Há uma crença inexplicável, conquanto amplamente aceita, de que os movimentos nas bolsas de valores predizem as condições econômicas. Assim, o atual movimento altista das bolsas mundiais, principalmente nos preços das ações americanas, fez com que muitas pessoas concluíssem que a recessão está próxima do fim. Nos EUA, esse otimismo difuso não está confinado a Wall Street. Barack Obama já anda dizendo que o otimismo dos mercados financeiros é conseqüência de suas políticas econômicas. Entretanto, a realidade está claramente em desacordo com essas presunções otimistas.
Em primeiro lugar, o fenômeno de as bolsas de valores serem pegas de surpresa é algo recorrente ao longo da história. No atual ciclo, nem o mercado financeiro e tampouco seus entusiasmados propagandistas previram essa recessão; portanto, por que alguém deveria crer que essas fontes de sabedoria repentinamente se tornaram clarividentes?
Por exemplo, de acordo com as estatísticas oficiais do governo americano, a atual recessão começou em dezembro de 2007. Dois meses antes, em outubro daquele ano, tanto o Dow Jones quanto o S&P 500 atingiram altas históricas. Exatamente qual previsão esse aumento repentino forneceu? Já está mais do que óbvio que os mercados foram pegos completamente de surpresa pela maior recessão desde a Grande Depressão. Com efeito, a principal razão por que os mercados despencaram tão rapidamente no último trimestre de 2008 – quando a severidade da recessão tornou-se impossível de ser ignorada – foi que eles haviam interpretado de maneira completamente equivocada a economia dos anos precedentes.
Além disso, ao longo de 2008, mesmo com a economia americana já em contração, tanto os economistas acadêmicos quanto os estrategistas do mercado financeiro ainda estavam confiantes de que uma eventual recessão seria evitada. Se essas figuras foram incapazes de prever uma recessão que já havia começado, como é que alguém pode acreditar que eles podem prever quando ela vai acabar? Por outro lado, quando apareci em um programa da rede Fox News, em 31 de dezembro de 2007, fui alvo de escárnio dos outros participantes do programa – todos irremediavelmente otimistas – quando declarei claramente que uma recessão já estava em andamento. (Veja o vídeo)
Em termos da saúde da economia americana ou dos prospectos para uma recuperação, o atual aumento dos preços das ações americanas – particularmente quando se leva em conta a queda de 50% que elas sofreram – nada significa. De fato, quando se compara a bolsa americana com o meteórico aumento ocorrido nas bolsas estrangeiras durante os últimos seis meses, conclui-se que as ações americanas estão paradas. No máximo, pode-se dizer que é a robustez dos mercados externos que está puxando consigo as ações americanas.
No final de 2008 e início de 2009, os “especialistas” proclamaram que o fortalecimento do dólar americano e a relativa boa performance das ações americanas durante o declínio mundial dos mercados indicavam que os EUA liderariam a recuperação global. Àquela época eles argumentavam que, já que os EUA foram a primeira economia a entrar em recessão, seriam também a primeira a sair dela. Eles alegavam que por mais que as coisas estivessem ruins dentro dos EUA, tudo estava pior nos outros países; e que as ações arrojadas e “estimulativas” perpetradas pelo governo americano levariam a resultados muito melhores do que aqueles que seriam conseguidos pelas outras economias industriais, que estavam adotando respostas bem mais “tímidas”.
À época, disse que essas alegações eram ridículas e insensatas. Os dados recentes novamente mostram que eu estava certo. O breve período de relativa boa performance das ações americanas, ocorrido no final de 2008, chegou ao fim, e, após ter se valorizado durante vários meses, o dólar retornou à sua desvalorização de longo prazo. Se a economia americana de fato estivesse melhorando, o dólar estaria se fortalecendo – e não se enfraquecendo, como está ocorrendo atualmente. Os dados econômicos também estariam mostrando um progresso maior nos EUA do que lá fora. Porém, ao contrário, o que está acontecendo é que as ações estrangeiras retomaram a mesma ascensão meteórica que lhes foi característica durante a última década. A recuperação das ações globais mostra que, como eu havia previsto, o trem da economia global já se desacoplou do dispendioso vagão americano – algo que os “especialistas” disseram ser impossível. [Essa é a teoria do “descolamento” de Schiff. Segundo ele, se o mundo se “separar” dos EUA, isto é, se os países pararem de direcionar suas exportações para os EUA, eles estarão melhores. Para entender melhor essa teoria do “descolamento” de Schiff, veja esse vídeo (a partir de 7:15)].
Embora o pior da crise financeira global possa ter ficado para trás, o real impacto da crise econômica americana – que é uma crise decorrente de reais abalos nos fundamentos econômicos – ainda nem começou a ser sentido. Para os EUA, a recuperação genuína não vai começar enquanto as atuais políticas governamentais não forem mitigadas. O que é mais urgente: os EUA precisam de um presidente do Fed que esteja disposto a administrar a severa e rigorosa política monetária da qual a economia tanto precisa. O fato de Ben Bernanke continuar bastante popular tanto em Wall Street quanto nos corredores de Washington mostra perfeitamente o quão ruim está sendo sua performance.
Compare a popularidade de Bernanke com o desdém que muitos sentiam por Paul Volcker durante os anos iniciais do primeiro mandato de Ronald Reagan. Havia vários projetos de lei e resoluções do Congresso exigindo o impeachment do então presidente do Fed. Até mesmo congressistas conservadores como Jack Kemp exigiam a renúncia de Volcker. Não fosse o apoio incondicional dado por um presidente muito popular, os esforços para remover Volcker teriam logrado êxito. Embora de início Volcker tivesse sido amplamente vilipendiado, no final ele acabou recebendo louvações quase que unânimes por conta de sua corajosa política monetária, a qual debelou a inflação, restaurou a confiança no dólar e preparou o terreno para uma vibrante recuperação econômica. Inversamente, a reputação de Bernanke será despedaçada tão logo a história revele todo o seu grau de incompetência e covardia.
Sugiro que Obama e o Congresso, em suas tentativas de corrigir a economia, se baseiem em George Constanza, aquele personagem do seriado Seinfeld. Após sabiamente reconhecer que cada um dos instintos que ele teve até o momento havia dado errado, George percebe que, para obter algum êxito, ele tem de fazer o exato oposto daquilo que seus instintos lhe recomendam. Espero que os sábios de Washington coloquem essa filosofia em prática.