Uma reflexão sobre cinema, cultura e mercado

Qualquer pessoa acostumada a assistir filmes americanos sabe perfeitamente que Hollywood tem, de uns anos para cá, despejado uma quantidade exacerbada de filmes lacradores sobre o grande público. Em virtude da hegemonia política e ideológica conquistada em anos recentes, a amplitude cultural da lacração tornou-se tão grande que ela moldou completamente as prioridades da indústria cinematográfica americana, que foi praticamente reconfigurada para atender os desejos e as exigências do universo ideológico progressista.
É verdade que desde a reeleição de Donald Trump, a cultura progressista lacradora tem sofrido alguns retrocessos em território americano. A ênfase dada à lacração progressista nos filmes, nos seriados de televisão e nos desenhos animados foi relativamente atenuada. No entanto, os golpes desferidos pelos reacionários representam algumas pequenas gotas d’água em um vasto oceano, que terão pouco efeito no curto prazo.
Muito possivelmente, apenas a longo prazo será possível expurgar totalmente o progressismo da cultura — se é que podemos realmente esperar uma derrota completa e total da ideologia progressista, mesmo sob a perspectiva de um futuro distante. Eu, particularmente, não sou tão otimista.
Infelizmente, a cultura woke se tornou uma praga que se proliferou por todos os aspectos da sociedade e da cultura. Como não poderia deixar de ser, ela acabou se alastrando de forma totalmente descontrolada pelo cinema americano.
Os efeitos da dominação woke sobre a indústria cinematográfica americana foram trágicos. A agenda progressista praticamente matou os filmes de comédia. Como é de conhecimento comum, não é mais permitido contar piadas atualmente, pois a grande maioria delas pode ofender os floquinhos de neve progressistas, sempre tão excessivamente frágeis, delicados e hipersensíveis.
Quer dizer, você pode ridicularizar o homem branco e torná-lo o alvo de piadas em um filme de humor, mas não é permitido fazer piadas com homossexuais, negros, mulheres, deficientes e outras minorias supostamente “oprimidas”. Quem se atreve a desobedecer essa regra corre o sério risco de ser sumariamente cancelado e ter sua carreira totalmente arruinada — sejam atores, produtores ou diretores. Em anos recentes, inúmeras celebridades tiveram que se desculpar por piadas, comentários ou declarações que foram consideradas “ofensivas” pela militância cintilante da terra da fantasia.
Claro, os filmes de comédia não morreram totalmente, mas são produzidos em uma quantidade excepcionalmente irrisória, se comparados com as décadas pré-lacração de 1980, 1990 e anos 2000. Não obstante, todos os filmes de comédia produzidos atualmente ficam em terreno “seguro” — ou seja, eles se mantêm dentro dos limites permitidos pela agenda progressista, para não desagradar a militância. Isso significa que eles se limitam a um tipo de humor bastante neutro, que geralmente produz piadas sem graça.
Quando alguém de um determinado grupo precisa ser ridicularizado, ou deve servir como alívio cômico e motivo para as piadas em um filme de comédia, o alvo escolhido é, evidentemente, sempre o homem branco comum (frequentemente descrito pela seita progressista como “cisgênero heteronormativo”), que vem a ser, convenientemente, o grande vilão da sociedade ocidental — representante de uma classe “opressiva”, que constitui a única categoria de pessoas que não é protegida pela seita progressista, pois foi eleito o grande antagonista da humanidade. Na verdade, a seita progressista se considera essencial para proteger todas as raças, pessoas, grupos e minorias que existem no mundo do homem branco opressor.
Não obstante, fazer filmes de comédia que ridicularizam apenas homens brancos pode ser algo extremamente restritivo, tanto no sentido criativo quanto no sentido comercial. Afinal, você terá um número demasiadamente limitado de piadas, assim como contextos que também serão muito limitados. E não tem como produzir inúmeros filmes com a mesma premissa. O público tende a ficar cansado, e o investimento realizado pode se transformar em um amargo prejuízo financeiro.
Como de fato não desejam se arriscar, os produtores e os grandes estúdios cinematográficos de Hollywood não mais apostam em comédias. Afinal, desagradar os lacradores é algo que, mesmo com a ressaca recente do grande público, ainda se mostra uma empreitada arriscada, que pode sair muito caro e custar a carreira de todos os envolvidos. Portanto, o melhor a fazer — de acordo com esta mentalidade — é atender todos os desejos e as demandas da militância lacradora.
