Patinadores de gelo que gostam de praticar seu esporte em lagos ou em grandes lagoas sabem desde cedo que não devem patinar sobre o gelo fino. O som de gelo rachando é um sinal de que eles devem começar a se dirigir rapidamente para a terra firme.
Na sexta-feira, 5 de agosto de 2011, o mundo ouviu o gelo rachando. Ao final daquele dia, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou a classificação da dívida do governo americano em um ponto: de AAA para AA+.
A decisão do Congresso americano, no dia anterior, de elevar o teto da dívida do governo em US$ 2 trilhões foi uma verdadeira fissura no gelo. A Standard & Poor’s apenas tornou a rachadura semi-oficial. “Sim, esse barulho ruidoso que vocês ouviram na terça-feira é realmente o que vocês estão pensando.”
E isso não foi tudo. O Banco Central Europeu (BCE), na sexta-feira passada, anunciou que iria fazer mais uma reunião de fim de semana para lidar com mais uma crise no mercado de títulos da dívida dos governos europeus. Desta vez, os papeis da dívida emitidos pelos governos da Itália e da Espanha estavam sob intenso ataque no mercado de títulos. Os investidores estavam exigindo juros maiores.
O som da rachadura foi intenso.
No domingo, o Banco Central Europeu anunciou que irá começar a comprar diretamente títulos emitidos pelos tecnicamente insolventes governos da Itália e da Espanha. Em outras palavras, o BCE capitulou. Ele faz a mesma coisa em relação à dívida do governo grego. Pelo que foi acordado no Tratado de Maastricht e no Tratado de Lisboa, ele não pode fazer isso. Mas quem liga para acordos firmados por governos? Você não pode fazer omeletes sem quebrar alguns ovos. Ou sem que a galinha os tenha posto.
O ingrediente essencial dessas omeletes é a moeda fiduciária de curso forçado. O BCE irá criar o dinheiro necessário para comprar esses títulos da dívida. E há uma enormidade de títulos a serem comprados. A Itália tem aproximadamente 2 trilhões de euros em título. A Espanha, por volta de 1 trilhão.
Itália e Espanha são devedoras monumentais. Elas não são devedoras insignificantes como a Grécia. Há uma quantia fabulosa de dinheiro investida nos títulos da dívida destes dois PIIGS. Os banqueiros da Europa pensaram: “Nenhuma nação ocidental jamais dará um calote”. Ato contínuo, eles vorazmente compraram esses papeis da dívida. Agora estão na iminência de sofrer prejuízos de 50% ou mais com esses investimentos ruins. Os grandes bancos não têm nenhuma intenção de aceitar esse prejuízo. E por que deveriam? O BCE está ali pronto para socorrê-los. Socorrer os grandes bancos é a tarefa #1 de todos os bancos centrais. Eles foram criados para isso. E também para financiar dívidas dos governos. Não há nenhum motivo para os grandes bancos se preocuparem.
O BCE não precisa comprar toda essa dívida. O simples fato de ele deixar claro que está sempre em prontidão para comprar parte da dívida já é o suficiente para acalmar temporariamente os mercados e, com isso, manter os juros desses títulos abaixo dos 6% que estavam sendo obrigados a pagar durante a semana passada. Mas este é apenas mais um caso de postergar o inevitável, de apenas reduzir a velocidade quando já se está na estrada da insolvência.
O BCE, obviamente, tem de fazer alguma cena. E o que ele faz são apenas alguns protestos superficiais acerca de suas decisões. Seus lábios dizem “não, não”, mas seus olhos dizem “sim, sim”. O BCE emite declarações sobre sua responsabilidade de manter a inflação de preços baixa e, em seguida, ele cria dinheiro para comprar títulos de países caloteiros.
Nota: todos os países são caloteiros. Mas alguns são mais caloteiros que outros.
Os gorgolejos de Merkel
Nesse sentido, o BCE é igual à primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. Ela também faz declarações zangadas do tipo “não haverá mais socorros”. Mas sempre que ocorre uma grande crise financeira em decorrência de uma ameaça de calote proferida por um berrante membro do PIIGS, ela, Sarkozy e demais asseclas se reúnem em um fim de semana e propõem uma nova rodada de socorro. Gosto de pensar nas declarações preliminares de Merkel como gorgolejos. Por que o som de um gorgolejo? Porque ela sempre engasga com as palavras que logo em seguida será obrigada a engolir.
