Capítulo 5 da teoria geral, “Expectativa como Determinante da Produção e Emprego,” é principalmente sensato e realista.
Keynes inicia apontando o que há de ser óbvio:
“Toda produção tem o propósito fundamental de satisfazer um consumidor. O tempo passa, entretanto – por vezes se passa muito tempo – entre o comprometimento com os custos, por parte do fabricante (tendo o consumidor em mente) e a compra da produção pelo consumidor final. Enquanto o empreendedor tem que formular as melhores expectativas que conseguir. E este não possui outra opção que não ser guiado por estas expectativas, se ele vir a produzir pelos métodos que gastam tempo” (p.46)
Keynes começa então a distinguir expectativas de “curto prazo”, interessadas na produção atual, das expectativas de “longo prazo”, interessadas na aquisição de bens de capital. Após apresentar diversas elaborações e complicações desnecessárias, ele conclui:
“Sair de um processo de transição ininterrupta para uma postura de longo prazo pode ser tecnicamente complicado. Mas o curso dos eventos é ainda mais complicado. Já que as expectativas estão sujeitas a mudanças constantes, uma nova expectativa sobrepõe sua antecessora bem antes dessa se esvair completamente” (p.50)
Haveria pouca necessidade de dar tanta atenção a esse capítulo, se os discípulos e admiradores de Keynes não tivessem feito tanto barulho a respeito dele.
“Expectativas, [Escreve Alvin H. Hansen, comumente dito como o melhor discípulo americano de Keynes] exercem uma função em todas as relações não orgânicas básicas de Keynes.”[1]
O economista britânico, J. R. Hicks, aclama isso com o sendo um elemento de vital importância:
“Uma vez que o elemento antecipação for adicionado, a análise do ponto de equilíbrio pode ser realizada, não apenas em condições remotamente fixas, na qual muitos economistas se veem presos, mas até mesmo no mundo real, inclusive no mundo real em ‘desequilíbrio’.”[2]
Tal afirmação faz o leitor esfregar os olhos diante de tanta incredulidade. Talvez seja verdade que apenas recentemente se tornou elegante que economistas acadêmicos deem tanta ênfase às “expectativas”, a respeito deste termo em específico. Mas a maioria dos economistas, desde a época do Adam Smith, vem levando-os em consideração, mesmo que por acidente. Ninguém poderia ter escrito sobre as oscilações no mercado de ações ou no preço do trigo, milho ou algodão, sem o fazer, ao menos de forma implícita, se utilizando das especulações dos especuladores, investidores e a comunidade de negócios. A maioria dos escritores sobre ciclo econômico reconheceu o papel que as mudanças de expectativa possuem em booms, pânicos e depressões. Foi graças ao empenho dos escritores mais velhos, para nos apresentar esse elemento, pelos nomes de “otimismo” e “pessimismo,” ou “confiança” e “falta de confiança.” Por tanto, para citar apenas um exemplo, Wesley C. Mitchell, já em 1913, escreveu:
“Praticamente, todos os problemas econômicos envolvem elementos que não são precisamente conhecidos, mas devem ser aproximadamente estimados para o presente, e presumidas de maneira ainda mais aproximada, para o futuro. Probabilidades tomam o lugar de certezas, ambos sujeitos aos dados resultantes do raciocínio e às conclusões que este alcançar. Este fato traz sentimentos desanimadores ou animadores para uma grande parte das decisões que moldam um negócio.”[3]
Mesmo que economistas acadêmicos tivessem negligenciado completamente o papel das expectativas em mudanças econômicas, qualquer especulador, investidor ou empresário devem, desde tempos imemoráveis, estar cientes do papel fundamental que as expectativas possuem. Todo especulador que se preze, sabe que o nível de preços no mercado de ações, reflete a união das expectativas do especulativo, investimento e comunidade de negócios. Suas próprias compras ou vendas a descoberto são, na verdade uma aposta de que as suas expectativas em relação a uma futura cotação de título são melhores que a combinação das expectativas atuais, quando comparadas à sua aposta. Todo investidor e empresário são inevitavelmente, pelo menos em parte, especuladores. O empresário não só tem que avaliar o que os consumidores estarão dispostos a pagar pelo seu produto quando este estiver pronto para o mercado; ele também tem que adivinhar corretamente, se eles sequer irão querer esse produto.
A principal crítica a ser feita a respeito da forma com que Keynes trata as expectativas (no Capítulo 5) não é que lhe dão muita ênfase, mas sim muito pouca. Visto que este capítulo está interessado no efeito da expectativa apenas no produto e emprego. Keynes deveria ter reconhecido também que as expectativas são incorporadas e se refletem em todos os preços – incluindo o preço da matéria prima que o empresário tem que comprar, e os salários que tem de pagar.
Contudo, mais uma observação de ser feita em relação ao capítulo 5 da teoria geral. Ao longo deste, Keynes faz a suposição tácita (mas nunca explícita) de que há quase sempre considerável desemprego. Ele assume que quando novos trabalhadores são demandados na indústria de bens de capital, por exemplo, eles são sempre adicionados à quantidade total de empregados. Eles são aparentemente retirados de algum tipo de exército não especificado de desempregados. Keynes nunca considera a possibilidade de que os novos trabalhadores no ramo de bens de capital talvez tenham origem de um grupo existente de trabalhadores no ramo de bens de consumo. Ele nunca considera os efeitos que essa concorrência por mão-de-obra, pode ter no aumento dos salários, além do simples aumento da quantidade de empregados. Os salários são tacitamente tidos como fixos.
As limitações e natureza das suposições de Keynes, em resumo, fazem da sua teoria do emprego, no máximo, uma teoria especial, não uma geral, como o seu título ostenta.
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Notas
[1] A Guide to Keynes, (Nova Iorque: McGraw-Hill, 1953), p. 53.
[2] “Mr Keynes’ Theory of Unemployment”, Economic Journal, Junho, 1936, p. 240.
[3] Business Cycles and Their Causes, (University of California Press, 1941 edition), p. 5.