Afinal, como a indústria cinematográfica aprendeu amargamente com alguns incidentes nos últimos anos, fazer piadas com negros, mulheres ou homossexuais é algo que pode gerar maciças e indesejadas repercussões. Por essa razão, os cuidados a serem tomados se tornaram ostensivos: a militância pode literalmente reclamar de qualquer coisa. E de fato, reclama.
Como a turma lacradora está sempre procurando algo que os desagrade — e isso é algo simples de ocorrer, é um ritual diário que começa sempre que eles levantam da cama, pela manhã —, produzir algo que provoque histeria, furor e cólera entre os militantes é algo muito fácil de acontecer. Por conseguinte, a vigilância persistente e a aderência ostensiva à agenda politicamente correta são coisas que a indústria tem priorizado. Cautela, cuidado e representação fidedigna dos ideais, do vocabulário e das pautas progressistas tornaram-se mais importantes do que a mensagem, o conteúdo ou o valor artístico da obra cinematográfica.
Em função de um mercado que está imensamente preocupado em agradar pessoas afiliadas a uma determinada ideologia, os estúdios cinematográficos se tornaram extremamente comprometidos a atender todas as demandas da seita multicolorida da diversidade, do amor e da tolerância — muito possivelmente, para que os lacradores de plantão não fiquem histéricos, encolerizados, perturbados e não comecem dramáticas campanhas de linchamento virtual e cancelamento nas redes sociais, quando algum filme, produção televisiva ou seriado os desagrada.
Como consequência desse desejo de agradar a militância woke, evitar o poder destrutivo dos cancelamentos e das repercussões indesejadas, não perder lugar debaixo dos holofotes e participar ativamente da promoção da religião secular da diversidade, do amor e da tolerância, os grandes estúdios de Hollywood saturaram o mercado com uma vasta profusão de progressismo, em praticamente todos os gêneros cinematográficos.
Com a literal (quase) extinção dos filmes de comédia, sem dúvida nenhuma, os filmes de super-herói (que basicamente se limitam a adaptações de personagens de histórias em quadrinhos, em sua maioria da Marvel e da DC Comics) se enquadram como o gênero cinematográfico que mais sofreu com a deturpação progressista. Os fãs inveterados e os entusiastas de história em quadrinhos da velha guarda se recusam ostensivamente a assistir adaptações recentes de seus heróis favoritos (eu incluído). O último filme de super-herói que assisti no cinema foi Batman Begins, de 2005.
E, infelizmente, ao falar de super-heróis, é necessário mencionar que até mesmo a indústria de história em quadrinhos foi ostensivamente contaminada pela ideologia woke. Embora eu não leia mais quadrinhos, jamais trocaria meus gibis antigos e as edições clássicas por aquilo que está sendo produzido atualmente.
O que os anos recentes produziram no gênero de filmes de super-heróis é extremamente deplorável. De heroínas feministas que mostram que são melhores em tudo do que os heróis homens, a legiões de heróis com consciência social e discurso ecológico, esse é um universo tão ostensivamente saturado de lacração, que ele se tornou simplesmente insuportável para qualquer pessoa que tenha um grau mínimo de sofisticação intelectual.
Os filmes de super-herói da atualidade constituem um gênero cinematográfico que é impossível de ser definido como qualquer coisa além de entretenimento vulgar e barato para o consumo de massa, totalmente destituído de qualquer conteúdo de valor ou de qualquer miligrama de profundidade.
Cansado de lacração? O mercado oferece a solução
Como muitos cinéfilos e entusiastas de filmes de qualidade, renunciei sumariamente ao cinema americano contemporâneo, por estar completamente saturado de lacração progressista. Continuo gostando muito de filmes americanos, mas atualmente só assisto a filmes americanos produzidos entre as décadas de 1940 e 1980. Este é um período que considero “seguro”, por assim dizer, na questão cultural. Os filmes deste período estão desprovidos de lacração e de futilidade militante. Por outro lado, o cinema americano atual está totalmente morto para mim.
Então, o que fiz para saciar minha vontade por bons filmes contemporâneos?
