Os atuais clamores para se elevar impostos sobre os ricos e para fazer os ricos “pagarem pela crise” partem do velho princípio marxista de que uma pequena fatia de abastados vive à custa da exploração da esmagadora maioria da população mundial.
Tal raciocínio seria verdadeiro caso a revolta se direcionasse especificamente para aqueles indivíduos cuja riqueza foi adquirida por meios que atentam justamente contra o capitalismo, como subsídios governamentais, protecionismo e outras formas de governo que obstruem a livre concorrência.
No entanto, a gritaria tem sido generalizada e o alvo comum tem sido os ricos e os lucros de forma geral.
O grande problema é que, na visão de mundo dessas pessoas, os ativos dos ricos estão ou na forma de dinheiro “parado nos bancos” ou na forma bens que geram benefícios exclusivamente para os próprios ricos.
Segundo essa visão de mundo, os meios de produção que estão em posse dos ricos — fábricas, instalações industriais, bens de capital, caminhões, tratores e maquinários em geral — possuem essencialmente a mesma característica de bens de consumo, os quais, em regra, beneficiam apenas os seus proprietários.
Justamente por seguirem esta mesma visão de mundo, aqueles que compartilham dessa mentalidade tipicamente imaginam os capitalistas como homens obesos, cujos pratos estão repletos de comida enquanto as massas de assalariados têm de viver à beira da fome.
De acordo com essa mentalidade, a redistribuição de riqueza é simplesmente uma questão de retirar a comida do prato transbordante dos capitalistas e redistribuí-la para os trabalhadores esfomeados.
Porém, no mundo moderno em que realmente vivemos, a riqueza dos capitalistas não apenas está predominantemente na forma de meios de produção, como também esses meios de produção estão empregados na produção de bens e serviços que são vendidos no mercado.
Em total antagonismo às condições das famílias agrárias autossuficientes — cujas posses de fato beneficiam exclusivamente apenas elas próprias —, os beneficiários dos meios de produção dos capitalistas são todos os membros do público consumidor em geral, que compram os produtos dos capitalistas.
Por exemplo, sem ser dono de uma única ação de alguma grande montadora (GM, Daimler, Ford, BMW, Scania, VW, Toyota, Volvo) ou de alguma petrolífera (Exxon Mobil, BP, Shell, Chevron), qualquer pessoa em uma economia capitalista que compre os produtos destas empresas se beneficia de seus meios de produção: o comprador de um automóvel Volvo se beneficia da fábrica da Volvo que produziu aquele automóvel; o comprador da gasolina da Shell se beneficia de seus poços petrolíferos, oleodutos e caminhões-tanque.
Adicionalmente, também se beneficiam destes meios de produção todas aquelas pessoas que compram produtos de clientes da Volvo ou da Shell, desde que tais meios de produção indiretamente contribuam para os produtos destes seus clientes.
Por exemplo, os clientes dos supermercados cujos produtos foram entregues em caminhões feitos pela Volvo ou abastecidos com diesel produzido nas refinarias da Shell se beneficiam da existência da fábrica de caminhões da Volvo e das refinarias da Shell. Mesmo aqueles que compram produtos dos concorrentes da Volvo e da Shell, ou dos clientes destes concorrentes, também se beneficiam da existência dos meios de produção da Volvo e da Shell. Isso porque os meios de produção da Volvo e da Shell resultam em uma oferta mais abundante — e, logo, mais barata — dos bens que os concorrentes vendem.
Em outras palavras, todos nós, 100% de nós, nos beneficiamos da riqueza dos odiados capitalistas. Nós nos beneficiamos sem que nós mesmos tenhamos de ser capitalistas. Os críticos do capitalismo são literalmente mantidos vivos em decorrência da riqueza dos capitalistas que eles odeiam. Como demonstrado, os campos de petróleo e os oleodutos das odiadas corporações petrolíferas fornecem o combustível que movimentam os tratores e os caminhões que são essenciais para a produção e a distribuição de comida que os críticos comem. Os manifestantes atuais e todos os outros que têm ódio dos capitalistas simplesmente odeiam os alicerces de sua própria existência.
Os benefícios que os meios de produção dos capitalistas trazem aos meros mortais que não são proprietários dos meios de produção se estendem não apenas aos compradores dos produtos fabricados por esses meios de produção, mas também aos vendedores da mão-de-obra que é empregada para trabalhar com esses meios de produção.
A riqueza dos capitalistas, em outras palavras, é a fonte tanto da oferta de produtos que os não-proprietários dos meios de produção compram, como também da demanda pela mão-de-obra que os não-proprietários dos meios de produção vendem.