Merkel faz barulhos de gorgolejo para pacificar os eleitores alemães. Os eleitores alemães têm uma vaga noção de que são eles que acabarão tendo de pagar pelos erros dos banqueiros alemães, dos banqueiros franceses, e de todos os outros banqueiros. E estão corretos. São eles que pagarão.
O que os eleitores alemães ainda não entenderam é que os banqueiros sempre souberam desde o início que haveria pacotes de socorro em caso de dificuldades. Os bancos espertamente perceberam que seriam socorridos. Eles emprestaram dinheiro aos PIIGS. Era um dinheiro muito fácil. Não havia risco. Mas, você diria, havia sim algum risco. Sim, sim — mas não para os grandes bancos. O BCE, o FMI e outras agências de socorro aceitariam intervir para corrigir as consequências das decisões ruins dos bancos.
Exatamente como fizeram o Banco Central americano e o Tesouro em setembro e outubro de 2008. Eles saíram comprando as dívidas podres em posse dos maiores bancos comerciais americanos, tudo ao seu valor de face.
O que os eleitores farão em relação a tudo isso? Nada que traga grandes consequências. Poucos eleitores entendem o que está acontecendo, mas estes não têm meios para protestar efetivamente. Os legislativos seguem dando continuidade ao processo de resgate. Não há nenhum projeto de corte de gastos. Não há nenhuma intenção de se reduzir as dívidas dos governos. Nunca houve.
Os eleitores alemães não têm como impor restrições ao BCE. O comitê alemão do BCE se limita a fazer gorgolejos. Eles votam ‘não’ em todas as reuniões do BCE, já sabendo que seus votos são irrelevantes para o resultado final. Eles não têm votos suficientes na hierarquia do BCE para interromper sua política de comprar títulos dos PIIGS. Eles apenas se limitam a acompanhar a maré e a fingir alguma insatisfação. Tudo cena para mostrar ao eleitorado alemão o quanto eles são atuantes.
Só há uma solução para a Alemanha: retirar-se do Sistema Monetário Europeu (SME). A Alemanha pode abandonar o euro. O país possui uma posição econômica forte o bastante para fazer isso. O SME permite que as nações tenham seus próprios bancos centrais — que são meras sucursais do BCE —, mas não suas próprias moedas. A Alemanha pode se separar. Mas isso irá gerar um revertério político doméstico de proporções monumentais. E isso não é algo provável no futuro próximo.
Os planejadores da Nova Ordem Mundial sempre planejaram utilizar a Europa como primeiro passo: o modelo de todas as coisas boas que uma integração econômica centralmente planejada e baseada em tratados pode atingir.
Mas esse grande experimento está se desfazendo perante nossos olhos. Os planejadores da Nova Ordem Mundial não conseguiriam criar uma Nova Ordem Mundial europeia de uma só vez. Eles sabiam disso. Eles foram fazendo isso pouco a pouco, um tratado de cada vez, durante 50 anos, começando pelo Tratado de Paris em 1951. Depois veio uma série de tratados assinados em Roma.
O problema é este: eles não conseguiram os votos necessários para fundir todos os bancos centrais em um só. Os outros ainda existem como fantoches, representantes sem autoridade. Mas existem. Os eurocratas também não conseguiram criar uma agência fiscal comum que controlaria os déficits de cada nação. Portanto, o sistema possui um ponto fraco: parlamentos nacionais que podem incorrer em déficits operando sob a chancela de um banco central comum cujo principal propósito é extra-oficial — socorrer grandes bancos.
Austeridade (para os governos)
Este sistema está agora visivelmente se desintegrando. Líderes políticos do norte da Europa estão pedindo aos PIIGS que adotem “austeridade” econômica — redução dos déficits dos governos. A Irlanda curvou-se. Prometeu reduzir seu déficit. Mas fez isso somente porque o partido político (Fianna Fáil) que estava no poder no fim de 2010 concordou com termos impostos pelo FMI para receber novos empréstimos — empréstimos esses que os líderes desse partido, apenas uma semana antes, haviam negado ser necessários. O eleitorado irlandês não teve voz. Alguns meses mais tarde, nas eleições, eles despojaram esse partido do poder. Mas já era tarde demais.