Evidentemente, a indústria cinematográfica americana é a maior do mundo, mas não é a única. Há vários anos passei a assistir ao cinema da Coreia do Sul. E fui surpreendido pela qualidade simplesmente espetacular do cinema sul-coreano. Indubitavelmente, ele rebaixa o cinema americano contemporâneo à condição de opção drasticamente inferior.
Definitivamente sensacional em todos os gêneros — dramas históricos, thrillers políticos, ação policial, suspense ou espionagem, entre muitos outros —, o cinema da Coreia do Sul impressiona por sua formidável qualidade, em todos os níveis. E uma característica adicional simplesmente magnífica que contribuiu para me cativar de forma definitiva foi a total ausência de lacração.
Nos filmes da Coreia do Sul — não importa o gênero que você escolhe assistir — não tem mulheres de cabelos roxos, cor-de-rosa ou púrpura, nenhum personagem é “gênero fluído”, não se usa vocabulário progressista, as mulheres não tem cabelo curto, não há feminismo enrustido nas personagens, homens são casados com mulheres e tem dois ou três filhos, entre outras coisas plenamente saudáveis e normais, que a religião secular progressista classifica como elementos de “extrema-direita”, e que foram quase que totalmente erradicados nos filmes produzidos no ocidente.
De fato, os filmes da Coreia do Sul são tão interessantes, que se aprende muito com eles. Logo abaixo, dou dicas de três filmes que certamente podem cativar o leitor, e levá-lo a vivenciar uma experiência cinematográfica única.
Esses três filmes são baseados em fatos verídicos — o que não é nenhuma surpresa, visto que estamos falando de um povo e região da Ásia com uma vasta profusão de acontecimentos históricos. Portanto, além do entretenimento de qualidade estar garantido, o espectador aprende muito sobre o contexto histórico, social, cultural e político da Coreia do Sul.
A primeira dica é o filme A Era da Escuridão. Filme de 2016 dirigido por Kim Jee-woon, este filme é um fascinante drama histórico, baseado em fatos reais.
De 1910 a 1945, a Península da Coreia foi uma colônia japonesa. Para quem não sabe, os japoneses tratavam os coreanos com extrema crueldade e brutalidade. Os coreanos eram forçados a se sujeitar a um processo de assimilação cultural demasiadamente agressivo, que os privava do seu próprio idioma, os obrigava a aprender a língua japonesa, e os tratava como infelizes e miseráveis escravos, destinados a servir ao opressivo império nipônico.
Neste filme — cuja trama se passa na década de 1920 —, acompanhamos a fascinante e intensa luta da resistência coreana contra a ocupação japonesa. O filme mostra os integrantes da resistência se reunindo de forma clandestina e planejando insurreições contra as autoridades coloniais japonesas.
Também vemos como era latente e palpável a tensão que havia entre os coreanos da resistência e os coreanos que eram subservientes à ocupação japonesa. O protagonista desta história é Lee Jung-chool (interpretado pelo ator Song Kang-ho), que é um coreano que trabalha como oficial do Quartel General da Agência de Polícia Japonesa na Coreia.
Inicialmente mais preocupado com sua carreira como funcionário público do que com o destino do seu povo, eventualmente Lee Jung-chool tem uma profunda crise de consciência, e passa discretamente a agir em favor da resistência.
Filme excepcionalmente fantástico (assisti diversas vezes, assim como muitos outros dos filmes aqui recomendados), ele passa ao espectador uma forte mensagem libertária, de resistência contumaz à opressão e a tirania. Por se basear em fatos reais, o drama de todas as personagens presentes na história envolve o espectador nos acontecimentos de forma profunda, ensinando valiosas lições de coragem e resistência.
A segunda dica, também baseada em fatos reais, é o filme de espionagem de 2018, intitulado O Espião Que Foi Para O Norte.

Dirigido por Yoon Jong-bin e estrelado por Hwang Jung-min, este filme é baseado na história real de Park Chae-seo, um agente do Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul que, em 1992, foi designado para agir como espião. Sua missão era se infiltrar entre a elite norte-coreana, e tentar extrair o máximo possível de informações sobre o programa nuclear do governo norte-coreano, colhendo dados diretamente do ditador Kim Jong Il e de seus assessores imediatos.
