Eu sou um libertário. Não sou afiliado a nenhum partido político. Não sou progressista nem conservador. Não sou de esquerda nem de direita. Não sou moderado nem radical. Não sou um fusionista. Não estou aberto a concessões.
Sou um libertário puro e inflexível. Para mim, há apenas uma única forma de libertarianismo: aquela que se baseia única e exclusivamente no Princípio da Não-Agressão. Isso significa que, para um genuíno libertário, a lei deveria proibir a iniciação de violência contra pessoas inocentes (tanto as que não cometeram crimes quanto as que querem apenas empreender) e contra sua propriedade. Ponto. O libertarianismo é apenas isso e nada mais do que isso. Não há nada mais no libertarianismo do que as implicações desse axioma básico — o que já é muita coisa.
Por que estou dizendo isso? Porque, de uns tempos para cá, tem havido algumas tentativas, tanto da esquerda quanto da direita, de sequestrar o movimento libertário.
A esquerda vem tentando sequestrar o movimento libertário acrescentando ao Princípio da Não-Agressão sua típica agenda progressista. Daí surgem bizarrices como dizer que um libertário tem de ser publicamente contrário ao patriarcalismo, ao machismo, a uma hierarquia de poderes dentro das famílias, à homofobia, ao racismo, ao preconceito, ao brutalismo etc.
Outros vão ainda mais longe e dizem que um libertário deve ser abertamente feminista, pró-movimento gay, e deve fazer apologia de movimentos contra-culturais e ser adepto de estilos de vida alternativos. Alguns chamam isso de libertarianismo humanitário, outros de libertarianismo denso (porque engloba várias características), e ainda há aqueles que chamam isso de “Novo Libertarianismo”.
O que essas pessoas não entendem é que ser libertário significa única e exclusivamente se opor à iniciação de agressão contra inocentes. Ponto. É só isso e nada mais do que isso. É perfeitamente possível você ser um racista nojento, ter total aversão a gays e ainda assim ser libertário: basta você guardar para si sua visão de mundo e não implantá-la sobre terceiros. Você pode ser totalmente contra a prática do homossexualismo e totalmente avesso a qualquer ideia feminista; o que você não pode fazer é iniciar agressão contra essas pessoas. Aja assim e você será um libertário.
Quão difícil é entender isso?
Mas o problema não vem apenas da esquerda. Uma tentativa de guinar o libertarianismo para a direita também vem ocorrendo de maneira igualmente intensa. Há alguns direitistas que, assim como os esquerdistas, também querem criar sua própria forma de “libertarianismo denso”, exortando libertários a aceitar ideias conservadoras.
Daí a necessidade de fazer estes esclarecimentos.
Sou um libertário. Não sou um libertário “denso” nem “diluído”. Não sou brutalista nem humanista. Não sou holista ou solipsista. Não sou moralista nem consequencialista. Não sou aberto nem fechado. Não sou um libertário modal, nem cosmopolita, nem cultural, nem sofisticado. Tampouco sou um “libertário de bom coração”. Não sou neo, nem milenar, nem de segunda onda. Sou simplesmente um libertário, do tipo que não precisa de rótulos, não cria advertências, não faz concessões e nem pede desculpas.
Sou libertário. O libertarianismo é uma filosofia política que se preocupa exclusivamente com o uso da coerção e da violência. Não se trata de uma filosofia política que diz que o melhor tipo de governo é um governo limitado. Não se trata de uma filosofia política socialmente liberal e economicamente conservadora. Não se trata de uma filosofia política que diz que o governo é menos eficiente do que o setor privado. Não se trata de uma filosofia política que diz que a liberdade pode ser alcançada por meio da promoção de determinadas políticas governamentais em detrimento de outras. Não se trata de uma filosofia política que advoga um “liberalismo com impostos baixos”.
O libertarianismo não é a ausência de racismo, de machismo, de homofobia, de xenofobia, de nacionalismo, de nativismo, de classismo, de autoritarismo, de patriarcado, de desigualdade ou de hierarquia. Libertarianismo não é diversidade ou ativismo. Libertarianismo não é igualitarismo. Libertarianismo não é tolerância ou respeito. Libertarianismo não é uma atitude social, estilo de vida, ou sensibilidade estética.
