Empregos reais e empregos falsos – os EUA continuam mal

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Este artigo pode ser visto como uma continuação deste outro: A economia americana continua em recessão – como previsto

 

Sob vários aspectos, os números do desemprego americano são muito piores do que aparentam [9,5% em junho].  Um fator que abrandou a realidade foi a escolha do período para se fazer o censo [nos EUA, é constitucionalmente obrigatório fazer o censo a cada 10 anos].  O governo contratou algo como 700.000 trabalhadores para coletar dados — pessoas essas que de outra forma teriam enormes dificuldades em navegar em meio ao revolto mercado de trabalho.  Elas aceitaram esses empregos porque eram algo certo, pagavam decentemente, e não exigiam habilidades extraordinárias (qualquer um pode tocar campainha e importunar as pessoas, perguntando sobre sua vida pessoal).

Isso inflou os números do mercado de trabalho por um tempo.  Mas agora esses empregos estão chegando ao fim — um evento extremamente atípico, dado que os empregos governamentais normalmente são eternos.  E todas essas pessoas estão agora tendo de enfrentar a revigorante realidade de ter de procurar emprego em uma economia destroçada pelo governo.

A imprensa tem dedicado um grande espaço prestando tributos a essas pessoas e seus trabalhos, e em seguida lamuriando-se sobre o destino delas, agora que seus empregos estão desaparecendo.  E isso faz surgir algumas questões.  Se esses trabalhos são tão ótimos e imprescindíveis, por que eles deveriam ser eliminados por completo?  Com certeza há alguma maneira de essas pessoas serem transferidas para outro tipo de serviço financiado pelo governo.  Desta forma — poderíamos pensar —, as pessoas teriam empregos, todo o trabalho seria feito e todos estariam em melhores condições.

Certo?  Errado.  Um serviço censitário ordenado pelo governo não executa nenhuma função de mercado, e os salários desses empregados são pagos pelos pagadores de impostos, o que significa que esses trabalhos são na realidade destruidores de riqueza.  Eles retiram riqueza e mão-de-obra do setor privado e as desperdiçam no setor público, o setor devastador.  Com efeito, podemos ir além e dizer que eliminar esses empregos é na realidade um passo rumo à recuperação econômica.

Considerando-se a maneira como as falácias econômicas tornaram-se virais nos dias de hoje, é necessário explicar a questão mais detalhadamente.  O ponto principal de se criar empregos não são apenas os empregos em si: é necessário que os empregos sejam produtivos e economicamente viáveis.

Seria possível, por exemplo, reduzir o desemprego a níveis mínimos simplesmente impondo um retrocesso tecnológico.  Poderíamos abolir a indústria de transportes de carga e obrigar todas as mercadorias a serem transportadas de carro, criando desta forma milhões de novos postos de trabalho.  Ou poderíamos também abolir o automóvel e criar ainda mais empregos para pessoas que transportariam mercadorias em suas costas.

Em cada caso, o número de empregos criados iria superar amplamente o número de empregos perdidos.  Porém, será que estaríamos mais ricos em consequência disso?  De forma alguma.  Tudo isso equivaleria a uma queda compulsória no padrão de vida de todos.  Tais tipos de políticas violam a máxima de Henry Hazlitt, que diz que parte do bom pensamento econômico consiste em ver o que é bom não apenas para um grupo (os desempregados), mas para todos os grupos da sociedade, e não apenas no curto prazo mas também no longo prazo.

O objetivo dos empregos é fazer com que as pessoas trabalhem visando a fornecer bens e serviços que são valorizados pelo mercado.  Se não houver uma demanda guiada pelo consumidor para as coisas que as pessoas estão produzindo, então seus empregos nada mais são do que um desperdício, ocupações desnecessárias e supérfluas.  De nada adianta para a sociedade se todos estiverem empregados construindo pirâmides, contrariamente ao que Keynes certa vez disse.  Seria irracional gerir um negócio que emprega milhares de pessoas cuja única função é quebrar celulares novos apenas para consertá-los em seguida, ou cavar buracos para enchê-los novamente.  E por que é assim?  Porque não há um motivo economicamente racional para que essas tarefas existam.

É claro que um empreendedor endinheirado pode criar um negócio que não sirva para absolutamente nada, ou até mesmo algo que dê prejuízos contínuos e seja socialmente ridículo.  Porém, para sustentar tal empreendimento, ele terá de seguir injetando dinheiro continuamente por um período de tempo indefinido, até a bancarrota.  Porém, no dia em que ele decidir parar de continuar fazendo essa insanidade, os empregos ali irão desaparecer.

Obviamente, nenhum empreendedor em seu perfeito juízo quer fazer tal insânia.  Se você quiser criar e conservar empregos economicamente irracionais, só existe uma maneira de fazer isso: pelo governo.  O governo confisca dinheiro do setor privado e o redistribui de várias e ineficientes maneiras, sem se preocupar com o detalhe de se o emprego criado desta forma é realmente válido e necessário.

A tributação e o endividamento necessários para financiar os empregos governamentais são extraídos diretamente da verdadeira máquina de criação de riqueza da economia.  E isso não é válido apenas para os empregos criados pelo censo, mas também para todos os empregos do setor público, sejam eles na burocracia federal, no complexo militar ou no setor educacional.  Por essa razão, a folha de pagamentos do setor público realmente deveria ser excluída das estatísticas de emprego.

Uma objeção que pode surgir é a de que alguns dos empregos públicos são realmente necessários para o bem-estar econômico de longo prazo.  Precisamos de uma sociedade educada — poder-se-ia dizer —, e mesmo os resultados do censo são necessários para o planejamento do setor privado.  Porém, se isso for verdade, não há por que imaginar que o setor privado não teria os incentivos para fornecer ele próprio esses serviços.

E, de fato, ele o faz.  O setor privado cada vez mais possui meios sofisticados para educar seus empregados e compensar os produtos inferiores legados pelas escolas públicas.  O mesmo é válido para os resultados do censo, os quais são utilizados pelo estado para se informar sobre os cidadãos e poder controlá-los melhor; o setor privado tem seus próprios métodos de avaliar as demandas demográficas em relação às localidades de novas empresas e ao desenvolvimento de novos produtos.  Mesmo se houvesse alguns empregos governamentais que de fato gerassem resultados produtivos, estes poderiam ser realizados mediante lucros, e não por extorsão.

Enquanto todos ficam obcecados com as aflições dos empregados do censo, há nos EUA uma genuína calamidade ocorrendo no setor privado, o qual está sob ataque diário da administração Obama.  É por isso que os últimos relatórios e estatísticas não mostram crescimento naquele mercado de trabalho que mais interessa.  Vemos apenas um ínfimo aumento em relação ao número de empregos que havia há dez anos, sendo que todos os empregos criados durante a época da expansão artificial da economia já foram dizimados pela atual recessão.

É isso que precisa de atenção, mas não por meio de programas governamentais.  É necessário, ao contrário, uma total ausência de programas governamentais, além de cortes acentuados nos impostos e nas regulamentações de todos os tipos — e uniformemente, para tudo e todos.  É preciso que o governo permita que haja reduções salariais em alguns setores, o que irá permitir que o emprego possa crescer em outros setores.  O governo não pode planejar um crescimento genuíno dos empregos.  Tudo o que ele pode fazer é sair do caminho e deixar que isso aconteça.

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