As eleições gerais estão chegando, e já é possível ter a certeza absoluta de um resultado: sociopatas serão eleitos.
Após toda a experiência democrática, o eleitorado já deveria reconhecer que, na melhor das hipóteses, elegerão incompetentes (e isso é tudo pelo que podemos torcer); na pior, escroques.
No entanto, por piores que sejam os resultados, e por piores que sejam as consequências destes resultados, aquele ingênuo e constante mantra pró-democracia seguirá impávido: “É só elegermos as pessoas certas”.
O único problema é que as “pessoas certas” não estão (e nunca estarão) concorrendo a cargos públicos. Em vez disso, continuaremos tendo de aturar “o político comum que não apenas é um imbecil”, como escreveu H.L. Mencken, “mas que também é dissimulado, sinistro, depravado, patife e desonesto”.
Mencken foi certeiro ao dizer que, para ser eleito e continuar sendo eleito para qualquer cargo público, é necessária a total suspensão de toda e qualquer ética ou bom senso que uma pessoa eventualmente possua. Mesmo aqueles que começaram sua carreira política com a melhor das intenções, e que possuem capacidades mensuráveis que o tornariam bem-sucedido em qualquer campo, rapidamente percebem que as habilidades necessárias para ser bem sucedido na política não são exatamente aquelas requeridas fora da política.
Lew Rockwell foi certeiro ao dizer que, ao passo que a concorrência no mercado leva a um aprimoramento da qualidade do produto e do serviço, a concorrência na política leva exatamente ao oposto:
Na política, as pressões competitivas geram resultados exatamente opostos. A qualidade está sempre em constante declínio. As únicas melhorias ocorrem nos procedimentos que envolvem más ações: mentir, fraudar, iludir, manipular, trapacear, roubar e até matar. Os preços dos serviços políticos estão constantemente aumentando, seja nos impostos que pagamos ou nas propinas dadas em troca de proteção (também conhecidas como ‘contribuições de campanha’). Não há obsolescência, programada ou espontânea. E, como Hayek famosamente argumentou, na política, os piores sempre chegam ao topo. E, o que é pior, não há prestação de contas e nem imputabilidade: quanto mais alto o cargo, maior a transgressão criminosa da qual o sujeito pode se safar.
Políticos claramente não querem se eleger por causa de dinheiro. Quase todos eles já são muito ricos, qualquer que seja o padrão de mensuração. Pesquise o patrimônio dos senadores e dos deputados do seu estado. Sendo assim, fica a pergunta: o que faz com que os ricos e bem-sucedidos queiram se eleger? Em seu livro The Pursuit of Attention: Power and Ego in Everyday Life (A Busca pela Atenção: Poder e Ego na Vida Cotidiana), o sociólogoCharles Derber diz que os políticos desde “Cesar e Napoleão têm sido conduzidos por egos presunçosos e por uma insaciável fome pela adulação pública”.
Já o trabalho do psicólogo Abraham Maslow fornece um entendimento dos motivos que levam as pessoas a querer cargos públicos. Maslow é famoso por ter criado a teoria da “hierarquia das necessidades”, a qual qualquer estudante de psicologia, administração ou publicidade deve conhecer. A teoria é geralmente apresentada visualmente como uma pirâmide, com as mais básicas necessidades humanas — necessidades fisiológicas — retratadas na base da pirâmide.
A hierarquia de necessidades humanas de Maslow
A constatação de Maslow era a de que as necessidades humanas básicas — sede, fome e ar — devem ser saciadas antes que os humanos possam fazer algo ou se preocupar com qualquer outra coisa.
A segunda fatia da pirâmide, logo acima das necessidades fisiológicas, é a da necessidade de segurança. Após satisfazer sua sede e sua fome, os seres humanos se preocupam com a continuidade de sua sobrevivência. Se um homem está continuamente preocupado em ser devorado por um tigre, ele não irá se preocupar muito com outras coisas.
A terceira camada da pirâmide de Maslow é a da necessidade de integração, a qual está logo acima da necessidade de segurança. Após a satisfação das duas necessidades mais baixas — fisiológica e segurança —, a pessoa busca o amor, a amizade, a companhia e a comunidade. Tão logo essas necessidades são satisfeitas, os humanos, segundo Maslow, saem em busca da necessidade de estima.
Essas primeiras quatro necessidades eram consideradas necessidades “deficitárias”. Se uma pessoa não as possui, há uma motivação para suprir esta carência. Mas tão logo tal necessidade é saciada, a motivação diminui. Isso faz com que essas necessidades sejam diferentes das necessidades que estão no topo da pirâmide de Maslow, que representam a necessidade da realização pessoal. A necessidade da realização pessoal nunca é saciada, e Maslow se referiu a ela como uma necessidade “do ser”, ou a necessidade de ser tudo aquilo que você pode ser.
Sendo assim, os seres humanos continuamente se esforçam para satisfazer suas necessidades, e à medida que as necessidades mais básicas vão sendo saciadas, a pirâmide vai sendo escalada, por assim dizer, até que necessidades de nível mais alto também possam ser satisfeitas. Obviamente, seres humanos distintos irão alcançar níveis distintos de realização, e a teoria de Maslow é que somente 2% dos humanos se tornam auto-realizados.
Maslow estudou algumas pessoas famosas em conjunto com outras não tão famosas, e criou uma lista contendo características de personalidade, as quais eram consistentes com pessoas que ele considerava serem auto-realizadas.
Além de serem criativas e inventivas, as pessoas auto-realizadas possuem uma forte ética, um senso de humor auto-depreciativo, são humildes, respeitam os outros, são resistentes a um processo de enculturação, gostam de autonomia, e preferem a solidão a manter relações vazias e rasas com outras pessoas. Elas acreditam que os fins não necessariamente justificam os meios, e que os meios podem ser os fins em si próprios.
