Após mais de três anos patinando, finalmente chegou-se ao consenso de que a economia americana está novamente em recessão. Não há crescimento econômico. O mirrado crescimento estatístico apresentado nos últimos anos — ninguém ousou dizer que tal estatística equivalia a uma plena recuperação — foi provavelmente ilusório.
Uma coisa é crescimento real; outra, completamente distinta, é estatística governamental. As estatísticas iludiram e desorientaram todos os ingênuos, mas agora a verdade já está demasiado óbvia para todo mundo. E não somente isso: os EUA estão lidando com uma calamidade impossível de ser resolvida, a dívida; o setor bancário virou um zumbi; o mercado de trabalho está estagnado; todo o sistema econômico está inundado de recursos precificados erroneamente, em decorrência dos vários pacotes de socorro e das seguidas impressões de dinheiro; o mercado imobiliário ainda está uma bagunça e não tem outro caminho a seguir a não ser o declínio.
As seguidas rodadas de impressão maciça de dinheiro — os QE1 e QE2 —, os inacreditáveis esforços do governo para criar “estímulos” por meio de mais regulamentações e as taxas de juros em nível zero não trouxeram nada de positivo para a economia, exceto estragos monumentais. Toda uma geração ficará sem oportunidades econômicas. A livre iniciativa — e, por conseguinte, toda a prosperidade — está lutando desesperadoramente por sua própria sobrevivência.
Toda essa situação calamitosa se deve àquela única medida que Bush, Obama, republicanos, democratas e todos os magnatas da mídia concordavam ser a coisa certa a se fazer: corrigir os rumos do mercado, estabilizar e em seguida estimular a macroeconomia. Uma palavra resume tudo: fracasso.
Está surpreso? Não deveria. Os seguidores da Escola Austríaca de economia estavam certos desde o início. E isso não se deve a nenhum truque mágico, a nenhuma bola de cristal. Os austríacos sabiam a priori que todos esses esforços eram perigosos, destrutivos e que não tinham como dar certo. Afinal, todas essas tolices keynesianas já haviam sido experimentadas várias vezes, e fracassaram em absolutamente todas essas tentativas. E há motivos específicos para isso: gastos governamentais consomem e destroem o capital que havia sido poupado, impossibilitando investimentos produtivos; estatizações e pacotes de socorro estimulam e amparam as empresas ineficientes; e a mera criação de dinheiro distorce a realidade e impede a recuperação.
Não é necessário ser um cartomante ou um astrólogo para ver claramente que todas essas asneiras não poderiam atingir seus objetivos especificados. Tudo o que esses estratagemas fazem é fornecer suporte ao estado e a seus amigos, à custa dos cidadãos comuns e pagadores de impostos. Eu realmente gostaria de ser solidário a todos aqueles que foram enganados pela propaganda do governo — e acreditar que aqueles que defendem políticas ignaras estão munidos da melhor das intenções —, mas é muito difícil.
Talvez era possível ter sido enganado em 1932; porém, realmente, qualquer observador mais atento já deveria ter ficado mais esperto em 1936. Agora, no entanto, vivenciar rodadas e rodadas e mais rodadas de estímulos governamentais que nunca dão certo, e ainda assim continuar defendendo tal política? Inacreditável. Como Robert Higgs já demonstrou, os EUA só saíram da Grande Depressão quando o governo finalmente parou de tentar estimular a economia. [Aqui um artigo mostrando como a recuperação só se deu após um forte corte nos gastos.]
Agora, no entanto, temos mais uma oportunidade para repetir. Ouçam e aprendam: os seguidores da Escola Austríaca de economia foram os únicos que anteciparam não apenas o estouro da bolha imobiliária e a inevitável recessão, mas também o inevitável fracasso dos pacotes de estímulo. Irei a seguir fornecer uma pequena amostra do que foi escrito durante os cinco primeiros meses da crise de 2008.
