correto, a de que, então, todas as instituições deveriam, portanto, ser consideradas como um resultado de forças motivacionais idênticas e ser tratadas analiticamente da mesma forma – tal inferência é falsa a ponto de ser ridícula. A despeito das crenças subjetivas das pessoas, integrar ações à estrutura institucional de um estado ou de um empreendimento econômico “normal” e buscar o interesse de maximização da riqueza aqui ou lá irá de fato produzir resultados categoricamente diferentes. Para uma exposição representativa da escola da escolha pública acerca da ideia do “estado como uma firma” e da “troca política” como essencialmente a mesma coisa que troca econômica, veja James Buchanan e Gordon Tullock, The Calculus of Consent (Ann Arbor: Universityof Michigan Press, 1965), p. 19; para uma crítica dessa ideia e a diferença fundamental entre meios políticos e econômicos, veja Franz Oppenheimer, The State (New York: Vanguard Press, 1914), pp. 24–27; Murray N. Rothbard, Power and Market (Kansas City: Sheed Andrews and McMeel, 1977), cap. 2.

[10] Sobre essa teoria do estado, veja Murray N. Rothbard, For a New Liberty (New York: Macmillan, 1978); The Ethics of Liberty (Atlantic Highlands: Humanities Press, 1982); Hans-Hermann Hoppe, Eigentum, Anarchie und Staat (Opladen: WestdeutscherVerlag, 1987); A Theory of Socialism and Capitalism (Boston: Kluwer, 1989); Anthony de Jasay, The State (Oxford: Blackwell, 1985).

[11] Sobre a confusão semântica espalhada pelo termo “concordância conceitual”, em especial por James Buchanan, veja Hans-Hermann Hoppe, “The Fallacies of the Public Goods Theory and the Production of Security,” Journal of Libertarian Studies 9, no. 1 (1989); supra, cap. 1.

[12] Veja Hoppe, Eigentum, Anarchie, und Staat, cap. 5.3; A Theory of Socialismand Capitalism, cap. 8.

[13] Sobre a democratização como um meio de expansão do poder estatal, veja Bertrand de Jouvenel, On Power (New York: Viking Press, 1949), pp. 9–10.

[14] Sobre a tendência inerente ao estado de ir em direção ao objetivo de um monopólio de falsificação irrestrito, veja Murray N. Rothbard, The Mystery of Banking; idem, What Has Government Done to Our Money? (San Rafael, Calif.: Libertarian Publishers, 1985).

[15] Sobre a impossibilidade do surgimento do dinheiro como papel-moeda fiduciário, veja o teorema da regressão: Mises, The Theory of Money and Credit, pp. 97–123; Human Action, pp. 408–10; Rothbard, Man, Economy, and State, vol. I, pp. 231–37.

[16] Sobre a participação entusiasmada da elite bancária na criação do Federal Reserve System, veja Rothbard, Mystery of Banking, caps. XV, XVI.

[17] Sobre a formação da coalizão empresarial-bancária-estatal, veja Gabriel Kolko, The Triumph of Conservatism (Chicago: Free Press, 1967); Railroads and Regulations (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1965); James Weinstein, The Corporate Ideal in the Liberal State (Boston: Beacon Press, 1968); Richard Radosh e Murray N. Rothbard, eds., A New History of Leviathan (New York: Dutton, 1972).

[18] Na tradição marxista, esse estágio de desenvolvimento social é chamado de “capitalismo de monopólios”, “capitalismo financeiro” ou “capitalismo de monopólio estatal”. A parte descritiva da análise marxista é geralmente de valor. Ao trazer à luz os elos financeiros e pessoais entre estado e empresas, eles usualmente pintam uma imagem bem mais realista da ordem econômica presente, se comparados a muitos dos sonhadores “economistas burgueses”. Analiticamente, entretanto, eles entendem quase tudo errado e viram a verdade ao avesso.

