Recentemente, uma grande cadeia varejista fechou uma de suas filiais na cidade em que moro após uma década de funcionamento. A matriz emitiu o seguinte comunicado: “Com o intuito de nos concentrarmos mais intensamente em nossas competências primordiais, tomamos a decisão de fechar algumas de nossas lojas varejistas”.
Um antigo cliente escreveu uma carta ao jornal local reclamando: “É lamentável. É tudo uma questão de ganância, e somos nós que sofremos com isso. É frustrante saber que não há nada que possamos fazer quanto a isso.”
Eis aí uma visão bastante curiosa de “ganância”: fechar uma loja e deixar de auferir receitas com ela. Aliás, desde quando tentar tornar mais eficiente o empreendimento no qual você investiu tempo e dinheiro passou a ser uma atitude gananciosa? E o que exatamente o freguês descontente gostaria de fazer? Talvez criar uma lei que efetivamente escravize o empreendedor e o obrigue a manter a loja aberta? Nesse caso, quem realmente está sendo o ganancioso?
“Ganância” é uma palavra que flui das bocas progressistas com a mesma facilidade com que a gordura desliza em uma frigideira quente. Trata-se de um termo pejorativo que tem a intenção de jogar o indivíduo alvo deste “insulto” em uma espécie de sarjeta moral. A pessoa que profere tal termo acredita piamente em sua santidade fingida; acredita genuinamente ser alguém acima das convencionais divisões morais, alguém preocupado apenas com os mais desafortunados. Já o “ganancioso” seria alguém que chafurda em seu próprio egoísmo maléfico.
Pessoas inteligentes já deveriam ter se dado conta de que essa é uma tática vulgar e ignara, e não um comentário moral e ponderado.
O economista Thomas Sowell explicou que o termo “ganância” não mais pode ser classificado de acordo com a definição tradicional encontrada nos dicionários. Como ele próprio disse, “nunca entendi por que é ‘ganância’ querer manter para si o dinheiro que você ganhou com o suor do próprio rosto, mas não é ganância querer tomar o dinheiro dos outros.”
Houve uma época — e foi assim durante muito tempo — em que “ganância” significava mais do que o mero desejo por algo. Significava uma veneração excessiva e obsessiva por algo, de forma que tal desejo frequentemente se transformava em ações que prejudicavam outras pessoas. Apenas querer ganhar dinheiro não era em si uma coisa ruim, desde que você trabalhasse dura e honestamente para lograr tal êxito, transacionando voluntariamente com outras pessoas. Apenas se você venerasse o dinheiro ao ponto de estar disposto a roubar ou a utilizar o governo para saquear o Tesouro a seu favor, aí sim você seria considerada uma pessoa gananciosa.
Para outras pessoas, “ganância” também significa uma relutância em compartilhar com desconhecidos aquilo que é seu. Suponho que um pai de família que prefira comprar um iate em vez de alimentar sua família possa ser classificado assim, mas somente porque ele está se esquivando de sua responsabilidade pessoal; ele deve à família que ele formou e aos filhos que colocou no mundo a obrigação moral de cuidar deles adequadamente. Já um assalariado que não quer entregar parte do seu salário para terceiros por acaso está violando alguma suposta responsabilidade em sustentar eternamente uma fatia da população? Por acaso isso constava em algum contrato firmado por ambas as partes?
Não nos esqueçamos da importância fundamental e decisiva de algo chamado “interesse próprio” na formação da natureza humana. Nascemos com esse instinto, e que bom que é assim. Não lamento essa nossa característica nem por um segundo. Você ter de cuidar de si próprio e daqueles que você ama e pelos quais você é o responsável é justamente o que torna o mundo um lugar melhor. Quando seu interesse próprio motiva você a agir assim, isso significa que você está fazendo um bem ao mundo. Você está retirando um fardo de cima dele, e não criando mais um.
