Olhar o PIB é inútil se você ignorar as alterações demográficas

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iStock_000010133336XSmallO PIB é o número que os mercados financeiros e os analistas econômicos esperam com mais ansiedade do que qualquer outro.  Trata-se daquela que é tida como a mais importante medida do sucesso de uma economia.  O mercado de ações, o mercado de câmbio e o mercado de títulos dependem desse número, assim como presidentes e primeiros-ministros.

O PIB é a régua com a qual mensuramos as economias.

O problema é que, por si só, ele é inútil.

Os problemas

Este ano, o PIB fez um importante aniversário: são 80 anos sendo o principal mensurador de sucesso econômico.  A medição do PIB foi criada a pedido do então presidente americano Franklin Delano Roosevelt na década de 1930, quando ele decidiu que, como todo intervencionista, necessitava saber em mais detalhes o que estava ocorrendo com a economia americana para que pudesse intervir mais decididamente.

O PIB é uma mera tentativa de somar todas as atividades que ocorrem dentro de um país para então colocar um número preciso no valor total da produção.  Mas esse cálculo possui vários críticos e detratores.

Por exemplo, o PIB não mensura trabalhos domésticos.  Gastos governamentais — algo que destrói riqueza emvez de criar — estimulam os números do PIB.  A mera reconstrução de estruturas destruídas por terremotos, furacões ou enchentes, algo que simplesmente leva o país de volta para o ponto em que ele estava antes do desastre, é tomado como parte do crescimento do PIB.  O desperdício do dinheiro arrancado à força do setor produtivo da sociedade com o pagamento de inúteis operações e burocracias governamentais, algo que em nada contribui para o bem-estar da população, também contribui para o crescimento do PIB.

Ainda assim, o PIB vem sendo encarado como a melhor ferramenta disponível para mensurar como está indo a população de um país.  Se o PIB sobe, a população está enriquecendo.  Se o PIB cai, a população está empobrecendo.

O número que realmente importa

Mesmo desconsiderando os problemas listados acima, e aceitando — para o bem do debate — que o PIB é a melhor ferramenta de que dispomos para mensurar as economias, o fato é que, por si só, o PIB é um número inútil.

E é inútil simplesmente porque ele não leva em consideração as mudanças demográficas.  O PIB desconsidera alterações na quantidade de pessoas que estão vivendo dentro de um determinado país.  E o número de pessoas que vive dentro de um país — ou, mais ainda, a alteração do número de pessoas que vive dentro de um país — é o mais importante determinante do seu crescimento econômico.

Com efeito, o indicador que realmente importa é o PIB per capita.  É ele quem indica se os indivíduos — em vez do “país”, que é um conceito totalmente abstrato — estão enriquecendo ou empobrecendo.  Se um país estiver vivenciando rápidas mudanças em seus níveis populacionais, um eventual aumento do PIB pode não ser tão bom quanto aparenta.

Matematicamente, o PIB de um país representa o valor total de tudo aquilo que foi produzido por todos os seus habitantes.  Sendo assim, se o número de habitantes de um país estiver crescendo, o número de pessoas trabalhando, produzindo e consumindo também irá crescer.  Logo, o PIB terá naturalmente de crescer.

É aí que surgem alguns detalhe que o PIB, por si só, não captura.  Por exemplo, é possível que um rápido aumento populacional eleve o PIB total e, ainda assim, deixe a população geral mais pobre.  Inversamente, uma diminuição na população pode reduzir o PIB total e, ainda assim, deixar as pessoas mais ricas.

Daí a importância do PIB per capita: ele mensura a evolução da riqueza de cada indivíduo do país, o que o torna um indicador mais acurado da real situação da economia de cada nação.

Tão logo você passa a considerar o PIB per capita — e o Banco Mundial fornece os números de todos os países desde a década de 1980 —, grande parte daquilo que você imaginava saber sobre a economia global se comprova incorreto.

Por exemplo, o Japão — cuja demografia está estagnada — vem apresentando um desempenho bastante decente ao longo das últimas décadas.  Já o Reino Unido, que vem apresentando PIBs auspiciosos, está bem pior do que os números indicam, e ainda não recuperou seus níveis de riqueza vigentes antes da crise financeira.

Durante muito tempo, os países desenvolvidos apresentavam comportamentos demográficos muito similares, de modo que apenas o PIB já era suficiente para indicar quem estava indo melhor e quem estava indo pior.  Hoje, no entanto, as demografias desses países divergem dramaticamente.

Japão, Alemanha e Itália possuem populações que estão ou encolhendo ou prestes a começar a encolher.  Já Estados Unidos, Reino Unido e França têm populações em crescimento.  À medida que essas divergências forem se tornando mais pronunciadas, os PIBs de cada um desses países se tornarão cada vez mais inúteis — e o PIB per capita será a única medida relevante.