Como resposta a isso tudo, o jornal Irish Times publicou a charge política mais acurada e mais obscena que já vi ser publicada em um jornal da grande mídia. Mas os protestos se limitaram a apenas isso: protestos simbólicos.
Por que o governo da Irlanda se curvou? Porque ele já estava no limite. Ele já havia estatizado seus bancos e assumido suas dívidas. E agora os bancos estavam prestes a quebrar. O Irish Times descreveu o dilema:
O ministro das finanças Brian Lenihan disse que o socorro era necessário porque os bancos irlandeses haviam se tornado completamente dependentes de empréstimos concedidos pelo Banco Central Europeu, e, assim como o governo, correm o grande risco de ficarem de fora do mercado internacional de crédito por pelo menos um ano.
Ele disse que os seis bancos da Irlanda, cinco dos quais já estão nacionalizados ou estão parcialmente sob o controle do estado, teriam seu tamanho reduzido, seriam fundidos e possivelmente vendidos.
“Por causa dos grandes riscos que os bancos irlandeses assumiram no início desta década, eles se tornaram um risco enorme não apenas para este país como também para a zona do euro como um todo”, disse ele.
Os bancos irlandeses investiram agressivamente em um desenfreado mercado imobiliário aqui na Irlanda e lá fora. Após a crise do crédito de 2008 ter feito com que os preços dos imóveis entrasse em queda livre, o governo tentou impedir que os bancos quebrassem assumindo o controle de todas as suas dívidas. Essa promessa sem precedentes — feita para manter a confiança dos investidores no país — não pode ser mantida sem um pacote de socorros para o governo, como o próprio acabou finalmente sendo forçado a admitir.
Isso soa familiar? Em todo o ocidente, os bancos concederam empréstimos para atividades de alto risco. O mercado imobiliário americano e europeu, de 2001 a 2007, foi totalmente aditivado pela criação de moeda fiduciária pelos bancos centrais e pelo sistema bancário de reservas fracionárias. Mas agora aprendemos que as dívidas de determinados governos são apenas marginalmente melhores do que os empréstimos ruins concedidos ao mercado imobiliário. E esses empréstimos ainda têm de ter seu valor contábil reduzido pelos bancos. Se isso ocorrer, o capital dos bancos será reduzido, podendo levar a uma quebradeira generalizada.
O aumento dos juros e os credores dos PIIGS
Esse risco de insolvência governamental é muito pior para os bancos. Por quê? Porque embora os governos possam assumir e esconder os empréstimos ruins feitos pelos bancos, eles não podem esconder sua própria e crescente insolvência. O mercado de crédito continua aumentando os juros que os emprestadores estão dispostos a aceitar. E os governos têm de pagar esses juros cobrados, o que está comendo seus orçamentos.
Os eleitores dos PIIGS podem ir às ruas protestar contra cortes no orçamento e contra aumentos de impostos. Mas isso não altera o fato de que emprestadores privados não mais estão dispostos a emprestar dinheiro a esses governos a juros baixos. Os protestos, na verdade, acabam servindo para persuadir os emprestadores de que determinados países dos PIIGS possuem uma classificação de crédito ainda pior. Consequentemente, os emprestadores elevam os juros novamente.
As únicas saídas são estas: (1) equilibrar o orçamento, (2) encontrar emprestadores que não estejam preocupados com riscos.
Os governos dos PIIGS precisam de uma desculpa para poder cortar gastos assistencialistas. Quando o BCE ou o FMI emprestam dinheiro e impõem condições, os políticos podem culpar estes emprestadores insensíveis. Essa estratégia foi tentada pelo último governo irlandês e não deu certo. Ele caiu. Mas isso de nada adiantou para os irlandeses, pois o novo governo eleito também aceitou docilmente os termos dos empréstimos.
Os PIIGS podem, é claro, pegar esse dinheiro que lhes foi emprestado e em seguida se recusar a obedecer aos termos impostos. Se um governo não fizer isso — ou seja, se ele docilmente aceitar todos os termos impostos —, ele pode ser despejado nas próximas eleições. Porém, como os irlandeses descobriram, isso não muda nada. O novo governo está obedecendo direitinho aos termos impostos pelo FMI.
