Não culpem os emprestadores Subprime!

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Com toda a atual retórica sobre como aqueles que concederam empréstimos para hipotecas subprime se comportaram mal e perigosamente, poucos – para não dizer nenhum – articulistas conhecidos chamaram atenção para um fato: tornou-se impossível evitar um boom monetário criado pelo Fed.

Ao invés disso, opinadores descartam a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos, dizendo que empresários e agentes econômicos podem facilmente detectar “dinheiro falso”.[1]

Afinal de contas, isso já não aconteceu antes?

A classe empresarial globalmente considerada está, por assim dizer, na posição de um mestre-de-obras cuja tarefa é construir uma casa com uma quantidade limitada de materiais de construção. Se o nosso mestre-de-obras superestimar a quantidade disponível, elaborará um projeto para o qual os meios ao seu dispor não são suficientes. Assim, ele superdimensionará as fundações e, só mais tarde, ao prosseguir a construção, perceberá que faltam materiais para terminar a estrutura da casa. É claro que o erro do nosso mestre-de-obras não foi fazer um excesso de investimento, mas empregar inadequadamente os meios que tinha à sua disposição. (Ação Humana, capítulo 20, seção 6).

Muitos articulistas até mesmo ignoram qualquer tentativa de se achar uma explicação para a causa primária de tudo. Por exemplo, alguns deles caracterizam o recente boom hipotecário como sendo simplesmente uma “exuberância irracional”.

(Recentemente, achei uma simples e excelente refutação feita por Gerard Jackson: “Não se pode gastar exuberância.”)

Então, por que homens de negócios escolheriam fazer tal coisa dado que eles já viram e conhecem bem vários ciclos econômicos? Porque, mesmo que esses investidores saibam que o colapso e a recessão virão, não faz sentido recusar fundos enquanto seus concorrentes estão utilizando esses mesmos novos fundos para se expandir!

E por que a população como um todo simplesmente não se recusa a participar desse esquema? Porque o Congresso estabeleceu altos custos de transação (impostos sobre ganhos de capital)[2] e leis para moedas de curso forçado que impedem os cidadãos comuns de usar ativos alternativos no lugar de dinheiro do governo.[3]

Como resultado, os negócios em expansão conseguem acesso a um financiamento barato, de cunho socialista. Esse financiamento ganha seu valor através da diluição do dinheiro existente. (Dinheiro é o meio principal de troca indireta: dinheiro em espécie ou dinheiro eletrônico. O dinheiro representa uma reivindicação imediatasobre bens disponíveis. Todas as outras formas de reivindicações são créditos, não importa o quão “rápido” elas se convertam em dinheiro.)

Mas os verdadeiros aspectos negativos não ocorrem nas expansões e nem nas contrações, mas em seus resultados cumulativos ao longo do tempo.

O “sistema” em vigor oferece àqueles que têm conexões com o Fed uma maneira fácil de se aproveitar do sistema e ganhar dinheiro às custas da sociedade como um todo. Esse processo solidificou-se em 1914, quando banqueiros impuseram criação do Federal Reserve como forma de compensar o estabelecimento de um mercado quase que permanente para a dívida do Tesouro.

Um financista esperto vai contratar veteranos da indústria financeira, aumentar suas operações, e sair às pressas, efetivamente tirando valor dessa indústria e da sociedade em geral. Considerando que se leva algo em torno de 10 a 20 anos para aprender os detalhes intrincados de uma indústria em particular, aqueles que realmente agregam valor são os que mais saem prejudicados, pois não conseguem trocar de indústrias na mesma velocidade dos financistas.

Isso tem profundas implicações morais e éticas sobre uma sociedade justa e honesta. Precisamos de profissionais das finanças que usem seus conhecimentos para tomar decisões corretas de longo prazo, e não de profissionais que apenas se “aproveitam” do sistema (sem mencionar outros efeitos regressivos oriundos do financiamento de agressões governamentais, como guerras). Não apenas a elite monetária pode extrair riquezas da sociedade através de suas conexões políticas (em que políticos servem como corretores ofertando dinheiro de impostos que foi tomado à força), como também pode extrair riqueza adicional sem sequer utilizar o sistema de votação.

Não apenas falta aos homens de negócios o poder para rejeitar “dinheiro falso”, mas eles também se encontram em uma situação sem saída. Se uma empresa não participa do boom, ela perde seu mercado imediatamente. Assim, a tendência é que ela deixe a cautela de lado e entre no negócio enquanto ele está bem.

