Pronto, falei! Eu fui aquele cara chato que não gostou do filme Tropa de Elite 2.
Preciso justificar antes que me crucifiquem ou me queimem numa fogueira, pois o filme é aclamado pela critica nos jornais, pelos blogueiros aos milhares, pelos “de direita e de esquerda” (e como eles estão chatos nessas eleições), celebrado nos comentários do facebook, recorde de bilheteria nos cinemas e, mesmo sem ter a cópia, já é recorde de venda nos camelôs (que vendem o 1 dizendo que é o 2).
Minha justificativa passa longe da máxima nelson-rodrigueana da estúpida unanimidade. Não sou do contra (apesar de que, nos dias de hoje, isso não é exatamente algo ruim); não gostei do filme pois é um filme ruim, Padilha errou o alvo, amarelou, e, no pano de fundo, elegeu a herói o verdadeiro vilão. Vamos ao filme.
Tropa 2 começa com uma alfinetada em um “intelectual” de esquerda, Diogo Fraga, que mais tarde vai se tornar deputado pelo PSOL, e que no inicio é o oposto do Capitão Nascimento. Ao longo do filme a repressão ao tráfico de drogas se mostra bem sucedida e expõe outras facetas da corrupção “do sistema” (um outro erro/omissão de Padilha ao não dizer claramente O Estado, ao invés de “sistema”): a formação de milícias/máfias que controlam todas as atividades econômicas “ilícitas” dentro das comunidades (não me culpem pelo abuso de aspas, cada uma delas é mais que necessária).
Um rápido take mostra atividades que vão desde financeiras e distribuidoras de água e gás até transporte de perueiros entre outras. Uma bela amostragem da economia informal. Na vida real, as pessoas têm que se virar, não ficam seguindo regras impostas pelos reguladores do estado e tudo é economia informal. Mas o filme vai além e, acertadamente, mostra como a população fica refém da polícia que passa a ser chamada de milícia e fatura grande parte da renda dessas atividades sob o titulo de “taxa de proteção”.
Aí começa a cegueira de Padilha: o estado faz exatamente a mesma coisa que essas milícias — cobra de nós taxas sobre serviços que não pedimos e nem precisamos, e dá a isso o nome de imposto.
Mas, por que isso é assim? Por que a população das comunidades precisa pagar às milícias para desenvolverem as atividades econômicas?
A despeito do roubo puro e simples, os milicianos desenvolvem uma função vital para a sobrevivência dessas atividades econômicas. Explico.
O filme retrata, mais de uma vez, os milicianos cobrando taxas dos perueiros para atuarem.
Os perueiros são considerados ilegais pelo estado; apenas poucos que conseguiram uma permissão do estado para atuarem podem oferecer esse serviço. Então a proibição estatal joga na ilegalidade — torna criminosos — todos que oferecerem serviço de transporte sem essa licença.
Os milicianos — policiais que deveriam aplicar a lei e prende-los pelo “crime” de oferecer transporte — fazem vista grossa e permitem o “crime” em troca de uma taxa. Ao permitirem esse “crime” as milícias estão beneficiando centenas de milhares de pessoas que utilizam esses serviços diariamente.
Ao sair da sala de cinema, provoquei minha amiga que me acompanhou ao cinema: Se um sujeito traz remédios proibidos do exterior para salvar a vida da avó, ele deve ser considerado um criminoso? E o fiscal que permite a entrada em troca de uma caixinha está ajudando a sociedade ou atrapalhando?
A primeira pergunta — que na sequência vai servir para formular a segunda, e mais importante, pergunta — que devemos fazer é: Quem investiu essa milícia de tal poder? Quem dá aos fiscais todo o poder sobre nós? Por que um policial pode nos extorquir ao nos flagrar com uma lata de cerveja ou com uma loja de gás sem alvará, ou com uma barraquinha de cachorro quente vendendo vinagrete (que é proibido)?
Notem aqui que a extorsão pode ser cobrar uma propina, que sai barato, ou a pesada aplicação da lei (multas, prisão etc.). No caso das atividades econômicas, aplicar a lei penaliza também todos os consumidores que ficam sem os produtos e serviços.
Estou falando aqui dos crimes sem vítima. Hoje em dia, a sanha dos reguladores invade toda nossa vida. Não se dá um passo sem estar infringindo alguma lei, não se abre um negócio sem estar fora da lei, tudo é regulado e controlado pelos burocratas — o sujeito jogar bingo é criminoso, fumar maconha também, fornecer esses bens e serviços é crime gravíssimo. Mas quem perde se Dona Isolda for jogar caça níquel ou se Bob fumar um baseado?
Ninguém! O estado comete o verdadeiro crime ao regular a livre troca de bens e serviços entre as pessoas. Muito se fala da violência do tráfico, mas a violência é fruto da proibição. Proíbam as peruas e veremos a máfia dos perueiros, proíbam arroz e veremos tráfico de arroz, proíbam xampu e veremos tiroteio entre gangues que trazem xampu ilegalmente.
Uma vez que o estado criminaliza (regula ou controla) a livre troca de bens e serviços entre as pessoas, nós ficamos a mercê do arbítrio dos responsáveis por aplicar as leis, por mais cretinas que elas sejam.
Então vem a segunda pergunta: quem são esses que movem o estado para regular, controlar e criminalizar as livre-trocas?
No final do filme, o deputado intelectual de esquerda acaba sendo o herói, bastião da verdade e da moralidade. Mas o que ele realmente defende?
Diogo Fraga é claramente um deputado do PSOL, o filme não deixa dúvidas sobre isso, com sua campanha e sua militância se dando dentro das universidades. O PSOL hoje pode parecer um partido caricato para a grande maioria, mas ele é a ala ideológica do socialismo/comunismo e essa ideologia nada mais é que a regulação total pelo estado de todas as atividades. Os que defendem essa ideologia querem alimentar o “sistema”, dão forças cada vez mais ao “sistema”, têm por objetivo controlar todas as atividades dos indivíduos. Não por acaso o que manteve os países comunistas vivos foram as máfias que traficavam desde alimentos até papel higiênico. E assim ainda é em Cuba e na Coréia do Norte — nesse último, devido à eficiência na aplicação das leis, o povo está em completa inanição.
Em suma: Tropa 2 erra feio o alvo. Mas Padilha não é tonto. Minha modesta opinião diz que ele cedeu aoestablishment que o acusou de fascista por Tropa 1.
O problema não são nem os deputados corruptos, mas aqueles idealistas (um ideal macabro, diga-se) que querem regular e controlar a sociedade à sua maneira. Esses são os causadores do problema.
Encerro dizendo que isso não se encerra aqui, os políticos têm esse aval de parte da sociedade por razões que podemos discutir adiante, mas o livro O Poder das Ideias recentemente lançado pelo IMB dá uma pista.