[O mito do experimento socialista bem sucedido da Suécia persiste — apesar de ser contrariado pelos fatos disponíveis. O texto abaixo resume a situação do sistema de saúde sueco por meio de recentes reportagens de jornais. É um retrato deplorável sobre serviços de saúde modernos e altamente tecnológicos que não estão disponíveis quando são necessários, são rigidamente racionados e onde os servidores tentam convencer moribundos a não procurarem atendimento médico e hospitalar.]
O sistema de saúde público da Suécia é muitas vezes usado como exemplo a ser seguido por outros países. Ele é a prova de que é possível que todos tenham acesso a bons serviços de saúde, certo?
Na mídia sueca tem aparecido mais e mais noticias de pessoas que não estão recebendo nenhum atendimento médico. Na verdade, eles não estão recebendo nem mesmo uma ambulância.
Deixe-me dar um exemplo:
“Ajude-me,” dizia repetidamente Emil Linnell de 23 anos nas gravações de sua ligação ao SOS Alarm, serviço de emergência da Suécia, no dia 30 de janeiro…
A transcrição da conversa do enfermeiro com o homem mostra que ele suplicou muitas vezes “Ajude-me” no telefone para o SOS Alarm, mas foi ignorado.
De acordo com a gravação o enfermeiro disse que ele não conseguia entender qual era o problema de Linnell. Ele disse que Linnell estava ‘percorrendo o apartamento’ sem nenhum problema ‘aparente para respirar ou falar’.
Mas Linnell persistiu em dizer que não conseguia respirar.
“Eu sei, mas eu estou sentado aqui ouvindo você. Você agora está respirando normalmente,” disse o enfermeiro.
“Não, eu estou desmaiando! Eu estou desmaiando,” disse ele.
“Respire fundo,” disse o enfermeiro.
“Eu não consigo! Por favor, me ajude! Por favor! Ajude-me,” suplicou Linnell.
Um pouco depois ele disse, “Eu não consigo respirar” de novo.
“Você está respirando normalmente. Eu garanto,” respondeu o enfermeiro.
Então a ligação termina com um chiado seguido por uma colisão. Duas horas depois um vizinho encontrou Linnell morto perto de sua porta aberta.
Nenhuma ambulância foi enviada, e depois foi determinado que Linnell morreu de uma ruptura no baço.
Este não é um evento isolado. Lemos sobre este tipo de coisa o tempo todo:
Uma sueca morreu em um hospital depois que teve que chamar uma ambulância quatro vezes, de acordo com um relatório enviado ao Conselho Nacional de Saúde e Bem-Estar… O serviço de emergência sueco foi recentemente colocado sob revisão pelo conselho de saúde após a morte de um homem que teve seu pedido de ambulância recusado e uma série de outros casos recentes que foram considerados perigosos para o bem estar dos pacientes.
Depois de sofrer um acidente que abriu um ferimento no seu peito de 10 cm, enquanto aparava a crina de seu cavalo, o serviço de emergência sueco negou o envio de uma ambulância, sugerindo que a garota de onze tomasse aspirina…
A mãe ligou para o SOS Alarm, o principal serviço de resposta a emergência do governo, e descreveu que a criança estava tremendo por que estava sentindo muita dor. Ela pediu uma ambulância porque não tinha acesso imediato a um carro.
A enfermeira negou o pedido.
Em vez ela orientou a mãe a limpar o ferimento, aplicar pressão e dar aspirina a sua filha, o que as daria oito horas para chegar ao hospital mais próximo, de acordo com o SvD.
Uma mulher do norte da Suécia morreu depois de quatro ligações ignoradas em um período de quarto dias pedindo que uma ambulância fosse enviada a sua residência em Timrå.
“Ela estava com dificuldades para respirar. Ela foi instruída a ligar para o número de informações do sistema de saúde e lá eles acharam que ela parecia irritada,” disse a mãe da jovem ao Sundsvalls Tidningen.
Após a morte de sua filha, a mãe teve acesso as gravações das conversas de sua filha com o operador do serviço de emergência.
A mãe informou o jornal que os representantes do sistema de saúde a disseram que o primeiro pedido de ambulância de sua filha foi negado porque ela “ainda conseguia se comunicar verbalmente”.
“Isso é totalmente insano. Se você não pode se comunicar verbalmente, você não consegue ligar para uma ambulância,” disse outro parente ao jornal.
Vamos dizer que você consiga uma ambulância. Nesse caso tudo terminará bem, certo? Errado:
Aproximadamente três mil pessoas morrem todo ano na Suécia por causa da deficiência no cuidado dos pacientes, de acordo com dois importantes médicos…
O autor argumenta que erros médicos custam à sociedade sueca entre 60 e 100 bilhões de coroas suecas por ano (US$9.6 – 16 bilhões).