Donde se conclui que, quanto maior o número e quanto maior a riqueza dos capitalistas, maior será tanto a oferta de produtos quanto a demanda por mão-de-obra. Consequentemente, menores serão os preços e maiores serão os salários — logo, maior será o padrão de vida de todos.
Nada pode ser mais benéfico para o interesse próprio do cidadão comum do que viver em uma sociedade repleta de capitalistas multibilionários e suas grandes empresas, todos ocupados utilizando sua vasta riqueza para produzir bens que este cidadão irá comprar e para disputar a mão-de-obra que ele irá vender.
Não obstante tudo isso, o críticos do capitalismo desejam um mundo no qual os capitalistas bilionários e suas grandes empresas foram completamente banidos e substituídos por pequenos e pobres produtores, que não seriam significativamente mais ricos do que eles próprios, os críticos — o que significa que todos seriam pobres.
Eles creem que, em um mundo com tais produtores — produtores que não possuem o capital necessário para produzir quase nada, muito menos para conduzir a produção em massa dos produtos tecnologicamente avançados do capitalismo moderno —, eles irão de alguma forma estar economicamente em melhor situação do que estão hoje.
Obviamente, tais críticos e manifestantes não poderiam estar mais iludidos.
Além de não perceberem que a riqueza dessa ínfima minoria é o pilar do padrão de vida da esmagadora maioria, o que tais pessoas também não percebem é que a “ganância” daqueles que se esforçam para fazer parte da ínfima minoria — ou que se esforçam para ampliar sua posição dentro dela — é o que faz com que o padrão de vida da esmagadora maioria seja progressivamente aumentado.
A busca pelo lucro é o que gera todos os avanços econômicos
O que os intelectuais e sua hostilidade ao lucro ignoram é que a busca pelo lucro em um livre mercado é exatamente a fonte de virtualmente todas as melhorias econômicas de uma sociedade.
Em um livre mercado, todo e qualquer indivíduo tem a liberdade de empreender e consumir sem ser tolhido por decretos, regulamentações e burocracias. Sua liberdade deve ser plena, desde que, em suas atividades, ele não agrida a propriedade, a vida e a liberdade de terceiros. Ele é livre para não sofrer coerção física, mas também é proibido de adquirir a propriedade de terceiros por meios desonestos, inclusive por meio da fraude. Tudo que um indivíduo receber de outros deve ser por meio da escolha voluntária destes.
Se tais condições não são respeitadas, e alguns indivíduos conseguem ganhar à custa de todos os outros por meio de força, fraude, coerção, tributação ou regulamentações, então tal situação representa uma falha de governo, não do livre mercado. O fracasso do governo está precisamente no fato de ter feito com que os indivíduos que participam do mercado fossem submetidos a tais tipos de agressão.
Em um livre mercado, a maneira de um indivíduo obter dinheiro de terceiros é ofertando algo que eles julgam ser valioso e que desejam possuir. Esses são os tipos de bens e serviços que um indivíduo busca produzir e vender em um livre mercado: bens e serviços valiosos para os consumidores.
Desta maneira, a busca pelo lucro é a base de um contínuo processo de inovação, no qual são constantemente introduzidos novos e melhores produtos e novos e menos custosos métodos de produção. O desenvolvimento de novos e melhores produtos que as pessoas desejam comprar, e o aprimoramento de mais eficientes e menos custosos métodos de produção daqueles produtos que já existem e que as pessoas continuam querendo comprar, são as principais formas de um empreendedor obter lucros em um livre mercado.
Tão ignorado quanto isso pelos intelectuais de hoje é o fato de que a esmagadora maioria dos lucros obtidos em uma economia livre é poupada e reinvestida, e que a acumulação de qualquer fortuna em uma economia livre é o resultado da introdução de toda uma série de aprimoramentos nos bens e serviços adquiridos voluntariamente pelos consumidores.
E a maneira de se criar os meios para produzir esses aprimoramentos é reinvestindo justamente a quase totalidade dos lucros obtidos. É por meio desse processo que o público geral se beneficia da riqueza dos capitalistas.
Assim, para utilizar um exemplo clássico, Henry Ford, que começou com um capital de aproximadamente US$ 25.000 em 1903 e terminou com um capital de aproximadamente US$ 1 bilhão à época de sua morte em 1946, foi responsável pela maior parte do tremendo progresso ocorrido nos automóveis produzidos ao longo desse período, bem como na eficiência com que eles passaram a ser produzidos. Foi amplamente graças a ele que os automóveis de 1946 eram incrivelmente superiores àqueles produzidos em 1903.
Mais ainda: foi graças a ele — que reinvestiu quase todo o seu lucro para aprimorar o processo de produção — que os automóveis apresentaram uma espetacular redução real de custo, indo de um preço hoje comparável ao de um iate para um preço que praticamente qualquer pessoa podia bancar.