Comecemos com Frank Shostak e seu artigo “Is Deleveraging Bad for the Economy?” (Uma desalavancagem seria ruim para a economia?), de 20 de agosto de 2008:
É algo completamente inútil exortar os bancos a concederem mais empréstimos se não há poupança real para sustentar tal medida. Da mesma maneira, não faz muito sentido sugerir que o Banco Central, ao imprimir dinheiro, pode de alguma forma substituir essa poupança real que não existe. (É também um exercício de futilidade elevar os gastos do governo para solucionar o problema. Afinal, se um governo gasta mais, ele consome mais recursos; e isso significa que outras pessoas terão menos recursos à sua disposição).
Injetar mais dinheiro na economia irá apenas fazer com que as atividades que genuinamente geram riqueza fiquem sem recursos — pois o dinheiro injetado foi utilizado por outras pessoas para consumir esses recursos. Isso, por conseguinte, provoca uma redução na oferta de poupança real, pois há menos recursos para serem utilizados em investimentos. Consequentemente, o crescimento futuro da economia ficará solapado.
Passemos para Scott Kjar e seu artigo “Henry Hazlitt on the Bailout” (Henry Hazlitt sobre os pacotes de socorro), de 15 de outubro de 2008:
O argumento de que o governo americano, ao incorrer em déficits, está de alguma forma injetando capital no mercado é absurdo. O governo está na realidade retirando dinheiro dos mercados de capital para, em seguida, injetá-lo de novo nos mercados de capital. Não há nenhuma fonte adicional de financiamento; há apenas fundos sendo retirados de atividades mais produtivas e desviados para atividades menos produtivas, com o governo atuando como o intermediador.
Portanto, quando o Secretário do Tesouro Henry Paulson afirma ser necessário injetar dinheiro nos mercados de crédito para impedir que estes fiquem paralisados, ele não se dá ao trabalho de perceber que o dinheiro que ele injeta nos mercados de crédito está vindo diretamente destes mesmos mercados de crédito. Ele está simplesmente rearranjando as cadeiras no convés do Titanic.
Kevin Duffy foi certeiro em seu artigo “Looting the Responsible” (Saqueando os responsáveis), de 8 de outubro de 2008:
O governo não possui recursos próprios, não há duendes trabalhando horas extras para produzir algo de valor; há apenas propagandistas propugnando uma economia de Papai Noel. O governo pode apenas transferir riqueza de um grupo para outro (retendo para si uma taxa de transação nesse processo). O atual pacote de socorro (desculpem, de resgate), de US$
700800 bilhões, nada mais é do que uma pilhagem dos responsáveis e produtivos em benefício dos imprudentes e perdulários. Podemos chamar isso de darwinismo invertido: a seleção artificial dos menos aptos…Transferir mais sangue do hospedeiro produtivo para o parasita não faz com que ambos fiquem saudáveis no longo prazo. Para que a economia do país possa se curar, é necessário fazer com que capital, credibilidade e autoridade permaneçam com os produtivos, e não com que sejam desviados para os esbanjadores. A elite dominante, previsivelmente, está tentando fazer exatamente o oposto.
Considere o artigo de Christopher Westley “Bailout Blame Game” (O pacote de socorro e as acusações mútuas), de 7 de outubro de 2008:
Como estudioso da Grande Depressão, sei que o Congresso e o Executivo podem fazer muitos estragos antes do longo prazo chegar — e, com efeito, podem protelar sua chegada indefinidamente. Será que os conservadores que apoiaram esse pacote de socorro irão criticar o provável presidente Obama daqui a dois ou três anos, quando a economia estiver estagnada, vivenciando uma repetição da década de 1970, graças em grande parte justamente à tentativa do governo de impedir a ação das forças de mercado ao longo dessas duas últimas semanas? Isso parece bem possível. Nossos atuais problemas são resultantes de uma grande infusão de crédito no passado. Pensar que uma nova infusão de crédito hoje não terá os mesmo efeitos no futuro é desafiar coisas incômodas e irritantes, como as leis econômicas e as leis da natureza.