Ainda de acordo com os progressistas, “ganância” é algo que existe apenas no setor privado, e que, por isso, deve ser combatido pelo setor público. A ideia é a de que, de alguma maneira, quando políticos e funcionários públicos entram em cena e intervêm no setor privado, a ganância é abolida. Gostaria muito de saber exatamente em que ponto o interesse próprio de um político ou de um funcionário público se evapora e sua compaixão altruísta entra em cena e assume completamente o controle do indivíduo.
Por exemplo, no caso de um político, tal mudança de personalidade ocorre na noite da eleição, no dia em que ele assume o cargo, ou após ele já conhecer os detalhes das engrenagens do poder? Quando ele se dá conta do poder que realmente tem, ele se torna mais propenso ou menos propenso a querer se locupletar com o dinheiro alheio?
E no caso de um funcionário público, ele pára de pensar em si próprio e se torna um inflexível altruísta no momento em que é aprovado em um concurso ou apenas no momento em que é efetivado? Suas rotineiras greves por aumentos salariais não podem ser classificadas como ganância? Seus frequentes conchavos com grandes empresários representam um altruísmo em prol do povo?
Políticos em especial adoram denunciar: “Aquele sujeito ali é ganancioso! Vou pegar um pouco do seu dinheiro para proteger você dele!” Antes de você cair de amores por esse político, ao menos faça algumas perguntas mais diretas — por exemplo, como aquele ganancioso está ganhando o dinheiro dele e como esse suposto protetor propõe usar o seu dinheiro.
A realidade é que não há absolutamente nada na estrutura de um governo que torne seus membros menos “gananciosos” do que o cidadão comum ou um empreendedor qualquer. Ao contrário, aliás: conceder poder político a um indivíduo dotado naturalmente de interesse próprio é uma receita garantida para amplificar o estrago que a ganância pode fazer.
Você por acaso já ouvir falar em corrupção no governo? Já ouviu falar em compra de votos (tanto por vias diretas quanto por indiretas, como promessas de campanha)? Já ouviu falar em propinas pagas por empreiteiras? O que você acha do aumento da dívida pública — que onera as gerações futuras — para se financiar projetos meramente eleitoreiros? Tal ganância política não seria muito mais deletéria do que o dono de uma padaria querer ter algum lucro?
Em um mercado livre e desimpedido, no qual o governo não escolhe vencedores e não protege e nem subsidia ninguém, você rapidamente irá perceber que, se quiser ganhar dinheiro (ou seja, exercitar sua “ganância”), você terá inevitavelmente de servir bem seus conterrâneos. Você não poderá satisfazer sua ganância simplesmente colocando uma coroa em sua cabeça, enrolando-se em um manto, e exigindo que os súditos lhe deem dinheiro. Você tem de produzir, criar, comercializar, investir e empregar. Você tem de saber como fornecer bens e serviços para consumidores que, voluntariamente, estarão dispostos a dar dinheiro em troca deles. Você tem de fornecer bens e serviços para clientes desejosos, os quais optarão por abri mão de seu dinheiro em troca deles, e terão de fazer isso muito mais do que apenas uma vez. Sua “ganância” irá se transformar em coisas que irão melhorar a vida das outras pessoas.
Já na utopia socialista com que os progressistas sonham, em que as coisas ocorrem por decreto de cima para baixo, a ganância não apenas não desaparece, como na realidade é canalizada para atividades totalmente destrutivas. Para satisfazê-la, você tem de utilizar todo o processo político para poder espoliar as outras pessoas. Em vez de consumidores voluntários, você irá saciar sua ganância por meio de pagadores de impostos cativos.
A acusação de ganância, portanto, não passa de um mero recurso de retórica, uma calúnia com claros objetivos políticos. Você venerar ou não algo totalmente material como o dinheiro é algo que será resolvido apenas entre você e seu Criador (caso acredite em um); não é algo que possa ser cientificamente mensurado e proibido por legisladores que são ainda mais propensos à ganância do que você. Não seja um garoto-propaganda dessa gente.