Sou um libertário. Sou seguidor do Princípio da Não-Agressão, o qual diz que o único papel adequado para a violência é o de defender o indivíduo e a propriedade contra agressões, e que qualquer uso da violência que vá além de tal defesa é em si mesma agressiva, injusta e criminosa. O libertarianismo, portanto, é uma teoria que afirma que todos devem estar imunes a agressões e que devem ser livres para fazer o que lhes aprouver, desde que isso não signifique agredir a pessoa ou a propriedade de outro.
Meu interesse é nas ações; não estou preocupado com os pensamentos. Estou interessado apenas nas consequências negativas de pensamentos. Acredito que o Princípio da Não-Agressão tem de ser estendido ao governo. Os libertários devem, portanto, se opor à — ou tentar limitar ao máximo a — intromissão dos governos tanto em nível doméstico quanto internacional, pois os governos são os maiores violadores do Princípio da Não-Agressão.
Sou um libertário. Acredito na regra de ouro. Acredito na filosofia do “viva e deixe viver”. Acredito que uma pessoa deve ser livre para fazer o que quiser, desde que sua conduta seja pacífica. Acredito que os vícios não são crimes.
Sou um libertário. Nosso inimigo é o estado. Nossos inimigos não são a religião, as corporações, as instituições, as fundações ou as organizações. Elas só têm hoje o poder de nos fazer mal por causa de sua ligação com o estado. Retire os subsídios, as medidas protecionistas, e as regulações que as protegem da concorrência, e elas rapidamente passarão a ser inócuas. Mais ainda: serão inteiramente subservientes a nós consumidores.
Sou um libertário. Acredito no laissez- faire. Qualquer indivíduo deve ser livre para incorrer em qualquer atividade econômica, sem licença, permissão, proibição ou interferência do estado. O governo não deve intervir na economia de nenhuma forma. Acordos de livre comércio, vouchers educacionais e a privatização da Previdência Social não são de forma alguma ideias libertárias.
Sou um libertário. O único governo bom é aquele que não existe. O segundo melhor governo é aquele que menos governa. Como disse Voltaire, governo, em seu melhor estado, é um mal necessário e, no seu pior estado, é intolerável. A melhor coisa que qualquer governo poderia fazer seria simplesmente nos deixar em paz.
Sou um libertário. Imposto é roubo praticado pelo governo. O governo não tem direito a uma determinada porcentagem da renda de ninguém. O código tributário não tem de ser simplificado nem reduzido, e não precisa ser mais justo ou menos intrusivo. As alíquotas de imposto não têm de ser nem diminuídas, nem igualadas e nem se tornar menos graduais. O imposto de renda não precisa de mais e maiores deduções, e nem de lacunas, abrigos, créditos ou isenções. Todo esse sistema pútrido tem de ser abolido. As pessoas têm o direito de manter para si tudo o que ganharam e decidir por si mesmas o que fazer com seu dinheiro: gastá-lo, desperdiçá-lo, torrá-lo, doá-lo, legá-lo, guardá-lo, investi-lo, queimá-lo, apostá-lo.
Sou um libertário. Não sou um libertino. Não sou um hedonista. Não sou um relativista moral. Não sou devoto de algum estilo de vida alternativo. Não sou um revolucionário. Não sou um niilista. E não desejo me associar a ninguém que tenha essas características; mas também não desejo agredir aqueles que têm. Acredito na liberdade absoluta de associação e discriminação.
Eu sou um libertário.
Espero não haver mais dúvidas.
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Participaram deste artigo:
Laurence Vance, acadêmico associado ao Mises Institute, escritor freelancer, professor adjunto de contabilidade da Pensacola Junior College, em Pensacola, Flórida, e autor dos livros Social Insecurity, The War on Drugs is a War on Freedom, King James, His Bible, and Its Translators e War, Empire, and the Military: Essays on the Follies of War and U.S. Foreign Policy
Walter Block, membro sênior do Mises Institute e professor de economia na Loyola University, Nova Orleans. É o autor de Defendendo o Indefensável, The Case for Discrimination, Labor Economics From A Free Market Perspective, Building Blocks for Liberty, Differing Worldviews in Higher Education, andThe Privatization of Roads and Highways. Seu último livro é Yes to Ron Paul and Liberty.