Comentários pungentes de Frank Shostak em seu artigo “The Rescue Package Will Delay Recovery” (O pacote de resgate vai atrasar a recuperação), de 29 de setembro de 2008:
É verdade que o sistema financeiro deve ser resgatado; ele deve ser salvo daquelas instituições que estão com dívidas impagáveis em seus livros contábeis. Como ninguém sabe ao certo quais são estas instituições, a economia fica estagnada pela incerteza. Tais instituições estão atualmente drenando capital da economia enquanto ficam à espera de um resgate. São elas que estão impedindo que atividades geradoras de riqueza no setor financeiro e em outras partes da economia expandam a riqueza real….
Os pacotes de resgate do governo não irão salvar a economia; irão salvar justamente aquelas atividades ineficientes que a economia não mais pode bancar e que os consumidores não mais querem que continuem existindo. Os pacotes irão meramente sustentar atividades econômicas que desperdiçam capital e promovem a ineficiência, drenando recursos que poderiam gerar crescimento e eficiência caso fossem liberados para outras atividades econômicas, aquelas que estão sendo mais demandadas pelos consumidores.
De Doug French temos “History Is Clear” (A história é clara), publicado em 13 de novembro de 2008:
É realmente de se estranhar que o plano do Secretário do Tesouro Henry Paulson tenha se transmutado em um programa de aquisição federal de ações de bancos, empresas hipotecárias e pelo menos uma seguradora? … Mas a história é clara: imprimir mais moeda fiduciária de curso forçado não irá resolver a crise; somente um retorno a um sistema monetário mais sólido irá.
“Consumidores não provocam recessões”, de Robert Murphy, atacou o âmago da teoria keynesiana em 11 de novembro de 2008:
Quando a recessão é resultado de um boom artificial induzido pelo banco central (como ocorreu na recente bolha imobiliária), o declínio econômico é um período de reajustamento, que é quando os recursos que foram mal alocados são redirecionados novamente para usos mais apropriados, consistentes com as preferências do consumidor e com a realidade tecnológica. Quando o governo intervém, tentando impedir esse reajustamento, ele acaba simplesmente mantendo essa distribuição insustentável de recursos escassos.
E Murphy novamente em “Markets Need Time, Not More Poison” (Mercados necessitam de tempo, e não de mais venenos), de 6 de novembro de 2008:
A atual crise é assustadora, mas o é somente porque ninguém sabe ao certo qual será o próximo novo esquema maluco que o governo irá criar — algo que ele vem fazendo diariamente. Recursos foram investidos inadequada e insustentavelmente durante a expansão artificial da economia americana na primeira metade da década de 2000, o que gerou a bolha imobiliária. Consequentemente, a economia necessita de tempo para se curar desse desarranjo. Não há como fugir desse fato.
Thorstein Polleit foi inflexível durante toda a crise, como mostra o seu artigo “Confidence Is Leaving the Fiat Money System” (A confiança está abandonando o sistema monetário fiduciário), publicado em 10 de outubro de 2008:
Ao reduzirem artificialmente as taxas básicas de juros durante o período da expansão do crédito, os bancos centrais criam os ciclos econômicos, os quais são induzidos justamente pela inflação monetária. Ciclos econômicos geram níveis insustentáveis de endividamento. Em todos os países ocidentais, as dívidas em porcentagem do PIB subiram acentuadamente nas últimas décadas.
Sempre que os mercados financeiros resolvem colocar um fim nesse desastroso processo — por exemplo, por meio de um declínio na atividade econômica —, os governos e seus bancos centrais intervêm para fazer tudo o que podem para manter o sistema monetário fiduciário funcionando: diminuem as taxas de juros aumentando a oferta monetária e, consequentemente, a expansão do crédito.