Rapidamente se percebe que os indivíduos auto-realizados de Maslow não têm absolutamente nada em comum com os políticos de uma democracia. No entanto, logo abaixo do topo da pirâmide da hierarquia de necessidades está a necessidade de estima. Maslow descreveu dois tipos de necessidade de estima: uma necessidade mais baixa e uma mais alta.
Ao passo que a mais alta forma de estima é a busca por atributos saudáveis, como liberdade, independência, confiança e conquista, a forma mais baixa “é a necessidade do respeito dos outros, a necessidade de status, de fama, de glória, de reconhecimento, de atenção, de reputação, de apreço, e até mesmo de dominância”.
“A versão negativa dessas necessidades é a baixa autoestima e os complexos de inferioridade”, explica o doutor C. George Boeree, um especialista no trabalho de Maslow. “Maslow sentia que Alfred Adler [psicólogo austríaco que criou o conceito de complexo de inferioridade] de fato havia descoberto algo quando propôs que estas eram as raízes de vários, se não da maioria, de nossos problemas psicológicos.”
Hoje, vemos essas características presentes em praticamente todos os políticos de uma democracia: a constante necessidade de status e reconhecimento. Os fins — a superação de um complexo de inferioridade — justificam quaisquer meios maquiavélicos.
O fato de a democracia permitir que toda e qualquer pessoa possa se eleger — seja por meio de ligações poderosas, ou por ser rica, ou por ter uma personalidade popular — faz com que tal sistema, bem como as posições de liderança oferecidas, se tornem um chamariz de sociopatas. O indivíduo auto-realizado de Maslow não tem interesse na política. Em contraste, aqueles que sofrem continuamente a necessidade de estima são atraídos pela política como moscas a uma lata de lixo.
A capital nacional ser uma podridão moral se deve ao fato de que uma certa classe de pessoas — sociopatas — está no total controle das grandes instituições. Suas crenças e atitudes são explicitadas por meio do tecido econômico, político, intelectual e psicológico/espiritual do país.
O filósofo religioso Santo Agostinho era pessimista quanto à natureza humana, e acreditava que os seres humanos não eram propensos ao bem, à honradez e à probidade, mas sim a fazer o mal. “Por causa do pecado de Adão, a degradação, o orgulho, a vaidade e a libido dominandi — a avidez pela dominação — incitam as pessoas a fazerem guerras e a cometer todos os tipos de violência”, explica Mark Mattox em Saint Augustine and the Theory of Just War.
A libido dominandi é a característica da natureza humana que atrai os sociopatas para o governo e suas agências, pois é assim que eles poderão exercitar sua lascívia de dominar e controlar cada aspecto da vida alheia. Essa é a essência da política, é o que impulsiona e excita todos os políticos. A cidade dos homens é governada pela luxúria do poder, e o poder tem esta capacidade de embevecer os meros mortais. Não é de se estranhar, portanto, que até mesmo pessoas geralmente boas se corrompam e adquiram propensões ditatoriais tão logo entrem para o estado.
Aqueles que querem ser eleitos e que querem se manter no poder sendo seguidamente reeleitos têm de estar preparados para quebrar todas regras morais que conhecem, se os fins assim justificarem.
Como já havia vaticinado Mencken, já se tornou “uma impossibilidade psíquica um cavalheiro se tornar membro do governo”. A democracia possibilita que os demagogos, “em virtude de seu talento para o absurdo e para as tolices”, insuflem a imatura imaginação da massa.
E conclui:
Os políticos raramente, se nunca, são eleitos apenas por seus méritos — pelo menos, não em uma democracia. Algumas vezes, sem dúvida, isso acontece, mas apenas por algum tipo de milagre. Eles normalmente são escolhidos por razões bastante distintas, a principal delas sendo simplesmente o poder de impressionar e encantar os intelectualmente destituídos.
Será que algum deles iria se arriscar a dizer a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade sobre a real situação do país, tanto em questões internas quanto externas? Algum deles irá se abster de fazer promessas que ele sabe que não poderá cumprir — que nenhum ser humano poderia cumprir? Irá algum deles pronunciar uma palavra, por mais óbvia que seja, que possa alarmar ou alienar a imensa turba de idiotas que se aglomeram ao redor da possibilidade de usufruir uma teta que se torna cada vez mais fina? Isso pode acontecer nas primeiras semanas do período eleitoral, mas não após a disputa já ter ganhado atenção nacional e a briga já estiver séria.
Eles todos irão prometer para cada homem, mulher e criança no país tudo aquilo que estes quiserem ouvir. Eles todos sairão percorrendo o país à procura de chances de tornar os ricos pobres, de remediar o irremediável, de socorrer o insocorrível, e de organizar o inorganizável. Todos eles irão curar as imperfeições apenas proferindo palavras contra elas, e irão resolver todos os problemas com dinheiro que ninguém mais precisará ganhar, pois já estaremos vivendo na abundância. Quando um deles disser que dois mais dois são cinco, algum outro irá provar que são seis, sete e meio, dez, vinte, n.
Em suma, eles irão se despir de sua aparência sensata, cândida e sincera e passarão a ser simplesmente candidatos a cargos públicos, empenhados apenas em capturar votos. Nessa altura, todos eles já saberão — supondo que até então não sabiam — que, em uma democracia, os votos são conseguidos não ao se falar coisas sensatas, mas sim ao se falar besteiras; e todos eles dedicar-se-ão a essa faina com vigoroso entusiasmo. A maioria deles, antes do alvoroço estar terminado, passará realmente a acreditar em sua própria honestidade. O vencedor será aquele que prometer mais com a menor possibilidade de cumprir o mínimo.