Inicialmente amedrontado pelas dificuldades e pela pretensiosa envergadura da tarefa, o protagonista não se deixou intimidar por suas inseguranças. Depois de comprometer-se com os seus superiores, ele começou a se preparar para executar a missão. Então ele adotou uma nova identidade, um sotaque de uma região diferente da Coreia, fez contatos com chineses do mundo dos negócios e se tornou um empresário de fachada.
A partir de então, sua vida cai em um abismo de perigos constantes, onde o menor deslize pode custar a sua vida. Não obstante, o espião em questão — depois de muito trabalho, de muitos contatos e de aperfeiçoar-se de forma sistemática na arte da dissimulação — consegue obter o que deseja. Mas isso pode representar o início de um grande risco para a segurança nacional.
Certamente um dos melhores filmes que já vi, O Espião Que Foi Para O Norte tem ação do início ao fim, além de ensinar muito ao espectador sobre quão tensas, aflitivas e conturbadas são as relações políticas entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte.
A terceira dica é o filme O Homem Que Está ao Lado, um thriller político lançado em 2020. Baseado em fatos reais, este filme é um retrato fidedigno da brutal e opressiva autocracia do general Park Chung Hee.

Veja, muito falamos e debatemos sobre a ditadura comunista norte-coreana, mas poucos ocidentais sabem que a Coreia do Sul também sofreu um período dramático de repressão e autoritarismo, por quase duas décadas. De 1961 a 1979, o país foi controlado por uma ditadura militar implacável, cujas cicatrizes até hoje reverberam sobre o cenário político da Coreia do Sul.
Park Chung Hee, ou General Park, como era mais conhecido, governou o país como o generalíssimo da Coreia do Sul por quase duas décadas. O filme O Homem Que Está ao Lado mostra sua complexa relação com o povo sul-coreano, e suas ambivalências pessoais como homem e governante. Assim como ele se mostrava genuinamente interessado em alavancar o desenvolvimento do país, ele não se importava em mandar assassinar inimigos políticos, sob a alegação de que esses opositores eram agentes norte-coreanos infiltrados, comprometidos com o objetivo de disseminar o comunismo no país — o que nem sempre era verdade. De fato, muitas vezes esse argumento não passava de uma astuciosa prerrogativa, usada de forma oportuna para justificar a repressão política.
O General Park foi assassinado em 26 de outubro de 1979, pelo seu braço direito, Kim Jae-gyu, diretor da KCIA (Agência Central de Inteligência Coreana). Kim Jae-gyu foi eventualmente condenado pelo assassinato do General Park, e sentenciado à morte, sendo enforcado em 24 de maio de 1980.
Até hoje, esses dois indivíduos são considerados figuras históricas polêmicas, que dividem a opinião pública na Coreia do Sul. Enquanto algumas pessoas veem o General Park como um líder forte e necessário — cuja liderança autocrática foi fundamental para proteger a Coreia do Sul do comunismo —, outros o veem como um oportunista político dissimulado, que cobiçava o poder de forma vitalícia, além de se engajar com frequência em atos ilícitos de corrupção e favoritismo.
Kim Jae-gyu, da mesma forma, suscita opiniões contraditórias. Para muitos sul-coreanos, ele foi um subordinado medíocre, de personalidade covarde e condescendente, que — ao assassinar Park Chung Hee — mergulhou o país em uma profunda e turbulenta crise política, comprometendo assim a estabilidade e a segurança nacional. Uma parcela distinta da população, no entanto, o vê como um herói nacionalista corajoso, que salvou o país de uma ditadura que se prolongou por quase duas décadas e exauriu de forma substancial a classe média.
Certamente, o filme O Homem Que Está ao Lado é um excelente thriller político, que vale a pena ver e rever, múltiplas vezes.
Além destes filmes, existem muitos outros que eu poderia recomendar, como o filme Um Dia Difícil, de 2014, que é certamente um dos melhores filmes do gênero policial que eu já assisti. Além deste, há também o formidável suspense A Testemunha, de 2018, que é definitivamente um dos filmes mais originais e criativos do gênero. Depois de algum tempo, até me acostumei com determinados atores. Lee Sung-min está no elenco de vários filmes aqui indicados, em alguns como protagonista, em outros como coadjuvante.