Engkvist e Ljungblad destacam vários casos recentes, incluindo a morte de um recém nascido por overdose de analgésico, dois pacientes idosos que morreram depois que seus exames erroneamente apontaram problemas de estômago quando na verdade eles tinham contaminação sanguínea, assim como o caso de um motorista de ambulância que parou para almoçar ao invés de responder uma chamada.
O paciente, que estava tendo problemas respiratórios, morreu.
“Infelizmente, estes casos são, provavelmente, apenas a ponta do iceberg,” Segundo o autor, que lamenta que casos singulares raramente levam a um amplo debate sobre a segurança dos pacientes, porque demora muito para o Conselho Nacional de Saúde e Bem-Estar (Social Styrelsen) processar os casos.
Considerando-se que 355 suecos morreram em acidentes de carro em 2009, sugere-se que, se você for sueco e sobreviver a um acidente de carro, você deve ficar longe de hospitais
Qual seria a causa para esses casos? O motivo é o racionamento. Mas por que o racionamento? Já que a saúde é grátis, não existem incentivos para as pessoas pensarem no custo do sistema de saúde. Para manter os gastos sob controle, para garantir que os custos estão dentro do orçamento, eles têm que racionar.
Na Suécia, os políticos se gabam do sistema de saúde público. Ele é, supostamente, um dos melhores do mundo. Eles sabem que socialistas como Michael Moore, nos EUA, admiram muito o modelo europeu que a Suécia representa. No entanto, os mesmos políticos fazem o seu melhor para evitar que a população entre nos hospitais. Por quê? Porque mesmo que a saúde seja um “direito” e seja de “graça”, ela custa muito dinheiro.
Então, se você tiver um problema, os políticos irão aconselhá-lo a ligar para um enfermeiro. Por que se preocupar em ir a um hospital se você não precisa de nenhum tratamento, certo?
O enfermeiro agora tem de orientar e diagnosticar pelo telefone. Se você, no entanto, falhar ao descrever seu problema de maneira clara, então você talvez colabore para que o enfermeiro erre no seu diagnóstico (ou de um ente querido). A parte engraçada vem no dia seguinte, quando você ligar para a ambulância — que talvez nunca apareça. E se ela aparecer, ou se de algum outro jeito você conseguir chegar a um hospital, então médicos perplexos lhe dirão que você deveria ter ido ao hospital no primeiro dia. Acredite se quiser. Eles talvez até perguntem: “Por que você não chamou uma ambulância?”
Agora seu estado é muito grave. Você vai resistir? Ninguém sabe.
O direito à saúde não quer dizer que você vai receber algum tratamento. Isso é um mito. Na tentativa imoral de fazer da saúde um “direito”, de torná-lo “grátis” para todos, a verdade é que o sistema de saúde tem se tornado cada vez menos disponível para a população.
Isso não é uma “coincidência”. Essa é a consequência lógica da natureza do sistema de saúde socializado, assim como a escassez de comida, moradia, energia, carros, roupas — assim como qualquer coisa que lembre remotamente a vida humana — é a consequência lógica do socialismo em geral.
Existe uma pequena, porém crescente, minoria que pode superar o problema das filas de espera do sistema de saúde; são aqueles que podem pagar um sistema de saúde privado — além dos impostos que você tem de pagar para o sistema de saúde público.
Enquanto você está deitado, na cama do hospital, sem conseguir dormir, você para e pensa: “Isso não é justo”. Você pagou impostos insanamente altos durante sua vida inteira para ter acesso a este plano de saúde público a que supostamente você tem “direito”. Então você se recorda de alguém lhe dizendo “todos somos iguais perante a morte”. Você, então, começa a se sentir um pouco melhor. Você enfim consegue dormir. Infelizmente os médicos não conseguem lhe acordar no dia seguinte. Os funcionários sobrecarregados do turno da noite não perceberam que seus aparelhos não estavam funcionando direito.
É assim que você quer acabar? No entanto, este pode ser o seu destino. Medicina socializada é, afinal, o ideal de moralidade segundo os esquerdistas. Regulamentações sobre o setor de saúde são apenas um passo nessa direção.
Os esquerdistas se negavam a admitir que um sistema de saúde público levaria ao racionamento. Hoje em dia eles admitem. Mas isso não parece incomodá-los. Ao contrário. Agora, acredite se quiser, o racionamento é umargumento de vendas moral, desde que isso signifique que o acesso ao sistema de saúde — ou, melhor dizendo, a falta dele — será mais igual.
Tradução de Diego Santos
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