Ou seja, à medida que sua fortuna ia crescendo, Ford ia reinvestido-a exatamente na expansão da produção destes automóveis aprimorados. Em outras palavras, o outro lado da moeda da crescente fortuna de Ford foi o crescente beneficiamento do público em geral.
Um exemplo mais recente e igualmente óbvio destes mesmos princípios é o caso da Intel. No início da década de 1980, a Intel estava na vanguarda da produção daquilo que, à época, era o mais avançado chip para uso em computadores pessoais: o 8086. No entanto, a concorrência entrou no mercado e não permitiu que os altos lucros obtidos pela Intel com a comercialização deste chip durassem muito tempo. Para continuar à frente da concorrência e obtendo uma alta taxa de lucro na indústria de computadores, foi necessário que a Intel introduzisse o amplamente aprimorado chip 80286. E então a mesma história se repetiu. Para continuar obtendo uma alta taxa de lucro frente à concorrência, que estava sempre em seus calcanhares, a Intel teve de desenvolver e introduzir o 80386, e depois o 80486 e então sucessivas gerações do chamado chip Pentium.
A Intel foi capaz de fazer uma fortuna durante todo este processo. Sua fortuna foi investida exatamente na produção dos radicalmente aprimorados chips que atualmente são produzidos a uma fração do custo dos chips de uma década ou duas atrás. (Obviamente, os lucros obtidos com qualquer tipo de aprimoramento podem ser também investidos na expansão da produção de outros produtos completamente diferentes).
Tais exemplos não são isolados. O princípio que eles ilustram funcionam universalmente, e mostram a importância de se ter um livre mercado, sem regulamentações e sem a tributação do lucro.
As fortunas empresariais, em um livre mercado, são acumuladas por meio dos altos lucros gerados pela introdução de novos e aperfeiçoados produtos e também pela introdução de métodos de produção mais eficientes e menos custosos. Estes altos lucros são seguidamente poupados e reinvestidos justamente para ampliar e melhorar a produção destes mesmos produtos ou até mesmo de produtos distintos.
Por exemplo, a fortuna de $6 bilhões do falecido Steve Jobs foi construída em decorrência de Jobs ter feito com que fosse possível que a Apple Computer introduzisse novos e aperfeiçoados produtos, como o iPod, o iPhone e o iPad, e então poupasse e reinvestisse uma expressiva fatia dos lucros que vieram pra ele.
Isso é algo que vale a pena ser repetido e enfatizado: as fortunas que são acumuladas desta forma são normalmente direcionadas à produção em larga escala justamente dos produtos que forneceram os lucros utilizados para acumular esta fortuna. Assim, por exemplo, os bilhões de dólares de Jobs serviram em grande parte para aprimorar a invenção e a produção de produtos da Apple.
Similarmente, a grande fortuna pessoal do velho Henry Ford — adquirida em decorrência da introdução de grandes aprimoramentos na eficiência da produção automotiva, o que fez com que o preço de um automóvel novo caísse de US$ 10.000 no início do século XX para US$ 300 em meados da década de 1920 — foi utilizada para tornar possível a produção em larga escala de milhões de automóveis Ford.
Adicionalmente, as altas taxas de lucro adquiridas com produtos novos e aprimorados e com métodos de produção mais eficientes são meramente temporárias. Assim que a produção de um novo produto ou o uso de um novo método de produção mais eficiente se torna padrão em uma indústria, ele deixa de gerar lucros excepcionais. Com efeito, novos e contínuos aprimoramentos fazem com que os aprimoramentos anteriores tornem-se completamente não-rentáveis. Por exemplo, a primeira geração do iPhone, que era altamente lucrativa há apenas alguns anos, já deixou de ser ou rapidamente deixará de ser lucrativa, pois novos avanços a deixaram obsoleta.
Como resultado, a acumulação de grandes fortunas empreendedoriais requer a introdução de uma série de aprimoramentos nos produtos criados ou nos métodos de produção utilizados. Isto é um pré-requisito para se manter uma alta taxa de lucro frente à concorrência em um livre mercado.
A capacidade da Intel de manter sua alta taxa de lucro ao longo de vários anos dependia completamente de sua capacidade de introduzir melhorias sequenciais em seus chips de computador. O efeito líquido desse processo foi o de fazer com que os usuários de computadores se beneficiassem de contínuas melhorias e avanços tecnológicos; e não apenas não houve nenhum custo adicional, como na verdade ocorreu um drástico declínio nos preços destes chips.
Enquanto os altos lucros se basearem na redução dos custos de produção, a concorrência fará com que os preços dos produtos sejam reduzidos correspondentemente à redução dos custos de produção, o que obrigará as empresas a descobrirem novos métodos de reduzir ainda mais seus custos para manter seus altos lucros.