Em algum momento, os eleitores de algum país dos PIIGS irão despojar o governo vigente e substituí-lo por um governo que irá enganar o FMI e o BCE. Esse novo governo não irá cortar gastos. Mas aí os juros sobre os empréstimos para esse governo irão subir acentuadamente. O governo terá então de se decidir entre: (1) cortar gastos assistencialistas para poder pagar os juros ou (2) dar um calote.
Há uma terceira opção: sair do Sistema Monetário Europeu. Colocar seu banco central doméstico no controle da situação. Dizer a ele para comprar os títulos da dívida do país. Em outras palavras, esse governo estará agora livre para inflacionar. Ele dará o calote na sua dívida por meio da inflação monetária.
Os eleitores europeus estão paralisados
Os eurocratas dizem continuamente que isso não irá ocorrer. Mas é claro que irá ocorrer. Os políticos, alguma hora, terão de atender aos apelos de seus eleitores, que sempre querem benesses de seus governos. Mas os eleitores não obterão benesses; eles obterão apenas dinheiro desvalorizado. Mas tal situação tem se revelado bastante aceitável para a maioria dos eleitores ocidentais desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Sim, os eleitores alemães estão dispostos a protestar contra a inflação, pois, dentre os europeus, são os únicos que se acostumaram com uma inflação de preços baixa. Ademais, a Alemanha continua sendo uma nação exportadora. Sua economia está se saindo bem dentro da União Europeia. Mas isso gera um problema. Para que esse arranjo continue funcionando, o país tem de socorrer os PIIGS por meio de subsídios governamentais diretos. O país também tem de concordar com o BCE e apoiá-lo quando ele decide imprimir dinheiro para comprar títulos da dívida dos PIIGS. Os alemães podem não gostar desse arranjo, mas a única maneira de sair dele é impedindo o seu governo de conceder pacotes de socorro a outros governos. E, para fazer isso, seria necessário retirar a Alemanha do Sistema Monetário Europeu.
Ato contínuo, a Alemanha teria de lidar com dois enormes problemas. Primeiro, sua nova moeda adotada iria se valorizar em relação ao euro. Isso iria reduzir as exportações alemãs. Os economistas defensores do setor exportador (leia-se mercantilistas) começariam a gritaria em prol de uma desvalorização da moeda. O lobby da indústria de exportação sempre é bem sucedido politicamente em países que apresentam superávit na balança comercial. O mercantilismo é ainda uma grande força política em países com superávit no balanço de pagamentos. “Não matemos a galinha dos ovos de ouro!”
O segundo problema seria o arrocho sobre os bancos alemães. Esses bancos emprestaram bilhões de euros aos PIIGS. Caso estes países quitem seus empréstimos — algo bastante improvável —, eles o farão em euros. Porém, o euro estará desvalorizado em relação ao recém-ressuscitado marco alemão. Logo, mesmo que haja algum pagamento de juros sobre os empréstimos concedidos pelos bancos alemães, tais pagamentos serão feitos em moeda depreciada. Os bancos sofrerão prejuízos em seus balancetes. Seu capital será reduzido. Eles emprestarão menos para os alemães. Os juros subirão. A economia entrará em recessão.
Os eleitores ocidentais votaram por em estado assistencialista. A maioria está viciada em programas de transferência de renda. Eles realmente acreditam que, se o governo adotar um plano de austeridade — entrando em uma dieta fiscal —, isso irá causar uma recessão. Logo, eles estão determinados a manter vivo o estado assistencialista. Porém, esse arranjo está em inexorável marcha rumo ao colapso. Por quê? Porque o estado assistencialista sempre dependeu da capacidade de seus governos se endividarem a juros baixos.
Um pesadelo keynesiano
Economistas keynesianos sempre basearam todos os seus argumentos em uma suposição: “empréstimos concedidos ao governo são seguros”. Essa era a visão de Keynes, afirmada obscuramente em seu A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936).
Eis a lógica keynesiana: Emprestadores subitamente ficam com receio de emprestar. Isso gera redução no consumo. A economia entra em recessão e permanece em recessão. Esse é o keynesianismo resumido.