De fato, não me arrependo nem um pouco de ter abandonado de forma total e completa o cinema americano contemporâneo. O cinema sul-coreano, com toda a sua qualidade visual, variedade de gêneros, tramas coesas e consistentes, abordagem fidedigna de eventos históricos, atuações competentes, direção dinâmica e profunda riqueza de detalhes nos temas abordados, deixa o cinema americano contemporâneo parecendo uma exaustiva e previsível engrenagem de entretenimento corporativo, terrivelmente tediosa, sonolenta e medíocre. A quem não conhece ainda o cinema da Coreia do Sul, fica a minha sincera recomendação.
Predominância cultural e tendências de mercado
A persistência de elementos conservadores no cinema sul-coreano é deveras impressionante, visto que a Coreia do Sul não é exatamente um modelo de sociedade conservadora, mas antes o contrário. É uma sociedade extremamente liberal, com um índice de casamentos que declina progressivamente ano após ano, e uma taxa de natalidade que está entre as piores do mundo. Mas, então, o que explica a ausência de lacração e as inclinações notavelmente conservadoras do cinema sul-coreano?
Bom, é fundamental lembrar que liberalismo não é, exatamente, sinônimo de progressismo. É verdade que o progressismo só consegue se disseminar e se difundir em uma sociedade liberal, mas a dinâmica das sociedades orientais jamais permite que o conservadorismo social e cultural seja completamente erradicado.
Não obstante, dada a complexidade das formas e maneiras como as civilizações se desenvolvem, não chega a ser estranho que uma mesma sociedade seja liberal, enquanto preserva comportamentos e códigos culturais extremamente conservadores. No ocidente, tanto Estados Unidos quanto Brasil podem ser definidos como exemplos de países ultraliberais, que ainda preservam ambientes com sólidos componentes conservadores. Mas é claro que, com o passar do tempo — e em qualquer campo de batalha, seja ele moral, político, social ou cultural —, o liberalismo tende a ganhar cada vez mais espaço, enquanto o conservadorismo tende a se retrair. Não obstante, sempre existirão microcosmos que preservarão uma mentalidade e uma postura mais conservadora, em graus variados.
Adicionalmente, há outro componente muito forte que explica porque o progressismo é mais preponderante no ocidente do que no oriente.
De fato, são as tendências de mercado que conseguem explicar tanto a lacração extrema da indústria cinematográfica americana, quanto a total ausência de lacração do cinema sul-coreano. Dois exemplos que são, curiosamente, o completo e total oposto um do outro, apesar de serem produzidos em sociedades que, em linhas gerais, não são tão diferentes assim. Devemos lembrar que — assim como Japão, Taiwan e China — a Coreia do Sul é basicamente um país ocidental localizado na Ásia.
A verdade é que tanto a extrema lacração do cinema americano, quanto o conservadorismo cultural e social do cinema sul-coreano representam produtos fiéis a determinadas tendências de mercado. Os estúdios responsáveis por produzir e realizar esses filmes possuem o desejo prévio de agradar públicos bastante específicos. Eles também são motivados por um profundo pavor de reprovação popular e repercussão negativa.
Em função disso, os estúdios cinematográficos estarão propensos a fazer filmes que irão agradar o mercado de seu país e a saciar os anseios da esfera cultural dominante. Como toda empresa, estúdios cinematográficos são empreendimentos comerciais que almejam o sucesso, tendo por objetivo consolidar um público cativo, ávido por consumir os seus produtos.
Apesar do seu liberalismo político e social, em decorrência de diversos fatores culturais, a sociedade sul-coreana permanece sendo relativamente mais conservadora do que a sociedade americana (apesar de ser influenciada por esta). Além da lacração — e da ideologia progressista como um todo — não ter tanto apelo entre a sociedade sul-coreana, até mesmo entre a elite cultural a ideologia progressista parece uma excentricidade bizarra do ocidente.
Certamente, ela é considerada um delírio político destituído de qualquer correspondência com a realidade da Coreia do Sul. E em função de sua irrelevância no contexto cultural do país, ela é totalmente ignorada nos filmes.
Adicionalmente, os produtores de cinema sul-coreanos têm plena consciência da repercussão extremamente negativa que um filme teria se — contrariando as tendências de mercado do seu país —, ele fosse usado como veículo para a imposição de uma agenda política extrema, que não usufrui de ampla aceitação cultural na sociedade.