A visão pré-marxista correta e tradicional era a do liberalismo laissez-faire radical esposada, por exemplo, por Charles Comte e Charles Dunoyer. De acordo com eles, interesses antagônicos não existem entre capitalistas como donos de fatores de produção e trabalhadores, mas entre, por um lado, os produtores na sociedade, i.e., apropriadores originais, produtores e contratantes, incluindo homens de negócios bem como trabalhadores, e, por outro, aqueles que adquirem riqueza não produtivamente e/ou não contratualmente, i.e, o estado e os grupos privilegiados pelo estado, como senhores feudais. Essa distinção foi confundida primeiramente por Saint-Simon, que fora durante algum tempo influenciado por Comte e Dunoyer e que classificou os homens de negócios do mercado junto de senhores feudais e outros grupos privilegiados pelo estado como exploradores. Marx tomou essa confusão de Saint-Simon e a multiplicou ao tornar apenas os capitalistas em exploradores e todos os trabalhadores em explorados, justificando essa visão por meio de uma teoria ricardiana do valor-trabalho e sua teoria da mais-valia. Essencialmente, essa visão sobre a exploração tem permanecido típica para o marxismo até hoje, apesar da refutação demolidora por Böhm-Bawerk da teoria de Marx da exploração e sua explicação da diferença dos preços dos fatores e dos produtos por meio da preferência temporal (juro). Até hoje, sempre que teóricos marxistas falam do caráter exploratório do capitalismo de monopólio, eles veem a raiz desse problema na existência continuada da propriedade privada dos meios de produção. Mesmo que eles admitam certo grau de independência do aparato estatal em relação à classe dos capitalistas de monopólio (como na versão de “capitalismo de monopólio estatal”), para eles não é o estado que torna possível a exploração capitalista; em vez disso, é o fato de que o estado é uma agência do capitalismo, uma organização que transforma os interesses tacanhos de capitalistas individuais nos interesses de um capitalista universal ideal (o ideelle Gesamtkapitalist), que explica a existência da exploração.

De fato, a verdade é precisamente o oposto: é o estado que por sua própria natureza é uma organização exploradora, e capitalistas podem se engajar em exploração apenas na medida em que eles deixam de ser capitalistas e, em vez disso, juntam forças com o estado. Em lugar de falar de capitalismo de monopólio de estado, então, seria mais apropriado chamar o sistema atual de “socialismo de monopólio financiado pelo estado” ou “socialismo burguês”.

Para estudos marxistas representativos, veja Rudolf Hilferding, Finance Capital (London: Routledge and Kegan Paul, 1981); V.I. Lenin, Imperialism Last Stageof Capitalism (Moscow: Foreign Languages Publishing House, 1947); Paul M.Sweezy, The Theory of Capitalist Development (New York: Monthly ReviewPress, 1942); Paul A. Barane Paul M. Sweezy, Monopoly Capital (New York:Monthly Review Press, 1966); Ernest Mandel, Marxist Economic Theory(London: Merlin, 1962); Late Capitalism (London: New Left Books, 1975);Herbert Meissner, ed., Bürgerliche Ökonomieohne Perspektive(East Berlin:Dietz, 1976); sobre a perversão da análise de classe liberal clássica pelo marxismo, veja Murray N. Rothbard, “Left and Right” em Egalitarianism As a Revolt Against Nature and Other Essays (Washington, D.C.: Libertarian Review Press, 1974); sobre a refutação da teoria marxista da exploração, veja Eugenvon Böhm-Bawerk, Karl Marx and the Close of His System, ed. Paul M. Sweezy,(New York: Augustus M. Kelley, 1948).

[19] Reconhecer a integração profunda dos interesses estatais e aqueles da elite econômica, que é criada pela monopolização do dinheiro e da atividade bancária, não é dizer que não podem surgir conflitos dentro dessa coalizão. Como já fora mencionado antes, o estado é também caracterizado, por exemplo, pela necessidade de democratizar sua constituição. E o processo democrático pode muito bem trazer à superfície sentimentos populistas e igualitários que são opostos ao tratamento favorável dado pelo estado aos bancos e grandes negócios. Entretanto, é precisamente a natureza financeira da conexão bancos-negócios que faz desse acontecimento raro. Pois não apenas isso representaria uma ameaça imediata à elite econômica; também implicaria perdas financeiras severas na renda estatal, mesmo que não ameaçasse a estabilidade do estado enquanto tal. Logo, um poderoso incentivo existe para ambos os lados juntarem forças em filtrar qualquer sentimento desse no processo político antes que se torne largamente ouvido e em garantir, com todos os recursos disponíveis, que o escopo de alternativas políticas admitidas na discussão pública seja restrito de modo tal a excluir sistematicamente qualquer escrutínio de seu esquema conjunto de falsificação.