Na atual situação, entretanto, a capacidade dos bancos de expandir a oferta monetária e o crédito foi sensivelmente diminuída: prejuízos contábeis e — por causa da declinante confiança no sistema — prejuízos possivelmente oriundos da não quitação de dívidas irão corroer ainda mais o capital dos bancos nos meses vindouros.
“Parem os resgates!“, de Lew Rockwell, em 10 setembro de 2008:
Deixem o sistema de preços prevalecer livremente! O governo deve sair completamente do caminho e deixar o mercado reavaliar o valor dos recursos. Sim, isso significa falências. Sim, isso significa que vários bancos irão quebrar. Mas tudo isso faz parte do sistema capitalista. É assim que aconteceria em uma economia de livre mercado. O que é lastimável não é o processo de reajustamento; o que é lastimável é que esse processo tenha se tornado necessário em decorrência das intervenções anteriores….
É preciso deixar que o mercado seja livre para administrar todo esse processo de reajuste, aconteça o que acontecer. Garanto que essa solução é melhor do que imprimir mais de um trilhão de dólares para salvar essas empresas insolventes.
“Should the Crisis Shake Our Faith in the Market?” (Deveria a crise abalar nossa fé no mercado?), de Art Carden, em 29 de dezembro de 2008:
O aclamado pastor Adrian Rogers certa vez disse que você não pode multiplicar a riqueza dividindo-a. Tentar difundir a riqueza por meio de esquemas de tributação e redistribuição não trará a prosperidade. Irá apenas compartilhar miséria (embora talvez de maneira mais equânime). A solução é buscar reformas de mercado que removam a obstrução sobre empreendedores. Como a teoria e a evidência sugerem, reformas de mercado não são iniciativas baseadas na fé ou na ideologia. São a nossa única esperança para o longo prazo.
Há centenas, talvez milhares, de artigos e declarações desse tipo publicados desde 2008 até o presente. Eles aparecem diariamente, e a mensagem é a mesma: o que o governo está fazendo não vai funcionar. Notícias sobre uma recuperação econômica iminente não passam de ilusões. Não há estímulos para nada. A única solução é deixar o mercado liquidar o que está insolvente. O governo tem de parar de saquear a economia privada. O Fed tem de parar de imprimir dinheiro. Sem mais pacotes de socorro para derrotados. Deixem que as taxas de juros subam livremente. Deixem que os bancos ruins quebrem. E acima de tudo: parem de querer lutar contra o mercado! Somente quando tudo isso for feito é que haverá uma sólida recuperação da economia americana.
E assim, aqui estamos nós, após todos esses anos, mais pobres do que éramos, e sem nenhuma esperança à vista para a economia do mundo real (o mundo digital parece estar se mantendo bem).
Por que pessoas como Krugman e asseclas continuam sendo levadas a sério? Mais ainda: como alguém pode levar a sério aquelas pessoas que alertaram que, caso não tentássemos planos keynesianos, o mundo acabaria e perderíamos a oportunidade de uma gloriosa recuperação? Não é apenas o The New York Times; toda a mídia financeira internacional continua encantada com a teoria keynesiana e escravizada por suas tolices.
Vamos ainda mais além: os austríacos também estavam corretos ao preverem, antes de 2008, que a expansão econômica americana era insustentável. (Ver aqui e aqui). Não há nenhum motivo para júbilo ao provar-se certo em determinados assuntos. Na verdade, é patético imaginar ser possível que qualquer observador bem informado não consiga entender, à luz da experiência e do bom senso, que o governo — uma entidade inerentemente coerciva e que nada produz — não pode criar prosperidade, não importa o quão versados em teatro Kabuki sejam os seus funcionários.
No time vencedor estão aqueles que realmente entendem de economia. No time perdedor estão aqueles que continuam crendo que veneno pode curar o paciente. Portanto, vale repetir: a estagnação e a depressão irão continuar até que permitam que o sistema possa se corrigir sozinho.