Condições atuais
Neste ponto, vou apenas fazer uma reflexão. Aqui estamos nós, no fim do século XX, mais perto do que nunca do estágio final de um único estado mundial, ao menos o mais próximo do que já se chegou antes, em toda história. Os Estados Unidos são a única superpotência e a principal polícia mundial. Ao mesmo tempo, a democracia se tornou praticamente universal, e a maior potência mundial, os Estados Unidos, é a maior liderança mundial na defesa da democracia.
Alguns neoconservadores, como Francis Fukuyama, salientaram que este deve ser o fim da história. Uma democracia mundial está praticamente consolidada. No entanto, do ponto de vista austro-libertário, a questão é vista de uma forma bem diferente. Sob a democracia altamente centralizada, ou podemos dizer domínio de uma máfia altamente centralizada, a segurança da propriedade privada praticamente desapareceu por completo. O preço da proteção é enorme, e a qualidade da justiça fornecida tem constantemente caminhado ladeira abaixo. Ela se deteriorou ao ponto em que a ideia de leis de justiça imutáveis, ou a lei natural, desapareceu quase totalmente da consciência do povo. Considera-se que a lei não é nada além daquela feita pelo estado — lei positiva. A lei e a justiça são aquilo que o estado diz que são. Ainda existe propriedade privada no nome, mas na prática os donos de propriedade privada foram quase que completamente expropriados. Ao invés de proteger as pessoas de invasores e invasões de suas pessoas e propriedades, o estado tem cada vez mais desarmado seu próprio povo e o privado de seu mais elementar direito de autodefesa.
Além disso, os donos de propriedade privada não são mais livres para aceitar ou excluir outras pessoas de suas propriedades como acharem melhor. Este é o direito de incluir, se você quiser, ou expulsar se você quiser, e é um componente fundamental da propriedade privada. E isto confere um mecanismo de defesa; é um método contra a invasão você poder colocar pessoas para fora de sua propriedade. Porém, este direito de expulsar pessoas de sua propriedade, especialmente de propriedades comerciais, foi inteiramente retirado de você. E sem este direito— e hoje em dia ninguém pode contratar ou demitir, comprar ou vender, aceitar ou expulsar de sua propriedade como quiser — junto com tudo isso, também se foi outro método de defesa contra invasões.
O estado, que supostamente deveria nos proteger, na verdade nos deixou completamente indefesos. Ele rouba mais da metade dos rendimentos de seus súditos, para distribuir de acordo com o sentimento público, e não de acordo com princípios de justiça. Ele sujeita nossa propriedade a milhares de regulamentações arbitrárias e invasivas. Não podemos mais contratar e demitir livremente qualquer pessoa que quisermos, por qualquer razão que julgarmos boa ou necessária. Não podemos comprar ou vender o que quisermos, de quem ou para quem quisermos, e aonde quisermos. Não podemos determinar livremente os preços que queremos cobrar, não podemos nos associar e desassociar, interromper relações com qualquer pessoa que quisermos, ou que não quisermos.
Ao invés de nos proteger, portanto, o estado nos entregou e entregou nossas propriedades à turba e aos seus instintos. Ao invés de nos preservar, ele nos empobrece, ele destrói nossas famílias, organizações locais, fundações privadas, clubes e associações, ao atraí-los cada vez mais para sua própria órbita. E como resultado de tudo isto, o estado perverteu a noção de justiça e de responsabilidade individual das pessoas, e tem alimentado e atraído um número cada vez maior de monstros e monstruosidades morais e econômicas.