Em linhas gerais, a sociedade sul-coreana ainda é bastante conservadora (se comparada com a sociedade americana, ou qualquer outro país ocidental), e isso se deve a fatores culturais e históricos que fazem o liberalismo ser um fenômeno relativamente recente entre as sociedades orientais, que sempre foram mais ligadas à tradições e muito mais resistentes à mudanças do que a civilização ocidental.
No caso da Coreia do Sul, o conservadorismo social e cultural dita as regras do jogo em muitos setores da sociedade. Muitas vezes, isso ocorre de forma bastante contundente. Na indústria cinematográfica, no entanto, ela permanece sendo uma regra de conduta implícita nas entrelinhas.
Em 2011, a atriz sul-coreana In-hye Oh usou um vestido extremamente provocante na premiére de um filme. Seu vestido curto e decotado — que deixava os seios exageradamente expostos, ainda que não totalmente à mostra — causou um furor midiático sem precedentes no país. Consequentemente, a atriz perdeu contratos e viu ofertas de papéis para filmes declinar rapidamente. Eventualmente, sua carreira caiu no total ostracismo, e em 2020, aos 36 anos, completamente desesperada com o declínio de sua vida profissional, a atriz tirou a própria vida.
O que esta triste história nos ensina?
Nos ensina que, se você quer permanecer no mercado e ter uma carreira próspera e longeva (seja no segmento que for), é fundamental dançar conforme a música. E quem dita as regras do jogo é o mercado. Quem dita tendências e está em poder de fazer exigências é sempre o mercado. A partir do momento que você escolhe fazer algo que o mercado repudia, não espere conseguir popularidade, aprovação ou ofertas de trabalho. O mercado reage a todos os estímulos, sejam eles positivos ou negativos.
Qualquer funcionário da indústria cinematográfica — seja uma atriz, um ator, um diretor ou um produtor — certamente pode fazer o que quiser, mas precisa estar preparado para enfrentar as consequências de suas escolhas e comportamento. No caso da atriz In-hye Oh, ela aprendeu da pior forma possível que ela precisava atender a demandas de mercado que são extremamente conservadoras. Um erro irreversível acabou lhe custando a carreira — e posteriormente, incapaz de lidar com as consequências de sua ousadia indevida, sua insatisfação com a carreira levou-a a tirar a própria vida.
Talvez se ela tivesse feito nos Estados Unidos o que ela fez em seu país, ela teria recebido elogios, ofertas de trabalho e seria destaque em capas de revista. Infelizmente, ela cometeu o equívoco de esquecer que vivia no oriente, uma região do mundo que não ignora normas e padrões morais, nem é degenerada e degradante ao nível do ocidente.
É importante entender que o mercado sempre vai fornecer uma resposta aos produtos que lhe são disponibilizados. Evidentemente, tanto o mercado americano quanto o mercado sul-coreano vão dar respostas para os filmes que suas respectivas indústrias cinematográficas estão produzindo.
De uma certa forma, essa mesma lógica pode ser aplicada ao mercado nacional. Os filmes brasileiros geralmente fazem pouco ou nenhum sucesso, porque normalmente eles não refletem o gosto e as preferências do grande público. A maioria dos filmes realizados no Brasil são financiados com dinheiro público, e são produzidos para saciar fetiches acadêmicos universitários, satisfazer vaidades exóticas e narcisistas da elite artística ou preencher cotas de financiamento cultural com uma forte pauta ideológica. Como a maioria desses filmes não reflete a realidade, e nem atende as preferências do público, eles invariavelmente acabam sendo fracassos de bilheteria e terminam caindo no esquecimento absoluto. Não é sem razão ou motivo que o brasileiro, de forma geral, tem profunda aversão ao cinema nacional.
Um ponto fora da curva no cinema nacional aconteceu com os filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro, que foram enormes sucessos de bilheteria (no Brasil e no exterior), o que aconteceu justamente pelo fato de terem preenchido importantes lacunas de mercado — algo que o cinema nacional raramente faz.
Esses dois filmes estiveram entre as pouquíssimas ocasiões em que o cinema nacional realmente saciou o gosto do grande público. Essa franquia fez isso por fundir com relativa competência gêneros como drama e ação policial, retratando de forma fidedigna a realidade social do país.
