Os lucros são para o povo

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lucroA atual onda anticapitalista que varre o mundo comprova, mais uma vez, que a ideologia anticapitalista, independente da época e do local, sempre confunde tragicamente o alvo da fúria.  A atual exigência é que se coloque “as pessoas antes dos lucros”, como se a busca pelo lucro fosse a origem dos problemas da humanidade.  O problema é que, na realidade, é justamente a ausência da busca por lucros a causa da grande miséria encontrada nas partes mais atrasadas do mundo.

Primeiro, um esclarecimento sobre lucros.  Lucros nada mais são do que uma fatia que um empreendedor consegue reter de toda a sua da receita, após ele ter quitado todas as suas obrigações.  O lucro é aquilo que resta após os custos de produção — tais como salários, aluguel, juros e demais despesas — terem sido pagos.  Lucros são a recompensa pela inovação, pelo risco assumido e pelas decisões tomadas.  Como tal, eles são um custo empreendedorial, assim como o são os pagamentos de salários, juros e aluguéis.  Se estes pagamentos não forem feitos, a mão-de-obra, a terra e o capital não irão oferecer seus serviços.  Similarmente, se não houver lucro, empreendedores não irão oferecer os seus.  Historicamente, o lucro sempre foi muito mais baixo do que os gastos com mão-de-obra.  Nos EUA, por exemplo, os lucros corporativos estão entre 5 e 8 cents para cada dólar, ao passo que os salários estão entre 50 e 60 cents de cada dólar.

Muito mais importante do que simples estatísticas sobre a magnitude dos lucros é a função exercida pelos lucros — qual seja, obrigar os produtores a satisfazerem as necessidades e desejos do cidadão comum.  Quando foi a última vez que ouvimos reclamações generalizadas em relação a lojas de departamento, supermercados, lojas de informática, lojas de ferramenta ou lojas de eletrodomésticos?  Tais empreendimentos operam em um ambiente de mercado relativamente livre e concorrencial, o que significa que elas têm de se desdobrar para agradar seus consumidores e não perdê-los para a concorrência.  Agora compare os serviços prestados por tais empreendimentos aos serviços que nos são agraciados por “empreendimentos” estatais como Correios, DETRAN, polícia, ministério da educação e várias agências governamentais.  Qual dos dois tipos de serviços gera reclamações generalizadas?  A diferença fundamental entre as áreas de satisfação geral e as áreas de descontentamento generalizado é que a busca por lucros está presente em uma e não está na outra.

A busca por lucros força os empreendedores a se manterem atentos aos desejos de seus clientes.  Se, por exemplo, o cliente de um supermercado não estiver satisfeito com os serviços ali prestados, ele poderá simplesmente nunca mais voltar ali, recorrendo à concorrência para ter seus desejos mais bem atendidos.  O dono do supermercado terá prejuízos.  E a função precípua do empreendedor, além de obter lucros, é evitar prejuízos.  Por outro lado, se o DETRAN ou os Correios ofertarem serviços para lá de insatisfatórios, não será muito fácil para o descontente consumidor tomar alguma medida contra tais burocracias.  Se um empreendimento privado possuísse a mesma quantidade de clientes insatisfeitos que possui, por exemplo, a educação estatal, ele já estaria há muito falido.

Se um empreendimento privado é insatisfatório, seus clientes o abandonam e ele perde dinheiro até eventualmente ir à falência.  Se um empreendimento estatal é insatisfatório, os cidadãos, mesmo que não queiram utilizá-lo, são obrigados pelo governo a dar mais dinheiro para ele, pois só assim o serviço poderá ser “aperfeiçoado”.  A diferença moral entre os dois arranjos é indescritível.

O capitalismo de livre mercado é implacável.  Ou os empreendedores descobrem novas maneiras de agradar a seus clientes, continuamente melhorando seus produtos e serviços ao mesmo tempo em que têm de descobrir novas maneiras de cortar custos e, com isso, obter lucros, ou eles sofrem prejuízos e vão à falência.  E é exatamente esta rígida disciplina imposta pelo mercado o que assusta várias empresas, fazendo com que elas recorram ao governo em busca de regulamentações e de proteção contra a concorrência.  É daí que surge o capitalismo de estado ou o capitalismo clientelista que vemos hoje ao redor do mundo, com pacotes de resgate, subsídios e privilégios especiais.  Essas empresas que recorrem ao estado desejam simplesmente reduzir o poder dos consumidores e de seus acionistas, os quais têm pouca simpatia por erros crassos e tendem a abandoná-las ao menor sinal de ineficiência.

Ter o governo ao seu lado — por meio de regulamentações especiais, protecionismo, subsídios ou pacotes de socorro — significa que uma empresa pode ser muito menos dedicada aos desejos dos consumidores.  O governo poderá mantê-la operante mesmo que isso vá contra a vontade dos consumidores.  Um explícito exemplo recente ocorreu nos EUA com a General Motors e com a Chrysler, quando o governo americano salvou as duas empresas da falência concedendo-lhes pacote de resgate sob a justificativa de que ambas eram “grandes demais para falir”.  Balela!  Se a GM e Chrysler tivessem ido à falência, isso não significa que seus ativos produtivos, como as linhas de montagem e todo o seu maquinário, magicamente virariam pó e desapareceriam no ar.  A falência teria levado a uma mudança na propriedade destes ativos, fazendo com que eles fossem entregues a outros empreendedores com melhores capacidades gerenciais.  A intervenção do governo não apenas impediu que o mercado corretamente punisse tais empresas, como também acabou por recompensá-las por seus erros grosseiros.

Por fim, uma observação adicional sobre lucros: frequentemente ouvimos pessoas dizerem, com um inevitável tom de santidade, que pertencem a organizações “sem fins lucrativos”, como se apenas esse fato por si só já automaticamente se traduzisse em decência, objetividade e abnegação.  Tais pessoas querem nos fazer crer que estão visando unicamente ao bem da sociedade, e que de maneira algum estão atrás do “satânico” lucro.  Se pararmos um pouco para pensar no assunto e nos perguntarmos qual tipo de organização, ao longo de toda a história da humanidade, foi a maior responsável pelo sofrimento desta, a resposta não será o livre mercado e nem suas empresas privadas que buscam o lucro; a resposta será ‘o governo’, a maior organização sem fins lucrativos de qualquer economia.

Todos os intelectuais anticapitalistas e todos os críticos da economia de mercado, os quais frequentemente pedem mais estado e menos mercado, estão seguindo o caminho previsto pelo grande filósofo-economista Frédéric Bastiat, que em seu livro A Lei disse que “Em vez de extirpar as injustiças encontradas na sociedade, eles se esforçam para generalizá-las.”  Em outras palavras, tais pessoas não querem acabar com o capitalismo clientelista, com suas proteções e favorecimentos governamentais; elas querem é participar dele.

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