Sobre isso – apesar dos equívocos característicos da esquerda – veja estudos informativos como os de C. Wright Mills, The Power Elite (New York: 1965); G. William Domhoff, Who Rules America? (New York: 1967); E. E. Schattschneider, The Semi-Sovereign People (New York: Holt 1960); Peter Bachrach e Morton Baratz, Power and Poverty (New York: 1970); C. Offe, Strukturprobleme des Kapitalistischen Staates (Frankfurt/M. Suhrkamp, 1972).

[20] Sobre a relação íntima entre estado e guerra, veja o importante estudo de Ekkehart Krippendorff, Staat and Krieg (Frankfurt/M.: Suhrkamp, 1985); também Charles Tilly, “War Making and State Making as Organized Crime”, em Peter Evans, et al. eds., Bringing the State Back In (Cambridge: Cambridge University Press, 1985); Robert Higgs, Crisis and Leviathan (New York: Oxford University Press, 1987).

[21] O termo “liberal” é aqui e no que se segue usado em seu sentido tradicional europeu e não no sentido atual americano como sinônimo de “socialista” ou “socialdemocrata”.

[22] Um exemplo bem característico dessa conexão entre uma política de desregulamentação interna e agressividade externa aumentada é dado pela administração Reagan.

[23] Sobre isso veja também Hans-Hermann Hoppe, “The Economics and Sociology of Taxation”, em Journal des Economisteset des Etudes Humaines 1, no. 2 (1990); supra cap. 2.

[24] Sobre a importância da “anarquia política” para a origem do capitalismo, veja Jean Baechler, The Origins of Capitalism (New York: St. Martin’s, 1976), cap. 7.

[25] Sobre o imperialismo britânico, veja Lance E. Davis e Robert A. Huttenback, Mammon and the Pursuit of Empire: The Political Economy of British Imperialism 1860–1912 (Cambridge: Cambridge University Press, 1986).

[26] Veja sobre isso e o que se segue E. Krippendorff, Staatand Krieg, pp. 97–116.

[27] Veja a tabela em Ekkehart Krippendorff, Die amerikanische Strategie (Frankfurt/M. Suhrkamp, 1970), pp. 43ff.

[28] Sobre a política externa americana no século XX, veja Leonard P. Liggio, “American Foreign Policy and National Security Management”, em Radosh e Rothbard, A New History of Leviathan; Rothbard, For a New Liberty, cap. 14.

[29] Veja sobre isso Rothbard, Mystery of Banking, pp 230–47; sobre o papel dos Morgans em levar a administração Wilson à guerra, veja em especial Charles Tansill, America Goes to War (Boston: Little, Brown, 1938), caps. II–IV.

[30] Sobre a teoria da paridade de poder de compra, veja Mises, Human Action, pp. 452–58; Rothbard, Man, Economy, and State, pp. 715–22.

[31] Sobre a Lei de Gresham veja Mises, Theory of Money and Credit, pp. 75, 77; Human Action, pp. 78l–83; Rothbard, Power and Market, pp. 29–31.

[32] Sobre o padrão-dólar estabelecido pelo sistema de Bretton Woods, veja Henry Hazlitt, From Bretton Woods to World Inflation (Chicago: Regnery, 1984).

[33] Desde 1971, quando o padrão-ouro foi finalmente suspendido, mais dinheiro foi criado do que já tinha sido acumulado anteriormente por todas as nações do mundo desde o início do tempos.

[34] Sobre a natureza imperialista dessas instituições, veja também Gabriel Kolko, The Politics of War, the World and United States Foreign Policy 1943–1945 (New York: Random House, 1968), pp. 242–340.

[35] Veja Paul A. Baran, Political Economy of Growth (New York: Monthly Review Press, 1957), caps. V–VI.

[36] Veja Hazlitt, From Bretton Woods to World Inflation.