Esses dois filmes expuseram com maestria os interesses que movimentam a máquina pública, refém de uma burocracia pérfida e vil, cujas engrenagens político-oligárquicas são sempre lubrificadas por uma vasta profusão de interesses escusos. Esses filmes foram ambientados no Rio de Janeiro, que — além de sua projeção internacional como cartão-postal do Brasil — serve como o microcosmo de uma condição que (em diferentes proporções) se reflete no país inteiro.
Consequentemente, por refletir a realidade com uma elevada dose de competência artística, através de um enredo coerente e uma eficiente dinâmica visual, os filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 se consagraram como obras-primas do cinema nacional. Igualmente importante é reparar no fato de que esses filmes foram lançados em 2007 e 2010, respectivamente — portanto, antes da eclosão da lacração cultural progressista — e esse fenômeno não se repetiu.
Conclusão
Evidentemente, indústrias cinematográficas de diferentes países vão produzir coisas diferentes, porque as respostas fornecidas pelo mercado de cada país serão diferentes. Essas respostas vão transmitir a satisfação (ou insatisfação) da cultura predominante em uma sociedade.
No fim das contas, no entanto, é sempre o mercado que dita as regras do jogo. Para a lacração acabar em Hollywood (e parar de ser exportada para outros países), ela precisa primeiramente ser expurgada da cultura, para então se tornar irrelevante no mercado.
Em linhas gerais, o mercado nada mais é do que o conjunto das preferências pessoais de todas as pessoas que habitam um determinado local. O lucro ou o prejuízo são os fenômenos que sinalizam para o mercado quais são, exatamente, essas preferências. O fato do filme Tropa de Elite ter feito enorme sucesso de bilheteria e dado lucro (com orçamento de R$ 10,5 milhões, teve uma receita de quase R$ 25 milhões) quando lançado, em 2007, foi o que sinalizou aos produtores que eles podiam apostar em uma sequência.
O fenômeno da introdução do progressismo nos filmes, nos desenhos animados, nas histórias em quadrinhos, e em outros mercados, é um fenômeno cultural que — como aconteceu tantas outras vezes com tantos outros movimentos —, teve seu apogeu e invariavelmente encontrará o seu declínio.
Mas é claro que não devemos cantar vitória antes do tempo. A erradicação sumária, total e completa da ideologia progressista pode demorar mais do que gostaríamos. Isso muito dependerá da resposta que o mercado der aos produtos infectados pela ideologia woke. Como é possível verificar no presente momento, filmes contaminados pelo progressismo estão em declínio. E o boicote generalizado do público às porcarias progressistas é o que sinalizará para o mercado que as pessoas não se agradam nem um pouco com lixo militante disfarçado de entretenimento.
Que todos os produtos infectados pela ideologia progressista sofram amargos prejuízos até desaparecerem por completo. Enquanto isso não acontecer, eu estarei desbravando os mercados livres dessa imbecilidade ideológica estúpida, assistindo a filmes que são simplesmente isso: filmes de qualidade, feitos unicamente com a pretensão de serem bons filmes.









Também sou fã de filmes sul-coreanos e vou indicar aqui um filmaço também baseado em fatos reais: À Altura (The Match) lançado em 2025 que aborda a história real de dois campeões do jogo de tabuleiro “GO”, respectivamente a conflituosa relação entre mestre e discípulo.
É curioso observar que passamos de uma rejeição completa a tudo o que vem de Hollywood, que desde o início foi o corpo místico de Satanás, para a defesa de uma Hollywood “clássica”. Não, os frutos de toda a degeneração WASP estão aí.
Vejamos a solução que seria assistir filmes coreanos. Por que supostamente não existe lacracão por lá ? por que não precisa, já que aquela sociedade nunca deixou de ser naturalista. Ou seja, onde não existe uma cultura católica, não há necessidade de lacração. Existe um suposto conservadorismo nestas sociedades porém, por questões naturais. Mas que sem a graça da religião verdadeira revelada, são naturalmente opressoras. Se fosse em um ambiente cristão, seria puritanismo. O exemplo desta pobre alma In-hye Oh reflete isso, infelizmente.
A questão é desligar todas as telas dentro do possível.