Mas quão prejudiciais essas expansões e colapsos monetários se tornaram? Verifique o site ml-implode.com. A atual situação se parece muito com a história das ações de Internet após o seu respectivo boom, só que muitas vezes pior. Os Estados Unidos podem estar no limiar de uma mudança catastrófica na riqueza pessoal de sua população inteira.

O uso de dinheiro privado iria anular os efeitos negativos de um ciclo de expansão e contração patrocinado pelo governo, pois os insiders (pessoas informadas, que estão dentro do esquema) não mais poderiam usar o método do “financiamento socializado”. Portadores de títulos poderiam imediatamente rejeitar dinheiro adicional se eles não se sentissem confortáveis com seu “lastro”.

Além do mais, muitas outras qualidades do dinheiro privado iriam beneficiar a sociedade. Por exemplo, duas escolas de pensamento econômico discordam sobre o uso do sistema bancário de reserva fracionária. Uma escola diz que bancos que praticam empréstimos lastreados em reserva fracionária estão cometendo fraude porque todos os depositantes não podem resgatar seus fundos que, em teoria, estão “imediatamente disponíveis”. A outra escola argumenta que os depositantes conhecem os riscos (ou talvez os bancos divulguem esses riscos) e que esses depositantes podem ter que aturar que os ativos sofram uma marcação a mercado (mark-to-market)[4] ao invés de simplesmente receberem seus depósitos ao par.

Em um mercado de dinheiro privado, essa discórdia não precisa de uma resolução. Aqueles que estão confortáveis com o risco de uma marcação a mercado podem fazer depósitos ou utilizar o dinheiro emitido por instituições cujas práticas melhor se encaixem em seus gostos. O dinheiro privado também forneceria um maior lubrificante para o comércio, pois minimizaria os custos de transação enquanto otimizaria os lucros de longo prazo do emissor – quer isso signifique que o emissor teria que provocar um decrescimento suave dos preços, ou um leve aumento dos preços, ou preços estáveis, praticar um sistema bancário de reserva fracionária (ou não), ou fazer emissão para negócios específicos, ou lastrear seu dinheiro em uma “cesta de commodities”, ou alguma combinação que ainda não foi pensada.

O mercado escolheu o dinheiro privado elementar, o ouro e a prata, por essas razões: desde então já era muito improvável que o ouro e a prata algum dia se tornariam algo sem valor, e nenhuma entidade tinha o controle monopolístico sobre sua emissão. Entretanto, nem ouro e nem prata são dinheiro hoje porque nenhum dos dois pode ser usado para troca indireta. (As autoridades obrigaram os cidadãos americanos a sair do ouro durante a depressão de 1929 e a inflação dos anos 1970).

Apenas ver os verdadeiros monopolistas se contorcendo de sofrimento ao serem confrontados com a concorrência do dinheiro privado já traria grande satisfação. E a verdadeira delícia: quando o atual financiamento inflacionário do governo desaparecer, repentinamente a destruição do capital causada pela protelação dos custos dos “serviços do governo” se tornaria insustentável e talvez forçaria mudanças políticas. Não teríamos que pagar três vezes, ou mais, por escolas decentes para nossos filhos, e nos sentiríamos mais satisfeitos ao saber que eles não passarão suas vidas pagando por toda a dívida pelo governo.

Em suma, prova-se ser muito fácil refutar todos os tipos de absurdos professorais – recentes e antigos – que alegam que a “Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos” não descreve o mundo real. Não apenas ela descreve o mundo real, como também faz com que os austríacos sejam os únicos a ter a cura para o problema.


[1] Dinheiro impresso pelo Banco Central com a exclusiva intenção de baixar as taxas de juros. [N. do T.]

[2] Se as pessoas investirem em ouro, haverá a incisão de imposto sobre vendas e sobre ganhos de capital, o que desestimula o investimento. [N. do T.]

[3] O governo proíbe o uso de outros ativos – por exemplo, o ouro e a prata – como moeda paralela ao dólar, em um claro desrespeito à Constituição, que diz que apenas ouro e prata devem ser moeda de curso forçado. [N. do T.]

[4] Fazer a marcação a mercado (Mark-to-Market) consiste em avaliar um ativo ao seu valor de mercado, tal como expresso pela sua cotação mais recente. A ideia é que cada ativo seja avaliado em um valor que corresponda ao que se imagina que seria possível realizar se se quisesse liquidar essa posição no mercado. [N. do T.]

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