Uma aliança inesperada que explica perfeitamente a natureza do corporativismo

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Shale gas EROIPor que o gás natural é vendido dentro dos EUA a US$0,139 o metro cúbico ao passo que, na Europa e no Japão, ele é vendido a US$0,409 e US$0,600 respectivamente?

Parte da resposta está na enorme oferta existente nos EUA.  Com métodos de extração altamente tecnológicos e com a recente descoberta de vastos depósitos ricos em gás de xisto, as reservas estimadas dos EUA são de aproximadamente 6,8 trilhões de metros cúbicos.  Considerando-se as atuais taxas de uso, isso se traduz em uma oferta de gás natural de mais de 100 anos.  O que parcialmente explica os altos preços europeus e japoneses é o fato de que os mercados globais de gás natural não são integrados.  O governo americano impôs severas restrições à exportação de gás natural do país.

E isso, naturalmente, nos leva à próxima pergunta: por que há restrições à exportação de gás natural dos EUA?  A resposta é a de sempre: basta seguir o dinheiro.  De acordo com o site OpenSecrets.org, a empresa The Dow Chemical “apresentou despesas recordes com atividades lobistas no ano de 2012, gastando aproximadamente US$12 milhões.  E, pelo atual ritmo, irá superar esta quantia neste ano.”  A empresa também gastou centenas de milhares de dólares em contribuições para campanhas de políticos que apóiam as restrições às exportações de gás natural.

O gás natural é utilizado pela Dow como matéria-prima.  A empresa se beneficia financeiramente dos baixos preços do gás, os quais aumentariam caso o Congresso americano revogasse as restrições às exportações, pois isso elevaria a demanda externa e, consequentemente, diminuiria a oferta interna.  A Dow argumenta que “todo o atual otimismo da indústria americana está fundamentado nas perspectivas de uma oferta adequada, confiável e a preços sensatos de gás natural.”  É óbvio que a Dow e outros grandes usuários de gás natural contam com o apoio de poderosos grupos ambientalistas americanos que são contrários às atividades de prospecção e extração de gás de xisto, e que sabem que as restrições às exportações servirão à sua causa.

Adicionalmente, os grandes usuários de gás natural e os grandes grupos ambientalistas contam com poderosos aliados estrangeiros, algo que perceptível na declaração feita pelo príncipe saudita Alwaleed bin Talal, que disse ao ministro das energias da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, que a crescente produção de gás de xisto americano representa “uma inevitável ameaça” para aquele país.  A ministra das energias da Nigéria, Diezani Alison-Madueke, concorda e complementa dizendo que o xisto petrolífero dos EUA representa uma “grave preocupação“.  À luz destas “preocupações” estrangeiras em relação à produção energética americana, é de imaginar se estes países forneceram contribuições financeiras para políticos, ambientalistas e outros grupos americanos que atualmente estão combatendo ferozmente a prospecção e extração de petróleo e gás natural.

Certamente seria do interesse deles fazer todo o possível para manter o Ocidente dependente dos países da OPEP no que diz respeito a petróleo e gás.

Os produtores americanos de gás natural certamente gostariam de exportar seu produto para Europa e Japão para se beneficiarem dos preços mais altos ali praticados.  Um efeito dessas exportações seria o aumento dos preços do gás natural nos EUA e uma redução dos preços do gás natural nos países importadores.  Gigantes industriais como Dow, Alcoa, Celanese e Nucor são membros da America’s Energy Advantage, um grupo lobista que diz ser anti-patriótico permitir a ilimitada exportação de gás natural.  O grupo argumenta que restrições às exportações ajudam a manter os preços do gás natural baixos nos EUA e fornece às indústrias americanas uma vantagem em termos de matéria-prima, o que permite que elas possam produzir bens a preços menores.

Gostaria de perguntar à Dow, à Alcoa e às outras empresas que fazem lobby contra as exportações de gás natural se este mesmo argumento se aplica a elas.  Afinal, estas empresas exportam vários de seus produtos domésticos.  Por exemplo, a Alcoa exporta toneladas de alumínio.  Uma restrição à exportação de alumínio reduziria os preços do alumínio dentro dos EUA, desta forma beneficiando a indústria aeronáutica e automotiva, bem como fazendo com que todas as outras indústrias que utilizam alumínio se tornassem mais competitivas.  Duvido que a Alcoa pense assim.  Sempre será insensato adotar uma política econômica que estimule a indústria nacional por meio de métodos custosos e ineficientes, tais como restrições às exportações.

Porém, há um outro efeito indesejado das restrições às exportações de gás natural.  A enorme oferta e os consequentes baixos preços já começaram a atuar como um desestímulo para a futura exploração e produção de energia nos EUA.  De acordo com um artigo no The Wall Street Journal escrito por Thomas Tunstall, diretor de pesquisa do Institute for Economic Development, da Universidade do Texas, intitulado “Exporting Natural Gas Will Stabilize U.S. Prices” [Exportar gás natural irá estabilizar os preços nos EUA], a produção de gás natural nos três maiores campos de xisto petrolífero do Texas já rescindiu e voltou aos níveis de 2012.

Tunstall conclui dizendo que “No longo prazo, a dinâmica do livre mercado — o que inclui a liberdade de exportar sem restrições ou incertezas artificiais — é a melhor forma de gerenciar as curvas de oferta e demanda globais de gás natural”.  Quem entende de economia concorda.

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