[37] Uma amostra de membros americanos proeminentes da Comissão Trilateral inclui David M. Abshire, conselheiro do Presidente; Frank C. Carlucci, assessor de segurança nacional; J.C. Whitehead, Secretário de Estado; Alan Greenspan, Presidente do Federal Reserve System; Winston Lord, Embaixador para a China; George Bush, Presidente; Paul A. Volcker, Ex-presidente do Federal Reserve System; Alexander Haig, Ex-secretário de Estado; Jean Kirkpatrick, Ex-embaixador para as Nações Unidas; David A. Stockman, Ex-diretor do Escritório de Gestão e Orçamento; Caspar Weinberger, Ex-secretário de Defesa; W. Michael Blumenthal, Ex-secretário do Tesouro; Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de segurança nacional; Harold Brown, Ex-secretário de Defesa; James E. (Jimmy) Carter, Ex-presidente; Richard N. Cooper, Ex-subsecretário de Estado para Assuntos Monetários e Econômicos; Walter Mondale, Ex-vice-presidente; Anthony M. Solomon, Ex-subsecretário do tesouro para Assuntos Monetários; Cyrus Vance, Ex-secretário de Estado; Andrew Young, Ex-embaixador para a Nações Unidas; Lane E. Kirkland, diretor da Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais: Flora Lewis, New York Times; Thomas Johnson, Los Angeles Times; George Will, ABC television and Newsweek.

[38] Veja sobre isso também Jeffrey Tucker, “The Contributions of Menger and Mises to the Foundations of Austrian Monetary Theory Together With One Modern Application”, (manuscript 1988), presented at the 13th annual conference of The Association for Private Enterprise Education, Cleveland, Ohio; and Ron Paul, “The Coming World Monetary Order,” A Special Report from the Ron Paul Investment Letter (1988). Europeus proeminentes explicitamente apoiando a ideia de um Banco Central Europeu, o BCE, e finalmente uma moeda mundial incluem: G. Agnelli, Presidente da FIAT, CT; J. Deflassieux, Presidente do Banco de Compensações Internacionais, CT; G. FitzGerald, Ex-primeiro Ministro da Irlanda, CT; L. Solana, Presidente da Companhia Telefônica Nacional de Espana, CT; G. Thorn, Presidente da Comunidade Europeia e Ex-primeiro Ministro de Luxemburgo, CT; N. Thygesen, Professor de Economia, da Universidade de Copenhaga, CT; U. Agnelli, Vice Presidente da FIAT; E. Balladour, Ministro de Finanças da França; N. Brady, Dillon Read Investments; J. Callaghan, Ex-primeiro Ministro da Grã-Bretanha; K. Carstens, Ex-presidente da Alemanha Ocidental; P. Coffey, Professor de Economia da Universidade de Amsterdã; E. Davignon, Ex-comissário Euopeu; J. Delors, Ex-presidente da Comunidade Europeia; W. Dusenberg, Presidente do Banco de Compensações Internacionais; L. Fabius, Ex-primeiro Ministro da França; J. R. Fourtou, Presidente da Rhone-Poulence; R. d. La Jemere, Ex-diretor do Banque de France; V. Giscard d’Estaing, Ex-presidente da França; Ch. Goodhart, Professor de Atividade Bancária, London School of Economics; P. Guimbretiere, Diretor do Projeto de Unidade Monetária Europeia da Comunidade Europeia; W. Guth, Presidente do Banco da Alemanha; E. Heath, Ex-primeiro Ministro Britânico; M. Kohnstamm, Ex-presidente do Instituto Universidade Europeia, Florence; N. Lawson, Chanceler Britânico do Tesouro; L. M. Leveque, Presidente da Credit Lyonnais; L. Lucchini, Presidente da Confindustria Itália; F. Maude, Ministro Britânico para Assuntos do Consumidor e Corporação; P. Mentre, Chairman of Credit National, France; H. L. Merkle, Presidente da Bosch Gmbh, Alemanha Ocidental; F. Mitterand, Presidente da França; J. Monet, fundador da Comunidade Europeia; P. X. Ortoli, Presidente da Total Oil e Ex-comissário da Comunidade Europeia; D. Rambure, Credit Lyonnais; H. Schmidt, Ex-chanceler da Alemanha Ocidental e Editor da die ZEIT; P. Sheehy, Presidente da BAT Industries; J. Solvay, Presidente da Solvay, Bélgica; H. J. Vogel, Presidente do Partido Social-Democrata da Alemanha; J. Zijlstra, Ex-presidente do Nederlandse Bank.

[39] Jeffrey Tucker do Ludwig von Mises Institute teve uma importante influência em meu entendimento da dinâmica do sistema monetário internacional – por meio de discussões frequentes e concedendo-me acesso à sua próprio pesquisa relacionada. Nem preciso dizer, todas as deficiências são inteiramente minhas.

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