O pai fundador da economia moderna: Richard Cantillon

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1. Introdução

Conhecemos Adam Smith como o pai fundador da economia moderna, mas esse título deve ser devidamente retificado. Isso porque, antes de Smith, um homem chamado Richard Cantillon já havia publicado em 1755, por meio de sua obra “Sobre a natureza do comércio em geral”, teorias relevantes sobre economia moderna, sendo muito influente, inclusive, nas concepções essenciais do próprio Adam Smith, as quais viriam duas décadas mais tarde.

Em seu estilo de vida, Cantillon não era um pensador ou filósofo, mas, sim, um homem de negócios, de mercado, de ação e que estava o tempo todo em contato com a ciência econômica em seu aspecto mais prático.  Pouco se sabe de sua vida particular, mas sabe-se que era banqueiro e aventureiro, tinha talento para os negócios e que sua riqueza foi edificada sobre sua perspicácia acerca dos fenômenos inflacionários causados pela coroa francesa.

Já milionário escreveu o primeiro tratado reconhecidamente sobre economia em princípios de 1730 e publicado em 1755, denominado “Sobre a natureza do comércio em geral”. Morreu sob circunstâncias misteriosas (mas há hipóteses de que tenha forjado sua própria morte e fugido com sua fortuna para a América do Sul).

2. Metodologia

A sistemática de exposição de idéias e seu enfoque emancipado da política e da ética demarcaram um campo independente de investigação — a economia —, o que caracterizava Cantillon como um tipo de pensador diferente dos escolásticos medievais. Centrava sua análise na ação humana e também abstraindo outras dimensões, como Mises caracterizaria mais tarde como método Gedanken, assim podendo analisar as relações de causa e efeito existentes na vida econômica.  Desse modo, pôde desenvolver sucessivas aproximações e abstrações, explicando questões fundamentais da teoria econômica, como valor e preço, a atividade empresarial, dinheiro, auto-regulação do mercado, entre outras questões.

3. Valor e preço

Em contraste com os clássicos posteriores, Cantillon se preocupou com a formação dos preços reais de mercado em lugar da formação quimérica a longo prazo.  Para ele, os preços funcionavam como uma rede de sinais que servia para conectar mercados diferentes: homens movidos pelo auto interesse reagiam aos sinais de preços e entravam em diferentes mercados, comprando e vendendo de modo a explorar as diferenças observadas entre preços praticados e valores subjetivos.  É inegável sua contribuição nesse aspecto:

No curto prazo, ele enfatiza a noção de preço de mercado dando-lhe uma interpretação subjetivista que realça, em sua determinação, os humores e caprichos dos agentes envolvidos, bem como o desejo de consumo deles. No longo prazo, os preços estabilizam-se nos valores intrínsecos. (CANTILLON, 1755, apud FEIJÓ, 2000, p. 103).

Sob esta ótica, Cantillon mostra que a demanda de bens é o determinante dos preços e não os seus custos de produção.  A função dos custos, logo, é a de informar o empresário se há benefícios em um negocio pretendido ou não.

4. A incerteza, o empresário e a auto-regulação do mercado

Se Cantillon tem essas premissas em relação a preço e custo, consequentemente vai nesse sentido acerca da atividade empresarial.  Como homem prático, simplesmente sabia que informação econômica perfeita e mundo estático em equilíbrio (premissas irreais que futuramente seriam base da teoria econômica neoclássica) não se aplicavam ao mundo real.  O mercado do mundo real, segundo ele, é permeado de incertezas, e a função do empresário é afrontar o futuro e a incerteza, produzindo bens e serviços necessários à demanda do mercado, na expectativa de conseguir um beneficio.

Assim, a concepção de Cantillon antecipa a de Mises, ao afirmar que a atividade do empresário não é descoordenadora, mas sim coordenadora, pois sua atuação ajusta a oferta à demanda de bens e serviços nos diversos mercados.

Cantillon foi o primeiro a teorizar que todas as partes da economia se encaixam sob um modelo “natural” auto-regulador e coordenado; e, portanto, toda intervenção governamental era desnecessária.  A economia de mercado, na sua concepção, consistia em mercados organizados e interconectados, que afetam uns aos outros, no interior do qual atuam indivíduos em relação orgânica e de dependência mútua.  O mercado ajusta-se pela ação de empresários interessados na busca do lucro, que operam em mercados de bens e fatores comprando, vendendo e organizando a produção sob condições de incerteza.

Sua descrição do processo de ajuste dos mercados via o mecanismo simples do sistema de preços é majestosa, pois considerava que os preços de mercado afastavam-se dos valores intrínsecos na medida em que os planos de produtores e de seus clientes não estão perfeitamente coordenados, o que distanciava temporariamente os preços de seus custos.

A própria ação dos agentes, à medida que desloca a oferta e a demanda, leva a uma mudança nos preços relativos, sinalizando novas estratégias ate que os planos de compradores e vendedores se tornem compatíveis. (CANTILLON, 1755, apud FEIJÓ, 2000, p. 104)

5. Conclusões

Aqui foram abordados os aspectos essenciais da obra de Richard Cantillon.  Não se pode deixar de ressaltar suas demais contribuições sobre economia espacial, câmbio de moedas internacionais, a forma como o novo dinheiro entra na economia e seus efeitos (aqui, mais uma vez antecipando o pensamento austríaco), e influenciando a escola fisiocrática, os pensadores Hume e Smith, além de, mais adiante, os marginalistas e os próprios economistas austríacos.

Por suas considerações sobre diversos aspectos da economia compatíveis com elementos essenciais da teoria austríaca (ou ela a elementos da teoria de Cantillon), devemos considerar Cantillon, em aspecto específico, como um economista proto austríaco e, em aspecto amplo, como o pai da ciência econômica moderna, pela sua sistematização de estudo.

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Referências Bibliográficas

CANTILLON, R. Ensaio sobre a natureza do comércio em geral. Curitiba: Segesta, 2002.

FEIJÓ, R. Historia do pensamento econômico. São Paulo: Atlas, 2001.

ROTHBARD, M. História del pensamiento econômico. Vol. I. Unión Editorial: Madrid; 1999.

THORNTON, M. Cantillon and the rise of anti-marcantilism. Procesos de Mercado: Revista Europea de Economia Política, VI, n 1, Primavera 2009.

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