Quer mais? Aqui vai mais. Emprestadores querem segurança. Eles são receosos de emprestar para mutuários privados, que podem dar calote. Assim, eles preferem emprestar para governos. O governo, por sua vez, utilizará esse dinheiro para custear vários projetos que o livre mercado não quis empreender por julgá-los dispendiosos e geradores de prejuízo. Isso faz com que a economia volte a crescer.
Conceitualmente, isso é totalmente parvo. Suponho que você consiga ver o porquê. Emprestadores inevitavelmente terão de colocar seu dinheiro em algum lugar, a menos que gastem tudo consumindo — algo que os economistas keynesianos também consideram uma escolha excelente. Emprestadores que possuem dinheiro suficiente para afetar a economia não guardam dinheiro vivo dentro da gaveta ou debaixo do colchão. Eles colocam em bancos ou em fundos de investimento. Se esse dinheiro não for emprestado para o governo gastá-lo em algum projeto centralmente planejado ou comprando de votos, ele inevitavelmente irá para algum outro investimento. Isso deveria ser óbvio para qualquer pessoa que tenha a mais mínima noção de como funciona o sistema financeiro.
É por isso que o keynesianismo é conceitualmente obtuso. Entretanto, a maioria dos economistas com Ph.D. se recusam, por motivos profissionais, a enxergar isso. Eles não leram o livro de W.H. Hutt, The Theory of Idle Resources (1939).
Essa crucial suposição — “emprestar para o governo é quase risco zero” — está finalmente caindo em descrédito. E está senda desacreditada justamente pelas ações dos políticos. Eles são incapazes de manter o orçamento de seus governos sob controle.
É por isso que os economistas keynesianos ficaram apopléticos com o rebaixamento da classificação de risco dos títulos da dívida americana. Eles também ficaram enfurecidos com o fato de que a sagacidade do BCE ao decidir ajudar diretamente a Itália e a Espanha esteja sendo questionada. A suposição keynesiana sempre foi a de que emprestadores deveriam investir dinheiro em títulos do governo. O mercado de títulos do governo é a base de todas as teorias keynesianas sobre gastos contracíclicos dos governos.
Em períodos de expansão econômica, jamais ouvimos keynesianos declararem em uníssono que este é o momento de o governo cortar gastos e começar a pagar a dívida. Entretanto, sempre se diz que Keynes também defendia políticas contracíclicas em períodos de expansão econômica, e não apenas em períodos de recessão. Isso significa que o governo deve gerar superávits orçamentários para reduzir a dívida em épocas de crescimento econômico. Curiosamente, jamais foram apresentadas citações de Keynes defendendo tal postura. Da mesma forma, jamais vemos declarações de economistas keynesianos defendendo a redução da dívida.
E não há motivos para isso acontecer. A economia keynesiana é a economia do assistencialismo. O keynesianismo sempre foi uma fachada para a distribuição de riqueza. Oficialmente, essa distribuição de riqueza é justificada em nome de se estar ajudando aos pobres. Operacionalmente, a distribuição de riqueza ocorre em benefícios dos grandes bancos e do setor público.
Sempre que ocorre uma crise financeira, governos e bancos centrais socorrem os grandes bancos. Invariavelmente, os economistas keynesianos sempre aplaudem essa política durante períodos de crise. E então, após a poeira baixar e os bancos socorridos estarem maiores e mais poderosos do que antes, os keynesianos reclamam que o governo socorreu os poderosos mais uma vez.
Não é que os keynesianos sejam lentos para aprender. O problema é que eles não querem aprender.
Conclusão
Estamos testemunhando a rachadura do logo de gelo. O público está patinando sobre o lago. Eles estão ouvindo o som das rachaduras. Alguns poucos patinadores, os mais espertos, já começaram a correr em direção à terra firme. O ouro chegou a US$ 1.750 na segunda-feira em resposta à rachadura de sexta-feira, provocada pela Standard & Poor’s.
Dezenas de milhões de americanos e um número igualmente grande de europeus ficarão encurralados quando o Grande Calote chegar. Sim, Alan Greenspan negou que isso possa acontecer algum dia.
“Os Estados Unidos podem pagar qualquer dívida que tenham, pois sempre podemos imprimir dinheiro para fazer isso. Portanto, a probabilidade de calote é zero”, disse Greenspan em uma entrevista à rede NBC.
Podemos ficar mais tranquilos agora.