O gráfico a seguir mostra a taxa de crescimento do PIB per capita, desde 2005, para Japão (cinza escuro), Reino Unido (cinza claro), Estados Unidos (laranja), China (azul), Brasil (roxo), e para o mundo (vermelho).

 

O Japão é o exemplo mais significativo porque é o país que apresenta as mais dramáticas tendências demográficas.  Após chegar ao ápice de 128 milhões de pessoas alguns anos atrás, a população japonesa está hoje encolhendo, e rapidamente começará a encolher a um ritmo de um milhão de pessoas por ano.

Por isso, seu desempenho em termos de PIB per capita não é nada mau — ainda mais quando se considera todas as notícias de jornal dizendo que o PIB do país está estagnado há décadas.

Agora, vejamos a evolução do PIB per capita dos países dos BRICS.  Brasil (vermelho), China (cinza escuro), Índia (cinza claro), Rússia (laranja), África do Sul (azul).

 

A China cresce robustamente mesmo em termos per capita.  A Índia também consegue se manter.  É também possível entender o recente desânimo com o Brasil.

Agora, vejamos a evolução do PIB per capita dos cinco países economicamente mais livres do mundo de acordo com a Heritage Foundation: Hong Kong (vermelho), Cingapura (cinza escuro), Austrália (cinza claro), Nova Zelândia (laranja), Suíça (azul).

 

Austrália e Nova Zelândia são os países que apresentam os desempenhos mais estáveis e consistentes.  Destaque também para a Suíça, que, mesmo já sendo um país extremamente rico, ainda consegue manter uma decente taxa de crescimento da riqueza per capita.

Por fim, vejamos agora um gráfico contendo países ricos e de comportamento demográfico divergentes: Estados Unidos (vermelho), Japão (cinza escuro), Alemanha (cinza claro)m Itália (laranja), França (azul), Reino Unido (roxo).

 

Ou seja, se analisarmos o crescimento do PIB per capita de cada país — em vez de olharmos apenas os tradicionais números do crescimento do PIB —, o desempenho do Japão está longe de ser o pior do G7.  De acordo com os dados do Banco Mundial, essa dúbia honra cabe à Itália.  O país está ainda pior do que os números do PIB indicam.  A França também não faz inveja a ninguém.

Já a Alemanha apresentou um incrível fôlego até o ano passado.

O Reino Unido, por sua vez, vivencia uma situação interessante.  Seus recém-divulgados números do PIB foram surpreendentemente fortes, e este ano o país apresenta uma das mais aceleradas economias do G-7.  Segundo os números do PIB, em julho deste ano, o Reino Unido finalmente retornou aos níveis vigentes em 2008, antes da crise.

Mas a situação em termos per capita é outra.  A população do Reino Unido é uma das que mais cresce em toda a Europa, majoritariamente por causa de seus altos níveis de imigração.  Atualmente, o país tem 2,7 milhões a mais de pessoas do que tinha há seis anos.  Sendo assim, é compreensível que seu PIB tenha crescido, e também é compreensível que seu PIB per capita ainda esteja significativamente abaixo de onde estava em 2008.

E, como mostra o gráfico, o crescimento do PIB per capita tem sido bem menos extasiante do que os números do PIB sugerem.

Conclusão

No mundo atual, países com economias similares estão em caminhos fragorosamente divergentes em termos demográficos.  O Japão é o exemplo mais extremo, com sua população em rápido declínio.  Em um futuro próximo, Alemanha, Itália e Espanha também estarão no mesmo barco.  A Alemanha apresentou um ótimo desempenho nos últimos anos, mas sua população já chegou ao ápice e já se estima que, ao final desta década, entrará em declínio (a população da Alemanha cairá para 50 milhões até 2050, menor do que a Reino Unido).

Consequentemente, é de se esperar que o PIB da Alemanha comece a sofrer.  A China se juntará a esses países no devido tempo.  A Rússia também.  E, assim como o Japão, o PIB, por si só, fará a situação parecer pior do que realmente é.

Outros países apresentarão uma situação oposta.  O Reino Unido, como vimos, deverá apresentar bons números de PIB por causa de seu crescimento demográfico.  O mesmo deverá ocorrer com a França.  E com ainda mais intensidade com os EUA.

Por que isso é extremamente importante?  Porque investidores estão olhando para um número grande e importante que, na realidade, não reflete o verdadeiro estado de uma economia.  Minha sugestão: ignore os números do PIB e concentre-se no PIB per capita.  Esse indicador diz com muito mais acurácia qual país está realmente indo bem.

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