O mesmo resultado, é claro, é válido não somente para a Intel e seus microprocessadores, mas também para o resto da indústria da computação, na qual gigabytes de memória e terabytes de capacidade de armazenamento de disco rígido hoje são vendidos a preços menores que os preços de megabytes de memória e de disco rígido há algumas décadas atrás.
Com efeito, se olharmos cuidadosamente, este princípio de produtos cada vez melhores e mais baratos a custos cada vez menores se aplica a todo o sistema econômico. Está presente tanto na produção de comida, de roupas e de abrigos quanto nas indústrias de alta tecnologia, e em praticamente todas as indústrias entre estes dois extremos.
Está presente em todas estas indústrias não obstante a inflação da oferta monetária — totalmente gerenciada pelo governo — ter feito com que os preços dos produtos aumentassem acentuadamente ao longo dos anos. Apesar disso, quando calculados em termos da quantidade de trabalho que o cidadão comum deve despender a fim de adquirir o salário necessário para comprar tais produtos, os preços de tais bens caíram fortemente.
A melhor ilustração deste raciocínio pode ser vista no aumento do padrão de vida que ocorreu ao longo dos últimos 100 anos. Em 1911, o cidadão comum trabalhava 60 horas por semana. O que ele recebia em troca da sua mão-de-obra era exatamente o padrão de vida de 1911 — um padrão de vida que não incluía bens como automóveis, ar condicionado, viagens aéreas, antibióticos, geladeiras, congeladores, filmes, televisão, videocassetes, aparelhos de DVD, Blu-ray, rádios, toca-discos, CD players, computadores, notebooks, smartphones, tablets, moradias confortáveis, comidas e roupas abundantes e de qualidade, medicina e odontologia modernas, máquina de lavar e secar, forno de microondas e por aí vai. Em 1911, telefones e energia elétrica eram raros. Aparelhos elétricos eram praticamente desconhecidos. Telefones celulares não eram nem objetos de ficção.
Os bens que podiam ser produzidos à época, como vários tipos de comida, roupas e moradias, eram de menor qualidade e muito mais caros em termos reais do que são hoje — isto é, em termos do tempo necessário para ganhar o dinheiro necessário para adquiri-los. A alimentação, o vestuário e a moradia do cidadão comum eram muito mais modestos do que são hoje.
Todos esses bens só se tornaram mais acessíveis e aumentaram em qualidade e variedade porque a busca por lucros levou ao necessário processo de corte de custos e a outros aprimoramentos no processo de produção. E todos aqueles bens que não existiam em 1911 só passaram a existir por causa da busca por lucros.
Em outras palavras, o que aumentou tão radicalmente o padrão de vida de todos foi nada mais do que a busca por lucros e a liberdade de agir de acordo com esse objetivo. A busca por lucros foi a força-motriz da produção e da atividade econômica. Em todos os lugares, em cada indústria, em cada cidade, havia homens ávidos para lucrar aprimorando produtos e métodos de produção. Eles tiveram a liberdade de fazer isso e foram bem sucedidos.
Essa “ganância”, “epidêmica” a ponto de se tornar generalizada, foi o que aprimorou tão radicalmente o padrão de vida do cidadão comum. É algo pelo qual todos nós devemos ser profundamente agradecidos. Caso tal “ganância” fosse menos “epidêmica” e menos generalizada, o aprimoramento do nosso padrão de vida teria sido, sem a menor sombra de dúvida, muito menos intenso.
O grau de aprimoramento do padrão de vida do cidadão médio pode ser mensurado utilizando-se o fato de que seu padrão de vida é hoje pelo menos 10 vezes maior do que era em 1911 (e essa é uma estimativa conservadora), e tal padrão é obtido trabalhando-se em média apenas dois terços do que se trabalhava em 1911 — 40 horas de trabalho por semana em vez de 60.
Assim, dois terços do trabalho realizado em 1911 hoje consegue adquirir dinheiro suficiente para comprar 10 vezes a quantidade de bens. Ou, colocando de outra forma, um simples décimo daqueles dois terços — ou 6,66% — é hoje suficiente para comprar bens equivalentes ao padrão de vida médio de 1911.
Isso significa que, na média, graças à ganância de empreendedores e capitalistas, houve, desde 1911, uma queda nos preços reais da ordem de 93,33%!
Apenas este fato já deveria servir para demonstrar que o capitalismo de livre mercado é o sistema econômico mais ético e moral que existe. Ele é a materialização das liberdades individuais e da busca pelo interesse próprio. Ele resulta no progressivo aumento no bem-estar material de todos, algo que se manifesta no aumento das expectativas de vida e no contínuo aprimoramento do padrão de vida das pessoas.